Cabeça de cuia
Sete Marias
Precisa tragar
São sete virgens
Pro encanto acabar
Quando o rio
Em cheia desce
Cabeça de cuia
Sempre aparece
Rema pra margem
Oh! Velho pescador
Que a curva do rio
O monstro apontou
Castigo tremendo
Que Deus lhe deu
Por bater na mãezinha
Crispim se encantou
Tem medo, oh! Maria
Que estás a lavar
O cabeça de cuia
Te pode tragar
(Canção popular atribuída a Chico Bento)
Durante as cheias, sempre à noite e mais freqüentemente às sextas-feiras, costuma aparecer nas águas dos rios Poti e Parnaíba, um monstro. Trata-se de um sujeito alto, magro, com longos cabelos caídos pela testa e cheios de lodo, a que chamam cabeça de cuia.
Dizem que, há muitos anos, em uma pequena aldeia do vilarejo denominado Poti Velho vivia uma pequena família, cujo arrimo era um jovem pescador, a que alguns dão o nome de Crispim. Certo dia, o rapaz retornou da pesca muito aborrecido. À hora da refeição, composta de carne de vaca, pegou um enorme pedaço de osso e, a fim de tirar o tutano, bateu com ele na cabeça da velha mãe. A pobre senhora, indignada e enfurecida, rogou-lhe uma praga, amaldiçoando-o. O filho, com o coração tomado de remorso, pôs-se a correr como um louco e atirou-se às águas do rio Poti, desaparecendo.
Desde esse dia, o cabeça de cuia nada errante pelas águas dos dois rios, surgindo ora aqui, ora ali, na época das enchentes e nas noites de sexta-feira. Aparece de repente e agarra banhistas desavisados, principalmente crianças, arrastando-os para o fundo das águas. De sete em sete anos, devora uma moça chamada Maria. Após apoderar-se de sete Marias, seu encanto estará quebrado e ele retornará ao seu estado natural. Contam que sua mãe permanecerá viva até que o filho esteja livre de sua sina.
É o principal mito do estado do Piauí. A Prefeitura de Teresina instituiu, em 2003, o Dia do Cabeça de Cuia, a ser comemorado na última sexta-feira do mês de abril.
Referências bibliográficas
• Cabral, Alfredo do Vale. Achegas ao estudo do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura / Fundação Nacional de Artes, 1978
• Cascudo, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1954 | 9ª edição: Rio de Janeiro, Ediouro, sd | Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo, Global Editora, 2002, p.268-271
• Freitas, João Alfredo de. Superstições e lendas do Norte do Brasil. Recife, 1884
• Gonçalves Neto, Vítor. "O cabeça de cuia". Jornal do Dia. Porto Alegre, 01 de fevereiro de 1959, "Regionalismo, tradição e folclore", nº 103, p.17-23
• Magalhães, Basílio de. O folclore no Brasil. Rio de Janeiro, Livraria Quaresma, 1928 <>
• Paranaguá, Joaquim Nogueira. Do Rio de Janeiro ao Piauí pelo interior do país (impressões de viagem), 1905.
• "Folclore piauiense para a festa". Jornal de Brasília. Brasília, 02 de maio de 1976
Jangada Brasil
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