sábado, 20 de novembro de 2010

VARRE, VARRE, VASSOURINHA

VARRE, VARRE, VASSOURINHA

Reprodução
João Goulart faz discurso favorável ao presidencialismo e a legalidade constitucional
A eleição de Jânio Quadros pelo PDC (Partido Democrata Cristão), com o apoio da UDN, marcou um fato inédito na República: pela primeira vez, foi eleito um candidato da oposição. O ex-governador de São Paulo obteve uma votação histórica, tendo mais de 2 milhões de votos à frente do segundo lugar. Jânio recebeu 5.636.623 votos, enquanto o general Lott, 3.846.825.

Dois aspectos do final da gestão de Juscelino Kubitschek explicam a explosão da candidatura oposicionista: a crescente insatisfação popular de vários setores sociais com a alta do custo de vida e a decadência e saturação dos tradicionais partidos, o PSD e a UDN.

Nome:
Jânio da Silva Quadros
Natural de:
Mato Grosso
Gestão:
31.jan.1961 a 25.ago.1961
Foi vereador em São Paulo, deputado estadual, prefeito de São Paulo, governador do Estado e deputado federal pelo Paraná. Em 25 de agosto de 1961, renunciou.
A tradicional postura populista de Jânio, apartidário, acima dos partidos, justiceiro e adversário da corrupção, comprometido apenas com o povo fez dele o presidente com o maior número de votos até então.

"No final, ganhou o melhor orador, o demagogo talentoso, capaz de entusiasmar as massas operárias com tiradas esquerdistas e, ao mesmo tempo, inspirar confiança à burguesia com apelos à austeridade e promessas de sobriedade do trato dos dinheiros públicos." (Paul Singer)

Junto com Jânio, foi eleito pela segunda vez como vice João Goulart (PTB), já de início enfrentando a hostilidade de setores militares e das classes conservadoras, contrários às posições sociais do ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas.

Nome:
Paschoal Ranieri Mazzilli
Natural de:
São Paulo
Gestão:
25.ago.1961 a 06.set.1961
Presidente da Câmara dos Deputados, assumiu interinamente quando Jânio Quadros renunciou, pois vice, João Goulart, estava em visita à China.
Marqueteiro de primeira ordem, Jânio criou a fama de onipresente em todas as esferas do poder. Governou por bilhetinhos e se preocupou com coisas triviais, como briga de galo e o uso de biquinis. "O povo será a um tempo minha bússola e o meu destino", dizia.

No plano externo, o novo presidente mantinha política ambígua e independente. Posicionou-se contrário ao bloqueio norte-americano a Cuba, tentou se aproximar do bloco socialista e, ao mesmo tempo, sinalizou com a abertura de negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O recém-eleito governador do Rio, o udenista conservador Carlos Lacerda, iniciou campanha contra Jânio logo após o presidente condecorar o líder revolucionário cubano Ernesto Che Guevara. Lacerda viu oportunidade de a UDN aumentar sua participação no governo federal.

Nome:
João Belchior Marques Goulart
Natural de:
Rio Grande do Sul
Gestão:
06/09/1961 a 01/04/1964
Foi deputado federal e eleito vice-presidente em dois mandatos consecutivos, com Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros. Nesse período, o país passou por uma turbulência política, inclusive com a instituição temporária do parlamentarismo. Deixou o cargo em 1º de abril de 1964 sob a pressão de um golpe militar.
Em agosto de 60, Jânio apresentou sua renúncia ao Congresso. O presidente sonhava com a recusa de seu pedido pelo Congresso e com a possibilidade de ganhar mais poderes, nos braços do povo. Mas o "golpe" janista fracassou. Como João Goulart estava em viagem pela China comunista, abriu-se uma grave crise institucional.

Vários setores posicionam-se contra a posse do vice. Se Jânio era um perigo para os conservadores, Jango era o próprio caos. A viagem à Ásia facilitou a ação de golpistas liderados por Lacerda.

Mais uma vez o general Lott saiu em defesa da legalidade e defendeu a posse de Jango. O Exército se dividiu. O Comando do Terceiro Exército, no Rio Grande do Sul, sob a liderança do governador Leonel Brizola, cunhado de Jango, organizou frente legalista para garantir o cumprimento da Constituição. O Brasil passou pela ameaça de nova guerra civil.

Como forma de solucionar a crise, o Congresso aprovou a instalação do parlamentarismo. Jango assumiria o governo, porém com menos poderes. O vice aceitou.

O desenvolvimento industrial vivido na gestão de JK não foi acompanhado pelo setor agrícola. O país enfrentou constante protestos de camponeses descontentes, assim como camadas urbanas, com o alto custo de vida. Jango prometeu reformas de base e tentou reproduzir a política populista de Getúlio Vargas, baseada na ligação com as massas populares. Estimulou a organização sindical no meio rural: de 300 sindicatos existentes em julho de 63, passou-se para 1.500 em março de 64.

Em 1963, Jango antecipou plebiscito sobre o sistema de governo. Saiu vitorioso com a aprovação do presidencialismo. Fortalecido, deu início à campanha pelas reformas sociais. Os movimentos populares adquiriram expressão e geraram o temor de setores conservadores. O Exército, com o apoio externo dos EUA, começou uma mobilização contra o governo chamado de comunista. Cresceram os grupos paramilitares de direita.

Discurso de João Goulart na Central do Brasil, no Rio, foi o motivo aguardado por militares para deflagrar movimento por sua deposição. O presidente defendeu em comício com mais de 200 mil pessoas a realização de uma reforma agrária, com emenda do artigo da Constituição que previa a indenização prévia e em dinheiro.

"São evidentes duas ameaças: o advento de uma constituinte como caminho para a consecução das reformas de base e o desencadeamento em maior escala de agitações generalizadas do ilegal poder da CGT (Central Geral dos Trabalhadores)", afirmou o então general Castello Branco, que, por meio de instrução reservada aos demais militares do Estado Maior do Exército, comunicou a decisão de derrubar o governo. O golpe de Estado estava em curso.

No dia 1º de abril começou a sublevação em Minas Gerais contra Jango. Violenta repressão aos aliados do presidente foi iniciada. No Nordeste, houve chacina de camponeses e o 4º Exército derrubou o governo de Pernambuco, de Miguel Arraes, e do Sergipe, de Seixas Dória.
Folha de São Paulo

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