Construída para guardar os Dez Mandamentos, a Arca da Aliança estaria desaparecida há pelo menos 2 500 anos. Enquanto arqueólogos tentam encontrá-la, há quem diga estar com a relíquia em seu poder
por Tiago Cordeiro
"Assim falou Javé a Moisés: ‘Farás uma arca com madeira de acácia: seu comprimento será de dois côvados e meio; sua largura, de um côvado e meio; sua altura, também de um côvado e meio. Tu a revestirás com ouro puro, recobrindo-a por dentro e por fora; e farás ao seu redor um friso de ouro. Fundirás para ela quatro argolas de ouro, que porás nos seus quatro cantos; duas argolas num lado e duas argolas no outro lado. Farás também varais de madeira de acácia, revestindo-os de ouro. E os introduzirás nas argolas que estão nos lados da arca a fim de que esta, por meio deles, possa ser transportada. Dentro da arca guardarás o Testemunho que eu vou te dar’.”
Segundo a Torá, o livro sagrado dos judeus (e que, grosso modo, corresponde aos cinco primeiros livros da Bíblia cristã), foi assim, com instruções precisas, que Javé – Deus, em pessoa – instruiu Moisés na construção de um dos objetos mais misteriosos da história. Dentro dessa caixa de 1,11 metro de comprimento por 66,6 centímetros de largura e altura, o líder dos hebreus deveria guardar duas placas de pedra, gravadas a fogo por Javé. As inscrições traziam as normas de conduta que os fiéis deveriam seguir para justificar sua condição de povo eleito por Deus, e que qualquer criança conhece como os Dez Mandamentos. Por conter a prova desse acordo, um contrato entre o mundo divino e o mundo terreno, o baú ganhou o nome de Arca da Aliança. A Torá conta que Moisés levou o objeto sagrado pelo meio do deserto até as margens do rio Jordão, onde morreu. Seus sucessores guardaram a Arca, que se tornou um dos símbolos mais sagrados dos hebreus e, por herança, dos cristãos.
No entanto, fora dos textos religiosos, a história da Arca permanece um mistério. “Ela é um desses objetos míticos, como o Graal ou o túmulo de Jesus, que nenhum arqueólogo sério gosta de dizer que está procurando”, afirma a arqueóloga canadense Anne Michaels, professora da Universidade de York, em Toronto. “E que, vira e mexe, alguém diz que encontrou, faz um documentário, escreve um livro e consegue 50 minutos de atenção. Mas são objetos mais míticos que reais”, diz Anne.
Mas, diferentemente do Graal ou do túmulo de Jesus, que ninguém sabe como seriam, a Arca tem forma definida.“Não temos motivos para duvidar que a Arca tenha existido, mas é pouco provável que esteja inteira até hoje”, diz o historiador e teólogo Hans Borger, do Centro de Cultura Judaica de São Paulo. Outros especialistas são mais cautelosos. “Não existem evidências concretas a respeito dela. A Arca mal chega a ser objeto da arqueologia. É assunto para historiadores bíblicos”, afirma o arqueólogo israelense Israel Finkelstein, autor de A Bíblia Desenterrada. “Ela fascina as pessoas por causa de seu intenso poder como mito, concreto ainda hoje.”
As principais referências sobre a Arca estão na Torá e na Bíblia, obras que trazem ricas informações sobre a Antiguidade, mas sem rigor histórico. Alguns pesquisadores vêm tentando comprovar trechos dos textos sagrados (veja quadro na pág. ao lado). O problema é que a influência das escrituras pode desvirtuar os estudos. “Muitos arqueólogos procuram evidências que justifiquem sua própria fé. Qualquer vestígio é analisado com o desejo de encaixá-lo nos relatos bíblicos”, diz o historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essa ansiedade por novas descobertas é ainda mais verdadeira no caso da Arca. Se, para os arqueólogos, encontrá-la seria um achado incrível, para os fiéis seria a prova da existência de Deus.
PEGADAS NO DESERTO
Os eventos narrados pelo livro do Êxodo, quando a Arca é citada pela primeira vez, teriam ocorrido aproximadamente em 1300 a.C. O cálculo é baseado em registros históricos do antigo Egito, onde os hebreus teriam sido mantidos como escravos. Segundo as escrituras, eles teriam fugido e, liderados por Moisés, partido em busca de Canaã, a Terra Prometida. A Arca teria sido feita dois anos depois da saída do Egito, quando os hebreus estavam perto do monte Sinai. “Há pouquíssima, para não dizer nenhuma evidência arqueológica sobre esse período”, afirma Finkelstein. Um dos pontos mais polêmicos é a localização exata do monte. Há quem diga que ele fica na península do Sinai, no leste do Egito. O físico britânico Colin Humphreys, da Universidade de Cambridge, que pesquisa a história bíblica há 30 anos, defende que o monte Bedr, na atual Arábia Saudita, é o verdadeiro Sinai.
Que as referências ao período do Êxodo são mais míticas que documentais, praticamente todo mundo concorda. Esse livro, como toda a Torá, foi elaborado provavelmente entre os séculos 7 e 5 a.C., muito tempo depois dos eventos narrados. “Ele foi escrito numa época em que os hebreus estavam exilados na Babilônia”, diz Chevitarese. “Os autores queriam garantir a coesão do grupo e reforçar preceitos religiosos e de comportamento para que a identidade da nação não se perdesse.”
O texto sagrado dá conta de que, durante os 40 anos de peregrinação pelo deserto até a Terra Prometida, a Arca manifestou poderes mágicos. Os responsáveis por ela eram sacerdotes conhecidos como levitas. Diante deles, no alto da Arca, entre os dois querubins de ouro, Javé apareceria pessoalmente para se comunicar com os hebreus e orientá-los em sua jornada. “A descrição da Arca e de seus poderes faz sentido com o misticismo dos povos nômades daquela região e época, quando era comum a adoração a objetos e ídolos”, diz Anne Michaels. “E mesmo o surgimento do deus único dos hebreus, que substitui os ídolos, manteve paradoxalmente uma representação de seu poder, a Arca, que não deixava de ser um objeto a ser adorado.”
BELELÉU
No momento em que os hebreus encontraram a Terra Prometida, de acordo com o fim da Torá, Moisés morreu – aos 120 anos, ele deixava seu povo no destino indicado por Javé. Mas, se a terra tinha sido prometida aos hebreus, esqueceram-se de avisar os outros povos que moravam no que hoje é Israel e a Palestina. Por volta do século 13 a.C., a região era uma colcha de retalhos, onde o poder era exercido por cidades-estados que guerreavam entre si. Os hebreus eram apenas mais um punhado de tribos que lutavam para se manter por lá. A Bíblia menciona que, nessa época, a Arca acompanhava os hebreus nos confrontos contra cidades como Jericó, Maceda e Hebron. Era usada como estandarte de batalha – para os hebreus, ela era o motivo de suas sucessivas vitórias militares.
Segundo a Bíblia, nas décadas de luta por Canaã, pelo menos uma vez o objeto sagrado foi tomado por outro povo. De acordo com o livro de Samuel, que narra fatos que teriam acontecido perto de 1200 a.C., os filisteus capturaram a Arca e a levaram para três cidades diferentes: Asdobe, Ecrom e Bete-Semes. Em todas, ela teria provocado acontecimentos estranhos: estátuas amanheciam com as cabeças decepadas, ratos atacavam as casas com violência e, como se não bastasse, pessoas tinham surtos de hemorróidas. Quem encostasse na Arca morria na hora. Assustados, os filisteus devolveram o objeto a seus donos.
Os hebreus esconderam a Arca na cidade de Quiriate-Jearim. Ela teria sido levada para Jerusalém quando o lendário Davi se tornou rei, por volta de 1000 a.C. De acordo com a tradição, ele projetou um templo grandioso para abrigá-la. A obra coube a seu filho, Salomão, que teria reinado do rio Eufrates (no atual Iraque) ao Egito, entre 970 a.C. e 931 a.C. O primeiro Templo de Jerusalém é descrito com 26,6 metros de comprimento, 8,88 metros de largura e 13,3 metros de altura. Era feito de pedra e, do lado de dentro, revestido com cedro coberto de ouro. No centro do edifício, concluído em 965 a.C., uma área isolada, chamada Sagrado dos Sagrados, foi construída só para abrigar a Arca. Era um quarto em forma de cubo, com 8,88 metros de lado, revestido de ouro puro. A Arca ficaria depositada sobre um altar de madeira recoberto por ouro. Apenas iniciados, como levitas e profetas, podiam entrar lá.
Se não há registro de que Moisés tenha existido de fato, Davi e Salomão parecem mesmo ter reinado entre os hebreus. O que se discute é se pai e filho foram tão grandiosos como diz a tradição. “Ambos unificaram o povo hebreu, que desde os tempos de servidão no Egito vivia disperso em 12 grupos diferentes, chamados tribos de Judá”, diz o historiador Hans Borger. “Mas tudo indica que Salomão foi um rei bem mais modesto, e que o templo que ele construiu não era tão extraordinário quanto diz a tradição. Não existem registros arqueológicos dessas obras grandiosas descritas pela Bíblia.”
Depois da morte de Salomão, as 12 tribos de Judá (cujos membros ficaram conhecidos como judeus) se dividiram em dois grupos, com dez delas ao norte e duas ao sul. A nova estrutura política dos hebreus se sustentaria até o ano 721 a.C., quando os assírios dominaram o norte do reino. O sul, incluindo Jerusalém, cairia cerca de um século e meio depois, em 586 a.C., diante da invasão dos babilônicos liderados por Nabucodonosor II, que arrasaram o Templo. Esse evento marca o desaparecimento da Arca dos relatos bíblicos. A última referência a ela está no capítulo 2 do segundo livro dos Macabeus. Prevendo a invasão dos babilônicos, o profeta Jeremias teria retirado a Arca do Sagrado dos Sagrados e escondido-a no monte Nebo – o mesmo local, às margens do mar Morto, onde se acredita que Moisés foi enterrado.
O monte Nebo fica na atual Jordânia, a 10 quilômetros de uma cidade chamada Madaba. A Bíblia afirma que a Arca foi escondida numa gruta, cuja entrada foi obstruída por Jeremias. Arqueólogos já reviraram o local de cima a baixo e não acharam nada parecido com um baú dourado. Se a Arca ficou mesmo lá, não é difícil acreditar que nos últimos 2500 anos alguém a tenha encontrado antes dos pesquisadores. Mas, como costuma acontecer, a Bíblia talvez não possa ser interpretada ao pé da letra quando se refere ao destino da Arca.
Segundo o arqueólogo israelense Dan Barat, dizer que algo foi para o monte Nebo significa, na cultura judaica, que a coisa foi esquecida – mais ou menos como quando dizemos, no Brasil, que algo “foi para o beleléu”. “Quando o texto bíblico diz que a arca foi deixada no monte Nebo, na verdade está afirmando que ela jamais será vista novamente”, afirma (veja entrevista na pág. 33). A tese de Barat, que já foi consultor do Vaticano para a história de Jerusalém, faz sentido se comparada às referências a um texto apócrifo (não reconhecido pela Igreja) atribuído a Jeremias e já desaparecido. Segundo ele, a Arca teria sumido na destruição do Templo.
Se Jeremias não tirou a Arca do Templo, ela pode ter sido capturada pelos babilônicos. Essa possibilidade é defendida por alguns estudiosos, mas esbarra em algumas evidências. A lista de objetos levadas de Jerusalém para a Babilônia é conhecida, e nela não consta a Arca. A menos que os saqueadores tenham deliberadamente mantido o roubo em segredo, o objeto não chegou a ir para a Babilônia.
Mas a Arca pode ter sido escondida em Jerusalém mesmo, bem antes da chegada dos babilônicos. Essa versão também está na Bíblia, embora entre em contradição com o relato sobre Jeremias no livro dos Macabeus (que, é bom lembrar, não faz parte das Bíblias protestantes). Por volta de 626 a.C., o rei Josias teria colocado a Arca em um buraco sob o Templo de Salomão. O Talmude, tradicional compilação de leis e textos judaicos, sustenta essa versão e afirma que, no local onde havia o Templo, existe uma passagem secreta que leva a esse esconderijo. Mas, se Josias ocultou a arca em Jerusalém, fez isso tão bem que nem seu povo conseguiu encontrá-la.
Com a invasão babilônica, os judeus foram obrigados a ficar longe de Jerusalém até 539 a.C., quando a Pérsia conquistou a cidade e permitiu que eles voltassem. Em 515 a.C., no mesmo lugar do primeiro, foi erguido o segundo Templo de Jerusalém. Dentro dele, foi reconstruído o Sagrado dos Sagrados. Mas, dessa vez, o cômodo já não guardava mais a Arca. Pelo menos foi o que disse o general romano Pompeu, que invadiu a cidade quatro séculos depois, em 63 a.C., e exigiu entrar lá. Ao sair, afirmou não entender por que os judeus davam tanta importância a um quarto vazio. Os romanos levavam a sério os saques, uma das principais atividades econômicas do grande Império. Acostumados a listar as riquezas tomadas dos outros, os romanos também não fizeram menção à Arca.
O Império Romano expulsou os judeus da região de Jerusalém. Mas os cristãos acabaram sendo expulsos também, por muçulmanos. Até a época das Cruzadas (o esforço de reconquista da Terra Santa pelos cristãos), a Arca pemaneceu esquecida. Por volta do ano 1118, surgiram boatos de que a Ordem dos Cavaleiros Templários, um grupo de cristãos que pretendia defender os peregrinos nas Cruzadas, teria resgatado a Arca na Palestina. O objeto teria ficado nas mãos do monge francês Bernard de Clairvaux para, depois, sumir novamente. “Como tudo o que envolve os Templários, esses boatos são difíceis, senão impossíveis de averiguar”, diz o historiador Hans Borger.
Em meio a tanta incerteza, existe um grupo que afirma saber onde está a Arca. Os monges cristãos da Igreja Santa Maria de Sião, instalada no vilarejo Axum, na Etiópia, se dizem guardiães do objeto. A Arca teria sido levada para lá por volta de 950 a.C., pelas mãos de Menelik, filho do hebreu Salomão com Makeda, conhecida como a rainha de Sabá. Sabe-se que esse reino ocupou o que hoje são a Etiópia e parte da Eritréia e do Iêmen até ser dominado durante a expansão do Islã, no século 7. Há indícios de que a rainha de Sabá existiu, mas nenhum dado concreto sustenta que Makeda tenha tido um filho com Salomão. Apesar disso, a dinastia que governou a Etiópia até 1947 se dizia descendente direta de Menelik.
De acordo com os monges etíopes, a Arca está num templo perto do lago Zway, acessível apenas por um sacerdote guardião. Todos os anos, arqueólogos pedem acesso ao local para comprovar a história. Nenhum jamais foi autorizado a entrar. O argumento para tanto segredo é simples: apenas o guardião, nomeado pelos monges, pode olhar para o objeto sem morrer. O jornalista escocês Graham Hancock, ex-correspondente da revista britânica The Economist na África, escreveu um livro – Em Busca da Arca da Aliança – dizendo que os monges falam a verdade. Mas nem ele pôde entrar na caverna para conferir.
Atualmente, apesar do que dizem os monges da Etiópia, as buscas se concentram em Jerusalém, onde todas as escavações esbarram em intrincadas disputas políticas, religiosas e militares. Em 1982, por exemplo, o rabino israelense Yehuda Getz organizava pesquisas em uma caverna sob o local em que teria existido o primeiro Templo. A poucos metros de chegar ao fim dos trabalhos, teve de interrompê-los por causa dos protestos da comunidade árabe.
Mesmo que nunca seja achada, a Arca ainda é referência para os cristãos e, principalmente, para os judeus. Toda sinagoga tem, até hoje, uma área chamada Sagrado dos Sagrados, dedicada à aliança de Deus com os homens. “Graças à Arca, nossa história faz todo sentido”, diz o rabino americano Barry Kornblau, do Centro da Torá de Hillcrest, em Nova York. “Acredito que ela continuará desaparecida por bastante tempo. Quando reaparecer, representará uma renovação para a humanidade.”
A ciência tenta explicar a Bíblia
A arqueologia não está sozinha no desafio de desvendar as escrituras
O que é mito e o que é realidade nos relatos bíblicos? Responder a essa pergunta é uma das principais missões dos pesquisadores que vasculham as milenares camadas de construções que recobrem Israel e arredores. E, de tempos em tempos, um achado arqueológico parece confirmar as palavras da Bíblia. Em 1993, pesquisadores israelenses encontraram em Tel Dan, no norte do país, uma pedra de basalto datada do século 9 a.C. com uma inscrição em aramaico dizendo “Casa de Davi”. Pode ser uma coincidência, é verdade. Mas pode ser um sinal de que o rei e seu palácio existiram mesmo. A parte da Bíblia que mais desperta a curiosidade dos pesquisadores é o Êxodo. Para explicar alguns detalhes da fuga de Moisés do Egito, a arqueologia ganha a companhia de ciências como a física e a biologia. Um exemplo é o caso da Sarça Ardente, o galho de árvore que, segundo as escrituras, queimava sem nunca se consumir. Segundo os cientistas, a planta incandescente estaria localizada em uma área de grande atividade vulcânica e um jato de gás subterrâneo explicaria o fogo constante. As pragas divinas que teriam assolado os egípcios também seriam fenômenos naturais – o rio Nilo transformado em sangue, por exemplo, seria resultado do excesso de algas vermelhas na água.
Caminho sagrado
Veja por onde teria passado a Arca
A Bíblia afirma que a Arca da Aliança surgiu durante o Êxodo, a ida dos hebreus à Terra Prometida, e desapareceu nove séculos depois, na época da invasão de Jerusalém pelos babilônicos. Este mapa é uma tentativa de reconstituir, passo a passo, o caminho que teria sido percorrido pela Arca. Para isso, a descrição bíblica foi unida ao conhecimento arqueológico sobre antigas cidades e povos do Oriente Médio.
Primeira parte do êxodo (APROXIMADAMENTE 1300 A.C.)
Fugindo da escravidão no Egito, os hebreus teriam partido de uma cidade chamada Ramsés e, dois anos depois, chegado ao monte Sinai. A rota do Êxodo ao lado foi proposta pelo cientista inglês Colin Humphreys em 2003.
1. Caixa de Deus
Dois anos depois de sair do Egito, o líder Moisés recebe os Dez Mandamentos no monte Sinai (que seria o monte Bedr, na atual Arábia Saudita). Para guardá-los, o hebreu Beseleel constrói a Arca da Aliança.
2. Promessa cumprida
Os hebreus chegam à região conhecida como Canaã, a Terra Prometida, 40 anos após deixar o Egito. Depois de sobreviver a várias batalhas, a Arca é mantida na cidade de Siló, sob a proteção do sacerdote Eli.
3. Crime e castigo
Por volta de 1050 a.C., os filisteus atacam os hebreus e levam a Arca consigo. O objeto sagrado passa a causar mortes e doenças e acaba sendo devolvido aos donos, que o levam para Quiriate-Jearim.
4. Casa própria
O rei hebreu Davi decide levar a Arca para Jerusalém, cidade conquistada por ele em torno do ano 1000 a.C. Seu filho, Salomão, constrói um templo para guardar a Arca, que fica pronto em 965 a.C.
5. Esconderijo final
Em 586 a.C., os babilônicos invadem Jerusalém e destroem o templo. Mas, antes disso, o profeta Jeremias retirou a Arca da cidade, escondendo-a numa caverna no monte Nebo, na atual Jordânia.
A longa lista de suspeitos
Muitos povos passaram por Jerusalém após o sumiço da Arca
Nada de monte Nebo, Etiópia ou Babilônia: há quem diga que a Arca continuou em Jerusalém mesmo após a destruição do templo em que ficava. O problema é que, nos últimos 2500 anos, vários povos conquistaram e reconquistaram a cidade. E todos eles podem ter encontrado a Arca.
537 a.C.
Os persas derrotam os babilônicos e seu rei, Ciro, devolve Jerusalém aos judeus. As obras do novo Templo são concluídas em 515 a.C.
332 a.C.
O líder macedônio Alexandre, o Grande, derrota o rei persa Dario e conquista a Palestina. Rumo à Ásia, passa por Jerusalém.
320 a.C.
Três anos após a morte de Alexandre, Jerusalém é capturada pelo faraó egípcio Ptolomeu I.
198 a.C.
Os selêucidas tomam a Palestina e saqueiam o Templo. Mas, liderados por Judas Macabeu, os judeus recuperam a cidade sagrada.
63 a.C.
A Palestina é anexada ao Império Romano. No ano 70, após uma revolta em Jerusalém, o Segundo Templo é arrasado pelo imperador Tito. Em 135 o imperador Adriano refunda a cidade com o nome de Aelia Capitolina. Expulsos de lá, os judeus só retornariam em 438.
614
A Pérsia toma Jerusalém do Império Bizantino. Quinze anos depois, os bizantinos retornam e exigem que os judeus se convertam ao cristianismo.
638
Seis anos depois da morte do profeta Maomé, fundador do Islã, o califa Omar toma Jerusalém e permite o retorno dos judeus.
1099
Liderados por Godfrey de Bouillon, os cavaleiros cristãos da Primeira Cruzada capturam Jerusalém e expulsam judeus e muçulmanos.
1187
A cidade é retomada pelos muçulmanos, liderados pelo general curdo Saladino
1244
A dinastia muçulmana Ayyubid anexa Jerusalém. Em 1260, um grupo de ex-escravos dos Ayyubid, os mamelucos, se rebela e conquista a cidade.
1517
Os turcos otomanos do sultão Selim I chegam a Jerusalém e a ocupam pacificamente, sem resistência dos mamelucos.
1917
Durante a Primeira Guerra, os ingleses conquistam a Palestina. Três décadas depois, após o fim da Segunda Guerra, aceitam sair de lá.
1948
O Estado de Israel declara independência e fica com Jerusalém Ocidental. O lado oriental, mais antigo, é controlado pela Jordânia. Em 1967, os israelenses derrotam os árabes e dominam toda a cidade.
Lá ou cá
Fora do roteiro bíblico, há dois destinos que podem abrigar a Arca hoje em dia
Conexão africana
Entre as supostas amantes de Salomão está Makeda, a rainha de Sabá (um antigo reino africano). Menelik, filho dos dois, teria nascido no século 10 a.C. Após ir a Jerusalém conhecer o pai, teria levado a Arca embora. Hoje em dia, em Axum, na Etiópia, monges juram guardar a relíquia num templo (foto).
Butim babilônico
Há versões que afirmam que a Arca não foi retirada do Templo de Jerusalém antes da invasão babilônica, em 586 a.C. Dessa forma, o baú teria ficado à mercê das tropas de Nabucodonosor II, que poderiam tê-la levado para a Babilônia (no atual Iraque), mesmo sem listá-la entre os objetos confiscados.
"A arca está em Jerusalém"
Mas o pesquisador que afirma isso acha que ela nunca será encontrada
O arqueólogo israelense de origem polonesa Dan Barat (foto), de 69 anos, é um dos maiores especialistas na história de Jerusalém. Depois de passar 40 anos pesquisando os subterrâneos da cidade, Barat não tem dúvidas: a Arca da Aliança ainda está no local onde Salomão fez um templo para guardá-la.
História - Por que, depois de Salomão, a arca praticamente desaparece da Bíblia?
Quando Salomão trouxe a Arca para o Templo, seu valor como sinal da aliança com Javé terminou. A partir daí, todo o Templo passou a ter essa função. É por isso que não ouvimos mais falar dela até os dias do profeta Jeremias.
Que escondeu a Arca antes que os babilônicos destruíssem o Templo, em 586 a.C., certo?
O livro dos Macabeus afirma que Jeremias a escondeu no monte Nebo. Mas, na cultura judaica, o monte Nebo costuma ser mencionado como sinônimo de “esquecimento”. Quando a Bíblia cita o monte Nebo, está afirmando que a Arca jamais será vista de novo.
A Arca foi destruída, então?
Não, ela está inteira, e em Jerusalém. O Talmude diz que, depois dos babilônicos, a Arca continuava no Templo.
O senhor quer encontrá-la?
Não estou procurando pela Arca. Nem acredito que ela vá ser encontrada.
Mas achá-la não seria espetacular?
Sim, é o sonho de todo arqueólogo. Mas a Arca já cumpriu sua missão e não vamos conseguir resgatá-la tão cedo. Ela ressurgirá no momento certo.
Saiba mais
Livros
Bíblia Hebraica, Seffer, 2006
O relato bíblico dos judeus é considerado pela maioria dos especialistas o mais confiável para entender a Arca.
Os Milagres do Êxodo, Colin J. Humphreys, Imago, 2003
O renomado físico britânico explica a fuga dos hebreus do Egito à luz do conhecimento científico atual.
Revista Aventuras na Historia
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