sábado, 20 de novembro de 2010

FESTAS E CRISE NO NORDESTE CAFÉ-COM-LEITE

FESTAS E CRISE NO NORDESTE CAFÉ-COM-LEITE

Reprodução
Vista do bairro do Brás, em São Paulo com ao fundo prédio do Moinho Matarazzo
Indicado e com o apoio da oligarquia paulista e mineira, o paraibano Epitácio Pessoa venceu Rui Barbosa, apesar de ter sido derrotado nos centros urbanos.

O novo presidente tomou posse encantado com o cargo e cego ao fato de que a República dava sinais de decadência e crise profunda.

Inspirado pelos ares europeus, ele estava mais preocupado com o centenário da Independência e com as festas palacianas do que com a estagnação econômica e a inflação galopante.

Nome: Epitácio da Silva Pessoa
Natural de:
Paraíba
Gestão:
28.jul.1919 a 15.nov.1922
De fora do trio São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, Epitácio Pessoa tentou assegurar o apoio dos três Estados de maior peso político da época. Ainda levado por interesses rurais, o país começou a sentir o peso do urbanismo, em especial do Rio e de São Paulo, fruto do crescimento econômico do pós-guerra.
Na tentativa de conter os gastos federais, decidiu suspender o financiamento à valorização do café, mas recuou frente às reações negativas da oligarquia que o apoiara na eleição. Setores industriais também protestaram pela falta de uma política cambial. Manteve a política de repressão aos movimentos populares e contra os aumentos salariais.

Epitácio Pessoa também se indispôs com militares, ao se posicionar contrário ao aumento do soldo e ao indicar civis para o Ministério da Guerra e da Marinha. A indicação seguia a tentativa de compor um ministério com representantes dos três principais Estados, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

As intervenções na Bahia e no Espírito Santo aumentaram a oposição.

O primeiro presidente nordestino favorável à política do café-com-leite lançou o Programa de Combate à Seca, com investimentos de 304 mil contos de réis. Foram construídos mais de 200 açudes, mas que não chegaram a solucionar os graves problemas da região.

Indignados com o que chamavam de "protecionismo ao Nordeste", fazendeiros de café exigiram aplicações na valorização do produto. O paraibano liberou, então, 124 mil contos de réis e estocou 4,5 milhões de sacas. A medida elevou enormemente o déficit orçamentário.

Apesar da crise batendo à porta, ele mantinha aquecida a vida social no Palácio do Catete. Quebrando a tradição, ofereceu três grandes festas noturnas logo no início de sua gestão. Chegou a ameaçar com violenta repressão a greve de trabalhadores caso atrapalhasse a visita dos reis da Bélgica ao Brasil.

De mentalidade européia, Pessoa pregou posições aristocráticas e preconceituosas. O elitismo do novo presidente atingiu diferentes áreas. Jogadores negros foram proibidos de jogar na seleção, o que gerou fortes protestos do escritor Lima Barreto.

Sua gestão foi marcada pelo processo acelerado de modernização dos centros urbanos, que cresceram assustadoramente paralelos a uma pauperização das regiões nordestinas. A explosão populacional em São Paulo, no Rio, em Porto Alegre fez emergir e consolidar, a cada dia, novos grupos sociais.

A crise no país antecipou as discussões sobre a sucessão de Pessoa. O grupo paulista e mineiro, chefiado pelo então governador de São Paulo, Washington Luís, e pelo de Minas Gerais, Raul Soares, decidiu lançar o mineiro Artur Bernardes, com o compromisso de que seu sucessor seria o governador paulista.

Nilo Peçanha, tradicional oposicionista da política café-com-leite, aliou ao principal líder do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, e articulou sua candidatura com Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Estava criada a dissidência regional "Reação Republicana", uma nova cisão a oligarquia. Peçanha, como quando presidente, conquistou o apoio dos militares.

A eleição do sucessor de Pessoa chegou ao ápice da tensão quando foram publicadas cartas atribuídas a Artur Bernardes com insultos violentos ao Exército. Numa delas, militares foram chamados de "canalhas".
Folha de São Paulo

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