A Ordem dos Cavaleiros do Templo reuniu um importante patrimônio na Europa na época das cruzadas. Mesmo depois de sua dissolução pelo papa, manteve cofres secretos cheios de riquezas. Certo? Errado!
por Rodolphe Keller
COLEÇÃO PARTICULAR
Templários, litografia, autor desconhecido, c.180
As lendas envolvendo os Templários começaram a surgir quando essa ordem medieval foi violentamente destruída, no início do século XIV. Em 1307, os monges-cavaleiros foram detidos por oficiais do rei francês Felipe, o Belo, e, submetidos à tortura, confessaram vários dos graves crimes contra a fé dos quais eram acusados. Na sequência, a ordem foi então eliminada pelo papa Clemente V, e o grão-mestre, Jacques de Molay, queimado vivo. Apenas alguns dos Templários conseguiram escapar.
Começaram, então, as lendas. Entre afirmações de que a ordem cultuaria ídolos ou de que continuaria existindo e desenvolvendo atividades ocultas mesmo depois de sua dissolução, a crença de que os cavaleiros teriam deixado um valioso tesouro foi a que permaneceu mais viva.
Há quem afirme que esse tesouro estaria guardado na Escócia ou na Espanha. Outros apontam para Rennes-le-Château, na França, onde um pároco, Bertrand Saunière, teria ficado misteriosamente rico depois de encontrar alguns manuscritos. Outra versão menciona o castelo de Gisors, na Normandia, onde, em 1946, o jardineiro Roger Lhomoy afirmou ter descoberto uma sala secreta cheia de cofres. Nos anos 1960, o escritor surrealista Gérard de Sède popularizou esse mito com um livro reforçando as afirmações de Lhomoy.
A Ordem do Templo surgiu em Jerusalém após a Primeira Cruzada (1096-1099). Inicialmente era uma simples confraria laica composta por cavaleiros a serviço dos cônegos do Santo Sepulcro. Hugo de Payns foi quem a transformou em uma autêntica ordem religiosa, inspirada nos beneditinos. Em 1139, o papado a acolheu sob sua jurisdição. Formada por monges-soldados, correspondia bem ao espírito da época.
COLEÇÃO PARTICULAR
Templários, litografia, autor desconhecido, c.180
Rapidamente os Templários foram ganhando importância e passaram a receber doações de terras em toda a Europa. Organizaram-se em comendas, vastas propriedades que lhes rendiam vultosos ganhos. Cada uma dispunha de uma tesouraria, como nas propriedades episcopais ou senhoriais.
Os Templários desenvolveram técnicas de transferência de fundos por meio de letras de câmbio. Foi essa habilidade com as finanças que atraiu o rei Felipe, o Belo, que depositou importantes somas nos cofres templários, esperando lucrar com a operação.
Não há dúvidas, portanto, de que os Templários eram ricos. Mas será que esse poder financeiro teria conseguido sobreviver à espoliação pelo poder público? Naquela época de guerras e cruzadas, o rei tinha necessidade constante de muito dinheiro, e a arrecadação do reino era insuficiente para isso. Entre 1294 e 1306, Felipe, o Belo, tentou, de diversas formas, reverter a situação: aumentou impostos, cunhou mais moedas, pegou empréstimos e confiscou bens de judeus. Nem assim conseguiu acertar suas contas. Por que, então, não apelaria para o patrimônio dos ricos Templários?
Depois de julgados e acusados, os Templários tiveram seus bens confiscados pelo rei. Segundo o historiador Raymond Cazelles, a renda obtida permitiu cobrir o déficit orçamentário da França durante anos. Difícil acreditar que, nessa situação, ainda tenha sobrado algum tesouro não explorado.
Rodolphe Keller é professor de história e geografia
Revista História Viva
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