Paulo Pacini
Dentre as diversas áreas que compõem o centro do Rio, uma das mais conhecidas e freqüentadas é aquela do Castelo. Geralmente associado com a avenida presidente Antonio Carlos, esse logradouro é uma idéia bastante vaga para a maioria das pessoas, que tem dificuldade em definir sua abrangência, além de desconhecer a própria origem do nome, pois nunca houve castelo algum no local. Ou teve?
A resposta nos remete à própria origem da cidade, quando Mem de Sá decidiu transferir a Vila Velha, no morro Cara de Cão, para uma região mais central e defensável contra invasores, a partir de 20 de janeiro de 1567. Escolheu-se um morro estrategicamente situado, denominado do Descanso ou São Januário, sendo o primeiro nome uma alusão à merecida paz após as inúmeras lutas travadas com os invasores franceses. Das primeiras construções destacam-se a igreja e colégio dos Jesuítas, a igreja de São Sebastião, onde foi sepultado Estácio de Sá, além da Câmara dos representantes e diversas casas de moradia.
Antigo Forte de São Sebastião, em desenho de 1730 do Pe. Diogo Soares
Para a defesa dos ataques vindos tanto do mar quanto da terra, erigiu-se a primeira estrutura dedicada a este fim, o Forte São Sebastião, com suas peças de artilharia. Situava-se a mais de 40 metros de altura, em um ponto correspondente ao cruzamento das atuais avenidas Nilo Peçanha e Graça Aranha. Tinha à sua direita a entrada da barra e à esquerda o interior da baía de Guanabara. Era uma construção modesta, de grande fragilidade em caso de ataque direto.
Durante o século XVII, o forte não conheceu grandes melhorias, o que foi incentivado pela relativa tranqüilidade que a cidade desfrutava, sem ataques e maiores problemas. Tudo mudou depois das invasões francesas de 1710 e 1711, onde a precariedade e desorganização da defesa acabou deixando a cidade em maus lençóis, capitulando e tendo de pagar resgate para recobrar sua liberdade. Nos anos seguintes, o antigo baluarte cederia lugar a uma construção muito maior e mais sólida, que recebeu o nome de Forte de São Januário. Dentre as melhorias introduzidas, construiu-se na praça de armas uma torre para depósito da pólvora. Por sua semelhança com estruturas medievais, acabou recebendo a alcunha popular de castelo, o que acabou finalmente mudando o nome do morro de São Januário para aquele de Castelo.
Ruínas do portão do Forte do Morro do Castelo, em seus últimos dias
Ao longo do tempo, o forte se deteriorou, mas, persistia, testemunha heróica dos tempos da colonização. Mas não duraria muito tempo, pois, com as reformas feitas na cidade a partir do início do século XX, o destino do Morro do Castelo estava selado. Em 1922, este não mais existia, destruído na gestão do prefeito Carlos Sampaio, liberando uma enorme área à especulação imobiliária e interesses paralelos, aproximadamente entre as ruas São José, Av. Rio Branco, Santa Luzia e Dom Manuel. A cidade de Mem de Sá, onde o Rio nasceu, passava a existir sómente em livros de história, sobrevivendo através de um nome que lembra um passado valoroso, e que não deve ser esquecido.
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