Na Praça da Paz Celestial, em Pequim, um
dos incontáveis de retratos do líder Mao Tsé-Tung
Aqui, retiremos todas as aspas da nota de apresentação de seu livro, por duas razões. A primeira diz respeito ao fato de que Jianping Sun escreve em uma linguagem tão exata, sem rodeios, sem vestígios de julgamento inútil, que devemos no mínimo tentar alcançar a altura de sua precisão de tom. A outra razão é em relação aos pequenos "maos" que brotavam na época, um pouco em cada parte do mundo. Não os cômicos, mas sim os da seita.
Essa história de "reeducação" - na verdade, um longo período de experiência semeado de pequenas maldades, de todos os comportamentos deploráveis, de delação, de bajulação dos "jovens instruídos" que compartilharam do privilégio de Jianping Sun, sem contar o comportamento dos reeducadores atormentados pela fome e pela maquinação -, enfim, todo esse banho de mediocridade revestido de infelicidade, as pequenas caricaturas de "maos" o quiseram. E eles sabiam o que significava querer.
A modesta crônica de Jianping Sun chega na hora certa. Nem lacrimosa nem vingativa, "diferente dessas narrativas que constituem o que chamamos de 'literatura de cicatriz' (shanghen wenxue) - como diz Muriel Détrie no prefácio -, a autobiografia de Jianping Sun não conhece a amargura. Nem a vingança retrospectiva. Sua obra se lê como um modesto tratado de antropologia política, uma tentativa de compreensão.
Vamos olhá-la em comparação com a história em quadrinhos de P. Otié e Li Kunwu, "Une vie chinoise" ["Uma vida chinesa", ed. Dargaud]. Uma vida chinesa e sua apresentação de Pierre Haski, cuja precisão falta em muitos livros sobre a China. O tom ponderado de Jianping Sun se permite mil detalhes sobre a vida difícil, mas também sobre o amor pela vida e o amor pelas pessoas. Mil informações sobre o trabalho nos arrozais, sobre os casamentos no campo, sobre a vida dura, a sobrevivência, a fome ou a pimenta (Mao: "Aquele que não come pimenta não pode ser um verdadeiro revolucionário".). E o que mais? Sobre roupas de baixo, sobre a limpeza, sobre o fato de ser uma garota. Sobre a mãe que borda um retrato do presidente com linha vermelha sobre um lenço de cetim branco, enquanto seus alunos a humilham e a insultam. Tomemos esta crônica hoje pelo que ela é: uma homenagem à memória de Francis Deron, correspondente do "Le Monde" em Pequim (1987-1997), falecido em 31 de julho.
Tradução: Lana Lim
Le Monde
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