Descendentes de nômades, eles se fixaram no nordeste e enfrentam pobreza e preconceito
CARLOS JULIANO BARROS
“Sua excelência, o que me atraiu para a vida cigana foi o amor a essa velha!” Vicente Vidal de Negreiro não poupa palavras de carinho a sua esposa, Rita de Cássia. Estamos sentados na varanda de uma casa modesta, cuja estrutura já não parece das mais confiáveis, erguida na periferia de Sousa – município de 70 mil habitantes, localizado em pleno semiárido da Paraíba, a 420 quilômetros de João Pessoa. Do alto de seus 79 anos, com a saúde um tanto debilitada, Vicente me trata com respeito comovente. Além de “sua excelência”, ele também me chama a todo momento de “seu dotô”, enquanto relembra alguns episódios de sua incrível trajetória. Filho de um “ilustre sujeito”, segundo ele próprio, de Catolé do Rocha, outra pequena cidade do interior da Paraíba, Vicente se deparou com os ciganos pela primeira vez ainda muito menino, quando um grupo acampou nas terras de seu pai. Ao conhecer aquela que se tornaria a mãe de dez filhos seus, não teve alternativa senão abandonar a família e aderir à sina nômade para se casar com a então jovem e linda Rita de Cássia, que passara a habitar seus sonhos mais íntimos. Com o passar do tempo, o próprio Vicente se transformaria em um dos chefes dos ciganos.
Já vai longe, porém, o tempo em que levas de pessoas obedientes a esses míticos e valentes líderes vagavam sob o sol de rachar da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte, em que as crianças nasciam em barracas montadas debaixo da generosa sombra de uma árvore, em que os homens negociavam animais com fazendeiros da região e em que as mulheres liam mãos e botavam baralho para quem desejasse conhecer a própria sorte. Há pelo menos um quarto de século, esses ciganos sertanejos do ramo dos calons (ver texto abaixo) deixaram de lado o nomadismo e fincaram raízes na área menos nobre da cidade de Sousa. “Parece-me que foi um decreto da divindade. O Padre Cícero profetizou que, quando os ciganos parassem de andar, é porque estava perto o fim das épocas”, explica Pedro Maia, outro chefe cigano que não economiza nas solenidades e que, por sinal, é irmão de Rita de Cássia. É impossível dizer como os calons chegaram à região de Sousa. Eles dizem que sempre estiveram por lá. Atualmente, o município é um importante polo comercial do estado, além de grande produtor de leite e de coco verde. Também é internacionalmente conhecido pelas impressionantes pegadas de dinossauros impregnadas no barro seco e rachado do solo do sertão (ver texto abaixo).
Vicente, Rita de Cássia, Pedro Maia e outros ciganos da velha guarda de Sousa compõem o retrato de um tempo que não volta mais, de uma cultura secular que vem minguando a conta-gotas, desde que a comunidade se tornou sedentária, em meados da década de 1980. Hoje, os chefes já não mandam tanto assim, apesar de inspirar respeito. É cada vez mais raro encontrar um jovem que domine o dialeto caló – principal identidade desse grupo social. Também é praticamente impossível ver uma adolescente que entenda de quiromancia, como é chamada a arte de ler as linhas da mão. Até mesmo as festas embaladas por modinhas de violão típicas à beira da fogueira – tão presentes nas memórias de alguns idosos – já não acontecem. Saudosismos à parte, é preciso reconhecer que muitos ciganos, senão a maioria, preferem a segurança proporcionada pela vida sedentária. Apesar da tristeza de presenciar a decadência de uma cultura transmitida ao longo de diversas gerações, há quem entenda esse processo como algo inevitável, fruto dos novos tempos que também chegaram a galope ao sertão da Paraíba. “A gente tem de partir para a realidade: colocar os meninos na escola, arrumar emprego para os jovens”, pondera Niobel Fernandes, de 63 anos.
Não há dados oficiais precisos sobre o total de habitantes do bairro cigano de Sousa, mas o número de famílias certamente não é superior a duas centenas. As casas são bem simples – algumas de alvenaria, outras de taipa mesmo –, divididas basicamente em dois “ranchos” vizinhos um ao outro, conhecidos pelos nomes dos principais chefes ciganos: Vicente e Pedro Maia. A população dessa que é a maior comunidade cigana de todo o Brasil vive em condições bastante precárias, sem acesso a serviços públicos básicos, e enfrenta mazelas comuns a qualquer bairro carente, como o desemprego e o alcoolismo – que já vitima inclusive adolescentes. Alguns moradores fazem pequenos “bicos”, outros recebem o benefício do Bolsa Família do governo federal, e também existem alguns pedintes, embora representem minoria absoluta. Aparentemente alheia à minha conversa com seu marido, Rita de Cássia rompe o silêncio e desabafa: “A pobreza e a ‘precisão’ só se comparam à morte”, afirma ela, sempre amparada pelo olhar zeloso de Vicente. Assim como a esposa, ele também parece retirar as palavras de um livro digno de Guimarães Rosa: “A pobreza é hoje, não é amanhã”.
Como desgraça pouca é bobagem, esses cidadãos de segunda classe de Sousa ainda precisam vencer um obstáculo que até vem sendo superado nos últimos anos, mas que ainda não foi completamente transposto: o preconceito. Em toda a história da humanidade, poucos grupos sociais foram vítimas de tantas perseguições quanto os ciganos. Os livros didáticos, por exemplo, raramente contam que, durante o regime nazista na Alemanha de Hitler, o holocausto judeu também foi acompanhado de um massacre impiedoso dessa etnia. Em Sousa, não ocorreu nenhum genocídio, mas a marginalização é evidente. A área ocupada pelos calons fica vizinha a um lixão, a uma colônia penal agrícola e ao local onde deverá ser instalado o novo cemitério da cidade. Somando-se a isso, eles ainda são obrigados a conviver com o triste estigma que pesa sobre mendigos, além de ser tachados de bandidos ou de ladrões de crianças.
“Não há um cigano sequer empregado no comércio da cidade. Os poucos que arrumam ocupação fixa são funcionários públicos”, afirma João Bosco Araújo, professor de uma escola particular de Sousa e pesquisador da cultura cigana. Ele também trabalha como mestre de cerimônias da prefeitura, e atua como uma espécie de “embaixador” do poder público municipal na comunidade. “Acho que existe um débito muito grande da cidade para com os ciganos. E isso não vai ser transposto em quatro ou oito anos. Essa mudança ideológica vai demandar um bom tempo”, admite o próprio prefeito, Fabio Tyrone (PTB).
Iniciativa pioneira
Para estancar esse dramático processo de “extinção cultural”, por assim dizer, e ao mesmo tempo viabilizar alternativas de renda à comunidade, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) – órgão vinculado diretamente ao gabinete da Presidência da República – criou, em conjunto com o Ministério da Cultura (Minc) e com recursos desembolsados pela Eletrobrás, o Centro Calon de Desenvolvimento Integral (CCDI). Segundo a Seppir, trata-se da primeira iniciativa dessa natureza bancada por um governo em toda a América Latina.
O prédio foi inaugurado em agosto do ano passado durante cerimônia que contou com a presença do governador do estado, José Maranhão (PMDB), e do ministro Edson Santos, titular da Seppir. Também estava lá o deputado federal Marcondes Gadelha (PSC-PB), membro de uma tradicionalíssima família da oligarquia de Sousa, que ganhou muito dinheiro com o comércio do grande volume de algodão que era produzido décadas atrás no município e hoje investe em hotéis, hospitais e outros ramos empresariais. Ele reivindica a paternidade do projeto de criação do centro, que teria sido idealizado por ele enquanto seu irmão, Salomão Gadelha, estava à frente da prefeitura da cidade, entre 2003 e 2008. “Pensei em transformar o limão numa limonada. Se os ciganos eram um estorvo para a população de Sousa, poderíamos, ao contrário, gerar algum interesse cultural ou econômico se conseguíssemos resgatar a cultura deles. Fazer com que eles voltassem a ser ciganos”, resume o deputado. Ele também alimenta o sonho de criar um grande festival cigano na cidade, a fim de atrair turistas do Brasil inteiro.
Entretanto, perguntado sobre a influência do deputado Marcondes Gadelha para a escolha de Sousa como sede do CCDI, o subsecretário de Políticas para Comunidades Tradicionais da Seppir, Alexandro Reis, desconversa e afirma que a opção pelo município do semiárido paraibano justifica-se pela grande concentração de calons na cidade e pelos dramáticos problemas sociais enfrentados por eles. “A orientação da Seppir é estabelecer políticas públicas nas áreas com comunidades mais vulneráveis, e é o caso de Sousa”, explica.
O fato é que, transcorridos meses desde a abertura do CCDI, até agora nenhuma atividade saiu do papel, e o edifício se encontra literalmente vazio. “Estou pensando em manter as portas do centro totalmente fechadas, como um protesto, até que sejam resolvidos os problemas”, afirma Francisco Soares Figueiredo, o Coronel, filho do chefe cigano Pedro Maia, responsável por uma associação comunitária local e pela presidência do CCDI. A instalação de computadores, a criação de um cinema e de uma oficina de produção de filmes são algumas das ideias que constam do projeto original. O atual prefeito, Fabio Tyrone, por sua vez, afirma que vai apoiar a construção de um aviário e de uma horta comunitária, a fim de melhorar a qualidade da alimentação e gerar alguma renda aos moradores do bairro dos calons.
Porém, toda essa demora já desperta a descrença por parte dos ciganos. “Primeiro, vamos estabelecer uma parceria com a prefeitura de Sousa a fim de garantir a manutenção e a operacionalização do centro. Também estamos definindo recursos da Seppir, do Minc e da Secretaria Especial de Direitos Humanos”, justifica Alexandro Reis. “Isso, no entanto, envolve também uma discussão com a comunidade, processo que estamos construindo com bastante respeito e cuidado”, completa.
Essa “discussão com a comunidade”, contudo, não é tão simples de conduzir, uma vez que há uma espécie de racha entre os dois grandes chefes, Vicente e Pedro Maia – o que não deixa de ser curioso, já que são cunhados. A disputa tem a ver, entre outras coisas, com questões da política paraibana. Vicente, por exemplo, guarda na entrada de casa um retrato caindo aos pedaços de Antonio Mariz, conhecido político da região que foi prefeito de Sousa, deputado federal, senador e governador do estado, até falecer em 1995. Na realidade, foi ele o responsável pela fixação definitiva dos calons em Sousa, ao doar as primeiras casas na área dos ranchos. Mariz também era o adversário por excelência dos Gadelha, que, por sua vez, arrebanharam simpatizantes entre os ciganos liderados por Pedro Maia e seu filho, o Coronel. O presidente do CCDI, que mantém o costume típico de revestir os dentes com placas de ouro, é aliado político declarado dessa tradicional família de Sousa. A intimidade é tanta que ele chegou até a pintar no muro de sua casa uma propaganda política de André Gadelha, derrotado por Fabio Tyrone nas últimas eleições para a prefeitura municipal.
No dia a dia, não existem grandes problemas de convívio entre os moradores dos dois ranchos, até porque quase todos são parentes. Porém, alguns ciganos ouvidos pela reportagem confessaram certo receio de que as atividades do centro – quando estiver funcionando – acabem beneficiando apenas os mais chegados ao presidente do CCDI, como se o Coronel pudesse decidir segundo sua vontade os destinos de uma obra que é, na verdade, do poder público. Na opinião do subsecretário da Seppir, Alexandro Reis, não existe um “racha”, mas “um processo de entendimento na comunidade”. Apesar de nenhum representante do órgão ligado à Presidência da República aparecer no bairro dos calons de Sousa há meses, ele garante que a secretaria está atenta para impedir que haja privilégios indevidos a quem quer que seja.
Comunidade de eleitores relativamente numerosa para uma cidade do porte de Sousa, há tempos os ciganos são alvo das velhas práticas políticas clientelistas. Hoje, os calons apoiam majoritariamente a família Gadelha, tida como a única que dá algum tipo de “atenção” aos moradores do bairro. Por outro lado, o prefeito Fabio Tyrone, adversário político dos Gadelha, enxerga essa relação com olhos bem mais críticos. “O que se fez até hoje foi estimular a mendicância. Mas temos de quebrar esse paradigma. Não se pode fazer politicagem com a situação de carência absurda em que eles vivem”, critica.
Futuro
As sobrancelhas grossas e o cabelo longo, preto e liso não deixam dúvidas quanto aos traços ibéricos herdados por Ana Cristina Marques, conhecida também pelo apelido cigano Lília. Ela é uma das últimas mulheres calons, talvez a única, que ainda ganha algum dinheiro lendo mão e jogando baralho. Porém, sua filha adolescente já não foi iniciada na mesma arte, e nem parece ter interesse por isso. “Não quero que ela me siga. Espero que ela estude e seja alguém na vida”, desabafa Lília.
As novas gerações de ciganos, nascidos já depois que os pais pararam de andar sertão afora, são o retrato de uma verdadeira metamorfose – mas não há nada de errado com isso, diga-se de passagem. É muito comum, por exemplo, encontrar adolescentes de 16 anos com o nome de Cícero Romão Batista, em reverência ao Padre Cícero, ícone do catolicismo popular que é tido como santo no semiárido nordestino. São esses mesmos jovens, que carregam na certidão de nascimento o tradicionalíssimo costume de homenagear personalidades históricas, os mais seduzidos pelas músicas sertanejas que substituíram ao violão as modinhas típicas de seus antepassados. Contraditoriamente, são também os mais empolgados em aprender dança cigana com um professor não cigano, ao som do famoso grupo francês Gipsy Kings. Além disso, eles montam comunidades virtuais em sites de relacionamento na internet, afirmando-se como calons. Mas, ao mesmo tempo, e como nem poderia deixar de ser, tentam diariamente superar preconceitos para se integrar plenamente à sociedade de Sousa.
Na ânsia de “salvar” tradições que vêm se perdendo, é necessário tomar muito cuidado, no entanto, para que pessoas de fora do bairro dos calons, até de forma involuntária, não imponham um suposto jeito de ser cigano aos moradores, como se isso fosse o suficiente para melhorar a tão sofrida vida dessa gente. Aliás, como ninguém vive só de cultura, é preciso atacar de forma mais contundente os graves problemas que realmente assolam a comunidade, como o desemprego, a falta de saneamento básico, a baixa escolaridade. “O que vai acontecer daqui a uns dez ou 20 anos, não posso prever. É até possível que, nesse novo centro, alguém de fora lhes venha ensinar ‘cultura cigana’ (ou algo que seja considerado como tal). Já vi acontecer esse fenômeno entre os índios potiguaras, no litoral da Paraíba. Há séculos não falam mais a sua língua, e lá vem de repente alguém de São Paulo para lhes dar aula de tupi-guarani! É possível que a Seppir contrate alguém para ensinar ao pessoal de Sousa como fabricar tachos de cobre”, ironiza o antropólogo Frans Moonen, talvez o único pesquisador a ter estudado a comunidade dos calons de Sousa, e que demonstra desconfiança com relação ao funcionamento do CCDI.
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De onde eles vêm?
Como o romani, o sintó, o caló e outros dialetos falados pelos povos ciganos são ágrafos – ou seja, não têm escrita –, não há registros precisos sobre a história dessas etnias, que podem ser reunidas em três grandes grupos: o dos rons, o dos sintis e o dos calons – este último proveniente da península Ibérica. Porém, a hipótese mais aceita é que todos seriam originários da Índia. De lá, teriam se espalhado pelo continente europeu. O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a receber esses grupos. Já em 1574, o rei português dom Sebastião mandou, na condição de degredado, o cigano João Torres e sua família para cá. Não há dados oficiais, mas a estimativa é que atualmente haja de 600 mil a 800 mil pessoas dessa etnia espalhadas pelo território nacional. Personalidades históricas do país têm sangue cigano, como a escritora Cecília Meireles e o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que nunca admitiu publicamente sua ascendência.
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Apoio público
Há algumas décadas, as chamadas “populações tradicionais”, como os indígenas e os descendentes de quilombolas, por exemplo, são objeto de programas específicos do poder público para promoção de direitos. No caso dos ciganos, o reconhecimento de suas peculiaridades e de suas necessidades ainda está engatinhando. Nos últimos anos, porém, algumas ações governamentais vêm sendo tomadas com esse objetivo.
Em 2007, foi comemorado pela primeira vez o dia nacional do cigano, 24 de maio, em homenagem à padroeira dessa etnia, Santa Sara Kali. O Ministério da Cultura, por sua vez, criou um concurso para premiar manifestações típicas, e em agosto de 2009 foi inaugurado o Centro Calon de Desenvolvimento Integral (CCDI), em Sousa (PB). Dois anos atrás, o Ministério da Saúde também chegou a anunciar o programa Ciganos no SUS. A ideia era criar uma espécie de carteirinha para identificar aqueles que ainda são nômades e não possuem documentos oficiais, a fim de facilitar o atendimento nos hospitais do Sistema Único de Saúde. Porém, até agora, o projeto não saiu do papel.
“O movimento cigano é um dos mais novos. Eu já fui a 16 estados para ensinar o cigano a ter direito de ter direitos. Estamos conscientizando o povo para que eles se organizem”, afirma Mirian Stanescon, integrante do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR). Criado em 2003, esse colegiado é formado por órgãos do governo federal e entidades da sociedade civil e tem a missão de formular políticas públicas para comunidades socialmente vulneráveis.
Apesar de embrionário, o movimento cigano já está dividido. Pelo menos cinco entidades contestam a eleição de Mirian Stanescon para o CNPIR e afirmam que ela não está legitimada a representá-las. Além disso, na avaliação de Wasyl Stuparyk, presidente da Associação Brasileira dos Ciganos no Paraná (Abracipr), as atuais políticas voltadas a essa população não respondem a suas reais necessidades, e deveriam ser focadas principalmente na expedição de documentos e no acesso a serviços básicos de saúde e educação. “Precisamos cair na real. Não existem mais ciganos no meio da praça tocando violino. Antes de preservar a cultura, temos de preservar o ser humano”, afirma.
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Pegadas pré-históricas
Além da maior comunidade cigana do Brasil, Sousa também abriga um dos mais importantes sítios paleontológicos do mundo. Encravado na bacia sedimentar do rio do Peixe, o chamado Vale dos Dinossauros é a principal atração turística do município, e recebe cerca de 1,5 mil visitantes por mês. Lá podem ser vistas pegadas de dezenas de tipos de répteis pré-históricos, um impressionante registro da passagem desses seres gigantescos pelo solo do sertão paraibano, ocorrida há pelo menos 130 milhões de anos.
Administrado pelo governo estadual da Paraíba, o Monumento Natural do Vale dos Dinossauros foi inaugurado em 1999. Além de conhecer um pequeno museu na entrada do parque, o visitante pode observar a mais longa trilha de pegadas de dinossauros de que se tem notícia em todo o planeta. As instalações do local necessitam, porém, de uma reforma urgente. “O Vale está abandonado, e isso nos causa preocupação porque é um patrimônio muito valioso”, lamenta o prefeito de Sousa, Fabio Tyrone.
Além da importância científica, há outro ótimo motivo para conhecer o parque: conversar com Robson Araújo Marques, de 66 anos, conhecido como Guardião do Vale. Há mais de três décadas, ele ganha um salário mínimo para recepcionar turistas e pesquisadores. As primeiras pegadas de dinossauros foram descobertas em 1897 por seu avô, que à primeira vista pensou tratar-se de rastros de bois e emas. Também foi Marques o “cicerone” de Giuseppe Leonardi, cientista italiano que fez pesquisas no local ao longo de 17 anos e com o qual aprendeu muita coisa de paleontologia. Autodidata, ele também escreve poemas e contos. “O Vale é minha alma. Minha esposa reclama, diz que sou maluco porque vivi a vida inteira por conta dessas pedras”, brinca.
Revista Problemas Brasileiros
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