terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ACHEGAS AO FOLCLORE DA CACHAÇA


ACHEGAS AO FOLCLORE DA CACHAÇA

Veríssimo de Melo

Os nossos prezados amigos e confrades José Calasans Brandão da Silva, da Bahia, e Guilherme Santos Melo, do Espírito Santo, têm divulgado através dos Boletins da Comissão Nacional do Folclore, interessantes contribuições ao folclore da cachaça.

Pelo que já publicaram, com repercussão até mesmo no estrangeiro, e nós bastaremos citar este brilhante trabalho do doutor J. A. Pires de Lima, intitulado "As bebidas alcoólicas no folclore americano", inserto na Revista de Dialectologia y Tradiciones Populares, de Madri, tomo 6, cad.3, 1959, que acabamos de receber, onde há merecidas referências a esses dois estudiosos do populário nacional, não resta a menor dúvida que eles são, no momento, os nossos mais autorizados especialistas no assunto.

E nós podemos garantir que isso vai aqui sem a mais leve ironia, porque, em verdade, uma coisa é ser estudioso da cachaça e outra muito diferente é o de gostar de cachaça, embora haja quem prefira reunir o útil ao agradável.

O assunto é realmente vasto e tem sido abordado, sob variados aspectos, por uma infinidade de escritores nacionais. Só o anedotário, bem coligido, daria para um volume fabuloso. Mas, como acreditamos que o folclore da cachaça está a exigir não artigos ou contribuições esparsas, porém um livro massudo e denso (e este seria um dos livros mais divertidos da bibliografia brasileira), somos de opinião de que ninguém estaria mais capacitado para fazê-lo do que José Calasans ou Guilherme Santos Neves ou os dois juntos.

Contudo, enquanto aqueles nossos amigos não escrevem o livro que estamos esperando, sobre o folclore da cachaça, é sempre oportuno que lhes enviemos contribuições regionais.

Para o capítulo da linguagem popular em torno da "branca", vão aqui estes sinônimos de embriaguez ou de bêbado, todos registrados por nós em Natal, embora saibamos que não é só a cachaça que produz os tipos que iremos examinar, mas todas as bebidas alcoólicas:

Tocado; triscado; bicado; comendo um galo; puxando fogo; puxando um trem; queimado; chumbado; encarraspando; meio fumado; comendo uma cuíca; em água; envenenado; puxando um trote; melado.

O ato de beber, além do clássico matar o bicho (aliás este é o bicho mais difícil de ser morto que se tem notícia na história), temos também empinar a coruja, ou simplesmente tomar uma.

Sinônimos de certa quantidade de cachaça, entre vários outros, são estes: grog, bicada, lenhada, trago, chamada, dose, lapada, pancada, talaga e uma.

Contudo, a nossa maior contribuição neste artigo será no que se refere às marcas de aguardente. Certa vez na Prefeitura de Natal, reunimos um grupo de operários e alguns funcionários (estes eram folcloristas...) e começamos a perguntar quem se lembrava (só por ouvir dizer) de rótulos de cachaça. Da colheita, que foi farta, destaco estas marcas, suprimindo muitas outras de nomes inexpressivos:

Mocotolina; Dois Tombos; Olho d’Água; Serra Grande; Chuva Grossa; Pitu; Chora no Copo; Quebra Jura; Inspiração; Bomba Atômica; Penicilina; Cigana; Neblina; Destacada; Lourinha; Galo (que eles chamam "marca galo"); Mulata; Gilda; Escandalosa; Tiquira; Bagaceira; Vergonha; Juízo (para que se diga: "Tome Vergonha! Tome Juízo"); Grã-Fina; Asa Branca; Aratu; Bateria; Espiridina; Bofetada; V-8; Moleque no Frevo; Meu Desejo; Chica Boa; Várzea Grande; Pé de Serra; Fosqueira; Maliciosa; Bumba; Chora na Rampa; O-bá; Tambu; Monte Castelo; Volúpia; Cruz Vermelha e Trompete.


(Melo, Veríssimo de. "Achegas ao folclore da cachaça". Em Diário de Natal. Natal, 15 de dezembro de 1950)

Jangada Brasil

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