domingo, 10 de janeiro de 2010

A CIDADE DE LONDRES NO SÉCULO XIX: UMA ABORDAGEM SOBRE OS MARGINALIZADOS

A CIDADE DE LONDRES NO SÉCULO XIX: UMA ABORDAGEM SOBRE OS MARGINALIZADOS


José Emerson Tavares de Macêdo

Introdução

Quando resolvemos trabalhar sobre a cidade, muitas são as perguntas que lançamos para compreendê-la. São perguntas do tipo: O que é a cidade? Como surgiu? Que processos promovem? Qual a sua função? Entre outras, mas o nosso objetivo não é fazer uma historização sobre cidade. O presente trabalho busca realizar uma análise da cidade de Londres no século XIX.. Tendo como objetivo mostrar os marginalizados do século XIX, (operários, as prostitutas, os pobres e ladrões); não se esquecendo de resignificar o espaço habitado por estes. São eles que trazem mudanças significativas no espaço urbanístico de Londres no século XIX, como: O aumento da camada populacional. A desorganização nas ruas de Londres, devido às improvisações de suas moradias. As preocupações do discurso médico sanitarista que nessa época da modernidade, pretendeu organizar os centros urbanos no sentido de desinfetar esses centros, afastar os subalternos já que eles eram a “imagem” da falta de higienização. Trouxeram também o aumento da mortalidade infantil com a cólera, a fome. Nos adultos além dessas causas doenças sexualmente transmissíveis como a sífilis eram fatores de “controle” dessa sociedade. Enfim foram vários os aspectos que essa camada social, trouxe a cidade de Londres no século XIX.

A Revolução Industrial e seus nefastos espectros

As origens da cidade são obscuras, enterradas ou apagadas em parte do seu passado, e são difíceis de pesar perspectivas futuras. Para melhor compreende-la devemos observar sobre seu período histórico, a fim de compreender os obscuros traços de estruturas ainda antigas e de funções ainda mais primitivas.
Para alcançar uma perspectiva suficiente das tarefas imediatas no momento, proponhamos a retroceder até o inicio de sua história, para que uma nova imagem da cidade de Londres seja entendida, projetando essa imagem, seremos capazes de encontrar uma nova forma para cidade.
Neste presente artigo abordaremos sobre os marginalizados de Londres no século XIX (ladrões, pobres, operários e prostitutas), para poder abarcar a sociedade londrina em seus respectivos espaços . A história desses marginalizados se dá com o início da Revolução Industrial e a ascensão e o crescimento da indústria moderna, no final do século XVIII, que levou à massiva urbanização e à ascensão de novas grandes cidades, primeiramente na Europa, e posteriormente em outras regiões, à medida em que as novas oportunidades geradas nas cidades fizeram com que grandes números de migrantes provenientes de comunidades rurais instalassem-se em áreas urbanas. Provocado pelos avanços tecnológicos, que influenciaram bastante o desenvolvimento de cidades ao longo da história. Esses avanços tecnológicos permitiram a criação de grandes fábricas e ferrovias, que geravam empregos e atraíam grande quantidade de pessoas do campo para as cidades onde as fábricas estavam localizadas. Trens, automóveis e outros meios de transporte facilitaram o transporte entre um ponto a outro de uma cidade, bem como entre diversas cidades entre si.
A industrialização das cidades causou grandes mudanças na vida urbana. Produtos que artesãos levavam horas para fazer eram produzidas em questão de minutos nas fábricas, ainda mais, em grande quantidade, e a preços mais baixos. Os artesãos passaram a ter crescente dificuldade em encontrar clientes dispostos a comprarem produtos que passaram a ser produzidos por preços mais baixos nas fábricas. Muitos destes artesãos desistiram de seus negócios e ficaram desempregados, vários deles foram obrigados a trabalhar em fábricas para sustentar-se. A indústria tornou-se a principal fonte de renda das grandes cidades do século XVIII e do século XIX. O comércio inter-urbano tornara-se mais forte do que nunca. Grandes quantidades de produtos industrializados, fabricados em uma cidade, eram transportados em trens e navios a vapor até outras cidades. O imenso custo da construção e manutenção das fábricas, e da obtenção de matéria-prima, foram um dos motivos da ascensão do capitalismo, onde bancos e investidores, através de empréstimos e parcerias econômica, ajudavam a cobrir os custos da construção e manutenção destas fábricas. Várias cidades tornaram-se grandes centros bancários e financeiros, como Londres, Paris, Nova Iorque, Montreal e Chicago.
A população das cidades industrializadas cresceu bastante. Isto ocorreu por causa de dois fatores. O primeiro fator eram as altas taxas de crescimento populacional da época, ou seja reprodução acelerada. O segundo fator foi o início de um forte êxodo rural, onde um crescente número de agricultores passaram a deixar os campos, indo em direção às cidades. Muitos destes agricultores mudaram-se para as cidades porque avanços tecnológicos na área da agro-pecuária haviam reduzido a necessidade de mão-de-obra humana, outros foram às cidades simplesmente em busca de uma vida melhor. Ex-agricultores incluindo crianças passaram a trabalhar nas fábricas, geralmente morando em bairros próximos dás fábricas devido o tempo imposto pelas fábricas. Segundo Decca, E. (1990, p.15)
Essa imposição de normas e valores por um determinado setor da sociedade pode ser percebida decisivamente quando tomamos a noção de tempo útil , produzida pela ampliação da esfera do mercado e que não só disciplina a classe burguesa como também procura se introjetar no âmbito da gente trabalhadora. Essa introjeção de um relógio moral no corpo de cada homem demarca decisivamente os dispositivos criados por uma nova classe em ascensão.

Ou seja, De Decca fala da introjeção do relógio moral, no trabalhador, pois a noção de Tempo útil significa dinheiro. Londres era conhecida pela produção têxtil (seda), pela construção naval e pela engenharia civil e mecânica pesada; nos anos setenta, comparativamente a outras áreas industriais, a produção da cidade tornara-se deficiente quanto aos têxteis, à engenharia pesada, à construção naval e, de maneira mais geral, quanto a todo tipo de matéria-prima e produtos semimanufaturados. A instabilidade do mercado de trabalho acentua a extrema exploração do trabalhador e força-o a residir no centro da cidade, próximo aos lugares aonde sua busca de emprego ocasional se faz possível a cada manhã. Com a grande quantidade de mão de obra para trabalhar nas fábricas, elas começa abusar de seus empregados com: altas jornada de trabalho, péssima condições de trabalho, sem direitos trabalhistas, ou seja eram verdadeiros “escravos” dos patrões e das máquinas, já que quando essas quando foram implementada no trabalho fabril trouxe verdadeiro desagrado entre os trabalhadores, já que o ritmo do trabalho agora era imposto pela máquina, além do desemprego que ela trazia consigo, cada vez mais ela vinha substituindo o trabalho do homens nas fábricas. O rápido crescimento populacional, e a inovação tecnológica, foi suficiente para provocar os mais variados sentimento e as mais diversas reações. Segundo Martinho, F. (2000, p.187), apresenta as formas de protesto no período pré-industrial.

A forma mais comum de protesto no período pré-industrial foi o ataque a propriedades, oficinas e maquinarias, sempre exigindo a negociação com patrões ou autoridades. De um modo geral esses levantes tinham dois objetivos: proteger os trabalhadores contra cortes nos salários ou aumento de preços e contra o surgimento de novas máquinas que pudessem substituir o trabalho humano.

Já no período industrial, dois movimentos se destaca o “ludismo” e o “cartismo”. O primeiro, é lembrado como um movimento contra as máquinas, este movimento deve ser entendido como um movimento tipicamente sindical, destinado a forçar os empregados a concessões, podendo ser caracterizado pela revolta e pela violência. Já o cartismo foi, ao mesmo tempo, um movimento de caráter nacional e local, sua dimensão nacional se deve ao fato de trazer consigo segmentos sociais saudosistas do passado, como trabalhadores das industrias domésticas e dos teares manuais, que entravam em declínio diante do novo sistema industrial. Ao mesmo tempo, o cartismo buscou sempre privilegiar os métodos de manifestação e as tradições de cada região, isso lhe deu um caráter local. Esse movimento pode ser caracterizado, onde o predominaram a mobilização em torno do Parlamento e, por isso, legalistas. Esses movimentos se fará presente na Segunda metade do século XIX. Segundo Martinho, F. (2000, p.195)

A classe operária de meados do século XIX, sem dúvida, bastante diferente das classes trabalhadoras da primeira metade do século. Estas trabalhavam sobretudo no setor têxtil, e engrossavam, além disso, os setores, ainda então bastante significativos, de artesãos (alfaiates, sapateiros, etc.). O crescimento posterior das ferrovias aumentou o número de trabalhadores em segmentos mais “modernos” da economia, em particular a metalurgia. Por outro lado, as ferrovias, com suas demandas, (as novas locomotivas movidas a vapor), também povoavam as minas de carvão.

Nessas áreas, a superpopulação acelerada e piora as condições sanitários das moradias. As péssimas condições de moradia e a superpopulação são duas anotações constantes sobre os bairros operários londrinos. Com o pouco tempo de descanso, os operários procura se alojar próximos das fábricas, aglomerando mais ainda a região central da cidade, vivendo de forma precária degenerando a imagem visual das ruas de Londres. Engels (1844), é citado por (Bresciani, 2004, p. 26) para colocar o relato de Engels sobre os bairros operário:

Um lugar chocante, um diabólico emaranhado de cortiços que abrigam coisas humanas arrepiantes, onde homens e mulheres imundos vivem de dois tostões de aguardente desconhecidas, onde todo cidadão carrega no próprio corpo as marcas da violência e onde jamais alguém penteia seus cabelos.

As condições sanitárias da cidade industrial típica da década de 1830 eram péssimas. Elas geralmente não dispunham de abastecimento de água e esgoto nem mesmo nos bairros onde as casas e apartamentos da burguesia e da elite estavam localizadas. Do mesmo modo que a cidade crescia com ela vinha seus problemas. Não só a falta d’água, mas também a ausência de lugares onde jogar a água suja após o seu uso. O lixo, os esgotos domésticos e mesmo os dejetos urinários eram jogados na rua, ou próximo do rio. Assim, o hábito de tomar banho, devido à falta d’água e às dificuldades de sua eliminação, levava o banho a um hábito raro, como também o hábito da troca de roupas ou mesmo de lavá-la. Mas gradualmente, tais serviços foram instituídos nas cidades, primeiramente nos bairros da elite e da burguesia, ao longo do século XIX. Somente posteriormente, já no início do século XX, os bairros da classe trabalhadora passaram a receber estes serviços. Isto, nos países desenvolvidos. Mesmo hoje, várias cidades industriais em países em desenvolvimento não possuem estas instalações. A poluição tornou-se um grande problema nas cidades industrializadas. A falta de instalações sanitárias adequadas e a poluição fizeram com que as taxas de mortalidade das cidades industriais tornasse muito alta. A industrialização da grande maioria das cidades ocorreu de modo totalmente desorganizado. Fábricas e bairros residenciais eram construídos uns próximos aos outros. (Martinho, 2000, p. 192 -194)
[...] Apenas em 1850 foi criado um departamento de obras públicas, para enfrentar os já graves problemas de higiene. Ao mesmo tempo em que o orgulho londrino buscava apresentar uma cidade rica e próspera, espelho de todo o Reino Unido, havia, a rigor, várias cidades dentro de uma só. Uma heterogeneidade que lhe garantia uma riqueza cultural bastante significativa. [...] Por volta de 1900, esses hábitos começaram a mudar na mesma medida em que a medicina sanitária avançada, defendendo novos hábitos e costumes. A defesa da água encanada, do hábito de ferver o leite antes de tomá-lo, o reconhecimento de que a explosão urbana podia provocar doenças endêmicas. Todos esses fatores contribuíram para a construção de uma nova idéia de saúde higiene, ligada à limpeza e à prevenção. Além disso, verificaremos também a mudança nos hábitos alimentares da população, fator que possibilitaria uma vida mais saudável.

O rápido crescimento populacional levava aos problemas urbanos: pobreza, poluição, desorganização durante os anos do século XIX, forçando a cidade de Londres a tomarem medidas para tentar minimizar estes problemas. Durante o final do século XIX, leis trabalhistas foram aprovadas na Inglaterra, com o intuito de proteger os trabalhadores que até então possuíam praticamente nenhum direito. Entre outras medidas, estas leis proibiam o uso do trabalho infantil nas fábricas. Outras medidas como melhorias na assistência médica e hospitalar para a classe trabalhista, fornecimento de abrigos e alimentos aos desempregados também foram tomadas. Para as elites dominantes, havia a preocupação de controlar os novos segmentos populares e lhes impor um sentido de ordem. Para as lideranças revolucionarias, o crescimento populacional, abria a possibilidade de uma presença maior da classe operária no cenário político, fato que lhes dava esperanças de transformações a curto prazo. Na citação abaixo podemos observar o discurso da burguesia tentando controlar juntamente com os discursos médicos a taxa de natalidade, da população londrina. Segundo (CHARLOT, MARX,1993, p.16)

A contradição se instala, efetivamente, já nos anos de 1860. Burguesia e aristocracia admitem o controle de natalidade, o que facilita a descoberta dos preservativos de borracha, e que saindo do campo dos “segredos vergonhosos”, [...] A diminuição do número de filhos caracteriza as classes trabalhadoras já nas duas última décadas do século, e um malthusianismo real denuncia um comportamento “racional” em matéria das relações sexuais. O divórcio é legalmente possível, facilitado pela lei de 1857, mas ainda reservado aos que podem pagar as pesadas despesas do processo.

Além disso, os sérios problemas causados pela desorganização e pela poluição levaram, eventualmente, à adoção de políticas de planejamento urbano, tais como leis anti-poluição, construção de estradas e a implementação de um sistema de transporte público (tais como linhas de ônibus e metrô) e saneamento.
Outro fato importante mencionar era as Casas de Trabalho (“Workhouses”), seriam prédios de cinco andares com doze setores capazes de abrigar 500 000 internos. Os criadores dessas casas objetivavam explicitamente tornar a pobreza rentável, eliminando assim o ônus financeiro da caridade. Essas casa não eram bem vistas pelos pobres trabalhadores desempregados. Essas casas, chamadas pelo homem pobre de Bastilha, se denominava como uma verdadeira prisão. Seus altos muros e a disciplina carcerária, que previa a separação dos membros da família, trabalho pesado para os homens, refeições magras e em silêncio, a proibição de fumar, as visitas raras sob observação e pouquíssimo conforto, contribuíram para formar essa imagem. Segundo Bresciani (2004, p. 44-45) ela diz que,

Deviam ser lugares pouco atraentes para que seus ocupantes procurassem sair de lá o mais rápido possível. Não deviam se sentir confortados em suas instalações, a vida em família e a boa refeição representavam privilégios, a merecida recompensas que ocupam seus dias com o trabalho produtivo. Mesmo a disciplina e a intensidade do trabalho lá dentro, deveriam ser sensivelmente mais rigorosos do que nas fábricas, de forma a atuarem como estímulo à busca de emprego. Trata-se, por tanto, de uma instituição destinada a introduzir ( ou a reintroduzir) seres não moralizados à sociedade do trabalho .

A multidão frenética de dia era composta de figuras das mais diversas. Os trabalhadores dos escritórios que contavam os passos à espera do horário do trabalho, os carregadores que corriam desajeitados, as lavadeiras com suas trouxas de roupa, os carteiros de porta em porta. Todos disciplinados pelo novo senhor das cidades, aquele que dita o ritmo das atividades: o tempo. Quando a noite chegava, rostos mudavam, comportamentos afloravam e nem sempre de maneira discreta. Quanto mais aglomerado o povo era nas cidades, mais isolado o homem se sentia; misturando-se em meio à sujeira e o mau cheiro. No final do século os bairros operários se agigantavam, tornando-se quase cidades dentro da cidade. Nesses verdadeiros antros de degradação se misturavam trabalhadores, beberrões e criminosos. Os ingleses viam no crescimento econômico as causas para os males sociais de altíssimo custo. O proletariado: trabalhadores pobres, famintos, deserdados da prosperidade, apesar de produzirem essa prosperidade, eram vistos como bárbaros, e por isso deviam ser mantidos em seus guetos, sem direitos, sem conforto, sem sonhos nem futuro. No final do século a imagem do novo mundo industrial era a pior possível. O desenvolvimento econômico tendo como aliadas as máquinas, fez do homem, simples peça, tendo sua vida reduzida não raramente à metade. Para ele havia o mistério, como o homem que cada vez trabalhava e vivia coletivamente como em nenhuma outra época da história humana, podia ser tão desunido em termos de afeição, bondade e união? Era a própria negação da sociedade, a afirmação do “anti-social”. A grande massa mostrava-se capaz de levar a sociedade para o alto ou para o buraco quando quisesse. Os que aceitavam a ordem e o sistema formavam a multidão produtiva, mas eram os que do trabalho fugiam a grande preocupação. A condição dos pobres não melhorou em nada durante o século XIX, e os romancistas se dedicaram cada vez mais a descrever francamente e sem rodeios a vida dos humildes. Vagabundos e trabalhadores pobres, marginalizados, vivendo em condições apartadas do mínimo conforto, essa multidão assustava, desorientava. Se a fábrica punha o pão na mesa do trabalhador, as leis dos pobres tentavam com todas as suas variantes, resolver a questão social dos deserdados, mão de obra não utilizável.
São os operários desempregados que acaba se tornando pobres, mendigos algumas vezes ladrões conhecido como batedores de carteira um numero numeroso de indivíduos de “aparência vivaz” onde as grandes cidades se encontravam infestadas, cuja enormidade do punho de suas camisas deveria traí-los imediatamente. No questionamento de Henry Solly em 1868, pode-se observa a presença dos policiais numero de policiais, “era de uma força policial de 8 000 ou 9 000 homens contra 150 000 indivíduos violentos e rufiões, os quais podem ser vistos na Metrópole investindo-se contra a lei e a ordem?” Algumas mulheres entram no mundo da prostituição, então podemos observar que uma fato se liga ao outro, ou seja um ex-operário pode virar mendigo como ladrão, uma mulher que trabalhava na fábrica além de mendiga ou ladrona, poderia vim a ser uma prostituta. Esse é o mundo dos marginalizados, vivendo nos subalternos da cidade de Londres. Segundo Bresciani (2004, p. 39)

Também se afirmava que “em cada esquina um moleque maltrapilho arrasta uma vassoura suja na nossa frente e alegremente nos impõe uma taxa; em intervalos pequenos e regulares, encontramos o lamento ininterrupto do robusto irlandês sempre invocando o nome de Deus em vão. Se entramos numa casa de lanches para uma refeição modesta de biscoito ou bolo, toda uma família de enraivecidos vagabundos se põe a olhar para cada bocado que introduzidos na boca.

Esses pobres não se encaixavam na figura de maus elementos, eram antes considerados pessoas que por suas fraquezas físicas e morais não haviam ainda respondido ao chamamento do trabalho. Com eles, elabora-se a figura da pobreza, onde o trabalhador, o desempregado e o vadio se confundem numa mesma imagem ameaçadora para a sociedade, devido a desorganização, a falta de higiene na qual sobreviviam.
A uma mudança no espaço das mulheres, sabemos que elas ocupavam espaço nas fábricas, principalmente nas têxteis devido o baixo pagamento em relação aos homens, nessas fábricas eram assediadas por trabalhadores, patrões e supervisores. Mas algumas mulheres começam reivindicar direitos, como o do voto, a mulher começa a ganhar a rua, a ocupar seu tempo não mais com lar de sua casa, mas como “feministas” onde busca direitos civis e políticos e da igualdade em relação ao homem, mas esses fatores estão ligados mais as mulheres da classe média, as mulheres pobres por sua vez auxiliava a renda familiar utilizando-se da prática da prostituição, algumas colocam que recebem bem mais do que trabalhando nas fábricas.
Ao contrário da reputação que tinha na primeira metade do século, o teatro se tornara um lugar respeitável, e não se viam prostitutas no público. Mas nas ruas próximas havia uma infinidade de mulheres ardosas. Cerca de 500 podiam ser encontradas todos os dias, à meia-noite, segundo um testemunho de um policial era quase impossível uma mulher honesta, descer a rua, de Haymarket até o Strand, por volta das três horas da tarde. Segundo Robbins (1993 p. 112-113) ela diz que,

Todas as importantes cidades da Grã-Bretanha vitoriana, grandes ou pequenas, conheciam evidentemente o comércio do corpo, mas Londres era, sem dúvida, a capital da prostituição... O número total de prostitutas em Londres sempre foi um mistério. As estatística da policia, no fim dos anos 1850, o fixam em 8.600, mas as estimativas da imprensa elevam esta cifra para 120.000.

Em Londres, no século XVIII, existiam os bordéis que atendiam os mais variados desejos da clientela. Entre eles, a vontade de se satisfazer com garotas mais jovens. Por isso, havia o aliciamento de meninas vindas do campo e a compra de crianças postas à venda do lado de fora das igrejas. Além disso, caso as mulheres operárias que não eram respeitadas e trabalhavam até 16 horas por dia ficassem desempregadas, o roubo, a pobreza e a prostituição eram conseqüências. No século XIX, as prostitutas atuavam em bordéis caros ou nas ruas, onde corriam o risco de ser presas. Além disso, as trabalhadoras das fábricas eram consideradas prostitutas ou futuras prostitutas.
No século XIX podemos vislumbrar esta situação de forma bastante acentuada, é nesta época que a mulher ascende ao espaço público para falar de assuntos sexuais, porém, de forma limitada aos conceitos culturais já existentes. A figura da prostituta também é muito polemizada neste século, a distribuição do mundo da prostituição é bastante abrangente, vai desde os bairros nobres até aqueles freqüentados por marinheiros e operários; em várias cidades era comum que, assim que chegasse, o homem adquirisse o ‘guia do cavalheiro’, onde constavam os preços, serviços e localização dos principais bordéis. Um outro aspecto da prostituição é a ‘interação’ que esta possui com as demais profissões das classes média e baixa. Muitas prostitutas residiam em bairros onde, tradicionalmente, moravam os operários. Operárias e trabalhadoras em geral complementavam seus baixos salários prestando serviços sexuais na rua; ademais, a prostituição se estabelecia como um refúgio para as jovens mais pobres, nestes casos o papel do bordel é de extrema importância já que ele se constitui num sistema de amparo às mulheres.
As prostitutas do século XIX era facilmente identificadas andavam usando muito pó e rouge no rosto, era identificada como “pintada” ou “vestida com exagero”, suas roupas se assemelhava um pouco das damas, ela podia usar seda, mas brilhante demais ou de má qualidade, e a musselina dos seus vestidos estava sempre suja, usavam um chapéu de plumas espalhafatoso, as roupas íntimas eram reduzidas ao mínimo possível. No entanto, algumas conseguiam se vestir tão bem que enganavam, aqueles que julgavam reconhecer as prostitutas pelo vestuário. Os habitantes de Londres, aconselhavam às suas primas da província que usassem um chapéu muito discreto, para mostrar a todos que não eram prostitutas. Robbins (1193, p.114-115) afirma que,

Entre as que chegam à capital, muitas são, no entanto, de origem inglesa, já prostitutas e profissionais experientes. Escolhem Londres intencionalmente: é o lugar onde se pode ganhar dinheiro e onde o exercício da profissão é menos dificultado pelas autoridades. Assim a filha de um fazendeiro de Chesterfield contou a A.L. Munby como decidira vir a Londres a fim de prostituir-se, dizendo à família que queria torna-se uma vendedora na loja de um comerciante de tecidos. [...] Sarah Tanner, embora não pertencesse a esse círculo, conduzia friamente os seus negócios e fazia suas contas. Começara como empregada doméstica, depois passara voluntariamente para a prostituição, antes de aposentar-se aos vinte e seis anos, tendo economizado o necessário para comprar um café e levar uma vida respeitável. Naturalmente, esses poucos casos eram a exceção e não a regra.

A partir da segunda metade do século XIX, inicia-se uma tentativa de regulamentação da prostituição: por exemplo, no caso de Londres, surge em 1839 o Metropolitan Police Act ( Lei de segurança urbana), no qual tentou livrar as ruas das prostitutas, mas só serviu para deslocar a atividade para outros locais. Alguns excessos da polícia contra as prostitutas levaram cidadãos respeitáveis a tomar a defesa das prostitutas. Mas estatísticas médicas revelaram que em 1864 um terço das doenças no exercito era de origem venérea. Foi então que foram aprovadas as leis sobre as doenças contagiosas de 1864, 1866 e 1869. As prostitutas notórias e as suspeitas deveriam se submeter a um exame médico, sob pena de serem processadas. As leis pressupunham que a responsabilidade pela propagação da doença era das mulheres, e não dos homens, e só elas eram submetidas aos exames.
Estas legislações provocam um fenômeno muito particular na distribuição e nas associações para a prostituição, as prostitutas foram obrigadas a mudar sua área de atuação e arranjar alojamentos em outras zonas da cidade; iniciou-se uma distinção entre pobres respeitáveis e não respeitáveis como tentativa da destruição dos laços que uniam as prostitutas às camadas mais pobres da sociedade; havia até mesmo inspeções às residências dos operários. A intensificação da política repressora abriu uma brecha entre as prostitutas e a comunidade operária pobre, o que ligou as primeiras aos meios delinqüentes. O bordel perde o prestígio anterior, tanto homens quanto mulheres pretendem ter mais liberdade e se esquivar do papel legislador das normas, aumenta a prostituição em cafés, nos teatros e em outros pontos de reunião das cidades.
Nesta mesma época e também em decorrência das medidas regulamentadoras, várias feministas se uniram a outras senhoras e religiosos; seu objetivo era o de revogar estas medidas, com a denúncia de que a prostituição era o resultado dos baixos salários, falta de oportunidades para emprego e restrições ao trabalho feminino na indústria. Para elas, era o sistema de regulamentação e não a prostituição em si, que condenava as mulheres a uma vida de ‘pecado’ impedindo-as de encontrar um emprego alternativo e respeitável, em suma, a legislação as estigmatizava. Faz-se necessário ressaltar que a intenção das feministas não era o simples fim do controle da prostituição, mas o fim da mesma; baseavam-se no ideal da castidade feminina, criticavam o comportamento sexual compulsivo, agressivo e dominador masculino.
É neste contexto que a mulher da classe média constrói a sua identidade, em contraste com a ‘mulher perdida’. Uma, cheia de virtudes, boa filha, boa mãe, possuía um comportamento sexual passivo. As mulheres da classe operária trabalhadora também acentuavam as suas diferenças das prostitutas, tanto através de sua apresentação visual quanto pela sua identidade privada, como esposas e mães. Estas mulheres também estavam preocupadas com as comparações perigosas que a riqueza relativa das prostitutas poderia exercer em seus filhos; várias são as cartas que estas enviaram às autoridades para que fechassem as casas de ‘má fama’.
Logo, percebemos que, apesar de constituírem uma população relativamente grande e que se infiltrava em diversas camadas da sociedade do século XIX, as prostitutas eram, assim como hoje o são; discriminadas em diversos aspectos, ora com uma visão romântica de seu ofício, o que implicava a total ausência do desejo e do prazer sexual feminino ou, obrigadas a permanecer em uma vida de clandestinidade, como se nunca fossem dignas de respeito como as demais mulheres.



Conclusão

Portanto este artigo teve por finalidade apresentar os marginalizados da capital inglesa, Londres no século XIX. Apresentamos o espaço e o contexto de cada indivíduo. Com eles, elabora-se a figura da pobreza, onde o trabalhador, o desempregado, o mendigo, os batedores de carteira, a prostituta e o vadio se confundem numa mesma imagem para a alta sociedade londrina, a de pobreza, mas é essa pobreza que nos mostra um verdadeiro espectáculo.

Bibliografia

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CHARLOT, Monica; MARX, Roland. Londres, 1851-1901: a era vitoriana ou triunfo das desigualdades, Rio de Janeiro: Jorge Zahar 1993.

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MARTINHO, Francisco Carlos Palomanes. Resistência ao capitalismo: plebeus, operários e mulheres. IN FERREIRA, Daniel Deão Jorge. ZENHA, Celeste. O século XX: O Tempo de certezas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

MUMFORD, Lewis. A Cidade na História. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

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PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

RODRIGUES, José Carlos. O Corpo na História. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999.


Revista alpharrabios
http://eduep.uepb.edu.br/alpharrabios - UEPB - EDUEP

Um comentário:

Emerson Campina disse...

Fiquei admirado quando me deparei com meu texto publicado nesse blog e gratificante saber que o mundo da escrita não restringe em apenas o autor, fico feliz em saber que outras pessoas apreciam essa discussão, que hora se mostra em um recorte temporal tão distante, mas que ao mesmo tempo observamos ainda nos dias atuais problemas como vivencia na cidade londrina no séc. XIX.