segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A FARMACOPÉIA E A CRENDICE BANDEIRANTE

ESPECIAL
As longas marchas pelo sertão geravam uma série de pestilenças, quer fossem transmitidas pelos animais - principalmente insetos - ou mesmo das carências alimentares derivadas das dificuldades da caminhada. A maneira de se tratar as doenças durante uma bandeira não era muito diferente dos métodos utiizados em toda a Colônia: credices, orações e uso da flora e da fauna, a partir das tradições brancas, indígenas e negras.

Os remédios utilizados pelos índios foram encarados inicialmente com desconfiança pelos europeus. Afinal, constituíam-se de caudas de gambá, unhas de tamanduá e do bicho-preguiça. Com o decorrer do convívio, tornaram-se métodos curativos muitíssimo empregados pelos bandeirantes e pelos demais colonos de São Vicente.

As orações eram levadas - em um cordão - pelos bandeirantes e invocadas nos momentos mais difíceis. Muitos Muitos depositavam uma fé infinita nesses amuletos, último recurso quando as possibilidades se esgotavam.

Em um território muitas vezes hostil, vivendo uma situação adversa, só restava voltar-se para a intervenção divina.

"O espetáculo de uma paisagem diferente, em um mundo diferente, onde o próprio regime das estações não obedecia ao almanaque, deveria sugerir aos espíritos curiosos um prodigioso laboratório de simplices ( ingredientes que figuravam na composição de medicamentos). Não faltava, é certo, quem se limitasse a discernirnessas formas inéditas as imagens de algum modelo

remotoe quase relegadoda memória. Assim é que na mandioca, vinham procurar o honesto pão de trigo; no pinhão da araucária a castanha européia; no abati, o milho, milho alvo do Reino; na própria carne de tamanduá, a de vaca(...) na jabuticaba, a uva ferralou a ginja( espécie de cereja).. Mas, às vezes, interrompia-se o cortejo de visões familiares. E então era preciso acreditar no milagre, promessa de outros milagres. "...


O excremento e a urina, principalmente de determinados animais , eram muito utilizados na farmacopéia bandeirante. Na verdade, tais procedimentos já eram utilizados na Europa, pelo menos desde a Idade Média. Não podemos esquecer que os excrementos eram usados como adubo, tendo simbolicamente uma funçao revitalizadora. O método de misturar urina e fumo, segundo relatos de bandeirantes, salvou a vida de muitos deles no sertão.

A pólvora foi também aproveitada com função curativa: para cauterização de feridas. No século XVIII, durante uma epidemia de mal-de-bicho, peste que atingiu o sertão, a pólvora foi utilizada fartamente como remédio, juntamente com outros ingredientes fortes: a caninha, a pimenta e o fumo. No imaginário bandeirante (e popular), quanto mais violento fosse uma droga, maior sua função curativa.

Introduzidas pelo ânus, estas misturas com pólvora - chamadas de saca-trapos - tiveram aplicação até o século XIX contra diversas doenças, entre elas o maculo (nome espanhol) ou, como era chamado pelos luso-brasileiros, mal do cu.

Fonte: Sociedade Brasileira: uma História. Aquino.

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