Quem vai para o céu e quem vai para o inferno na História brasileira?
Responda rápido: quais foram os melhores e os piores brasileiros da História? Tudo bem, não precisa ser rápido; afinal, é uma pegadinha difícil de equacionar. Para muitos, impossível — os melhores como? Quais os critérios de comparação? Em que área de atuação? Na vida pública ou na convivência pessoal?
Aos que vêm com a problemática, como diria o homem-gol Dadá Maravilha, aqui vai a “solucionática”: não é pesquisa para se levar a sério demais. Tem valor científico e estatístico igual a zero. Mas quem disse que História não pode ser discutida em mesa de bar?
Convocamos para a tarefa de eleger os “heróis” e os “vilões” do Brasil uma distinta seleção de historiadores, professores, jornalistas, economistas, políticos e artistas, protegidos pelo anonimato para louvar e condenar quem bem entendessem. Cada um podia votar em até cinco pessoas para o bem, outras cinco para o mal. Recebemos pouco mais de 200 votos.
A primeira característica da alma brasileira revelada nas respostas foi a transgressão. O único critério a ser respeitado foi sumariamente atropelado por muitos participantes. Pedimos que os escolhidos fossem figuras já falecidas, mas talvez a vontade de ver muita gente “no caixão” tenha falado mais alto. O leitor pode deduzir por conta própria quais são alguns desses “mortos-vivos”, poupando-nos do risco de processos criminais por injúria.
Abrindo o panteão dos mais queridos, duas personalidades do século XIX: Machado de Assis e D. Pedro II, empatados com sete votos cada. Para não ficarmos sem campeão, o escritor leva o título, pois o longevo imperador tem a desaboná-lo dois votos como um dos piores brasileiros. Outros personagens controversos repetiram a proeza de figurar nas duas listas: Juscelino Kubitschek e Leonel Brizola. Curiosamente, a porção ditador de Getulio Vargas não lhe rendeu nenhum voto, prevalecendo a imagem de grande estadista, que o alçou ao terceiro posto entre os “heróis”. Sobrou para Filinto Muller, chefe de polícia de Vargas durante o Estado Novo, um dos mais odiados.
De modo geral, parece que o Brasil tem mais heróis do que vilões. Nas artes (principalmente na música), na ciência, na política e até no esporte, os participantes se lembraram de nada menos que 56 nomes valorosos. De Antônio Conselheiro ao marechal Rondon, de Ayrton Senna ao barão de Mauá, de Chiquinha Gonzaga a Betinho, o orgulho brasileiro se manifesta em múltiplos tons. Menções honrosas para Oswaldo Cruz, Sérgio Buarque de Holanda, Patrícia Galvão (Pagu), Paulo Freire, Rui Barbosa, José Bonifácio, Mário de Andrade e Luís Carlos Prestes. Digna de nota também foi a mísera votação de um outrora grande herói: Tiradentes levou apenas uma menção.
Do lado do mal, os matizes são menos variados e a memória é mais curta. Foram citados 33 nomes, quase todos do século XX, a grande maioria da década de 1960 para cá. A ditadura militar paga a sua fatura com o time completo: os presidentes Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo foram votados, além do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Médici é o vilão número 1, com inquestionáveis 12 votos.
Sobrou também para os governadores Carlos Lacerda (do antigo estado da Guanabara) e Antônio Carlos Magalhães (da Bahia), o jornalista Roberto Marinho e um dos alcagüetes mais famosos da história nacional, Joaquim Silvério dos Reis. Ao lado do fofoqueiro que entregou Tiradentes à Coroa estão desde parceiros clássicos de traição, como Calabar, até figuras mais polêmicas, como o economista Roberto Campos, o presidente Jânio Quadros, o patrono do Exército, duque de Caxias, o imperador D. Pedro I e o líder integralista Plínio Salgado.
Antes que eles venham nos assombrar, vale a ressalva de que o imaginário histórico é fruto da cultura da época e dos valores sociais vigentes, transformando-se radicalmente de tempos em tempos, etcétera e tal. Resumindo com a tradicional cordialidade brasileira: ninguém é perfeito.
Mas fica o alerta para os vivos: tem uma fila enorme doida para votar em vocês na próxima, assim que empacotarem. Sua cabeça é seu guia.
Revista de História da Biblioteca Nacional
Responda rápido: quais foram os melhores e os piores brasileiros da História? Tudo bem, não precisa ser rápido; afinal, é uma pegadinha difícil de equacionar. Para muitos, impossível — os melhores como? Quais os critérios de comparação? Em que área de atuação? Na vida pública ou na convivência pessoal?
Aos que vêm com a problemática, como diria o homem-gol Dadá Maravilha, aqui vai a “solucionática”: não é pesquisa para se levar a sério demais. Tem valor científico e estatístico igual a zero. Mas quem disse que História não pode ser discutida em mesa de bar?
Convocamos para a tarefa de eleger os “heróis” e os “vilões” do Brasil uma distinta seleção de historiadores, professores, jornalistas, economistas, políticos e artistas, protegidos pelo anonimato para louvar e condenar quem bem entendessem. Cada um podia votar em até cinco pessoas para o bem, outras cinco para o mal. Recebemos pouco mais de 200 votos.
A primeira característica da alma brasileira revelada nas respostas foi a transgressão. O único critério a ser respeitado foi sumariamente atropelado por muitos participantes. Pedimos que os escolhidos fossem figuras já falecidas, mas talvez a vontade de ver muita gente “no caixão” tenha falado mais alto. O leitor pode deduzir por conta própria quais são alguns desses “mortos-vivos”, poupando-nos do risco de processos criminais por injúria.
Abrindo o panteão dos mais queridos, duas personalidades do século XIX: Machado de Assis e D. Pedro II, empatados com sete votos cada. Para não ficarmos sem campeão, o escritor leva o título, pois o longevo imperador tem a desaboná-lo dois votos como um dos piores brasileiros. Outros personagens controversos repetiram a proeza de figurar nas duas listas: Juscelino Kubitschek e Leonel Brizola. Curiosamente, a porção ditador de Getulio Vargas não lhe rendeu nenhum voto, prevalecendo a imagem de grande estadista, que o alçou ao terceiro posto entre os “heróis”. Sobrou para Filinto Muller, chefe de polícia de Vargas durante o Estado Novo, um dos mais odiados.
De modo geral, parece que o Brasil tem mais heróis do que vilões. Nas artes (principalmente na música), na ciência, na política e até no esporte, os participantes se lembraram de nada menos que 56 nomes valorosos. De Antônio Conselheiro ao marechal Rondon, de Ayrton Senna ao barão de Mauá, de Chiquinha Gonzaga a Betinho, o orgulho brasileiro se manifesta em múltiplos tons. Menções honrosas para Oswaldo Cruz, Sérgio Buarque de Holanda, Patrícia Galvão (Pagu), Paulo Freire, Rui Barbosa, José Bonifácio, Mário de Andrade e Luís Carlos Prestes. Digna de nota também foi a mísera votação de um outrora grande herói: Tiradentes levou apenas uma menção.
Do lado do mal, os matizes são menos variados e a memória é mais curta. Foram citados 33 nomes, quase todos do século XX, a grande maioria da década de 1960 para cá. A ditadura militar paga a sua fatura com o time completo: os presidentes Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo foram votados, além do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Médici é o vilão número 1, com inquestionáveis 12 votos.
Sobrou também para os governadores Carlos Lacerda (do antigo estado da Guanabara) e Antônio Carlos Magalhães (da Bahia), o jornalista Roberto Marinho e um dos alcagüetes mais famosos da história nacional, Joaquim Silvério dos Reis. Ao lado do fofoqueiro que entregou Tiradentes à Coroa estão desde parceiros clássicos de traição, como Calabar, até figuras mais polêmicas, como o economista Roberto Campos, o presidente Jânio Quadros, o patrono do Exército, duque de Caxias, o imperador D. Pedro I e o líder integralista Plínio Salgado.
Antes que eles venham nos assombrar, vale a ressalva de que o imaginário histórico é fruto da cultura da época e dos valores sociais vigentes, transformando-se radicalmente de tempos em tempos, etcétera e tal. Resumindo com a tradicional cordialidade brasileira: ninguém é perfeito.
Mas fica o alerta para os vivos: tem uma fila enorme doida para votar em vocês na próxima, assim que empacotarem. Sua cabeça é seu guia.
Revista de História da Biblioteca Nacional
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