segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Hélène Berr: Uma outra Anne Frank


Hélène Berr: Uma outra Anne Frank
Publicados os diários de jovem judia morta em campo de concentração
por Rita Loiola
Abril de 1942. Sob o céu azul da Paris ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra, uma jovem judia de 21 anos caminha despreocupada. Em casa, ela começa a escrever um diário, em que narra a vida de estudante de literatura inglesa na Universidade Sorbonne. Com o tempo, sua rotina é virada do avesso pela perseguição nazista. No dia de seu aniversário de 24 anos, 8 de março de 1944, Hélène Berr é deportada, para morrer em abril de 1945, no campo de concentração de Bergen Belsen. Poucos dias depois, o local seria fechado pelos aliados.
Reunidas em livro, as memórias de Hélène Berr (Hélène Berr Journal) foram lançadas em janeiro na França e chegam agora ao Brasil, com o título O Diário de Hélène Berr – Um Relato da Ocupação Nazista de Paris (Objetiva). A história lembra o diário de outra jovem, a judia holandesa Anne Frank, que também registrou sua saga durante o conflito. Anne morreu um mês antes de Hélène, no mesmo campo de concentração. “No entanto, os relatos não são parecidos”, afirma Mariette Job, sobrinha de Hélène e responsável pela publicação do livro. “Minha tia não ficou escondida, ao contrário dos Frank. Então, ela descreve o clima de Paris, o dia-a-dia da ocupação”, diz ela.
Quando a estudante foi presa, o diário passou pelas mãos da cozinheira da família, de seus irmãos e de seu noivo, até ser resgatado, em 1992, por Mariette. Em 2002, foi doado ao Memorial de Shoah, em Paris. Durante todo esse tempo, o texto, que mescla descrições lúcidas a citações de William Shakespeare (1564-1616) e John Keats (1795-1821), só foi lido pelos parentes. “Quando percebi sua força, vi que era um dever estender essas reflexões a todos”, diz Mariette. Como em um romance, o leitor segue a voz calma de Hélène até as palavras finais, emprestadas do escritor polonês Joseph Conrad (1857-1924): “O horror! O horror! O horror!”

"Se eu for presa esta noite..."
A angústia e o medo nas anotações da estudante francesa
“Segunda-feira, 1º de novembro: Ninguém nunca saberá o quanto foi devastadora a experiência pela qual passei neste verão. Nada se soube da partida de 27 de março de 42 [do marido da senhora Schwartz]. Falou-se em linhas avançadas no front russo onde os deportados teriam sido usados para explodir minas. Falou-se também em gases asfixiantes pelos quais passaram os comboios na fronteira polonesa. Esses rumores devem ter uma origem verdadeira. E pensar que toda pessoa presa, ontem, hoje, nesta mesma hora, provavelmente terá o mesmo destino terrível. Pensar que isso ainda não acabou, que tudo continua a acontecer com uma regularidade diabólica. Que se eu for presa esta noite (coisa que entrevejo há bastante tempo), em oito dias estarei em Haute-Silésie, talvez morta, que toda minha vida desaparecerá subitamente, com todo o infinito que sinto existir dentro de mim.”

Revista Aventuras na História

Um comentário:

Rosemildo Sales Furtado disse...

Uma página negra e vergonhosa que ficou para sempre na história da humanidade.

Abraços e ótimo feriado.

Furtado.