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Stonerange - Inglaterra
Texto original de Henry de LUMLEY.
Professeur au Museum National d’Histoire Naturelle
Heis aqui três interrogações fundamentais que nos fazemos a cada dia, mais ou menos conscientes. Nesta época de incertezas gerais, o problema das origens de nossa espécie tomou grande importância como mostra o interesse crescente que trazem, não somente os cientistas, mas também o grande público, à todas as informações que concernem o Homem fóssil e seu meio ambiente.
O Pré-historiador, o Paleontólogo, o Geólogo, o Biólogo, graças às numerosas descobertas realizadas a cada dia no mundo, levantam pouco a pouco o pano que encobre o mistério de nossas origens. Sabemos hoje, que o Homem é parte integrante da natureza, esta ligado a um conjunto de seres vivos por uma longa cadeia ininterrupta. Quinze bilhões de anos se passaram depois da explosão original, 5 bilhões da formação do sistema solar, 4 bilhões e 600 milhões da formação da terra, 3 bilhões e 700 milhões da constituição do oceano primitivo, 3 bilhões e 200 milhões da primeira colônia de algas azuis, 500 milhões de anos dos primeiros vertebrados, 345 milhões de anos da saída das águas, 170 milhões de anos dos primeiros mamíferos e apenas 65 milhões de anos do primeiro primata. Conhecendo o grandioso encadeamento dos fenômenos que conduziu de uma alga azul, há 3 bilhões e 200 milhões de anos, ao Homem dotado de um pensamento conceptual e fabricante de ferramentas, há 2,5 milhões de anos na margem de um dos grandes lagos do Leste africano, podemos compreender melhor o lugar que o Homem ocupa na natureza.
A evolução do homem sempre foi condicionada pela pressão do meio natural. É a dinâmica das interações entre o Homem fóssil e seu meio ambiente que explica sua evolução morfológica, o desenvolvimento de suas culturas, sua adaptação progressiva à todos os meios da terra, como também seu nicho ecológico, que se estendeu progressivamente, da savana arborizada do Leste africano, à superfície completa do globo terrestre, desde os desertos mais áridos às geleiras da Antártica. Ao longo dos últimos anos, pesquisadores de vários países do mundo têm se esforçado na tentativa de reconstituir nossas origens. Numerosas descobertas fizeram recuar progressivamente a data de aparição do Homem, assim os pré-historiadores puderam enfim determinar aproximadamente em qual época cada território foi conquistado pela Humanidade. Aparecidos, há 2,5 milhões de anos na África do Leste, os Homens deixaram o berço africano há um pouco mais de 1,5 milhões de anos para invadir as zonas tropicais e temperadas quentes da Eurásia. Por volta de 400.000 anos, tinham domesticado o fogo, podendo desta forma, invadir as regiões temperadas frias e se aventurarem até o limite das zonas árticas e costas do Pacífico. Há aproximadamente 35.000 anos, os primeiros homens modernos, penetraram na tundra das zonas árticas, atravessando o estreito de Bering para invadir às Américas. Se aventuram também sobre jangadas até as costas do Japão e do continente Nova Guiné - Austrália, que formavam um só bloco. Como verdadeiros navegadores, eles se aventuram há alguns milhares de anos apenas, à atravessar as ilhas do Pacífico Sul e da Oceania. Para completar, somente no século XVI de nossa era, atingem à Nova Zelândia.
Em milhares de laboratórios espalhados por todo o mundo, uma única pesquisa foi posta em prática: geólogos, sedimentólogos e pedólogos, geomorfólogos, geofísicos e geoquímicos, paleoclimatólogos, paleontólogos e paleobotânicos, antropólogos analisam os resultados obtidos no decorrer de escavações; é assim que pouco a pouco, podemos reconstituir não só a vida cotidiana dos homens pré-históricos, mas também, seu meio ambiente, a paisagem e o clima no qual viviam, podendo-se datar com relativa precisão as grandes etapas da aventura do Homem. Esta história começa há mais de quinze milhões de anos, desde que um primata que adquiriu a posição vertical bípede, deixa a floresta para se aventurar na savana. Seus membros anterior, liberados do esforço da locomoção, se associam ao sistema cerebral. É do diálogo entre o cérebro que ordena e a mão que executa, que vai nascer um dia o pensamento reflexivo. Há aproximadamente 2,5 milhões de anos estes primatas bípedes, chamados de Hominídeos, adquirem um cérebro que ultrapassa 600 cc e pela primeira vez = Homo habilis, possuidor de uma linguagem e fabricante de ferramentas, primeiros testemunhos da aparição do pensamento conceptual.
A evolução morfológica e fisiológica dos seres vivos se sobrepõe a uma nova dimensão: a evolução cultural. Começa então a prodigiosa aventura humana, com o surpreendente desenvolvimento de suas culturas que vai conduzir o modesto fabricante de choppers ao construtor de computadores, de aceleradores de partículas e de naves interplanetárias. Graças às duas aquisições primordiais: o pensamento conceptual e a linguagem articulada, uma sucessão de invenções e de enriquecimentos culturais vai pontuar a História da Humanidade: - com o Homo habilis, a primeira ferramenta e a instalação de um acampamento de base, há 2,5 milhões de anos; - com o Homo erectus, a noção de simetria e a aquisição de um certo senso de estética, há pouco mais de um milhão de anos; os primeiros bifaces, a domesticação do fogo e os primeiros acampamentos organizados a céu aberto, há 400.000 anos; a aparição das tradições culturais regionais, a utilização de corantes, os primeiros testemunhos de um ritual, uma técnica revolucionária de se lascar a pedra ( preparação levallois), há 300.000 anos. - com o Homo sapiens neandertalensis, os primeiros rituais funerários e o nascimento do pensamento religioso há aproximadamente 60.000 anos; - com o Homo sapiens sapiens, a invenção da arte, há um pouco mais de 30.000 anos, as ferramentas compostas: arpões com farpas constituídas de microlíticos geométricos.
Enfim, há apenas alguns milhares de anos o Homem rompe o equilíbrio com a natureza. Ele agora, não é mais um simples predador que vive de coleta, de caça e de pesca. Ele se torna produtor de alimentos. As civilizações de grandes caçadores dos tempos do quaternário vão então, desaparecer rapidamente, cedendo lugar aos povos pastores e agricultores, construtores de vilarejos e capitalizadores de bens: estocagem de carne viva, graças aos rebanhos domesticados e acumulação de cereais em silos de cerâmica. Novas aquisições irão transformar completamente a história da Humanidade permitindo uma extraordinária explosão demográfica e uma maior especialização dos homens em diversas sociedades.
Assim, após uma lenta ascensão demográfica, que inicia há 2,5 milhões de anos, com um grupo de 400.000 indivíduos, espalhados em um nicho ecológico restrito localizado na savana arborizada ao redor dos grandes lagos do Leste africano, o número de Homens aumentou progressivamente à 500.000 indivíduos há 2 milhões de anos quando o Homem invadiu todo o território africano, à 700.000 indivíduos há 1 milhão de anos quando ocupou as zonas temperadas quentes da Eurásia, à 1,5 milhões de indivíduos há 400.000 anos quando penetrou nas zonas temperadas frias, à 10 milhões de indivíduos há 8.000 anos antes de nossa era quando as civilizações dos povos caçadores invadiram todo o planeta e ocuparam todos as regiões. A transformação da economia, o abandono das fontes naturais de abastecimento de alimentos: coleta, caça, pesca, e o desenvolvimento das atividades de produção tais como a agricultura e a criação de animais, vão desviar a curva de crescimento da Humanidade que passará progressivamente à 200 milhões de homens no primeiro milênio antes da nossa era, à 500 milhões de Homens na metade do século XVII, à 1 Bilhão em 1800, 2 bilhões em 1940, para atingir hoje 4 bilhões e talvez, amanhã, no ano 2.000, cerca de 10 bilhões de indivíduos. Maravilhado por suas descobertas, às vezes liberado de constrangimentos naturais pela acumulação relativa de riquezas, pelas invenções tecnológicas que lhe permitiu vencer a noite, o frio e as vezes também doenças e a fome, o Homem esquece sempre que não é nada mais do que um elo ligado a uma corrente ininterrupta do conjunto dos seres vivos e que não poderá jamais cortar completamente as raízes que o ligam implacavelmente a natureza.
Capaz de destruir todo o traço de vida sobre o planeta, possível de modificar radicalmente seu meio ambiente, de fazer recuar epidemias e as crises de falta de alimentos, o Homem tem hoje a capacidade de orientar e de dirigir sua evolução. Suscetível de modificar dois fatores fundamentais da evolução biológica: o meio e a seleção, o Homem pode dirigir sua evolução. Ele tem certamente o dever de o fazer, mas tendo em mente, que não poderá sobreviver independente do meio natural. É a Humanidade inteira que deve elaborar uma nova ética planetária capaz de garantir o Futuro do Homem, guardando na memória sua origem, sua lenta e trabalhosa ascensão, e suas ligações essenciais com o meio natural que deve ser preservado. Texto original de Henry de LUMLEY. Professeur au Museum National d’Histoire Naturelle
Revista Historia e-Historia
2 comentários:
Eduardo, vim conhecer o seu blog, devolvendo a sua visita ao meu, e valeu muito a pena!!! É um prazer ver um trabalho tão legal quanto o seu! Parabéns!
É verdae, Eduardo!
Seu trabalho como educador, faz parte da evolução do homem. Acredito na responsabilidade daqueles que escrevem. Mesmo na poesia, na prosa enfim é um modo de evoluir. A força da palavra, quando bem aplicada permanecerá como permaneceram os arabescos, do Egito.
Assim sendo, as tres perguntas cabem no momento presente. E repercutirá depois. Reverberará como o Verbo. Jamais será em vão.
às vezes, pessoas pensam que acabaremos como os dinossauros. A era dos homens iria então para o Museu de História. A diferença é que os dinossauros nada deixaram em palavras que nos revelasse sua evolução.
Trabalho perfeito é esse seu.
Parabéns, Eduardo!
Beijos
Mirse
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