por Bernadette de Castelbajac
Ilha de Deshima, na baía de Nagasaki, no Japão, uma das mais movimentadas bases comerciais dos holandeses
Jean Hugues van Linschooten voltou para a Holanda, seu país natal, em 1593. Ele chegava de Goa, então a capital das colônias portuguesas do Oriente, onde ocupara a função de secretário do arcebispado. O retorno desse modesto funcionário a Amsterdã poderia ter passado despercebido a seus contemporâneos caso o viajante, ainda maravilhado por tudo o que vira, não tivesse redigido uma obra intitulada Itinerário, viagem ou navegação às Índias Orientais.
Era uma verdadeira mina de informações sobre as fabulosas riquezas desses lugares longínquos, acrescida de uma lista de plantas e animais extraordinários que lá existiam e complementada por mapas, desenhos e anotações, de maneira a permitir uma navegação bastante segura a quem se aventurasse pela rota.
O autor incitava seus compatriotas a organizar expedições para o Leste, sem esquecer Java, "uma ilha ainda não freqüentada pelos portugueses, onde abundam diamantes, incenso e especiarias". Nessa época, Portugal e Espanha captavam em seus portos de Lisboa e Cádiz a maior parte das riquezas vindas do Oriente.
Franceses, ingleses e holandeses se deslocavam até essas bases de comércio para adquirir as mercadorias que depois distribuíam em seus respectivos países.
O livro de Linschooten caía muito bem naquele momento. Como as Províncias Unidas (sete territórios protestantes na região da Holanda) acabavam de proclamar sua independência, o rei espanhol Felipe II punia os rebeldes, organizando um bloqueio de seu comércio. A partir de então, os mercadores holandeses não poderiam mais fazer transações comerciais com Espanha e Portugal, o que significava a morte de seus negócios.
Em vez de iniciar uma guerra, atitude mais comum a reis que a mercadores, estes decidiram procurar seu frete na fonte, ou seja, nas Índias. Os relatos de Linschooten encantavam sua imaginação, e a chegada a Amsterdã de Cornelius Houtmann, que conhecia as rotas marítimas por haver navegado com espanhóis e portugueses, precipitou os acontecimentos. Houtmann propôs seus serviços. Afinal, ele era bem versado nas astúcias dos negócios com os orientais, e mostrava-se ansioso para oferecer aos holandeses essas maravilhas, já que amargava uma desagradabilíssima lembrança das prisões portuguesas nas Índias, onde tinha passado uma temporada por razões nunca mencionadas.
Nove mercadores de Amsterdã se associaram, fundaram uma pequena companhia e nomearam Houtmann como diretor comercial. A expedição partiu em 1595. Essa primeira campanha foi uma sucessão de tempestades, batalhas, traições, lutas contra os portugueses, pouco habituados a encontrar rivais em seus campos de caça, enfim, um desastre. Dos 250 homens que tomaram parte da empreitada, apenas 90 retornaram. Mesmo assim, os negociantes não se desencorajaram: "Nós, gente de Amsterdã", declarou friamente seu poeta Joost Van den Vondel (1587-1679), chamado o príncipe das letras holandesas, "vamos a qualquer lugar onde possamos ganhar dinheiro, em todos os mares, em todos os rincões. Por amor ao ganho, exploramos os portos desse vasto mundo".
Pérfido ataque
A segunda tentativa, sob a autoridade do capitão Jacob van Neck e de Balthazar Moucheron revelou-se produtiva e fez seguidores. Conscientes desse vasto mercado que se oferecia àqueles que soubessem defender seus interesses, esses empreendimentos se agruparam e, em 20 de março de 1602, foi fundada a Vereerigde Neederlandstche Geocitoyeerde Oast Indische Compagnie, mais conhecida pela sigla V.O.C. A sede da Casa das Índias Orientais era em Amsterdã, e a empresa, dotada de um capital de 6, 3 milhões de florins, divididos em 2.200 ações.
Ela organizava o mercado de trocas, equipava os navios, regulava as expedições e as vendas, correspondia-se com suas sucursais, fixava o montante dos dividendos para os acionistas. Uma organização acima da média, transformada em líder entre todas as outras companhias, permitindo-lhe no século XVII lançar ao mar de 30 a 35 embarcações por ano. Foi dissolvida em 31 de dezembro de 1799, depois de uma série de atribulações, além da concorrência dos empreendedores britânicos.
Os ingleses, com seu costume de ter os olhos fixos no horizonte, já tinham tomado a iniciativa do comércio direto com o Extremo Oriente. Em 1600, ainda entusiasmada pela derrota infligida à Invencível Armada de Felipe II da Espanha, a rainha Elisabeth I concedeu um monopólio de comércio à Company of Merchants of London Trading to the East Indies. A guerra contra a Espanha tinha cortado todo o abastecimento de pimenta, antes carregada em Lisboa, e foi essa iguaria, cujos preços nas partidas comercializadas pela Holanda haviam explodido, que levou os londrinos a criar sua própria companhia.
O capitão John Davis, que havia viajado com os holandeses à Malásia, foi nomeado piloto-chefe dos três navios que formavam a frota mercante. A rainha lhe dera uma carta destinada a "todos os soberanos dos reinos além do cabo da Boa Esperança", a quem pedia "uma boa acolhida aos ingleses, que seriam sempre justos e corteses, fornecendo mercadorias de maior qualidade do que aquelas levadas pelos espanhóis e portugueses".
No final de sua mensagem, ela lançava um pérfido ataque contra os concorrentes, os portugueses "que tinham se julgado mestres soberanos de vossos territórios, considerando vosso povo como seus súditos, assumindo o direito de se dizer reis das Índias Orientais". Essa nota é realmente surpreendente quando pensamos que, menos de três séculos mais tarde, a rainha Vitória seria imperatriz das Índias.
Cartas falsas
A companhia inglesa fazia pífia figura comparada à holandesa. Esta começava seus trabalhos com um capital de 6,3 milhões de florins fornecidos pelos burgueses de Amsterdã e das grandes cidades das Províncias Unidas, enquanto a inglesa, com 208 associados, dispunha inicialmente de apenas 30.133 libras esterlinas, capital rapidamente elevado a 70 mil, depois a 80 mil. Em suma, ao câmbio da época, tal soma era 13 vezes menor que os fundos de caixa holandeses.
A missão de um navio da Companhia das Índias durava muitos meses. Às vezes a embarcação só voltava ao porto de origem dois anos depois da partida, pois, além de as negociações comerciais no Oriente serem muito demoradas, era preciso esperar por ventos favoráveis para tomar o caminho de volta. Desde os portos do noroeste da Europa até Cantão, situa-do na costa chinesa, na embocadura do rio das Pérolas, um grande centro comercial, contam-se de 15 a 16 mil milhas.
A partida da Europa dependia da data das monções. Levava-se quatro meses para atingir o cabo da Boa Esperança e, para passar por esse temível promontório na época propícia, era neces-sário sair da Europa no inverno, entre dezembro e março. A chegada a Cantão, ou mais exatamente a Wampu ou Huang Fu, acontecia, na melhor das hipóteses, no final do verão ou no início do outono, geralmente em setembro. A monção continental que se inicia em outubro levava os navios na direção do cabo.
Além das circunstâncias imprevisíveis que sempre acompanham as expedições no mar, esses navios mercantes não dispunham de cartas marítimas elementares. Os portugueses guardavam em segredo as anotações feitas por seus capitães.
Chegariam ao ponto de falsificar algumas delas, assim como fariam os holandeses mais tarde, deixando-as "escapulir" para as nações concorrentes, na intenção de provocar desastres ou naufrágios, dos quais tiravam, evidentemente, total benefício.
Iniciava-se uma sanguinária competição entre as nações inglesa e holandesa pela outorga de mercados, monopólios e tratados com os soberanos orientais.
Os católicos portugueses "importavam", digamos assim, missionários jesuítas, e tinham se apoderado dos estoques de ouro, púrpura, algodão e especiarias com suas sucursais bem protegidas por torres fortificadas em uma grande área do oceano Índico.
A V.O.C., que iniciou seus trabalhos mais tarde que os portugueses, teve prosperidade meteórica, eliminando-os em quase todos os lugares e implantando-se nas Índias. Afastou os ingleses das famosas ilhas das especiarias, conhecidas como as Molucas, criou agências na ilha de Banda e fundou Jacarta, que se tornou importante centro comercial de intensas atividades, além de deter a exclusividade de transacionar com o Japão. Em 1625, o holandês Jan van Riebeeck fundou a Cidade do Cabo, próxima ao cabo da Boa Esperança, escala de capital importância na rota das especiarias. A colônia holandesa do Cabo cairia em mãos dos ingleses um século e meio mais tarde.
Os ingleses não ficaram parados. O início fora decepcionante: chegaram a ser repreendidos pela rainha, que acusava os dirigentes da companhia de não respeitar a carta que lhes fora outorgada, que previa, entre outras coisas, uma viagem anual às Índias. Ora, em três anos, apenas uma expedição tinha sido realizada, e Elizabeth os aconselhou com amargura a "seguir o exemplo dos holandeses".
Em 1604, a East India Company nomeou Henry Middleton chefe de uma nova frota que se dirigiu às ilhas das especiarias. Essas pequenas Molucas eram objeto das ambições de portugueses e holandeses, dos quais os indígenas, divididos por lutas internas, deveriam se defender. Choviam denúncias de parte a parte. Os holandeses insistiam em que os ingleses eram todos "ladrões e bandidos", e estes últimos acusavam a Holanda de ser "uma nação insolente e falastrona, cuja conduta faz imaginar o que se passará caso ela obtenha a supremacia das Índias Orientais".
O rei de Ternate, que era de fato o soberano de todas as Molucas, não pôde fornecer as especiarias pedidas pelo capitão Middleton, pois os holandeses tinham um contrato exclusivo com ele.
Entretanto, essas desventuras duraram pouco. A Old Lady, apelido carinhoso dado à companhia inglesa a partir do momento em que começou a fazer grandes negócios, obteve considerável progresso. Surate tornou-se sucursal comercial inglesa, seguida de Agra, capital do império Mugal (dinastia muçulmana que reinou na Índia de 1526 a 1858), e Ahmedabad, na antiga rota que ligava Bombaim e Délhi. O rei da Inglaterra, Jaime I, enviou um embaixador à corte Mugal e obteve um vantajoso tratado comercial.
O sultão de Golconda, país dos diamantes, seguiu o mesmo caminho em 1632. A companhia fez adotar sua moeda em todo o império e, na segunda metade do século XVIII, havia praticamente eliminado das Índias suas concorrentes portuguesa e holandesa. Esta, no início daquele século, já combalida pela guerra de sucessão da Áustria, depois pela Guerra dos Sete Anos, e por fim pela guerra contra a Inglaterra (1780-1784), igualmente enfraquecida pela política protecionista de Colbert - seguida por ingleses, russos e dinamarqueses -, não encontrava mercado suficiente para negociar suas importações. O declínio se acelerava. Seus últimos navios, o Vertrouwen, o Louisa Anthony e o Jonge Bonifacius, foram saqueados e afundados pelos ingleses em 1795. Quatro anos mais tarde, a companhia foi dissolvida. A França estava bastante atrasada na corrida aos tesouros asiáticos.
Pequenas companhias privadas tinham, efetivamente, se lançado à grande aventura das especiarias, e Henrique IV não era indiferente a suas tentativas, embora os lucros obtidos não fossem suficientes para encorajá-los a uma empreitada mais séria. Por fim, Jean-Baptiste Colbert, considerado o mago das finanças do século XVII, homem de visão muito ampla, inspirando-se na companhia holandesa, fundou uma Companhia das Índias Orientais, que o rei homologou em maio de 1664.
A direção geral ficava em Paris, no local onde se encontra atualmente a sede histórica da Biblioteca Nacional, que em princípio deveria ter um capital de 15 milhões de libras, mas que, de fato, mal passava dos 8 milhões de libras. A região de Faouëdic, na Bretanha, situada na embocadura do rio Scorff, foi concedida à companhia para construir seus entrepostos, estaleiros e depósitos. Muros foram erguidos e o local foi apelidado pelos bretões de Lan-Bras-en-Orien, depois l\\'Orient e, finalmente, Lorient. Entretanto, as vendas dos carregamentos vindos do Levante eram feitas em Nantes até outubro de 1734 quando, para desespero dos locais, foram transferidas para Lorient.
Os primeiros anos da companhia não foram nada brilhantes. Os comerciantes franceses hesitaram em aderir, e as guerras contra Holanda e Inglaterra repercutiram até no oceano Índico, onde as frotas mercantes combatiam entre si numa luta sem lei. Liquidada em 1684, a companhia renasceu de suas cinzas em 1723, seguindo até 1744, depois desapareceu para de novo subir à tona, alternando períodos curtos relativamente prósperos e anos negros. Por fim, sob o nome de Nova Companhia das Índias, teve seu fechamento decretado pela Assembléia Constituinte em 1790.
Mesmo assim, as horas heróicas dessa empresa tiveram lugar de destaque. Nomes como Joseph Dupleix, que partiu a serviço da Companhia das Índias em 1720 e estabeleceu uma política de conquistas, ou o mais modesto mas não menos valoroso Pierre Poivre, que transformou as ilhas de France e de Bourbon (atuais ilhas Maurício e da Reunião, respectivamente) em verdadeiros paraísos, deixaram uma marca duradoura nesses países longínquos.
Segundo Voltaire, "a Companhia das Índias nunca soube fazer a guerra, nem a paz, nem o comércio". Um comentário bem inconseqüente. Mas o fato é que, face à temível Inglaterra, que se enraizava cada vez mais no Oriente pouco restava à França além das duas províncias de Bengala e do Malabar, Mahé e a ilha de Pondichéry, da qual dependiam as sucursais comerciais de Karical, Masulipatão, Yanão e Surate. Quase nada comparado ao fabuloso império que o governador geral Dupleix, das possessões francesas da Índia, gostaria de oferecer a seu país.
A companhia possuía cerca de 30 navios, número que passou a 37 em 1757, dos quais os maiores, como Le Condé, Le Centaure, La Chine e Le Robuste chegavam a 1.500 toneladas. Cerca de três a quatro navios desapareciam por ano, entre 1723 e 1744. Nesse período, o tráfego de navios foi irregular, até mesmo em extremos: do total de embarcações, 35 fizeram 61 viagens de Lorient às Índias e à China; outros 19 percorreram a rota só uma vez, oito trafegaram duas, seis fizeram três e somente dois, quatro viagens. Essa média tão baixa pode ser atribuída a diferentes fatores.
Além das tempestades, de encalhes devidos à má previsão de rotas, um grande número de barcos foi capturado ou incendiado, e outros foram retirados de circulação.
Nas 14 mil viagens ao Oriente efetuadas em três séculos, pelas diferentes versões da Companhia das Índias, 1,5 milhão de homens não voltaram mais. Muitas vozes se ergueram contra esses empreendimentos, cujas frotas enviadas pela Inglaterra, por Portugal e pela Holanda sugavam todo o dinheiro da Europa para "comprar mercadorias inúteis". Na verdade, seus lucros fabulosos e seu poder inquietavam as nações. A partir de 1874, a Inglaterra não renovou mais a carta da East Company.
A miragem dourada que fascinou nobres e comerciantes europeus
Bem antes da criação das companhias, navios mercantes de todas as bandeiras se lançavam em expedições longínquas. Desde o século II, o imperador da China enviava caravanas que, ao passo lento de 50 a mil camelos, partiam de Touen-Houang e chegavam, por um caminho ou por outro, ao Mediterrâneo. Seus carregamentos faziam muita gente sonhar, já que esses países banhados pelo oceano Índico e pelo mar da China eram um Éden riquíssimo e quase inacessível aos ocidentais.
Nos mapas-múndi de Jacomo, geógrafo do rei de Aragão, figuravam estas palavras perto do cabo Noun, no Marrocos: "Aqui termina o mundo conhecido". Isso, no século XIV. A partir da aceleração das trocas devida à descoberta das rotas marítimas, comerciantes europeus disputam entre si pedras preciosas, porcelanas, ervas aromáticas e especiarias, assim como seda e madeiras exóticas.
Entre as pedras preciosas, as principais eram rubis, esmeraldas e, sobretudo, diamantes. Os diamantes de Golconda ainda são inigualáveis pelo tamanho e pureza. O mais bonito, com 136 quilates, trazido pelos holandeses, foi comprado em 1717 pelo regente francês, o duque de Orléans, quando Luís XV ainda era criança. Era chamado de Le Regent e foi depois incrustado na espada que Napoleão portou em sua coroação. Já uma especialidade dos judeus de Amsterdã, o comércio de diamantes se tornou importante fonte de prosperidade para a Holanda.
Desde o século XVI, as naus portuguesas traziam uma porcelana com decoração "azul e branca" fabricada na época da dinastia Ming. O principal importador era a Suécia, cuja modesta companhia - pois a Suécia, assim como a Dinamarca e os Estados Unidos criaram suas próprias companhias das Índias - lucrava mais, ou pelo menos o equivalente, do que as companhias inglesa e holandesa juntas. Estima-se em 20 mi-lhões o número de peças de porcelana adquiridas pela Suécia. Elas eram vendidas a preços de tal forma baixos que chegavam a ser usadas em funções jamais imaginadas quando de sua manufatura: fazendeiros e vendedoras de leite guardavam nelas seu leite, ou davam banho em seus recém-nascidos em vasilhas feitas para acondicionar peixes. Entre as curiosidades, nota-se também: "um penico sem tampa: 150 centavos; com tampa: 2,57 coroas". Um jogo de 221 peças custava 150 coroas.
Os colecionadores eram numerosos - Carlos I, da Inglaterra, e Jaime II fazem parte do grupo, assim como o ministro Pitt, o duque de Chaulnes, Madame de Pompadour. A favorita do rei da França possuía dois jogos completos, um azul e branco e outro multicor. A moda da época reza que se devia encomendar um jogo inteiro, que era entregue na Holanda e decorado pelos holandeses segundo o gosto do comprador. Os armadores encomendavam os seus com barcos ou cenas marítimas, naufrágios, construções de navios, portos, passagens pelo cabo da Boa Esperança.
Especiarias e ervas aromáticas eram objeto de extraordinária procura, pois eram indispensáveis à conservação das carnes, e igualmente à fabricação de ungüentos miraculosos, bálsamos, pomadas e perfumes. A pimenta, à qual se atribuía "uma malícia escondida", era cortejada a ponto de se tornar moeda de troca na França e mais ainda na Inglaterra. Muito procurada, igualmente, era a canela, "que conforta o cérebro" e "desperta o amor lânguido e rebelde", a noz-moscada de Banda, o cravo, indicado para a cura da hidropisia e da surdez, o anis-estrelado, a cânfora, o almíscar, a cebolinha. São incontáveis esses produtos, alguns deles curiosos, como as conchas de cauris, pequenos moluscos colhidos nas praias que serviam de moeda para a compra de escravos na Guiné.
E, à parte, apareceu o chá, que a Holanda tratou de colocar na moda no começo do século XVII. Inicialmente adotado para lutar contra o abuso do vinho, essa bebida era muito recomendada aos chefes de Estado. "Os altos e poderosos senhores, carregando o peso de cem mil preocupações que dizem respeito à confusa situação da Europa se beneficiariam tomando a infusão para conservar a saúde", diziam os médicos. Depois, os ingleses o adotaram, bebendo-o em enormes quantidades, equipando seus veleiros especialmente para buscar a erva na China e aproveitando para trazer clandestinamente o ópio.
Nesses enormes carregamentos que desembarcavam na Europa, boa parte era composta de tecidos. A seda, o nanquim, tecidos com nomes deliciosos como gorgorão, tafetá, pequim (tipo de seda chinesa usada em forrações) liso ou listrado, cetim, bordados de ouro e de prata de Bengala estariam por um bom tempo na moda. As mulheres se cobriam com maravilhosos xales vindos da Caxemira, que, de tão finos e leves, passavam por dentro de um anel. A imperatriz Josefina tinha uma impressionante coleção deles. Os vestidos confeccionados com os tecidos vindos do Oriente eram conhecidos por durar de oito a dez anos "com honra, podendo ser lavados e desengordurados todos os anos, renovando-se como quando foram usados pela primeira vez".
Revista História Viva
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