Historiadores contestam tese de que religiosos salvaram a cultura ocidental
por Mariana Della Barba
Não fosse um grupo de religiosos irlandeses, nossa cultura não seria a mesma. Não conheceríamos, por exemplo, as obras de Sófocles e outros autores de tragédias gregas. Em cima dessa tese, Como os Irlandeses Salvaram a Civilização, de Thomas Cahill, fez barulho. Lançado em 1997, tornou-se best-seller, ficou um ano e meio nas listas dos mais vendidos nos Estados Unidos e só lá esgotou mais de 1 milhão de cópias. Hoje, porém, especialistas contestam a tese de Cahill. Para eles, parece exagerado afirmar que a cultura ocidental foi obra apenas de um punhado de cristãos.
A história que Cahill defende se passa na Europa, após a queda do Império Romano e a invasão de povos como os visigodos, hunos e vândalos. Para o autor, eles não fizeram nada além de destruir a organizada civilização romana e sua cultura. Entre os alvos preferidos dos bárbaros estavam as bibliotecas. “Os bárbaros imundos saqueavam cidades, apossando-se de objetos de arte e queimando livros. Incendiaram bibliotecas e livros viraram pó”, escreveu.
A Irlanda, no entanto, não sofreu com as incursões bárbaras e via a paz reinar por lá. A tranqüilidade acabou sendo um terreno fértil para a fundação de monastérios. E uma das funções nos mosteiros era a de escriba. Assim, em meados do século 5, os monges irlandeses assumiram a “tarefa de copiar toda a literatura ocidental – tudo que lhes caía em mãos”, afirma Cahill no livro.
Dois séculos depois, os monges partiram para a Escócia, Inglaterra e, finalmente, o continente europeu. Junto da fé, levavam suas cópias manuscritas e tornavam seus livros, “desaparecidos da Europa havia séculos”, disponíveis para a população local, restabelecendo o letramento.
Marcelo Cândido da Silva, professor de História Medieval da Universidade de São Paulo, é um dos especialistas que discordam da teoria. “É inegável a contribuição dos monges para a renovação da atividade monástica do Ocidente, mas considerá-los os salvadores da civilização é um exagero digno de uma literatura ideologicamente comprometida com mitos românticos.” Para ele, o principal equívoco de Cahill é sustentar “a velha tese do desaparecimento da cultura antiga”. “Segundo vários estudos recentes, a deposição do imperador Rômulo Augusto, em 476, pôs fim ao Império Romano do Ocidente, mas de modo algum à influência das tradições romanas”, diz.
Revista Aventuras na História
por Mariana Della Barba
Não fosse um grupo de religiosos irlandeses, nossa cultura não seria a mesma. Não conheceríamos, por exemplo, as obras de Sófocles e outros autores de tragédias gregas. Em cima dessa tese, Como os Irlandeses Salvaram a Civilização, de Thomas Cahill, fez barulho. Lançado em 1997, tornou-se best-seller, ficou um ano e meio nas listas dos mais vendidos nos Estados Unidos e só lá esgotou mais de 1 milhão de cópias. Hoje, porém, especialistas contestam a tese de Cahill. Para eles, parece exagerado afirmar que a cultura ocidental foi obra apenas de um punhado de cristãos.
A história que Cahill defende se passa na Europa, após a queda do Império Romano e a invasão de povos como os visigodos, hunos e vândalos. Para o autor, eles não fizeram nada além de destruir a organizada civilização romana e sua cultura. Entre os alvos preferidos dos bárbaros estavam as bibliotecas. “Os bárbaros imundos saqueavam cidades, apossando-se de objetos de arte e queimando livros. Incendiaram bibliotecas e livros viraram pó”, escreveu.
A Irlanda, no entanto, não sofreu com as incursões bárbaras e via a paz reinar por lá. A tranqüilidade acabou sendo um terreno fértil para a fundação de monastérios. E uma das funções nos mosteiros era a de escriba. Assim, em meados do século 5, os monges irlandeses assumiram a “tarefa de copiar toda a literatura ocidental – tudo que lhes caía em mãos”, afirma Cahill no livro.
Dois séculos depois, os monges partiram para a Escócia, Inglaterra e, finalmente, o continente europeu. Junto da fé, levavam suas cópias manuscritas e tornavam seus livros, “desaparecidos da Europa havia séculos”, disponíveis para a população local, restabelecendo o letramento.
Marcelo Cândido da Silva, professor de História Medieval da Universidade de São Paulo, é um dos especialistas que discordam da teoria. “É inegável a contribuição dos monges para a renovação da atividade monástica do Ocidente, mas considerá-los os salvadores da civilização é um exagero digno de uma literatura ideologicamente comprometida com mitos românticos.” Para ele, o principal equívoco de Cahill é sustentar “a velha tese do desaparecimento da cultura antiga”. “Segundo vários estudos recentes, a deposição do imperador Rômulo Augusto, em 476, pôs fim ao Império Romano do Ocidente, mas de modo algum à influência das tradições romanas”, diz.
Revista Aventuras na História
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