O pantera-negra
Huey Newton tinha tudo para sero Che Guevara da causa negra, mas morreu como traficante de drogas.
por Alvaro Oppermann
Em 1967, a Califórnia ficou dividida. No sul, explodia o “paz e amor” dos hippies. Ao norte, o sentimento era de ódio. Civis negros enfrentavam à bala policiais brancos, que chamavam de “porcos”. No ano anterior, Huey Newton criara o “Partido dos Panteras-Negras para a Autodefesa”, com o amigo Bobby Seale, líder estudantil. Não era um partido político, mas um grupo de protesto contra a violência racista branca.
A polícia de Oakland, principal cidade do movimento, tentou acabar com os panteras pela força. Os tiros, porém, saíram pela culatra. Num confronto, Huey matou um policial branco. Foi preso, e o caso ganhou atenção da mídia em todos os EUA. Na Olimpíada de 1968, dois atletas americanos negros fizeram no pódio o sinal do movimento: o punho cerrado. Em 1970, Newton foi absolvido e o grupo cresceu mais ainda. Além de combater o racismo, sua causa era nada menos do que instalar um regime marxista nos EUA. Valia tudo: eleições (Seale concorreu à prefeitura de Oakland, mas não ganhou), marchas, protestos e, claro, tiroteios.
Uma das armas era o carisma de Newton. Boa-pinta, sempre de jaqueta e boina pretas, parecia um Che Guevara em versão black. O FBI tentou de tudo para estrangular o movimento: infiltração de agentes, fraude de documentos, prisões. Nada deu certo. Huey só não resistiu a duas coisas: à fama e à cocaína. Em 1970, as estrelas de Hollywood o descobriram e levaram Huey para passear por mansões e cheirar pó. O pantera adotou idéias mais radicais e temperamento mais violento. Em 1974, doidão, matou uma prostituta de 17 anos. Bert Schneider (produtor de Easy Rider – Sem Destino) pagou a fiança. Mas a população queria linchá-los e a promotoria, prendê-lo. Foi então que Schneider e 3 figurões de Hollywood armaram uma fuga de Huey para Cuba, via México. Deu certo: o pantera-negra foi recebido como herói por Fidel Castro. Lá virou professor e torneiro mecânico.
Quando voltou para os EUA em 1977, Huey já não era o mesmo. Nos anos 80, tentou voltar à vida pública, em vão. Alquebrado, preso às drogas, entrou para o tráfico. Morreu em 22 de agosto de 1989 em Oakland, baleado por um traficante adolescente. Segundo testemunhas, a última palavra que deve ter ouvido foi gritada pelo seu assassino: “motherfucker!”
Grandes momentos
• Nasceu em 1942. Foi preso por vandalismo várias vezes. Aprendeu a ler na cadeia e estudou direito. Segundo ele, para virar um ladrão melhor.
• Em 1971, Huey viajou para a China. Foi recebido com honras de chefe de Estado pelo próprio Mao Tsé-tung. O livro de cabeceira de Huey era o Livro Vermelho de Mao.
• Nem todos os cineastas gostavam dele. “Tudo o que Huey fez em Hollywood foi passar sífilis e gonorréia para um monte de atrizes”, disse o roteirista Buck Henry.
• Foi preso em 1985, acusado de desviar fundos do programa de merenda escolar dos panteras-negras para manter o seu vício.
Revista Superinteressante
Huey Newton tinha tudo para sero Che Guevara da causa negra, mas morreu como traficante de drogas.
por Alvaro Oppermann
Em 1967, a Califórnia ficou dividida. No sul, explodia o “paz e amor” dos hippies. Ao norte, o sentimento era de ódio. Civis negros enfrentavam à bala policiais brancos, que chamavam de “porcos”. No ano anterior, Huey Newton criara o “Partido dos Panteras-Negras para a Autodefesa”, com o amigo Bobby Seale, líder estudantil. Não era um partido político, mas um grupo de protesto contra a violência racista branca.
A polícia de Oakland, principal cidade do movimento, tentou acabar com os panteras pela força. Os tiros, porém, saíram pela culatra. Num confronto, Huey matou um policial branco. Foi preso, e o caso ganhou atenção da mídia em todos os EUA. Na Olimpíada de 1968, dois atletas americanos negros fizeram no pódio o sinal do movimento: o punho cerrado. Em 1970, Newton foi absolvido e o grupo cresceu mais ainda. Além de combater o racismo, sua causa era nada menos do que instalar um regime marxista nos EUA. Valia tudo: eleições (Seale concorreu à prefeitura de Oakland, mas não ganhou), marchas, protestos e, claro, tiroteios.
Uma das armas era o carisma de Newton. Boa-pinta, sempre de jaqueta e boina pretas, parecia um Che Guevara em versão black. O FBI tentou de tudo para estrangular o movimento: infiltração de agentes, fraude de documentos, prisões. Nada deu certo. Huey só não resistiu a duas coisas: à fama e à cocaína. Em 1970, as estrelas de Hollywood o descobriram e levaram Huey para passear por mansões e cheirar pó. O pantera adotou idéias mais radicais e temperamento mais violento. Em 1974, doidão, matou uma prostituta de 17 anos. Bert Schneider (produtor de Easy Rider – Sem Destino) pagou a fiança. Mas a população queria linchá-los e a promotoria, prendê-lo. Foi então que Schneider e 3 figurões de Hollywood armaram uma fuga de Huey para Cuba, via México. Deu certo: o pantera-negra foi recebido como herói por Fidel Castro. Lá virou professor e torneiro mecânico.
Quando voltou para os EUA em 1977, Huey já não era o mesmo. Nos anos 80, tentou voltar à vida pública, em vão. Alquebrado, preso às drogas, entrou para o tráfico. Morreu em 22 de agosto de 1989 em Oakland, baleado por um traficante adolescente. Segundo testemunhas, a última palavra que deve ter ouvido foi gritada pelo seu assassino: “motherfucker!”
Grandes momentos
• Nasceu em 1942. Foi preso por vandalismo várias vezes. Aprendeu a ler na cadeia e estudou direito. Segundo ele, para virar um ladrão melhor.
• Em 1971, Huey viajou para a China. Foi recebido com honras de chefe de Estado pelo próprio Mao Tsé-tung. O livro de cabeceira de Huey era o Livro Vermelho de Mao.
• Nem todos os cineastas gostavam dele. “Tudo o que Huey fez em Hollywood foi passar sífilis e gonorréia para um monte de atrizes”, disse o roteirista Buck Henry.
• Foi preso em 1985, acusado de desviar fundos do programa de merenda escolar dos panteras-negras para manter o seu vício.
Revista Superinteressante
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