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domingo, 30 de setembro de 2018

Bonaparte na cabeça


O imperador ainda é referência na política e na cultura

Vivi Fernandes de Lima

Um louco encontra um colega nos corredores do hospício e fala: “Eu sou Napoleão!” O outro fica indignado: “O quê? Quem te disse isso?” A resposta é ainda mais ousada: “Deus”. O outro estranha: “Eu?” Esta é uma das piadas que circulam em conversas bem-humoradas que têm o imperador francês como personagem, tocando numa característica marcante dos relatos sobre sua personalidade: a mania de grandeza. Só mesmo Deus seria capaz de dizer algo superior ao general. Essa mesma megalomania pode ser o que associa a imagem de Napoleão à loucura. Em 2001, no longa-metragem de ficção “As novas roupas do imperador”, de Alan Taylor, o próprio general desiste de informar sua identidade quando descobre um manicômio onde todos os internos dizem ser Napoleão Bonaparte e ostentam, inclusive, o mesmo tipo de chapéu de sua farda.

No Brasil, não é só nas piadas que o personagem histórico está presente. A lista telefônica indica a existência de mais de dois mil Napoleões que vivem no Brasil. O consultor de informática e professor Napoleão Verardi, paulistano, 54 anos, é um deles. A escolha de seu nome foi uma homenagem ao avô materno, que era italiano. “Mas eu não botaria esse nome nos meus filhos. Ele carrega um peso muito grande. Não dá pra passar despercebido”, diz Verardi, habituado a ouvir brincadeiras como “qual a cor do seu cavalo branco?” ou “foi assim que Napoleão perdeu a guerra”. 

O administrador Napoleão Roque, baiano, 58 anos, também não acha mais graça nessas piadas. No trabalho, quando atende o telefone, já indica que não é muito chegado a seu primeiro nome. Ele atende: “Alô, Roque falando”, omitindo o Napoleão. “Eu não suporto meu nome. É muito forte, não combina comigo. Sou uma pessoa tranquila”, diz ele, que foi batizado em homenagem ao bisavô. Se ele odeia se chamar Napoleão, imagine se também fosse Bonaparte? A resposta vem sem hesitação, em bom baianês: “Ave Maria! Eu ia pedir pra morrer!”

Mas nem todos pensam assim. Napoleão Bonaparte Gomes é oficial da Marinha aposentado e adora seu nome. “Acho que talvez isso tenha me influenciado a seguir a carreira militar. É uma grande honra ser homônimo do imperador francês, porque ele é um exemplo a ser seguido”, diz Gomes, que alcançou o posto de vice-almirante da Armada. 

Já a fisioterapeuta carioca Daniela, 35 anos, tem o nome do imperador no sobrenome. Ela gosta tanto que o repetiu na certidão de suas duas filhas. “É um tipo de marketing. Quando apresentamos nosso nome, todo mundo lembra”, diz Daniela, orgulhosa. Aliás, segundo ela, a família inteira gosta muito do nome. “Eu tinha até um tio que se chamava Waterloo”, lembra, achando graça na referência à batalha que pôs fim à carreira vitoriosa do líder dos franceses.

Não é só nas certidões de nascimento que Napoleão está presente no Brasil. Volta e meia, programas de TV, grafiteiros e até escolas de samba relembram o imperador francês. A autora de telenovelas Janete Clair (1925-1983) chegou a criar em “Rosa Rebelde” (1969) uma trama em torno do exército do general. Em 2008, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense desfilou na Marquês de Sapucaí cantando “Ou ficam todos/Ou todos se vão/Embarcar nessa aventura/E au revoir Napoleão”, uma referência à vinda da família real portuguesa para o Brasil. No ano passado, a TV Globo exibiu o especial infanto-juvenil “A princesa e o vagabundo”, cuja trama se baseava nas conquistas napoleônicas: o reino fictício da Landinóvia é invadido pelo exército de Napoleão e a princesa Lili é salva pelo vagabundo Didi, interpretado por Renato Aragão.

Fã do personagem histórico, o sociólogo e crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza guarda uma coleção de postais com a imagem de Napoleão e suas batalhas. “Comecei minha coleção em 1929, numa viagem a Paris. Hoje tenho mais de 60 postais. Os italianos são mais raros”, diz ele, contando que alguns são em alto-relevo e mais coloridos, com a notoriedade de especialista no assunto. Quanto ao motivo do interesse por Napoleão, Antonio Candido é enfático: “Ele foi um grande general e dominava a arte militar. Transformou o seu tempo”.

O historiador Modesto Florenzano, da USP, reconhece que ainda há um fascínio pelo general, que já foi bem maior. Segundo ele, nenhum outro personagem histórico encheu tanto o imaginário da população quanto Napoleão no século XIX: “A fama vem de sua genialidade no plano político e militar e também do fato de ele ter saído do nada. Napoleão chegou ao poder pelos próprios méritos, não nasceu em berço de ouro. Isso é inédito. Ele teve uma projeção avassaladora, venceu batalhas espetaculares. Não houve em nenhum rincão da Europa alguém que não soubesse quem era Napoleão. Essa referência foi passada de pai para filho e chegou ao Brasil”. 

Para Florenzano, a popularidade de Napoleão pode ser comparada à de nomes como Carlos Magno. A força de sua imagem começou a diminuir na Revolução Russa: “Na Primeira Guerra Mundial, outros líderes começaram a aparecer, como Lênin, Stalin, Trotski e Mussolini”. Apesar de ter a atenção dividida com outras personalidades, a memória de Napoleão é bastante presente, sempre com imponência. Para se ter uma ideia, seus restos mortais, guardados no Hotel dos Inválidos, em Paris, foram colocados de modo que o visitante tenha que se abaixar para ver o túmulo, ficando obrigatoriamente em postura de reverência. “Eu duvido que alguém adepto da esquerda política vá visitar o túmulo de Mussolini, por exemplo. Mas o túmulo de Napoleão recebe visitantes de esquerda e de direita”, exemplifica Florenzano.

A mesma idolatria chegou a outros cantos do mundo. Na Eslovênia, há um monumento em homenagem ao general. Em Havana, Cuba, existe o Museu Napoleônico, que abriga objetos pessoais do imperador. Em Nova Orleans, nos Estados Unidos, a Napoleon House é uma das atrações turísticas do centro histórico da cidade. Conta a lenda que a casa iria abrigar o imperador depois de executado um plano de fuga na época em que ele estava exilado na ilha de Santa Helena. A história se encaixaria bem com o plano da passagem de Napoleão por Pernambuco em 1817, já que, depois de desembarcar no Recife, ele iria seguir para os EUA [ver artigo “A besta e o mito”, pág. 26]. Mas estudos comprovam que a casa foi construída depois da morte de Napoleão.

No cinema, a vida do general ou suas conquistas são retratadas em diversos filmes. O maior banco de dados de produção audiovisual da Internet, The Internet Movie Database, registra mais de 70 títulos de filmes com o nome Napoleão. Se forem somadas as séries de TV, esse total passa dos 100. Mesmo assim, as criações em torno do famoso general parecem não ter fim. Este ano, será lançado o filme “Betsy and the emperor” (ainda sem título em português) – baseado no livro infantil de Staton Rabin – com o ator Al Pacino interpretando o imperador no período do exílio.

Outro roteiro cinematográfico, desta vez brasileiro, pretende chegar às telas mostrando um ponto de vista diferente para o período em que Napoleão esteve preso. O cineasta Germano Coelho está trabalhando no projeto do filme “1817”, que irá tratar da Revolução Pernambucana, quando foi articulada a passagem de Napoleão pelo país. Para o pesquisador e jornalista Leonardo Dantas, o episódio é tão pouco conhecido quanto a própria Revolução de 1817. “Mas não tem nada de imaginário, é real”. O historiador Oldimar Cardoso, da USP, já foi ao Arquivo Estadual do Recife em busca das correspondências que comprovem a articulação deste plano, mas não as encontrou. Essas comunicações já foram descritas no livro Aventuras e aventureiros no Brasil (1929), de Alfredo de Carvalho. “O problema é que o arquivo é muito desorganizado. São pilhas de documentos que os pesquisadores não sabem nem por onde começar o trabalho. Dizem que as cartas estão lá. O difícil é achá-las”, conta Oldimar.

Enquanto pesquisadores procuram relatos que comprovem o plano de fuga, a população parece estar mais interessada na ficção, inventando e recriando piadas a cada dia em torno do imperador dos franceses. O imaginário é tamanho que a fama de loucos brasileiros que se apresentam como Napoleão, ao que parece, é um mito. O psiquiatra e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz Marco Aurélio Soares Jorge, esclarece: “Um esquizofrênico pode ter delírios a ponto de achar que é a reencarnação de uma pessoa famosa. Mas, normalmente, esse delírio está mais próximo da cultura dessa pessoa. Em 30 anos de profissão, nunca tive nenhum paciente que achasse que era Napoleão. O brasileiro delira que é o presidente da República, Jesus e até Xuxa”. Mas os piadistas não ligam para a realidade. Parece que com Napoleão as anedotas ficam melhores.

Saiba Mais - Internet

SILVA, Leonardo Dantas. “A fracassada fuga de Napoleão para o Brasil”.
Revista Algo Mais
Revista de História da Biblioteca Nacional

O imperador e o monstro


Mesmo retratado como anticristo, Napoleão conquistou D. Pedro e a população brasileira

Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves

Terra corrompida, mentira, impiedade, cauda de pavão, unha de tigre ensanguentada, coração de um corso e cabeça de raposa: estes são ingredientes da Receita especial para fabricar Napoleões, um soneto publicado em folheto que circulou no Rio de Janeiro em 1809. Os dois tercetos ensinam o preparo da “iguaria”:

“Tudo isto bem cozido em lento fogo
De exterior fagueiro, meigo e brando,
Atrevida ambição lhes lances rogo:

Deixa que se vá tudo incorporando,
E assim mui presto espera; porque logo
Sai um Napoleão dali voando”.

Folhetos como esse – impressos em Portugal ou aqui reimpressos – eram anunciados por livreiros na Gazeta do Rio de Janeiro. Títulos como Besta de Sete Cabeças e Dez Cornos ou Napoleão, Imperador dos franceses já indicavam a que se propunham as publicações: combater Bonaparte. Tanto pelo preço baixo como pelo pequeno número de páginas, os panfletos eram publicações mais acessíveis para a divulgação das ideias e tiveram maior circulação que os jornais. Incapazes de ler, as camadas mais humildes da sociedade podiam escutar a leitura em voz alta, assimilando as informações pelo filtro de sua imaginação.

Centenas de publicações – além de panfletos, havia páginas de pequenas histórias e anedotas – traduziram os momentos difíceis vividos pelo mundo luso-brasileiro. Portugal sofria com a ausência do soberano e a guerra de ocupação em seu território [Ver artigo “Anos de terror”, pág. 22]. Mesmo o Brasil, agora cenário da Corte portuguesa, do qual deviam emanar os novos atos administrativos do Império português, vivenciou momentos difíceis na ordem política e econômica. Os escritos chegaram a atingir o número de mais de três mil, em Portugal, entre 1808 e 1814. 

No Rio de Janeiro, os livreiros anunciavam “obras novas”, que reduziam Bonaparte a um usurpador e exterminador de envergadura medíocre, dono de um caráter feroz e sanguinário, cuja carreira fora mesclada de crimes sórdidos. Nessa literatura, a religião era usada para atingir um público mais amplo, divulgando as críticas ao regime francês por meio do antigo costume de parodiar formas religiosas. Um exemplo é Sinal da Cruz, de autor desconhecido, que circulou pelas ruas de Lisboa e do Rio de Janeiro: 

“Conheces o Jinó?
Eu nunca cheguei a ver.
Pois é bom de conhecer
Pelo sinal.
Da França é general,
É um impostor, usuário,
E, também adversário
Da Santa Cruz.
Santo nome de Jesus!
Não há quem dele dê cabo?
De semelhante diabo
Livre-nos Deus.”

Eram também comuns as cartas fictícias aos amigos ou da mãe do imperador, Letícia, dirigida ao filho. Era uma paródia em que Letícia se considerava a “mulher mais desgraçada”, por ter nutrido em suas entranhas um monstro a que todos maldiziam. Esses folhetos também exaltavam o heroísmo português e a virtude britânica.

Em todos esses escritos, há muitas informações forjadas. Monstros e demônios, conspirações e medos foram elaborados recuperando os símbolos e os valores que opunham o bem ao mal. Nesse caso, o mal era representado pelo “monstro do Universo” – Napoleão, o “herói que a Córsega vomitou sobre a face da Europa na força de seu furor”. O herói-deus, o bem, é o que consegue vencer Bonaparte, ainda que temporariamente. É quando aparece a imagem de D. João. Este era o “Príncipe virtuoso, amigo da Igreja e de seus Ministros”.
Esse imaginário escatológico tomava o próprio Bonaparte como símbolo atualizado do mal, considerando-o até o próprio anticristo. Assim, “o dragão e a besta do Apocalipse” consistiam “em Napoleão Bonaparte e no Império francês”. O imperador dos franceses encarnava a besta que saía do mar. Sobre seus cornos havia dez coroas, que simbolizavam o poder exercido por ele na Europa. 

Impregnada por essas imagens, a Corte portuguesa, no Rio de Janeiro, tomava atitudes práticas contra qualquer suspeita de adesão às ideias francesas. Ainda em 1º de maio de 1808, lançou o Manifesto ou exposição justificativa do procedimento da Corte de Portugal a respeito da França. O documento anunciava o rompimento de “toda a comunicação com a França”, autorizando os súditos portugueses “a fazer a guerra por terra e mar aos vassalos do Imperador dos Franceses”. Além disso, a Intendência da Polícia passou a acompanhar os estrangeiros. Vigiava também os súditos do Reino, como Domingos Borges de Barros, denunciado e preso como suspeito de vir da França, por via dos Estados Unidos, em companhia de um espanhol, que podia bem ser “um emissário de Bonaparte”.

Apesar de toda essa repressão, o fascínio que Napoleão Bonaparte exerceu em sua época contaminou os brasileiros. Um fato curioso ocorreu no Recife em 1817, quando o imperador dos franceses já estava preso na ilha de Santa Helena. Tratava-se de uma hipotética conspiração, que tinha como finalidade trazer Napoleão para o Brasil. Antigos oficiais do Exército francês teriam mantido contato com o comerciante Antônio Gonçalves da Cruz, o “Cabugá”, enviado aos Estados Unidos como representante dos rebeldes pernambucanos de 1817 para obter o apoio da república do Norte. 

Previa-se o desembarque de alguns franceses no Nordeste brasileiro para contatar o governo revolucionário de Pernambuco e organizar uma expedição que, saindo de Fernando de Noronha, iria a Santa Helena. Apesar de “misteriosa e suspeita”, essa conspiração apresenta algumas pistas documentais, como a comprovação do desembarque de quatro franceses, em fins de 1817, no litoral do Nordeste. Um deles chegou a informar ao governador do Recife que seu objetivo era conseguir apoio do governo de Pernambuco para uma expedição que iria evadir o ex-imperador do exílio. Havia ainda uma série de proclamações anônimas, mencionadas pela historiografia francesa, que circularam principalmente na região parisiense, em 1817, entre as camadas populares. Esses escritos afirmavam que insurretos sul-americanos iriam resgatar Bonaparte. 

Outro documento, localizado junto ao Gabinete de D. João, faz ainda referência a uma petição de Luciano Bonaparte, em janeiro do mesmo ano, para ir aos Estados Unidos. O pedido de passaporte ao cardeal Secretário de Estado de Roma – onde Luciano residia – justificava-se por ter que transportar seu filho, que iria se casar com a filha de seu irmão José, já estabelecido na América. Houve toda uma preocupação das quatro potências – Inglaterra, Áustria, Rússia e Prússia – que derrotaram Napoleão em negar o visto. 

O representante português em Roma ficou preocupado por ser uma petição “muito suspeitosa”. Primeiro, pelo risco de pregação da independência e separação da metrópole na América ibérica; segundo, pela oportunidade de haver uma reunião de toda a família Bonaparte. Seriam rumores do Antigo Regime ou notícias com um fundo de verdade? Sem dúvida, é possível deduzir, pelo menos, que agentes bonapartistas estiveram no Brasil e que a ideia mais provável era a de levar Bonaparte para os Estados Unidos, onde seu irmão José já se encontrava. [Veja infográfico na página 30]

Outra presença napoleônica em terras brasileiras foi o conde Dirk van Hogendorp, general holandês que se alistou nas tropas francesas e foi ajudante de campo do imperador. Francês por adoção, emigrou para o Brasil em 1816. Sobre sua estada no Rio de Janeiro, há alguns registros de estrangeiros que iam procurá-lo atraídos pela fama de suas aventuras e de sua fidelidade ao soberano deposto. A arquiduquesa Leopoldina e o próprio D. Pedro também o visitavam. Este também tinha afeição por ele, chegando a conceder-lhe uma pensão. Quando soube de sua morte (sem receber a quantia de cem mil francos que Napoleão lhe deixara em testamento), ordenou o pagamento de seu funeral. Por trás dessa figura singular, talvez existisse o mito de Napoleão, que fascinara também o jovem imperador do Brasil.

Para muitos contemporâneos da coroação de D. Pedro, em 1º de dezembro de 1822, como o barão de Mareschal, a cerimônia fora copiada da coroação de Napoleão Bonaparte. Outra possível influência do general francês nas ações de D. Pedro foi a criação da Ordem Imperial do Cruzeiro, que conferia privilégios, tanto sociais como legais, e servia de expediente para “remunerar os serviços” dos cidadãos mais ilustres. Bonaparte, logo após ser proclamado cônsul vitalício em 1802, criou uma organização semelhante, a Legião de Honra, que simbolizava uma milícia do regime. Era uma ordem que poderia ser concedida a todos os cidadãos que se destacassem por seus serviços à nação – a maior condecoração nacional daquela época. Mas D. Pedro I ia além, pois fazia da Ordem Imperial um meio de distinção social, refazendo a nobreza.

Como se vê, no período das invasões francesas na Europa houve vários e diferentes relatos sobre Napoleão e a França Imperial, comuns nos períodos de crise política. Mesmo romanceadas pela posteridade, as representações “do herói do século XIX” apontam para o fascínio que Bonaparte exerceu em sua época.

Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves é professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora de Napoleão Bonaparte: imaginário e política em Portugal (c.1808-1810) (Alameda, 2008) e “Imagens de Napoleão Bonaparte na ótica dos impressos luso-brasileiros”. In: Eliana F. Dutra & Jean-Yves Mollier (orgs.). Política, Nação e Edição. O lugar dos impressos na construção da vida política. (AnnaBlume, 2006).


Saiba Mais - Bibliografia

GALLO, Max. Napoleão. Niterói: Casa Jorge Editorial, 2003.

GRIECO, Donatello. Napoleão e o Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1955.

LENTZ, Thierry. Napoleão. São Paulo: Editora Unesp, 2008.

TULARD, Jean. Napoleão. O mito do Salvador. Niterói: Casa Jorge Editorial, 1996.
Revista de História da Biblioteca Nacional

Mitos de além-túm


Entre acusações de manipulador e assassino do idealismo republicano, as controvérsias sobre o imperador francês perpassam sua morte

Raquel Stoiani


Caricatura alemã representando a carreira de Napoleão, da infância à derrota em Waterloo e ao exílio. Na "Lenda Napoleônica", ele foi transformado em um mártir que morreu solitário em Santa Helena.Uma preocupação constante de Napoleão Bonaparte foi a construção de sua imagem pública. Enquanto esteve no poder (1799-1815), ele estruturou uma complexa máquina de propaganda. Do homem da paz ao deus da guerra, do herói revolucionário à vítima dos contrarrevolucionários, comparando-se a Carlos Magno ou a Aníbal, modificava sua figura pública de acordo com as necessidades do momento. Seus opositores, por sua vez, buscaram desfigurá-lo com o mesmo empenho.

O famoso escritor romântico François René Auguste de Chateaubriand (1768-1848) foi um dos principais críticos da tirania imperial. A obra De Buonaparte et des Bourbons (1814), publicada logo após a primeira abdicação do imperador (1814), traz o retrato mais repulsivo de Napoleão: o destruidor, o estrangeiro de origem corsa indiferente à França, o devorador de gerações de jovens, o supressor de toda livre opinião, enfim, o tirano. Madame de Staël (1766-1817), escritora e dona de um famoso salão literário em Paris, também foi juíza severa do regime napoleônico. Nas Considérations sur la Révolution Française (1818), sua principal acusação a Bonaparte é a de assassino do idealismo republicano. Napoleão inicia um governo que se torna cada vez mais autocrático e abandona o ideal republicano em prol de uma monarquia, o império. É retratado como um egoísta manipulador dos homens, sem fé ou pátria, que não teria outro propósito além de sua própria grandeza.

Panfletos, charges e vários outros escritos, surgidos, em sua maioria, na Inglaterra – cabeça das coalizões contra a França –, fizeram circular pela Europa afora essas imagens negativas. Um exemplo é a caricatura “La Grande Procession de Couronnement de Napoléon Ier” (1805), do inglês Gillray, um de seus mais célebres trabalhos subvencionados pelo governo britânico. Trata-se de uma paródia do imenso quadro de David da teatral e suntuosa cerimônia de coroação de Napoleão em Notre-Dame. Nela, o cortejo imperial é representado de forma grotesca. O imperador aparece vestido como um rei de ópera bufa; Josefina, sua esposa, aparece obesa e deformada; o papa Pio VII, abatido e amedrontado, e os representantes das potências europeias, que ajudam a carregar o manto imperial, malvestidos e mal penteados, parecendo se curvar ao imperador mais por um problema de coluna do que por um respeito verdadeiro.

E além: com a vinda da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, a má fama de Napoleão desembarcou nos trópicos. Afinal, D. João deixou Portugal escapando dos invasores franceses. Na Gazeta do Rio de Janeiro (1808-1822), primeiro periódico da América portuguesa, o príncipe regente fez circular o discurso e as imagens antinapoleônicas. Um levantamento estatístico das palavras mais utilizadas no jornal para se referir a Bonaparte indica os termos “tirano”, “usurpador” e “corso”. Recebia ainda outras caracterizações nada lisonjeiras, como louco, megalomaníaco ou o próprio anticristo. Enfim, era a soma de todos os males, uma ameaça que parecia estar à espreita e precisava ser combatida. O que se explica não apenas pelo trauma da invasão a Portugal: a intensa propaganda antinapoleônica atendia aos interesses do governo de D. João, justificando uma série de medidas de vigilância na nova sede do Império.

Após a morte de Napoleão, o livro Mémorial de Sainte-Helène (1823), de Emmanuel de Las Cases (1766-1842), teve imensa influência na França. O autor reúne uma série de anotações de conversas com o imperador, a quem acompanhara em seu último exílio. Começava a surgir a chamada “Lenda Napoleônica”, enriquecida ao longo do século XIX por poetas e novelistas comovidos com o trágico destino de Bonaparte. Ele passou a ser visto por muitos como um mártir mantido preso pelos vingativos reis europeus na distante ilha de Santa Helena, próxima à costa ocidental da África, onde morrera solitário. Las Cases descreve um Napoleão que passa a limpo sua carreira e se defende das acusações dos inimigos. Ali ele aparece como o filho da Revolução Francesa, o homem que consolidou a posse da igualdade de direitos, que tornou possível a saída da França do feudalismo, glorificando-a com suas vitórias; que arrancou à força a paz dos monarcas que odiavam a nação revolucionária e que se viu forçado a conquistar a Europa em legítima defesa.

Bom exemplo da influência da Lenda Napoleônica na historiografia é a Histoire du Consulat et de l’Empire (1845-1862), em que Adolphe Thiers (1797-1877) [ver box] demonstra admiração e afeição pelo imperador, aplaudido como o inimigo implacável do imperialismo inglês, o consolidador da Revolução em casa e seu promotor no exterior. Aquele que amou a França e primou pela honra, pelo poder e pelos interesses da nação.

Por volta de 1860, os ataques à Lenda Napoleônica ganharam força no campo da oposição ao governo de Napoleão III (1852-1870), que tinha como um dos seus pilares justamente a veneração ao falecido tio. Em Les Origines de la France Contemporaine (1890), o historiador Hippolyte Taine (1828-1893) exemplifica bem essa ofensiva contra a Lenda Napoleônica. Seu retrato do general-imperador causou sensação ao revelá-lo como uma criatura destituída de humanidade, brutal, cruel, sedenta de conquistas, um malfazejo demônio de origem estrangeira deixado solto na França e na Europa. Para Taine, as paixões violentas o levaram a cometer erros graves e a jamais considerar os interesses da França, que ele arrastou pouco a pouco para o abismo, como faria seu sobrinho. Mas nem esse perfil arrasador impediu o historiador de reconhecer méritos no período napoleônico. Segundo ele, a França devia a Napoleão a restauração da ordem institucional, uma modelar máquina burocrática e o estímulo do princípio da oportunidade para todos (a carreira aberta ao mérito e não condicionada ao nascimento), embora essas condições tenham sido impostas com mão de ferro e pelo silenciamento da opinião pública.

No início do século XX, Napoleão começa a ser apreciado de forma mais contida, ainda que as paixões continuem após a virada do século que viu o auge e a decadência do imperador. Georges Lefèbvre (1874-1959), em seu Napoléon (1935), enfatiza as realizações positivas do imperador e aprecia a grandeza de sua figura, mas não toma partido e evita julgamentos morais. Seu trabalho passou a ser referência nos estudos sobre Napoleão, ao destacar o imperador como um típico homem racionalista do século XVIII, que detestava o feudalismo, a desigualdade civil e a intolerância religiosa. A proteção dada por Napoleão ao nascente capitalismo francês levou ao progresso desse capitalismo e, consequentemente, ao desenvolvimento da burguesia. Por outro lado, seu estilo autoritário afastava-o dos mesmos ideais revolucionários. Era capaz de consultar os demais, mas nunca de debater ou discutir suas decisões. Em resumo: para Lefèbvre, Napoleão foi o último representante do despotismo esclarecido, ao combinar autoridade e reforma política e social.

No Brasil, os estudos sobre o tema tiveram como marco pioneiro o artigo “Napoleão I no Brasil”, de Ferreira da Costa, na Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, em 1903. O autor revela uma trama em que se entrecruzam os acontecimentos revolucionários de 1817 em Pernambuco e planos de fuga de Bonaparte da ilha de Santa Helena. De lá para cá, interpretações brasileiras em torno do personagem foram incipientes, mas é interessante observar o retorno do fascínio por Napoleão em análises mais recentes. Exemplo é Napoleão Bonaparte, em que a historiadora Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves reconstrói a luta política e ideológica do período por meio de jornais e panfletos políticos.

Tudo indica que o confronto entre as várias interpretações continuará indefinidamente. Diversos Napoleões permanecem flutuando entre a “antiga ordem” e a “nova ordem” – ou entre os valores de antes e depois da Revolução Francesa. Assim como sabia se vender sob variadas facetas, ele se tornou um personagem fluido, cujo esboço não permite contornos definitivos.

A divergência de opiniões sobre Napoleão, que impede que sua figura seja traçada de modo conclusivo, parece ter sido pressagiada no quadro de Jacques-Louis David (1748-1825). Grande nome da pintura neoclássica francesa, David foi um dos principais artistas a auxiliar o imperador em sua política de autoglorificação. O primeiro retrato que o artista fez de Napoleão, enquanto este ainda era general, permaneceu inacabado.

Raquel Stoiani é autora da tese “Napoleão visto pela Luneta d’El Rei: construção e usos políticos do imaginário francês e napoleônico na América portuguesa (ca. 1808-1821)” (USP, 2009).


Saiba Mais - Bibliografia

BERTRAND, Jean-Paul; Forrest, Alan & Jourdan, Annie. Napoléon, le Monde et les Anglais. Guerre de Mots et des Images. Paris: Éditions Autrement, 2004.

GEYL, Pieter. Napoleon For and Against. New Haven/London: Yale University, 1963.
HOLTMAN, Robert. Napoleonic Propaganda. Bâton Rouge: Louisiana State University Press, 1950.
KAFKER, Frank A. & Laux, James M. (ed.). Napoleon and His Times: selected interpretations. Malabar, Flórida: Krieger Publishing Company, 1991.

Saiba Mais - Filmes

“Guerra e Paz”, de King Vidor (1956).
“Monsieur N”, de Antoine de Caunes (2003).
“As Novas Roupas do Imperador”, de Alan Taylor (2001).
“Napoleão”, de Abel Gance (1927).
Revista de História da Biblioteca Nacional

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Guerra dos Cem Anos - A mais longa batalha da história

Uma sucessão de conflitos com mais de um século de existência foi um dos fatores responsáveis pelo término do sistema feudal que já agonizava há muitos anos

Rose Mercatelli



Apesar do nome, a Guerra dos Cem Anos, como ficou conhecida a disputa entre França e Inglaterra, as duas maiores potências europeias do século 14, durou 116 anos. Segundo os historiadores, começou em 1337 e terminou em 1453. Mas não foi uma luta ininterrupta. Na verdade, aconteceram vários confrontos entre as duas monarquias com vitórias e derrotas para ambos os lados.

De acordo com os dados históricos, o pavio para o início do conflito foi aceso quando, em 1328, o rei francês Carlos IV morreu sem deixar herdeiros. Eduardo III, então rei da Inglaterra, achou-se no direito de reivindicar para si o trono vago. Além de súdito, ele era sobrinho do rei morto, por parte de sua mãe.

Entretanto, nobres franceses também queriam o mesmo. Sob a alegação de que o trono francês só poderia ser herdado por um homem (ou por um pretendente oriundo de uma descendência masculina), a assembleia francesa acabou escolhendo o conde Filipe de Valois, que se tornou Filipe VI (1328 a 1350).

O rei Eduardo não gostou de ser preterido, justo ele que já era dono por herança das regiões da Gasconha (no sudoeste da França, faz divisa com o norte da Espanha), de sua vizinha Guiana (atual território da Aquitânia) e do condado de Ponthieu (ao norte da França). Mas o inglês não discutiu a decisão, reconhecendo Filipe VI como rei da França em 1329 em Amiens e prometendo- lhe obediência.
Ilustração representando a batalha de Azincourt que aconteceu em 25 de outubro de 1415 (Dia de São Crispim), no norte da França

Interesses comerciais 
Ainda havia outra zona de atrito entre os dois países. A região de Flandres, a nordeste da França, (atual Bélgica e Países Baixos) era um rico entreposto comercial. Afora seu intenso comércio, Flandres ainda era um importante centro produtor de tecidos, que comprava grande parte da lã produzida na Inglaterra. Ainda que a região fosse politicamente subordinada à França, os produtores flamengos, por interesses comerciais, posicionaram-se a favor dos ingleses, fato que desagradou a Coroa francesa.

Apesar do nome, a Guerra dos Cem Anos, como ficou conhecida a disputa entre França e Inglaterra, as duas maiores potências europeias do século 14, durou 116 anos: de 1337 até 1453

A situação piorou quando o conde de Nevers, regente de Flandres, prestou juramento de obediência ao recém-coroado Filipe VI. Com medo que a economia da região entrasse em colapso, os flamengos reagiram. O rei francês, em apoio ao Conde Nevers, interveio no território. Em represália, Eduardo III suspendeu as exportações de lãs inglesas. Sem sua principal matéria-prima, os flamengos resolveram apoiar o monarca inglês que, novamente reivindicava o trono francês, repudiando o juramento de obediência que fez em Amiens. A partir desse ato, não havia outra saída entre os dois monarcas a não ser declararem guerra um contra o outro.

Primeiro período (1337 e 1364) 
Vitórias inglesas 
A França tinha uma população quatro vezes maior do que a Inglaterra. Em compensação, a monarquia inglesa era mais forte. Em 1337, Filipe VI começou o conflito ao atacar a Guiana (que pertencia legitimamente a Eduardo III) e exercer um intenso assédio ao litoral inglês até ser derrotado em 1340.
A cavalaria francesa sofreu em Aljubarrota (1385) outra pesada derrota contra as táticas de infantaria, depois de Crécy e Poitiers

Entre 1346 e 1353, uma epidemia de peste bubônica aniquilou aproximadamente um terço da população europeia. Com os exércitos reduzidos, as batalhas tiveram de ser interrompidas

As Batalhas de Crécy (1346) e de Calais (1347) foram as mais importantes do período. Contando com o apoio financeiro dos mercadores de Flandres, os ingleses levaram a melhor nas duas batalhas, o que permitiu à Inglaterra manter o controle sobre importantes posições ao norte da França, inclusive sobre o Canal da Mancha. O avanço sobre o território inimigo só não foi maior porque os dois países estavam sendo duramente castigados por uma doença mortal.
Ilustração representando a batalha de Azincourt que aconteceu em 25 de outubro de 1415 (Dia de São Crispim), no norte da França

Entre 1346 e 1353, uma epidemia de peste bubônica (chamada de peste negra) aniquilou aproximadamente um terço da população europeia. Tantas mortes fizeram com que a produção agrícola e as atividades comerciais tivessem uma queda abrupta. Com os exércitos reduzidos, as batalhas entre os dois países tiveram de ser interrompidas por conta da situação caótica.

Batalha de Poitiers (1356) 
Quando os combates reiniciaram anos depois, Eduardo III pode contar com a inestimável ajuda militar de seu filho Eduardo, o príncipe de Gales. Em agosto de 1356, aos 26 anos, o príncipe Negro, como era conhecido pela cor de sua armadura, mostrou ser um comandante competente ao invadir a região de Aquitânia (Guiana), para preservar suas bases avançadas.

Eduardo não encontrou resistência por parte dos súditos do rei francês João II, o Bom (1350 a 1364). Os ingleses e seus aliados da Gasconha devastaram e queimaram cidades e campos, deixando o inimigo enfrentar não só a escassez de soldados como também a falta de comida.

João II, entretanto, conseguiu reunir um exército de 20 mil homens e ordenou que empurrassem as tropas inimigas em direção ao mar. Em um primeiro momento, os ingleses realmente bateram em retirada em direção ao sul. Porém, próximo à cidade de Poitiers, o Príncipe Negro conseguiu virar o jogo e capturar João II. Conta a lenda que, durante o cerco, o monarca francês tirou suas túnicas reais, anéis e colares, e se misturou à multidão. Entretanto, apesar do disfarce, foi capturado minutos depois até porque João era a única pessoa que estava de coroa no meio da confusão.

Eduardo logo exigiu um resgate de 3 milhões de coroas para libertá-lo, uma soma colossal que deveria ser paga em prestações. Cinco anos depois, João foi solto mediante o pagamento de apenas parte do seu resgate.

Exército atolado 
Na batalha de Poitiers, o rei João mostrou ser um dirigente atrapalhado, titubeante em suas decisões e pouco hábil ao comandar seus exércitos. Além disso, parte de sua derrota também pode ser creditada ao tamanho de seus exércitos, enormes e lentos, com uma grande quantidade de homens armados com bestas (ou balestras) vestindo pesadas armaduras e montando cavalos protegidos por chapas de ferro.

Todo esse arsenal atrapalhava a mobilidade de seus soldados. Como se não bastasse, durante a batalha, João levou seus cavaleiros em direção a um pântano. Com o peso todo, os cavaleiros franceses ficaram presos no atoleiro e acabaram dizimados pelas flechas inglesas.

O Príncipe Negro, pelo contrário, apostava tudo na velocidade e mobilidade de suas tropas. Sem armadura e levando o arco longo no lugar da pesada besta, um soldado inglês conseguia se mover rapidamente, o que se transformou em uma grande vantagem. Apesar de não terem os efeitos devastadores das balestras, as setas disparadas pelos arqueiros tinham um poder de fogo cinco ou seis vezes superior. O resultado foi mais uma vitória para os ingleses.


A donzela de Orleans

É provável que Joana D'Arc tenha nascido em 1412, em Dómremy, na região de Lorena, na França. Filha mais nova de um casal de camponeses pobres e analfabetos, desde cedo se revelou muito religiosa. Com 13 anos, dizia ouvir vozes de São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida que lhe aconselhavam a rezar muito e ir para Orleans para combater os ingleses.

Aos 16 anos, acompanhada de seis cavaleiros, foi ao encontro do Delfim, atravessando o território dominado pelos partidários do conde de Borgonha, aliado da Inglaterra. Portando roupas masculinas, Joana finalmente se encontrou com Carlos VII. Desconfiado, o Delfim, a princípio, não quis atendê-la. Mas depois, convencido de seu discurso, o Delfim lhe entregou a espada, a bandeira e um exército de 4 mil homens que, comandados por ela, libertaram Orleans em 9 de maio de 1429. Joana ainda venceria mais três batalhas: Jargeau, Meung-sur-Loire e Beaugency, nos dias 16 e 17 de junho do mesmo ano.

Na primavera de 1430, Joana D'Arc, ao tentar libertar a cidade de Compiègne, foi capturada pelos aliados do conde de Borgonha. Depois de interrogada e torturada inúmeras vezes, Joana, com apenas dezenove anos, foi queimada viva em Rouen, no dia 30 de maio de 1431, acusada de heresia e bruxaria. Foi o fim da grande heroína francesa da Guerra dos Cem dias.


A paz forçada
A Batalha de Poitiers se tornou o momento mais delicado para a França durante a Guerra dos Cem Anos. Sua derrota resultou no Tratado de Brétigny, que impunha pesadas sanções ao país. Derrotada e sem rei, a França não tinha nenhum poder de negociação e acabou abrindo mão de Calais, Aquitânia e Gasconha para a Inglaterra. No total, perdeu cerca de um terço de seu território.

Em troca, Eduardo III, da Inglaterra, desistia do trono da França e os direitos às regiões da Normandia e Bretanha. No dia 24 de outubro de 1360, foi paga a primeira parcela de 600 mil coroas. O restante seria dividido em prestações a serem saldadas a cada seis meses. Como garantia, 40 nobres franceses ficaram reféns dos ingleses para serem libertados, aos poucos, a cada fatura liquidada.

Mas ficava cada vez mais difícil para o governo francês honrar sua dívida. Quase cinco anos se passaram quando João II finalmente conseguiu voltar para casa em 1364 para morrer quatro meses depois, sendo substituído por seu filho Carlos V. Apesar de sua conhecida generosidade para com os pobres, João passou à história como um rei atrapalhado na política e sem nenhuma capacidade para liderança.

Segundo período (1364-1380) 
Ordem na casa 
Carlos V se negou a pagar a conta exorbitante aos ingleses e, ao mesmo tempo, resolveu dar um jeito na própria casa. Unificou seus exércitos e graças a um notável cavaleiro francês, Bertrand Du Guesclin, organizou seus homens para combaterem em um sistema de guerrilhas. Assim, conseguiu recuperar parte de seu território perdido.

As vitórias permitiram que o rei centralizasse o poder. Dessa maneira, Carlos V, o Sábio, controlou melhor seus nobres, aumentou a arrecadação tributária e organizou o Estado, colocando homens capazes, vindos da burguesia, em altos cargos de confiança.

Em 1377, na Inglaterra, com um pequeno intervalo de meses, morreram Eduardo III e seu filho, o Príncipe Negro. O sucessor foi o neto do monarca falecido, Ricardo II, com apenas dez anos. A morte de Carlos V, em 1380, esfriou o ânimo dos franceses pela guerra.

Terceiro período (1380-1422) 
Tempos de trégua 
No fim do século 14 e nas décadas seguintes, franceses e ingleses se viram às voltas com revoluções internas que exigiam mais atenção do que a guerra entre eles. Dessa forma, começou uma fase de paz não declarada, rompida de quando em quando.

Os franceses enfrentaram problemas muito mais complexos. Em 1380, com a morte de Carlos V e com a ascensão do herdeiro Carlos VI, de doze anos, houve a cisão da nobreza francesa. Os partidários dos duques de Borgonha, considerando Carlos VI incapaz, tentaram tomar o poder várias vezes, mas perderam. Daí resolveram se aliar aos ingleses.

A Batalha de Poitiers se tornou o momento mais delicado para a França durante a Guerra dos Cem Anos. Sua derrota resultou no Tratado de Brétigny, que impunha pesadas sanções ao país

Por sua vez, Ricardo II, então com 22 anos, enfrentou graves distúrbios sociais e oposição de grande parte da nobreza. Dez anos depois, foi sucedido por Henrique IV em 1399. Anos depois, a loucura do rei Carlos VI mais a guerra civil entre os franceses animou o novo rei inglês Henrique V (1413) a reivindicar de novo o trono francês para a Inglaterra. Em 1415, o monarca desembarcou na Normandia, tomando Harfleur.
Os comandantes 
Quem reinou durante o período da Guerra dos Cem anos:

Filipe VI, o Afortunado (r. 1328-1350) * 
João II, o Bom (r. 1350-1364) * 
Carlos V, o Sábio (r. 1364-1380) * 
Carlos VI, o Louco (r. 1380-1422) * 
Carlos VII, o Delfim (r. 1422-1461) *

Eduardo III de Inglaterra (1327-1377) *
 Ricardo II de Inglaterra (1377-1399)* 
Henrique IV de Inglaterra (1399-1413) * 
Henrique V de Inglaterra (1413-1422) * 
Henrique VI de Inglaterra (1422-1461)*
*Datas de início e fim do reinado

Carlos V unificou seus exércitos e graças a um notável cavaleiro francês, Bertrand Du Guesclin, organizou seus homens em um sistema de guerrilhas: conseguiu recuperar parte de seu território perdido

Batalha de Azincourt 
"Aquele que sobreviver esse dia e chegar à velhice, a cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: 'Amanhã é São Crispim.' E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: 'Recebi estas feridas no dia de São Crispim.'" (A Vida do Rei Henrique V, ato IV, cena III - Shakespeare)

No dia de São Crispim, a 25 de outubro de 1415, a chuva torrencial transformou o campo de guerra em um atoleiro o que, mais uma vez, foi providencial para os exércitos ingleses. A diferença numérica era gritante: 50 mil franceses contra 15 mil arqueiros ingleses e galeses. Mesmo assim, mais uma vez a orgulhosa cavalaria francesa foi arruinada. Alguns historiadores calculam que na Batalha de Azincourt morreram 10 mil franceses contra apenas 1.600 ingleses.

A nova ascensão inglesa impôs, em 1420, o Tratado de Troyes que garantia à Inglaterra todo o norte da França, inclusive Paris. E mais, forçou Carlos VI a deserdar seu filho, o Delfim Carlos VII do trono. Como se não bastasse, o louco rei francês ainda teve de aceitar o casamento de Henrique V com sua filha, a princesa Catarina. Depois do enlace, Henrique V da Inglaterra finalmente tomou posse do trono francês por direito.
Pintura francesa do século XV retratando a Batalha de Crécy, de 1346

Quarto período (1422-1453)
Ajuda vinda dos céus
Em 1422, Henrique V da Inglaterra e Carlos VI da França morreram e os dois tronos, oficialmente, se destinariam a Henrique VI, um bebê recém-nascido. Seu tio, o Delfim Carlos VII (deserdado anteriormente por seu avô,) finalmente foi coroado em 1429, mas ficou apenas com uns poucos territórios do sul da França, enquanto o norte estava nas mãos de Filipe III, o Bom, um fantoche comandado pelo reino da Inglaterra.

Depois de coroado, o Delfim Carlos se dirigiu ao Vale do Loire para comandar resistência francesa. Foi quando surgiu em sua vida uma camponesa que, disposta a lutar por sua pátria, trouxe à França e ao Delfim uma vitória importante ao vencer a Batalha de Orleans. (veja box na página 42).

A última batalha 
Porém, o fim da guerra ainda teria de esperar mais 24 anos. Nesse meio tempo, ingleses e franceses ainda se enfrentaram em mais três combates em 1429: Jargeau, Meung-sur-Loire e Patay. Em 1450, o campo de luta foi em Formigny.

Até que, em 1453, na Batalha de Castillon, os franceses conseguem recuperar a cidade de Bordeaux, o último reduto inglês. Nenhum tratado foi assinado para declarar oficialmente o fim das hostilidades. No entanto, a rivalidade anglo-francesa ainda perduraria por muito mais tempo.
Saiba +
Cawthorne, Nigel. As Maiores Batalha da História - Estratégias e Táticas de Guerra que Definiram a História de Países e Povos. Editora M. Books. 
Spoto, Donald. Joana D'Arc. Editora Planeta. 
Beaune, Colette. Joana D'Arc. Editora Globo. 
Barker, Juliet. Agincourt - O Rei, a Campanha, a Batalha. Editora Record. 
Perroy, Edouard. La Guerra de Los 100 anos. Editora Akal Ediciones. 
As Grandes Batalhas da História. Larousse Editorial. Larousse do Brasil.
Revista Leituras da História

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Jean François-Poncet

O Presidente da República francês, Valéry Giscard d'Estaing, recebe artesãos franceses do Tratado de Roma, no Palácio do Eliseu
Paris, 22 março de 1977
Da esquerda para a direita: Jean Monnet, Valery Giscard d'Estaing, Antoine Pinay, Maurice Faure, Robert Marjolin, Jean François-Poncet, Pierre URI, Edgar Faure, Raymond Barre, Alain Peyrefitte.
© Serviço Fotográfico da Presidência da República Francesa, em Paris
Tradução google

Retrato de Jean François-Poncet

AutoresAnne Dulphy

Ex-aluno da ENS Ulm-Sèvres, agregar e um doutorado em história, Dulphy Anne é professor na Escola Politécnica e pesquisador do Centre d'Histoire de Sciences Po Sua pesquisa se concentra nas interações entre as questões internacionais, a política Interno e da sociedade. Centra-se especificamente sobre a política externa da França, em particular as suas relações com a Espanha e Bacia do Mediterrâneo, e sua posição na Comunidade Europeia. Ela já publicou vários livros, incluindo A política da França para a Espanha 1945-1955 (Paris, Ministério dos Negócios Estrangeiros, al. "Diplomacia e História, 2002) e co-dirigiu com Yves Leonard da ditadura para a democracia: os canais ibéricos (Bruxelas, PIE-Peter Lang, 2004). Manigand com Christine, ela co-dirigiu a opinião pública contra a Comunidade Europeia (Bruxelas, PIE-Peter Lang, 2004) e publicado na França risco da Europa (Paris, Armand Colin, 2007). Ela acaba de lançar um dicionário crítico da União Europeiapor Armand Colin (co-dirigido com Christine Manigand Yves Bertoncini, Thierry Chopin e Kahn Sylvia).

Christine Manigand

Christine Manigand é professor de História Moderna na Universidade de Poitiers e pesquisador do Centre d'Histoire de Sciences Po Sua pesquisa se concentra na interface entre história política francesa, a aventura europeia e as relações internacionais. Ela já publicou vários livros, incluindoOs franceses servem a Liga das Nações (Berna, SA Peter Lang, 2003) e co-dirigiu com o Réau Elizabeth, para a unificação da Europa. Contribuições e limitações do processo de Helsínquia em 1975 to the Present (Paris, L'Harmattan, 2005). Dulphy com Anne, que ela co-dirigiu a opinião pública contra a Comunidade Europeia (Bruxelas, PIE-Peter Lang, 2004) e publicado na França em situação de risco da Europa (Paris, Armand Colin, 2007). Ela acaba de lançar um dicionário crítico da União Europeia por Armand Colin, co-dirigido com Anne Dulphy Yves Bertoncini, Thierry Chopin e Kahn Sylvia.

A

pedreira conta com Jean François-Poncet, nascido em 08 de dezembro de 1928, é listado sob o selo da dupla lealdade. Primeiro, sua crença na obrigação primordial de uma reaproximação entre a França ea Alemanha, e seu corolário, tornando esta aliança a pedra angular da integração europeia.

2

Assim, quando o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Valery Giscard d'Estaing analisa o impacto dos franceses "não" em 29 de Maio de 2005, o Tratado Constitucional, é principalmente através do prisma de relações franco-alemãs ameaçadas Este resultado faz. Já, 06 de abril de 2005, o senador Lot-et-Garonne foi na galeria do Palácio de Luxemburgo, advertiu contra as consequências de uma possível rejeição francesa pode provocar um divórcio entre os dois países. Ele ressaltou que esta seria a primeira separação significativa do casal desde o início do processo da comunidade. Certamente, essa discrepância não seria inédito, mas, ele explicou: "Pela primeira vez em 55 anos, as estradas de França e Alemanha especial no que respeita a Europa, não em um tópico secundário, mas em uma questão fundamental. " Embora considere que, em retrospecto seu medo de assistir a uma mudança do centro de gravidade da Europa, incluindo a Grã-Bretanha terá os lucros, impondo o seu conceito de que sempre de uma "Europa à l'anglaise" , uma vasta área livre de comércio bem longe do poder europeu em torno do eixo franco-alemão, não era verdade: a Grã-Bretanha ofereceu nenhum progresso poderia receber os votos dos seus parceiros para enfrentar o desafio rejeição da Constituição. Mas permanece o fato de que uma relação especial entre a França ea Alemanha precisava de mais do que nunca em seus olhos. Ela pede, além da divergência cíclica, correspondente ao valor corresponde tendências comuns em termos de visão de futuro da Europa: a recusa do modelo britânico, a proposta de uma parceria privilegiada com a Turquia, e a mesma referência à economia social de mercado. É somente a esse preço, ele acredita, que irá poupar a maioria dos franco-alemão de 50 anos, sujeita a muitas vicissitudes que tenha triunfado "Se a relação franco-alemã tem alguma chance não sobreviver à francesa, não se segue que seja mais do que no passado, "Long Quiet River"[1]
[1] Jean François-Poncet, "O novo desafio, "Jornal ...
continuou
. "

3

O apego emocional, mas, realisticamente, Jean François-Poncet para a Alemanha vem de longe. Os links que forjou com data China volta à infância. A infância passada na Alemanha, um conhecimento da língua alemã e da civilização, sem esquecer a tradição familiar, a chave, permeia todas as suas memórias. O legado de seu pai, André François-Poncet, germanista distinto, que foi embaixador em Berlim, 1931-1938[2]
[2] André François-Poncet, Lembranças de uma embaixada para ...
posteriormente
, marcou o jovem rapaz, ele estava: não há falta hoje evocar a memória da revista nazista na capital do Reich, as procissões de tochas através das janelas da Embaixada da França e lembre-se que ele jogou no colo de Hermann Goering ... Ela também descreve a prisão de seu pai em 1943, Grenoble, Lyon pela Gestapo e deportado para a Alemanha, onde voltou em 1945, divulgado pela antes de uma era do Exército francês. O regime nazista não perdoou os relatórios que ele tinha feito como um embaixador para avisar os governos da III ª República da ameaça representada por Hitler.

4

Depois da guerra, André François-Poncet foi nomeado em Bonn, Alto Comissário da França, na Alemanha (1949-1956) e, portanto, desempenhou um papel importante na pré-história da reconciliação franco-alemã. Jean François-Poncet gosta de relembrar os contatos feitos em seguida com Konrad Adenauer, mas com muitos jovens alemães encontradas nas recepções realizadas por sua mãe. No prefácio, ele fornece relatórios mensais para o Alto Comissariado escreveu para o Quai d'Orsay, ele relata as dificuldades e resistência à franco-alemã superar através da vontade política da maioria dos líderes a IV ª República. Essa perseverança é, diz ele, ser aplicada continuamente para superar as diferenças que não tenham desaparecido desde a reunificação, pelo contrário. Ecoando as palavras de seu pai sobre a amizade entre os dois países "é uma planta frágil que precisa ser regada todos os dias", acrescenta ele, "André François-Poncet sabia melhor que ninguém que somente a terra onde cresce raízes fortes é a construção europeia[3]
[3] mensais André François-Poncet, o Alto Comissário ...
continuou
. "

5

Entretanto, um Ph.D. em Economia, um Master of Arts em universidades americanas Wesleyan e Tufts, Jean-François Poncet em 1953 entrou na École Nationale d'Administration (ENA), para tornar-se dois anos mais tarde secretário da embaixada atribuída à Direcção-Geral de Assuntos Políticos do Quai d'Orsay. Assim que foi surgindo a recuperação europeia, tornou-se um ator, ainda modesta, na esteira de Maurice Faure, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, onde foi director-adjunto do Estado Maior, então como secretário-geral da delegação francesa participou da negociação e assinatura dos tratados do Mercado Comum e março Euratom 25, 1957.Analisando esses eventos hoje no 50 º aniversário do Tratado de Roma, Jean François-Poncet traz todas essas discussões antes de um duo franco-alemão, que então compreendia os outros parceiros. Ele adora falar sobre suas memórias da ocasião da visita de Londres da delegação francesa, de regresso de Roma, com o primeiro-ministro britânico: em termos muito corteses, Harold MacMillan explicou que o Tratado de Roma não foi feita para Grã-Bretanha, mas seu discurso pontuado ", mas se você tiver sucesso, vamos acompanhá-lo."

6

Três anos mais tarde, na Sub-Direcção de Assuntos Europeus no Ministério dos Negócios Estrangeiros confortèrent sua aprendizagem Europeu, o acompanhamento da experiência internacional (em Marrocos, como chefe da missão de assistência técnica, em seguida, na sub-direcção da África East 1963-1968, então como primeiro conselheiro da embaixada em Teerã, de 1969-1971). Então, a partir da década gaullista, onde ele poderia ter o sentimento de ser marginalizado por causa de sua europeísta que podem ser desapontado por não ter obtido o cargo de embaixador, partiu para prestar serviço em particular dentro da empresa Carnaud SA

7

É excelente tanto o seu conhecimento da Alemanha e as suas convicções Europeia afirmou que jogou em seu retorno ao cargo. Presidente Giscard d'Estaing, determinou reavivar o franco-alemã e um novo impulso à integração europeia, ele confiou em Janeiro de 1976, o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros ao Ministro Jean Sauvagnargues, ele próprio um ex-embaixador em Bona, desde que foi testado, principalmente por ser acusado de dirigir a independência Djibouti! Jean Sauvagnargues foi substituído alguns meses depois por Louis Guiringaud, que também ocupava uma posição na Alemanha na década de 50, onde ele foi, aliás, um dos colaboradores mais próximos de André François-Poncet. Jean François-Poncet deixou em julho de 1976, o Ministério para o Eliseu, que ele se tornou secretário-geral em sucessão a Pierre-Claude Brossolette, colaborador de longa data de Valery Giscard d'Estaing si mesmo e muito pró-europeu. Em 29 de Novembro de 1978, Valery Giscard d'Estaing nomeado Jean François-Poncet na cabeça do Quai d'Orsay, que deixou apenas com a alternância, 13 de maio de 1981.

8

Apesar da preferência comum para vários ministros dos Negócios Estrangeiros de Valery Giscard d'Estaing na componente Franco-Alemão, e, como testemunhou Gabriel Robin, o "coração" escapou dos assessores do Elysee e do Quai d ' Orsay ", ou seja, os relatórios diretos, o homem pessoal, para o homem, que forjaram e manteve o presidente e chanceler federal Helmut Schmidt[4]
[4] Serge Berstein e Jean- Francis Sirinelli (ed.), The ...
resultado
. Essa personalização da política externa tem-se caracterizado os sete anos, levantando a questão do papel da diplomacia que Valéry Giscard d'Estaing foi retrospectivamente definido como "um perito para a recomendação e para a execução ..." mas não "para os objectivos e as doutrinas", que ele considera que a definição exige uma legitimidade eleitoral[5]
[5] Ibid. , P. 107. ...
resultado
. Jean François-Poncet retoma este esquema e discute a dupla que costumam formar os Presidentes da V ªRepública e Ministro dos Negócios Estrangeiros, em que apenas alguns chefes de governo interferir por causa de sua vida pessoal - como Raymond Barre, ex-comissário europeu - ou de coabitação. É o reflexo da regularidade das reuniões que teve com Valery Giscard d'Estaing, ajudado por suas funções anteriores como presidente. No poder e da vida, o ex-presidente homenageia a excelência de suas apresentações do Keynote no Conselho de Ministros, qualificado como "pequenas obras-primas", ele se opõe a inesquecível sensação "de tédio normalmente alcançado por relatórios diplomáticos[6]
[6], Valery Giscard d'Estaing, o poder ea vida, t. 1, ...
resultado
. Mas é em vão que Jean François-Poncet tentou dissuadi-lo de ir ao encontro com Leonid Brejnev em Varsóvia maio 1980[7]
[7] Valery Giscard d'Estaing, o poder ea vida, t. 2, ...
Na sequência
, em seguida, viaja tão fortemente criticada pela oposição.

9

em assuntos europeus, Jean François-Poncet, disse que o "cap" havia sido definido desde o início dos sete. Mas ele foi confrontado com várias questões complexas, incluindo a nomeação de Espanha como um representante eleito no sudoeste viu nenhum entusiasmo era, portanto, em consonância com a abordagem condicional da França - os contras de adesão "salvaguardas" - o que contribuiu para as negociações paralisadas para o relançamento de 1983. As eleições do Parlamento Europeu por sufrágio universal - o que ele chamou de um "evento político do ano" - provocou um intenso debate no seio da maioria que lhe deu a oportunidade de defender publicamente os valores que incorpora os olhos da Europa, e continua a fazê-lo desde então: o Estado de Direito, o equilíbrio de poder, solidariedade e contra a acusação contra a República Federal da Alemanha (RFA) procuram dominar Comunidade Económica Europeia (CEE), ele poderia ter respondido que ele usou contra a reunificação alemã, "Eu considero que a Comunidade é um sistema de protecção, que mantém o equilíbrio, mas para cancelar o poderoso[8]
[8] Jean François Poncet, "A Europa de Leste para ...
continuou
. "

10

muito apegado ao seu compromisso político no campo, Jean François-Poncet achei muito cedo em uma base regional em Lot-et-Garonne, presidente do conselho em duas ocasiões (1978 a 1994 e 1998-2004), ele agora é o senador, reeleito continuamente desde 1983. Instaura uma rica atividade no Palácio do Luxemburgo, onde não é só a vice-presidente da Delegação da União Europeia (UE), mas também, vice-presidente da Comissão dos Assuntos Externos, da Defesa e das Forças Armadas. Assim, ele coloca o seu compromisso inquestionável a serviço da política europeia da Europa, incidindo sobre a dimensão externa de acordo com a concepção francesa.

11

Voltando seu olhar sobre o desperdício da doença atual "[9]
[9] A fórmula tem sido usada pelo ministro da ...
resultado
da UE, ele menciona três temas que parecem fundamentais. Devemos em primeiro lugar, diz ele, que a maioria dos europeus acha que confiar no último, que só é possível quando ela é percebida como uma vantagem face a globalização, como um vetor de políticas económicas pró-ativa, e não como seu cavalo de tróia. Uma resposta clara à questão das fronteiras devem ser fornecidas também - e confirma, neste caso a não ser um defensor do alargamento quentes, quando o colapso do bloco de Leste, ele salientou que a unificação do continente no âmbito da União Européia impôs uma "reforma institucional[10]
[10] Jean François-Poncet, "Rumo a um diretório de continentes. ...
Posteriormente
, a mesma que existiu na primeira parte do Tratado Constitucional rejeitado por franceses e europeus de energia que determina sua "suposta completa" parceiro dos Estados Unidos no mundo do pós-guerra Fria. Por último, deve conseguir uma "maior consideração das aspirações democráticas do povo" durante o debate sobre Maastricht, ele já estava furando relevante - que fala de "federalismo reverso" - as carências de uma comunidade cujas competências estão gradualmente a ser desenvolvidas em áreas relacionadas à vida diária ao custo de acumulação descontrolada de diretrizes e reação da opinião pública, mas manteve-se limitada na esfera da política, e ele pediu um princípio claro da subsidiariedade para restaurar a pirâmide democrática em sua base[11]
[11] "O que a Europa?", organizado e publicado por ...
resultado
. Ele também salienta a necessidade de conquistar a opinião pública, encontrando maneiras de bater em uníssono com o coração dos europeus.

12

Ironicamente, enquanto ocupou e ainda ocupa muitas funções no pro-europeia grupos (que tem revivido no início dos anos 90 o Movimento Europeu França, quando presidiu a campanha sobre o Tratado de Maastricht Atualmente atua nos conselhos da Fundação Robert Schuman e da Associação Notre Europe), ele rejeita o termo ativista Europa. Não se pode, segundo ele, só se aplicam às estruturas da rede, agindo como grupos de pressão, e os homens visionários como Jean Monnet, fundador do Comité de Acção para os Estados Unidos da Europa que funcionou de 1955-1975, só podia, por causa de sua experiência com o Plano, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), e através de laços forjados ao longo de um longo tempo com os Estados Unidos adotem peregrino pessoal ou enviar o seu missi dominici a turnê capitais europeias. Por seu lado, Jean François-Poncet prefere para o acampamento que os militantes dos atores, e ele afirma - que os fiéis de Jean Monnet - como um defensor do fortalecimento "solidariedade de facto" necessárias para assegurar o futuro de uma União Europeia, cuja arquitetura de geometria variável seria baseada na matriz franco-alemã. "Qual a estrutura que o futuro da União Europeia? Haverá duas áreas distintas: uma nebulosa e monetária, económica, diplomática e de defesa central? J'opine pessoalmente a esta fórmula, porque eu não posso imaginar uma comunidade de cerca de trinta membros podem efetivamente resolver problemas que requerem uma colaboração mais estreita[12]
[12] Jean François-Poncet, "que a União Europeia amanhã? »,...
continuou
. "

13

Se estas questões venham a ser decidido, o francês "não" ao tratado constitucional será classificada entre as dores do crescimento da Comunidade Europeia que, segundo ele, sempre contribuíram para o seu progresso, permitindo que os tomadores de decisão tanto pareceres para fazer uma medida mais exata de interesses comuns, riscos colectivos e segregando-os na mesma consciência.

14

Jean François-Poncet encarna a diplomacia no realismo medido com base em crenças que nunca neguei. Sempre presente, esta injunção de longa data pode ser resumido: "... Não sacrifique a verdadeira Europa com um ideal europeu[13]
[13] "O que a Europa op?". cit. , P. 43. ...
resultado
Notas:

[1]1. Jean François-Poncet, "O novo desafio," Revue des Deux Mondes, n º 10-11, 2005, p. 40-41.Retour

[2]2. André François-Poncet, Lembranças de uma embaixada em Berlim,em setembro de 1931-outubro 1938, Paris, Flammarion, 1946.Retour

[3]3. mensais André François-Poncet, francês Alto Comissário na Alemanha 1945-1955:os primórdios da República Federal da Alemanha, Paris, Imprimerie Nationale, 1996, Volume 1, prefácio de Jean François-Poncet, P. 10.Retour

[4]4. Serge Berstein e Jean-François Sirinelli (ed.), O Giscard anos. Valery Giscard d'Estaing e Europa 1974-1981, Armand Colin, 2006, p. 81.Retour

[5]5. Ibid., p. 107.Retour

[6],6. Valery Giscard d'Estaing, poder e da vida, t. 1, Paris, de avião 12, 1988, p. 205-207.Retour

[7]7. Valery Giscard d'Estaing, poder e da vida, t. 2, de Paris, de avião 12, 1991, p. 414-415.Retour

[8]8. Jean François Poncet, "Europa de Leste para Oeste", de Defesa Nacional, Julho de 1990, n º 46, p.45.Retour

[9]9. A fórmula foi usada pelos Ministro Delegado dos Assuntos Europeus, Catherine Colonna, 29 de agosto de 2006.Retour

[10]10. Jean François-Poncet, "Rumo a um diretório de continentes. Sobre as relações entre a Europa e os Estados Unidos ", Commentary, Outono de 1992, n. 59, p. 567.Retour

[11]11. "O que a Europa?", organizado e publicado peloevento europeu em Novembro de 1992, n º 20, p. 39-40.Retour

[12]12. Jean François-Poncet, "O que o futuro da União Europeia?" Defesa Nacional, Julho de 1996, n. 7, p. 15.Retour

[13]13. "O que a Europa?", op. cit., p. 43.Retour

Anne e Christine Dulphy Manigand "Retrato de François-Poncet Jean," História Política @ 1 / 2007 (No. 01), p. 10-10.

Revue Histoire Politique