sábado, 20 de novembro de 2010

CAFÉ COM LEITE DERRAMADO

CAFÉ COM LEITE DERRAMADO

Reprodução
Charge de 1930 retrata os dois "lados" do Brasil na época do governo Whashington Luís
Washington Luís, o sucessor de Artur Bernardes na Presidência, apesar da origem carioca, era “paulista de Macaé”, legítimo representante da oligarquia de São Paulo e Minas Gerais. Foi eleito após acordo envolvendo a maior liderança do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, e Bernardes. Em troca do apoio ao novo presidente, Medeiros faria o novo ministro da Fazenda, Getúlio Vargas.

Depois de governar o Estado paulista, Washington Luís assumiu o país com o lema: “Governar é abrir estradas”. Conhecido farrista e mulherengo, faz sucesso na sociedade. É assim descrito pela imprensa da época: “Musculoso, lustroso bigode, espesso cavanhaque, cabelos abundantes, sempre bem vestido, com voz bela e cheia, o presidente reluzia nestes anos de 1928-29”.

Animado com a sociedade carioca, o novo presidente resumiu em poucas palavras sua política em relação aos movimentos sociais: “A questão social é um caso de polícia”. Para um governante alinhado com a oligarquia, manifestações contrárias aos interesses desta, confundidos inclusive com os interesses da nação, só poderiam ser tratadas como um caso de polícia.

Nome:Washington Luís Pereira de Souza
Natural de:
São Paulo
Gestão:
15.nov.1926 a 24.out.1930
Único candidato à presidência, governou sob os efeitos da crise da Bolsa de Nova York, em 1929, que gerou pressões ainda mais fortes sobre o preço do café, e a ascensão de movimentos contrários à política do "café-com-leite", que tem seu ciclo encerrado com a Revolução de 1930 e a subida de Getúlio Vargas ao poder.
A situação econômica do país não era boa. O café, desde 1925 ultrapassava suas possibilidades de exportação em virtude do crescimento contínuo dos cafezais. A produção brasileira anual média de 21 milhões de sacas superava o consumo mundial, que atingia 14 milhões de sacas. Além do café, a exportação da borracha e do cacau sofria uma seríssima crise.

As fraudulentas eleições, feitas pelos chefes políticos ou “coronéis”, se por um lado mantinham no poder seus representantes, por outro provocavam um desejo de reformas.

Getúlio Vargas, deixando a Pasta da Fazenda, ocupou o governo do Rio Grande do Sul, que, em virtude das divisões e ressentimentos locais, jamais conseguiu coesão política suficiente para que um gaúcho exercesse a presidência da República, não obstante ter Pinheiro Machado conseguido uma verdadeira hegemonia entre os grandes chefes políticos do país.

Mesmo no Império, jamais um gaudério foi indicado para a presidência do Conselho de Ministros. Getúlio compreendeu bem o problema. Sucedendo a Borges de Medeiros, tratou de apaziguar os grupos políticos antagônicos de seu Estado, formando uma “frente única”.

Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas Gerais, aspirava também à sucessão presidencial. Suas possibilidades enquadravam-se na política tradicional de alternância no poder de paulistas e mineiros.

Em São Paulo, surgiu o Partido Democrático, que reunia a oligarquia local dissidente. Os entendimentos políticos evoluíram no sentido de agrupar em torno de Getúlio as forças da oposição. Consequentemente, Minas Gerais e Rio Grande do Sul transformavam-se em dois grandes focos de rebeldia à política dominante. Na Paraíba, contariam com o apoio de João Pessoa, candidato à vice-presidência. Formou-se assim a chamada “Aliança Liberal”.

Júlio Prestes, governador de São Paulo, havia sido líder do governo na Câmara Federal e em torno de seu nome giravam as simpatias do Palácio do Catete. No entanto, de acordo com a política do café-com-leite, era a vez de o candidato ser mineiro.

Ao chegarem ao Brasil os efeitos do colapso da Bolsa de Nova York (outubro de 1929), aumentaram as possibilidades de uma solução armada. A crise de 1929 alastrara-se pela Europa, atingindo também São Paulo, como tradicional fornecedor de café aos países estrangeiros, conturbados financeiramente pela grande depressão.

O Brasil perdeu seu maior mercado consumidor: os EUA . Enfraquecera-se, pois, o Estado no qual o governo federal depositava suas esperanças. Os créditos internacionais foram suspensos. A política de valorização do café entrou em colapso, afundando o restante da economia nacional.

Realizaram-se, contudo, as eleições para os cargos de Presidente e Vice-presidente da República no prazo previamente determinado. Pulularam as fraudes de ambos os lados. O resultado final foi favorável a Júlio Prestes e Vital Soares, que não chegariam a tomar posse, uma vez que, 22 dias antes de terminar o mandato presidencial de Washington Luís, a Revolução tinha começado. Era a chamada Revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas.

A frase de Antônio Carlos “façamos a revolução, antes que o povo faça” evidencia que se admitia a existência de um clima revolucionário. A insatisfação com o regime havia atingido níveis muito altos. As classes dominantes, naturalmente, não queriam aceitar uma tomada do poder pela população. A “Revolução” foi, portanto, um meio de evitar uma revolução no sentido real da palavra, que abarcaria mudanças efetivas nas estruturas sócio-econômicas do país.

A Aliança Liberal se constituiu como uma coligação oposicionista de âmbito nacional, formada no início de agosto de 1929 por iniciativa de líderes políticos de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, com o objetivo de apoiar as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa nas eleições de 1º de março de 1930.

Sentindo-se alijado da disputa eleitoral, o presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, buscou apoio do Rio Grande do Sul para se opor aos planos de Washington Luís. Terceiro Estado em importância eleitoral, o Rio Grande do Sul tornava-se a peça-chave no jogo sucessório.

Foram intensas as negociações políticas entre as principais lideranças daqueles dois Estados desde o final do ano de 1928 até julho de 1929. No dia 30 deste mês, a comissão executiva do Partido Republicano Mineiro lançou as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa (presidente da Paraíba) respectivamente à presidência e à vice-presidência da República.

No dia seguinte, o Partido Libertador (PL), do Rio Grande do Sul, unindo-se ao Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) na Frente Única Gaúcha (FUG), deu apoio à chapa de oposição. Para tornar sua ação mais concreta, a oposição formou então, no início de agosto, a Aliança Liberal. A direção do movimento coube ao mineiro Afonso Pena Jr. (presidente) e ao gaúcho Ildefonso Simões Lopes (vice). Além de Minas, Rio Grande e Paraíba, a Aliança Liberal recebeu a adesão de todas as oposições estaduais, destacando-se o Partido Democrático de São Paulo e o Partido Democrático do Distrito Federal.

Em 20 de setembro, em convenção realizada no Rio, a Aliança Liberal homologou a chapa Vargas-Pessoa e sua plataforma eleitoral, redigida pelo republicano gaúcho Lindolfo Collor. Estabelecendo como essencial a reforma política do país, o programa aliancista defendia a representação popular através do voto secreto, a Justiça Eleitoral, a independência do Judiciário, a anistia para os revolucionários de 1922, 1924 e 1925-27 e a adoção de medidas econômicas protecionistas para produtos de exportação além do café. Preconizava ainda medidas de proteção aos trabalhadores, como a extensão do direito à aposentadoria, a aplicação da lei de férias e a regulamentação do trabalho do menor e da mulher.

Ainda em 1929, uma corrente mais radical da Aliança Liberal, formada por políticos jovens como João Neves da Fontoura, Oswaldo Aranha e Virgílio de Melo Franco, passou a admitir a hipótese de desencadear um movimento armado em caso de derrota nas urnas. Como primeiro passo, buscaram a colaboração dos tenentes, levando em conta seu passado revolucionário e seu prestígio no interior do Exército. Essas negociações se deram com grande dificuldade, devido a desconfianças recíprocas. Na Aliança Liberal, estavam alguns dos principais adversários dos “tenentes”, notadamente Artur Bernardes, Epitácio Pessoa e João Pessoa.

Pouco seguro em relação a seu futuro, Vargas estabeleceu um acordo político com Washington Luís, em que ficou acertado que, em caso de derrota, o candidato oposicionista aceitaria o resultado e passaria a apoiar o governo constituído. Em compensação, o governo federal se comprometia a não apoiar a oposição gaúcha e a reconhecer a vitória dos candidatos vinculados à Aliança Liberal nas eleições para a Câmara dos Deputados. Vargas restringiria sua participação pessoal na campanha ao Rio Grande do Sul.

Com a radicalização da campanha, o acordo acabou sendo rompido. A maioria governista na Câmara dos Deputados decidiu não dar quorum às sessões parlamentares, impedindo assim a manifestação dos deputados aliancistas. Em janeiro de 1930, Vargas viajou para o Rio de Janeiro e promoveu um grande comício na esplanada do Castelo. Estendeu sua viagem a São Paulo e Santos, onde foi recebido com demonstrações populares de apoio.

O resultado do pleito de 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos. A fraude, dominante na época, verificou-se dos dois lados.

Em 19 de março de 1930, Borges de Medeiros, líder do PRR, reconheceu a vitória de Júlio Prestes, dando por encerrada a campanha da oposição. No entanto as articulações dos oposicionistas prosseguiram, vindo a resultar, no mês de outubro, na Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.

A 24 de outubro de 1930, generais líderes do movimento intimam Washington Luís a entregar a Presidência às mãos das forças armadas. O presidente, trancado e isolado no Palácio do Catete, se recusou. Para evitar derramamento de sangue, o cardeal dom Sebastião Leme foi chamado. Washington Luís cedeu e deixou o governo acompanhado pelo cardeal. Um mês depois, seguia expulso para a Europa.
Folha de São Paulo

Um comentário:

Guará Matos disse...

A História política brasileira feita com boa abordagem.
Abraços.
_________
Ps. Estou lhe esperando para um café com leita, claro que sem derramar.