1/10/2006
Raízes do Brasil explica o país de hoje?
Sérgio Buarque de Holanda ainda é atual? Raízes do Brasil pode ser usado para se entender o Brasil de hoje? A Revista de História foi à PUC-Rio, onde entrevistou quatro alunos do curso de graduação em História para saber o que eles acham de uma das principais obras da antropologia brasileira.
André Luis Campos Salles, 35 anos, considera deturpada a apropriação do conceito de “homem cordial” para explicar as relações pessoais na política nacional.
– Certa vez assisti a uma palestra em que uma professora fazia uso de Raízes do Brasil para falar da corrupção no governo do país. Mas o próprio Sérgio Buarque de Holanda restringia o conceito de “homem cordial” a determinados grupos sociais. Não vale a pena usar essa idéia para explicar o brasileiro em geral. No conceito de cordialidade, você suspende as leis para abrir espaço para uma negociata mais particular. Mas dizer que o brasileiro põe as leis em segundo plano é um equívoco.
Esta não é a opinião de Natália Peixoto, 23 anos. Ela conta que, uma vez, seu carro foi arranhado em um acidente de trânsito e o motorista culpado fugiu. Para dar queixa, ela precisaria de duas testemunhas que não conhecesse. O policial encarregado disse que por dez reais ele transformaria o namorado dela – que estava no carro – em uma testemunha anônima. Ela não aceitou.
– Mas grande parte da população não faria o mesmo. O brasileiro reclama da corrupção na política, mas, diante de conflitos privados, acaba fazendo uso de pequenos subornos.
Maria Aparecida dos Santos, 21 anos, diz que Raízes do Brasil é mais que atual, “pois fala da fronteira tênue que existe entre o público e o privado no país”.
– Não quero dizer que o Brasil dos anos 1930 seja igual ao Brasil de hoje, mas a idéia do livro ainda persiste. Já ouvimos falar de deputados que usam o carro oficial para levar o cachorro ao veterinário, ou de juízes que, ao cometerem uma infração no trânsito, dão uma “carteirada”, fazendo uso do título para escapar ilesos. É o famoso “você sabe com quem está falando?”, frase tipicamente brasileira. Nossas relações sociais são muito porosas.
Patrícia Costa Gregório, 32 anos, discorda e não vê o Brasil como um país tão maleável.
– O Sérgio Buarque dizia que a colonização espanhola foi mais racional que a portuguesa. Mas eu não acho que nossa expansão territorial tenha sido feita tão “ao Deus dará”. Na ocupação da Amazônia, por exemplo, houve um forte planejamento do marquês de Pombal, que também tinha projetos claros de defesa. Acho que Raízes do Brasil nos ajuda a entender o início da formação da nossa sociedade, mas explica principalmente o período da colonização. Não serve para explicar a atualidade. Mergulhar no livro para encontrar o Brasil de hoje é exagerado.
Revista de Historia da Biblioteca Nacional
Raízes do Brasil explica o país de hoje?
Sérgio Buarque de Holanda ainda é atual? Raízes do Brasil pode ser usado para se entender o Brasil de hoje? A Revista de História foi à PUC-Rio, onde entrevistou quatro alunos do curso de graduação em História para saber o que eles acham de uma das principais obras da antropologia brasileira.
André Luis Campos Salles, 35 anos, considera deturpada a apropriação do conceito de “homem cordial” para explicar as relações pessoais na política nacional.
– Certa vez assisti a uma palestra em que uma professora fazia uso de Raízes do Brasil para falar da corrupção no governo do país. Mas o próprio Sérgio Buarque de Holanda restringia o conceito de “homem cordial” a determinados grupos sociais. Não vale a pena usar essa idéia para explicar o brasileiro em geral. No conceito de cordialidade, você suspende as leis para abrir espaço para uma negociata mais particular. Mas dizer que o brasileiro põe as leis em segundo plano é um equívoco.
Esta não é a opinião de Natália Peixoto, 23 anos. Ela conta que, uma vez, seu carro foi arranhado em um acidente de trânsito e o motorista culpado fugiu. Para dar queixa, ela precisaria de duas testemunhas que não conhecesse. O policial encarregado disse que por dez reais ele transformaria o namorado dela – que estava no carro – em uma testemunha anônima. Ela não aceitou.
– Mas grande parte da população não faria o mesmo. O brasileiro reclama da corrupção na política, mas, diante de conflitos privados, acaba fazendo uso de pequenos subornos.
Maria Aparecida dos Santos, 21 anos, diz que Raízes do Brasil é mais que atual, “pois fala da fronteira tênue que existe entre o público e o privado no país”.
– Não quero dizer que o Brasil dos anos 1930 seja igual ao Brasil de hoje, mas a idéia do livro ainda persiste. Já ouvimos falar de deputados que usam o carro oficial para levar o cachorro ao veterinário, ou de juízes que, ao cometerem uma infração no trânsito, dão uma “carteirada”, fazendo uso do título para escapar ilesos. É o famoso “você sabe com quem está falando?”, frase tipicamente brasileira. Nossas relações sociais são muito porosas.
Patrícia Costa Gregório, 32 anos, discorda e não vê o Brasil como um país tão maleável.
– O Sérgio Buarque dizia que a colonização espanhola foi mais racional que a portuguesa. Mas eu não acho que nossa expansão territorial tenha sido feita tão “ao Deus dará”. Na ocupação da Amazônia, por exemplo, houve um forte planejamento do marquês de Pombal, que também tinha projetos claros de defesa. Acho que Raízes do Brasil nos ajuda a entender o início da formação da nossa sociedade, mas explica principalmente o período da colonização. Não serve para explicar a atualidade. Mergulhar no livro para encontrar o Brasil de hoje é exagerado.
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