TATIANA RESENDE
Uma das diferenças entre a Crise de 1929, que culminou na Grande Depressão, e a que se agravou com a quebra do Lehman Brothers, há mais de um ano, foi a parcela de culpa que as pessoas assumiram admitindo atitudes individuais que ajudaram a levar ao caos.
Para o professor Wagner Pinheiro Pereira, doutor em História pela USP (Universidade de São Paulo) e autor do livro "24 de Outubro de 1929: A Quebra da Bolsa de Nova York e a Grande Depressão", a Crise de 1929 "marcou a economia em primeiro lugar, mas também a sociedade, a cultura, a política".
O historiador afirma que não há estatísticas de quantas pessoas se suicidaram durante a Grande Depressão nos Estados Unidos, mas frisa que o ato não se deveu apenas "à questão da perda financeira".
"Havia a cultura do estilo de vida americano, muito calcado na ideia do "self made man", daquele homem empreendedor que faz tudo por si próprio, que a partir do seu trabalho consegue ter sucesso. O Tio Patinhas é o melhor exemplo desse tipo de personagem", ressalta.
Ao assumir o governo, em 1933, o presidente Franklin Delano Roosevelt precisou focar não apenas no resgate da confiança no sistema bancário, mas também na autoestima da população. "Foi preciso apontar que a crise não era do indivíduo, porque o indivíduo começou a se considerar fracassado", diz.
Os Três Porquinhos
Até Walt Disney participou desse reerguimento da identidade nacional com o desenho animado "Os Três Porquinhos", que, segundo Pereira, é "uma metáfora para a construção do homem novo", com o Lobo Mau representando a Crise de 1929.
Já na crise atual, foi o sistema financeiro que ficou na berlinda. "Considero que essa é uma das maiores diferenças na concepção de imaginário. Hoje ficou muito mais pelo viés econômico."
Uma nova edição do livro será lançada no próximo ano para traçar paralelos como esse entre as duas crises, já que a primeira edição é de 2006.
Hitler
Pereira destaca ainda que, sem a ajuda dos Estados Unidos, que passaram a cobrar as dívidas, países europeus como Itália e Alemanha, "descrentes dos valores democráticos e liberais", começaram a procurar "uma figura carismática e autoritária que os tirassem dessa situação". Foi nesse contexto que Adolf Hitler e Benito Mussolini encontraram espaço para surgir como "salvadores da pátria".
Para o historiador, "o sistema capitalista gera a sua própria crise", já que oferece salários baixos aos trabalhadores para maximizar o lucro das empresas, mas esses mesmos trabalhadores são consumidores e precisam de maior poder aquisitivo para impulsionar o progresso do sistema.
"A crise seria, portanto, inerente ao próprio sistema econômico capitalista."
Folha de São Paulo
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