A estela funerária de Amphipolis
Cerca de 400 a.C. ou 330 a.C. (?)
Descoberta em Amphipolis (norte da Grécia)
Produzida na Ática ou na Thasia
Mármore
A. 52.5 cm
L. 48.5 cm
Esta pequena estela encontra-se esculpida em muito alto-relevo – a cabeça de pelo menos uma das figuras teria estado completamente destacada – e representa duas mulheres: uma rapariga, a mais pequena das duas, à esquerda, numa vista de três quartos usa sandálias e um peplos (peça de vestuário segura aos ombros) com cinto e uma longa prega, os seus braços flectidos estendem-se na direcção de uma mulher de maior dimensão representada quase na totalidade e sem sandálias. Esta última usa também um peplos, embora do tipo envergado por mulheres mais velhas ou mães: a prega mais curta (ou apoptygma em grego) cobre a “espessura” da veste (ou colpos) que desce sobre as suas ancas, escondendo o cinto. O seu braço direito, está erguido em direcção à face (talvez para levantar o véu que cobre a sua cabeça, num gesto típico de mulher casada na presença de seu marido, conhecido em grego por anacalypsis) e a sua mão esquerda segura um cofre. O tamanho hierárquico das figuras, assim como a diferença no tipo de vestuário e poses, ilustra as posições sociais das duas mulheres: a jovem serva (possivelmente uma escrava doméstica) segura provavelmente uma peça de joalharia, apresentando-a à sua mestra, quase certamente esposa de um cidadão, que está prestes a guardá-la no seu cofre. Esta senhora mais velha é quase seguramente a falecida para quem a estela foi produzida. Este é um dos temas mais comuns em estelas funerárias da Grécia antiga (ver, por exemplo, a estela no museu de Volos no norte da Grécia, ref. 396). No entanto, a estela do Louvre apresenta certas dificuldades em termos de datação e interpretação. O facto do plinto ter sido cortado de novo com um entalhe de cada lado, assim como o facto de não existir pilar ou cornija, torna difícil imaginar o contexto arquitectónico. Talvez tenha existido um frontão suportado por pilastras sobre as cabeças das duas mulheres, um elemento típico da forma mais comum de naiskos (“pequeno templo”). Por outro lado, existe muito pouco em termos de arte ática que se assemelhe ao relevo do Louvre. O estilo de peplos usado pela mulher mais velha pode ser visto num relevo de finais do século V a.C. em Copenhaga (inv. 197), embora originário do Peloponeso, assim como nas cariátides do Erechtheion (apesar destas estarem apoiadas na perna direita com a perna esquerda ligeiramente dobrada e mantida mais atrás) e no tipo de estátua conhecido como o Demeter Capitolina, da qual existem numerosas cópias romanas. Isto significa que a obra poderá datar do século V a.C. Todavia, não se conhece qualquer estela funerária ática dessa data com este formato ou figuras esculpidas em tão alto-relevo. A origem do mármore é desconhecida, embora tenha sido sugerido que a obra possa ter sido executada na ilha de Thasos, que se situa na parte norte do Mar Egeu frente a Amphipolis, no continente, da qual constituía o peraea (literalmente: “país do outro lado”), estando como estava na zona de influência daquele último local. Existem documentos originais suportando esta teoria de que se trataria de um trabalho de Thasos em estilo ático. Tratar-se-á, portanto, de saber qual o seu período. Apesar das figuras mais alongadas e a posição da jovem serva serem reminiscentes de uma famosa estela em Nova Iorque (inv. 44. 11. 2,3) e de um trabalho paralelo no Louvre (Ma 800), também de Amphipolis, que parrcem substanciar uma data tardia do século IV, peças como Irene carregando Plutão, a Atena de Cherchel-Cistia (entrada nr. 6 deste catálogo), representações de Demeter em relevos votivos do século IV (por exemplo, Ma 752 no Louvre) e a Penélope de Breuvery no Louvre (Ma 2838), de data contestada, parecem indicar a existência de peplophores agachados (figuras usando um peplos) na arte da Ática do século IV a.C. (J.L.M.)
Museu de Arte de Macau
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