quarta-feira, 27 de maio de 2009

A dura vida de princesa


Revista de História

Professores medíocres, aulas tediosas, dietas controladas e exercícios físicos rigorosos. Quem disse que é fácil ser criança? Que o diga a pequenina Maria da Glória (1819-1853), filha do imperador d. Pedro I e de d. Leopoldina e futura rainha d. Maria II de Portugal. A vida da jovem herdeira, irmã de d. Pedro II, estava pautada em regras restritas: levantar-se cedo, canjas nas refeições, banhos sempre de água fria e visitas com hora marcada. As atividades eram seguidas com a precisão de um relógio e mantinham a princesa afastada de seus súditos.

Nos ingênuos exercícios de caligrafia, as lições da soberana: fazer o bem, sustentar o justo, temer a Deus ou encontrar seu próprio nome – completo – em meio a um quadro com letras dispersas. Tarefa massacrante para uma criança que ostentava o pomposo nome de Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina Isidora da Cruz Francisca Xavier de Paula Micaela Gabriela Rafaela Luísa Gonzaga de Bragança.

Com a morte de seu avô, o rei d. João VI, em 1826, um impasse se estabeleceu no reino português, outrora metrópole do Brasil: o herdeiro natural da Coroa portuguesa era o imperador do Brasil, há alguns anos independente. A solução encontrada foi a abdicação de d. Pedro I ao trono de Portugal em favor da filha primogênita. Maria da Glória, vivendo nos trópicos, herdou o trono português com apenas sete anos de idade. Assim, em abril de 1826, a princesinha tornou-se rainha. Para completar, ainda deveria se casar com seu tio, d. Miguel (1802-1866), que seria nomeado regente e lugar-tenente do reino, pois a rainha deveria ser educada por tutores no Brasil.


Mas nada saiu como o planejado. Traindo os votos do casamento e o juramento de lealdade feitos à esposa, d. Miguel se declara rei de Portugal em 23 de junho de 1828. Sem saber dos acontecimentos em Portugal, d. Pedro envia sua filha para a Europa poucas semanas depois. Acompanhando a jovem monarca estava um dos homens de confiança do imperador, o militar e diplomata Felisberto Caldeira Brant (1772-1842), futuro marquês de Barbacena.

Chegando ao porto de Gibraltar em 3 de setembro daquele mesmo ano, a comitiva teve conhecimento dos acontecimentos em Portugal. Felisberto Brant decidiu então zarpar rumo à Inglaterra, onde Maria da Glória foi recebida com todas as honras pelos soberanos britânicos.


A Biblioteca Nacional tem em seu acervo uma carta escrita pela jovem rainha em seu exílio londrino. Datada de 1829 e remetida de Lateham para o marquês de Barbacena, nela ficam claras a afeição para com seu protetor e o olhar infantil da menina forçada a passar por um processo de amadurecimento precoce: “Estimarei que tenhas passado bem. Eu tenho passado bem. Já faço cortesias, e já tenho unhas, e já fazemos também muitas mesuras, e vou à casa da duquesa Clarence a uma companhia de crianças no campo. O meu retrato já está muito bom, e estes dias tenho estado muito boa menina. Cá temos tido muitas saudades suas”.

Acostumada à companhia apenas de tutores e de criados, que tinham permissão de lhe dirigir a palavra apenas quando interrogados, Maria da Glória se satisfaz com a simples oportunidade de brincar com crianças de sua idade. Uma infância com muito estudo, poucos amiguinhos e brincadeiras. Assim foram os primeiros anos de d. Maria II, rainha de Portugal nascida no Brasil.

Biblioteca Nacional

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