domingo, 26 de setembro de 2010

O Museu da Idade Média

O Museu da Idade Média
por Carolina Pulici
O Museu Cluny, também chamado de Museu Nacional da Idade Média, está construído sobre dois importantes monumentos da história de Paris: as termas galo-romanas dos séculos 1 a 4 e o antigo hotel dos abades de Cluny, do fim do século 13.
As termas foram construídas por ordem do próprio imperador Júlio César, depois da conquista da Gália (atual França, parte da Bélgica, Alemanha e Itália). Além das termas, o conjunto comportava ateliês de ginástica e massagem, jardins e até mesmo bibliotecas e museus. “Residia ali a originalidade romana de unir cultura física e intelectual”, diz o historiador francês Jerôme Carcopino.
No século 4, as Termas de Cluny foram saqueadas e incendiadas por bárbaros. Seriam reformadas apenas no século 13, quando a Universidade de Paris (Sorbonne) se instalou no atual bairro Quartier Latin. Visando influenciar o meio estudantil, a poderosa abadia de Cluny, na região francesa da Borgonha, construiu ao lado da universidade um colégio e uma pousada para os abades que visitavam Paris. Hoje, além de reunir o legado arquitetônico da Gália romana, o museu conta com obras-primas da tapeçaria e coleções de vitrais, marfins, cerâmicas e esculturas.

Saiba mais
www.musee-moyenage.fr
Cluny, em Paris
As termas romanasque viraram abadiamedieval e museu
1. Os medalhões da Sainte Chapelle
Uma sala com iluminação apenas nas paredes abriga os vitrais da Sainte Chapelle de Paris, que estão em Cluny desde 1855. Erguida em 1248 para abrigar os supostos espinhos de Cristo e outras relíquias sagradas vindas de Constantinopla, a “Capela Santa” tinha 1134 vitrais com cenas bíblicas. Os principais eram os medalhões, símbolo máximo da arquitetura gótica da Idade Média
2. As estátuas da Notre-Dame de Paris
Esculpida entre os séculos 12 e 13, esta cabeça pertencia a uma das 28 estátuas de reis situadas acima da porta da catedral de Notre-Dame de Paris. Com 3,50 metros de altura e representando reis bíblicos e ancestrais de Maria, as estátuas foram destruídas durante a Revolução Francesa, por terem sido confundidas com representações dos reis da França. Em 1977, 300 fragmentos foram encontrados por acaso no subsolo de um banco, que doou a “cabeça de homem barbudo” ao Cluny
3. Sauna seca e a vapor
Além do anfiteatro e do fórum, as cidades conquistadas pelo Império Romano deviam ter também uma terma. A de Cluny comportava o caldarium (sala quente), o tepidarium (sala morna), e o frigidarium (sala fria). Com mais de 200 metros quadrados, colunas de 14,5 metros e paredes de 2 metros de espessura, o frigidarium de Cluny é o exemplo conservado do legado romano em Paris
4. O pilar dos navegantes
Na mesma sala do frigidarium está exposto o pilar dos navegantes, o mais antigo monumento datado de Paris. Erigido pouco tempo depois da conquista da Gália pelos romanos, esse pilar tinha originalmente 5 a 6 metros de altura, era ornado em baixo-relevo e trazia, em sua iconografia, a referência ao deus Júpiter, mestre do panteão romano
5. Trombetas de Marfim
Os trabalhos de marfim são representados em três salas do museu Cluny. No período medieval a presa de elefante foi um material empregado na produção de vários objetos, como taças, peças de xadrez, retábulos e instrumentos musicais. Dentre esses últimos, os olifantes eram trombetas curvas cujo nome derivava justamente do material de que eram feitos, isto é, presas de elefante
6. A vida cotidiana da Idade Média
O Cluny também é rico em peças de uso cotidiano na vida senhorial. Esta última sala do térreo concentra alguns desses objetos de que se valia o homem medieval em seu dia-a-dia, tais como cofres, sapatos, moedas, brinquedos e pentes. Fabricados no norte da França por volta de 1500, já em fins da Idade Média, os pentes de madeira traziam em sua rica ornamentação motivos heráldicos, lemas amorosos ou ainda temas religiosos
7. Tapeçarias: a dama e o unicórnio
O comércio de tecidos foi um dos mais ativos da Idade Média. Marca inequívoca do período, a famosa tapeçaria A Dama e o Unicórnio dispõe de uma sala de exposição exclusiva, uma das mais procuradas pelos visitantes. Esse conjunto de tecidos antigos foi feito em Bruxelas no século 15, e compõe-se de seis painéis, cinco representando os sentidos humanos. A peça acima significa a audição
8. Ourivesaria: a rosa de ouro
Desde o século 11 as rosas de ouro eram uma espécie de prêmio Nobel dados pelos papas, no quarto domingo da quaresma, a quem consideravam piedoso. Mas a premiação era decidida também politicamente. A rosa de ouro do museu Cluny foi feita em 1330 na cidade francesa de Avignon – sede do papado entre 1309 e 1411 –, e é a mais antiga do mundo. Encomendada pelo papa João XXII (1249-1334), foi oferecida a Rodolfo III de Nidau, conde de Neuchâtel (Suíça), seu aliado contra o imperador Luís, da Bavária
9. Vitrais: jogadores de xadrez
Os vitrais são apresentados no museu em mais duas salas do museu Cluny. A peça abaixo mostra uma partida xadrez, jogo retratado em toda a cultura da Idade Média, da literatura às artes figurativas, como uma metáfora do ritual amoroso. Durante o Renascimento e a Contra-Reforma católica, os vitrais, símbolo da religiosidade medieval e assim de um passado a ser negado, foram gradualmente esquecidos
10. A capela do Hotel de Cluny
Antigo oratório dos abades de Cluny, esta sala se destaca pela exuberância de seu teto, composto por várias cúpulas em estilo gótico. Na capela há também 12 nichos que abrigavam as estátuas da família de Jacques d’Ambroise, responsável pela reconstrução do Hotel de Cluny. Uma escada de pedra em espiral fazia a ligação direta entre a capela e o jardim do museu.

Revista Aventuras na História

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