quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Guerra Fria, OVNIS e Cinema


Objeto não identificado visto sobrevoando Itatiaia, 1970. Acervo APESP (ICO - UH 1735).

OVNI - Objeto Voador Não Identificado, 1965. Acervo APESP (ICO - UH 1735).

"Projeto" de um "Disco Voador" em São Paulo, 1952. Acervo APESP (ICO - UH 1735).
Guerra Fria, OVNIS e Cinema


Nelson Mendes


O ano é 1947. A Segunda Guerra Mundial terminou há dois anos. O presidente dos Estados Unidos, Harry Truman impõe a Doutrina Truman que serviria para conter a expansão do comunismo no mundo, e posteriormente o Plano Marshall, um programa de reconstrução da Europa pós-guerra.

Bernard Baruch, um estadista norte-americano, usa o termo “Guerra Fria” para designar as crescentes tensões entre Estados Unidos e a União Soviética durante um debate do Congresso. Na verdade, ele criou o termo, que depois se tornou popular com o jornalista Walter Lippman por volta de setembro do mesmo ano.

No dia vinte e quatro de junho de 1947, o piloto norte-americano Kenneth Arnold avista nove objetos voadores não-identificados perto do Monte Rainier em Washington. Este foi o primeiro relato oficial sobre OVNIS. Se quisermos, ou necessitarmos escolher uma data para o início da “Era dos discos voadores”, com certeza será essa.

E finalmente, no mês de julho de 1947, a cidade de Roswell, no Novo México, se tornou palco do caso mais importante envolvendo uma possível queda de nave extraterrestre. Sessenta anos depois, o caso ainda permanece um mistério: teria mesmo caído um disco voador naquela região desértica? Os militares norte-americanos resgataram a nave e seus tripulantes? Ou era apenas um balão metereológico, como afirmam as autoridades até hoje?

Mas a década que tornou os discos voadores populares, e que os inseriu de vez na cultura popular norte-americana foi a década de 1950. Muitos filmes sobre o tema foram feitos por Hollywood, que percebeu a crescente popularidade do assunto. Estava criado um novo filão de mercado. A maioria dos filmes clássicos e memoráveis como O dia em que a Terra parou (1951), Guerra dos mundos (1953) e Vampiros de almas (1956) foram feitos nessa década.

Na verdade, o filme Guerra dos mundos é uma adaptação do romance escrito em 1898 pelo escritor Herbert George Wells. Em 1938, Orson Welles, cineasta norte-americano, transmitiu uma adaptação do romance pelo rádio nos Estados Unidos. Muitos realmente acreditaram que a Terra estava mesmo sendo invadida por seres extraterrestres, e isso causou certo pânico nos lugares em as pessoas ouviam o programa. Orson Welles ganhou notoriedade com este incidente. Antes de 1947, o tema dos extraterrestres talvez não fosse tão explorado, mas Orson Welles ajudou a manter o tema e a obra de H. G. Wells inesquecíveis.

Durante a Segunda Guerra Mundial, um fenômeno apelidado de “Foo Fighter” se tornou conhecido entre os pilotos Aliados. Tratava-se de OVNIS que seguiam algum dos pilotos das aeronaves de guerra. Os Aliados acreditavam tratar-se de alguma arma secreta do inimigo, já que o fenômeno parecia segui-los. Ao final da guerra, descobriu-se que nem os Aliados e nem o Eixo tinham relação com tais aparições inexplicadas. Pelo menos, não oficialmente.

Acredito que esses fenômenos ocorridos durante a Segunda Guerra, assim como o programa de Orson Welles tenham contribuído para trazer o assunto dos OVNIS para um público mais abrangente. Eles são tão importantes quanto o relato oficial do piloto Kenneth Arnold.

O período da Guerra Fria compreendeu os anos de 1947 até 1991. Depois da Segunda Guerra, o mundo ficou dividido entre duas grandes potências que eram os Estados Unidos e a União Soviética. Do final da década de 1940, até o início da década de 1990 muitos conflitos ocorreram devido a essa guerra.

Durante os anos cinqüenta, houve a Corrida Armamentista, onde Estados Unidos e União Soviética criavam armas cada vez mais poderosas, e que chegaram às bombas atômicas e de hidrogênio; criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 1949, em 1955 a criação do Pacto de Varsóvia; o Macartismo na década de cinqüenta nos EUA - perseguição aos comunistas liderada pelo senador Joseph McCarthy; a Guerra da Coréia (junho de 1950 a julho de 1953); e por fim, a Corrida Espacial, que em 1961 fez o astronauta soviético Yuri Gagarin ser o primeiro homem a ir para o espaço e retornar a salvo, e em 1969 fez os norte-americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin os primeiros homens a pousarem na lua.

Na década de 1950 nota-se uma popularização do tema, com diversos filmes sendo realizados. Exemplo disso são dois dos três filmes citados anteriormente: O dia em que a Terra parou e Vampiros de almas.

O dia em que a Terra parou (1951) começa como muitos outros, onde cientistas captam a aproximação de um objeto não identificado vindo em direção da Terra, e logo descobrem que se trata de um disco voador. Ele pousa em um campo de baseball em Washington, e de lá saí um alienígena idêntico a um ser humano. Até aí, tudo segue como um clássico filme do gênero. Mas logo se descobre que o ET tem uma missão na Terra, e ela consiste em falar com todos os representantes de todas as nações do mundo. Esse fato é descoberto pelo Secretário do Presidente dos EUA num hospital onde está o alienígena chamado Klaatu. Ele está no hospital, pois logo quando chega, mostra um objeto que traz consigo e é alvejado por um soldado do Exército, sem que se saiba para que serve o objeto (uma crítica ao medo humano do desconhecido, e a ignorância de alguns que preferem “primeiro atirar, depois perguntar”).

O Secretário do Presidente não demonstra medo de Klaatu (que se cura rapidamente com uma “pomada sua”), tanto que conversa sozinho com ele no quarto, sem seguranças em volta. Klaatu sabe se comunicar em inglês perfeitamente, porque já estudou as línguas da Terra (isso ocorre em muitos filmes do gênero), e insiste em falar à todas as nações, não só ao Secretário do Presidente.

A conversa entre os dois é um ponto muito interessante do filme, devido à situação mundial política da época. O Secretário responde que tal pronunciamento às todos os líderes das nações ao mesmo tempo seria impossível, pois No momento, o nosso mundo está cheio de tensões e desconfianças e [os líderes mundiais] não se sentariam na mesma mesa. Uma referência – talvez não tão clara em um primeiro momento – à Guerra Fria. O Secretário ainda diz para Klaatu Tenho certeza que você sabe sobre as forças do mal que causam problemas em nosso mundo, se referindo aos russos e/ou aos comunistas. Mas o ET ignora esse ponto de vista do Secretário, pois para ele os conflitos internos e infantis do nosso planeta não interessam.

A missão de Klaatu na Terra é avisar a todos os representantes do mundo, que ao avançarmos com nossas tecnologias, devemos ter responsabilidade não só para não destruímos nosso planeta, mas também para não afetarmos outros planetas com isso. E que se necessário, forças extraterrestres usarão de força para impedirem nossas possíveis catástrofes. Junto com Klaatu, veio seu robô chamado Gort, que só se move com ordens de seu mestre, e que com um raio laser derrete qualquer coisa que necessitar, além de ser feito de um material indestrutível.

Durante o filme, Klaatu foge do hospital sem ser notado, e anda pelas ruas sem ser reconhecido como um ET. Ele se hospeda em uma pensão, onde lá ocorre outra cena interessante do filme: todos os hóspedes estão à mesa ouvindo um rádio, que como esperado, está falando sobre a fuga do ET. Eis que um casal demonstra ser contra os Democratas (entende-se então que são Republicanos), e a mulher dá a seguinte opinião Acho que essa nave veio aqui mesmo da Terra. Vocês sabem o que eu quero dizer. Uma outra alusão aos russos, e uma crítica ao Macartismo e à sua desconfiança contra praticamente tudo.

No final do filme, Klaatu demonstra que está falando sério e para impressionar o mundo sem machucar ninguém, resolve cortar a energia elétrica de todos os objetos do mundo, por trinta minutos (assim, ele “para a Terra”). Ele também consegue fazer seu discurso, mas não oficialmente aos representantes de todas as nações, mas o faz em meio a uma reunião de vários cientistas de todo o mundo.

O outro filme, Vampiros de Almas (1956) trata dos extraterrestres como malignos, e nele pessoas de uma cidadezinha vão sendo substituídas por cópias idênticas por obra dos Ets. São aliens e clones de pessoas que pregam uma sociedade sem emoções, onde todos são iguais, pois como diz um dos clones: Amor, desejos, ambição, fé. Sem eles a vida é mais simples.

Uma coisa é certa: depois de sessenta anos, a Guerra Fria terminou, e o fenômeno popular dos discos voadores é algo que parece resistir ao tempo e ainda faz parte do imaginário popular, tomando novos rumos diante de diferentes acontecimentos.

Fontes consultadas:

RUPPELT, Edward J. Discos Voadores – Relatórios sobre os objetos aéreos não identificados. 1ª Edição, Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1959.
SUENAGA, Cláudio T. UFO Especial. São Paulo, n° 20, outubro de 1997.
LAPLANTINE, François e TRIDADE, Liana. O que é Imaginário. 1ª Edição, Editora Brasiliense, São Paulo, 2003, p. 38.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Harry_truman
http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Marshall
http://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_Truman
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_fria
http://pt.wikipedia.org/wiki/Orson_welles
Filmografia:

O dia em que a Terra parou (The day the Earth stood still)
Direção: Robert Wise
Data de produção: 1951


Vampiros de almas (Invasion of the body snatchers)
Direção: Don Siegel
Data de produção: 1956
Revista Histórica - Arquivo Público do Estado de São Paulo

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