sábado, 10 de julho de 2010

O paradoxo armênio

Renata de Figueiredo Summa

O paradoxo armênio
Quem caminha pelas ruas de Erevan, capital do país, impressiona-se com a beleza do Monte Ararat e seu vizinho pequeno Ararat. A neve eterna do seu cume contrapõe-se aos verdes prados e ao céu de azul intenso em um dia de verão.
O Monte Ararat é o símbolo máximo da Armênia. O povo armênio viveu sob essa montanha durante mais de três mil anos. Do alto de seus 5.137 metros, o Monte Ararat é a paisagem que melhor representa a palavra “lar” para os armênios, sejam eles nascidos no país ou filhos da diáspora.
Mas esse símbolo maior não mais pertence à Armênia. Pior: ele está localizado em território turco. Ele pertence ao mesmo povo que um dia tentou exterminar toda a população armênia que vivia em seu território. Povo esse que continua negando o episódio que matou 1,5 milhão de armênios e que mais tarde seria reconhecido como genocídio pela ONU, União Européia e 22 países.
E o Monte Ararat está lá, encarnando o paradoxo armênio. Ele está lá, na fronteira fechada entre Turquia e Armênia, como para lembrar os três milhões habitantes desse pequeno país de que um dia eles já foram mais livres. Está lá, e quando os armênios o olham, lembram do que foi arrancado deles. Muito mais do que uma montanha, mas também ela faz falta. E, embora em território turco, ela é ainda a montanha deles. E ela está lá, a cada vez que alguém olha de algum canto da Armênia, e não os deixa esquecer.


Revista Ética e Filosofia Política – UFJF

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