Após a morte de Lênin, em 1924, seu mais provável sucessor era Leon Trotsky, escritor e orador brilhante, presidente do Soviet de Petrogrado durante a Revolução de Outubro e organizador do Exército Vermelho. Mas uma aliança oculta entre os dirigentes comunistas Zinoviev, Kamenev e Stalin assegurou-lhes a maioria no Politburo. Esse colegiado, que na prática dirigia o Partido Comunista, era então integrado pelos três e também por Trotsky, Tomsky e Bukharin. Assim, no melhor dos casos, uma proposta de Trotsky poderia empatar com outra do "triunvirato", sem ser aprovada. Desse modo, Trotsky foi alijado do processo de tomada de decisões.
Naquele momento, a figura preeminente do bloco era Zinoviev, presidente da Internacional Comunista (Comintern) desde 1919. Mas Stalin logo consolidou posições, apoiando-se na massa de militantes que zombava de conceitos como o internacionalismo proletário. A essa massa nacionalista e não raro antissemita, Stalin e Bukharin apresentaram, em 1925, uma tese capaz de seduzi-la: a "construção do socialismo em um só país". O socialismo seria filho da "Mãe Rússia".
Preocupados com esse fortalecimento, Zinoviev e Kamenev tentaram aproximar-se de Trotsky em 1926. Mas era tarde demais. Nesse mesmo ano, Zinoviev foi substituído por Bukharin na direção do Comintern. Em 1927, Trotsky foi expulso do partido, exilado no Cazaquistão em 1928 e banido da União Soviética em 1929. Ainda em 1929, Bukharin e Tomsky foram afastados do poder, e Stalin emergiu como o principal líder soviético. Mas a própria trajetória de Trotsky revela que Stalin ainda não ousava assassinar seus companheiros de partido, por mais que a polícia agredisse e prendesse os oposicionistas.
Poetas russos
Óssip Mandelstam
Em seu malfadado poema sobre Stalin, Mandelstam chama o líder soviético de "Highlander do Kremlin" (referência à Geórgia, país situado nas montanhas do Cáucaso, onde nasceu Stalin) que "está forjando suas regras e decretos como ferraduras" e para quem "todo assassinato é um prazer". Mais tarde, tentando salvar a pele, Mandelstam compôs uma "Ode a Stalin". Mas não foi o suficiente: muitos outros bardos faziam a mesma coisa, e o estadista já estava acostumado a bajulações.
Vladimir Maiakovski
Vladimir Maiakovski e muitos outros poetas e artistas plásticos aderiram de corpo e alma à revolução, criando cartazes de propaganda para o regime bolchevique e suas campanhas. Maiakovski fundou em 1923 a revista LEF (Frente de Esquerda), reunindo os que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social.
O poeta suicidou-se em 1930. No texto "O suicídio de Maiakovski", publicado em maio de 1930 no Boletim da Oposição Russa (publicação clandestina), Trotsky observa que:
"O aviso oficial, colocado pelo Secretariado [Stalin] numa linguagem de protocolo jurídico, apressa-se a informar que esse suicídio 'não tem nenhuma relação com as atividades sociais e literárias do poeta'. O que vale dizer que a morte voluntária de Maiakovsky não se relaciona com a sua vida ou, ainda, que a sua vida nada tinha em comum com a sua criação revolucionária e poética. É transformar a sua morte num fato fortuito. Isso não é verdadeiro nem necessário nem... inteligente! 'A barca do amor partiu-se na vida corrente', escreveu Maiakovsky, nos seus últimos versos. Em outras palavras, 'suas atividades sociais e literárias' cessaram de elevá-lo acima das confusões da vida quotidiana, para colocá-lo ao abrigo de golpes insuportáveis que o atingiam".
Maiakovski desistiu da vida após sofrer muitas pressões para aderir à Associação Soviética dos Poetas Operários, que propunha uma estética mais rude, bem diferente daquela da LEF. Seja como for, sua morte assinalou o fim da aproximação entre literatura e revolução.
Alexander Blok
O poeta lírico Alexander Blok, morto em 1921, viu com simpatias a Revolução de Outubro. No poema "Os doze", de 1918, compara os 12 apóstolos a 12 soldados bolcheviques que avançam com seus fuzis pelas ruas de Petrogrado durante uma tempestade de neve. "À frente vai Jesus Cristo", escreve Blok no verso final.
Outro famoso poema de Blok, "Os citas", também de 1918, salienta as contradições da revolução entre o internacionalismo e o nacionalismo. O poeta clama que a Europa civilizada se junte aos russos – aos citas, "asiáticos de olhos rasgados" – em verdadeira fraternidade. Mas adverte: "Se vocês nos menosprezarem, não vamos nos lastimar. Nós também não vemos crime na perfídia. E incontáveis gerações ainda por nascer amaldiçoarão a sua memória até o fim dos tempos. Abandonaremos a Europa e seu charme e retomaremos as habilidades e a astúcia dos citas. Correremos rápido pelas matas e florestas, e então olharemos para trás, e sorriremos nosso sorriso de olhos rasgados".
Revista Sala de Aula
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