domingo, 22 de março de 2009

Santidade, jejum e anorexia na História


Maria Valdiza Rogério Soares
Mestre em História Comparada UFRJ. Colaboradora do Programa de Estudos Medievais -
PEM/ UFRJ.


Para o professor e psiquiatra G.J. Ballone, a anorexia é um transtorno alimentar caracterizado por limitação da ingestão de alimentos, devido à obsessão de magreza e o medo mórbido de ganhar peso. Ela pode ter origem em enfermidades somáticas (endocrinológicas, por exemplo) ou psíquicas; incluindo a manifestação de um ideal estético. Ou seja, a anorexia não consiste na perda do apetite, mas na recusa em se alimentar. Manifesta-se em cerca de 1% da população feminina.
Segundo Ballone, a anorexia é um mal que ataca especialmente as mulheres jovens. Sua incidência é maior entre os 14 e 18 anos de idade e caracteriza-se por um peso abaixo do mínimo esperado, em média 85% para idade e altura; interrupção do ciclo menstrual por pelo menos três meses; distorção de imagem corporal, pois a pessoa sentese bem mais gorda do que está; medo intenso e recusa ativa a ganhar peso.
A perda de peso nos indivíduos com anorexia ocorre com a redução do consumo alimentar total, embora alguns comecem “o regime” excluindo de sua dieta alimentos altamente calóricos. Desta forma, a maioria deles termina com uma dieta muito restrita, por vezes limitada a apenas alguns poucos tipos de alimentos. Nos casos mais graves, são adotados métodos adicionais de perda de peso, incluindo auto-indução de vômito, uso indevido de laxantes ou diuréticos e prática de exercícios intensos ou excessivos.
Ainda não se conhecem as causas fundamentais da anorexia, mas o psiquiatra Ballone aponta como causa a interação sociocultural mal adaptada, fatores biológicos, mecanismos psicológicos menos específicos e vulnerabilidade de personalidade.
Na atualidade, o ideal de atingir um corpo perfeito, que é ratificado pela mídia e pelos estilistas, colaboram para o crescimento desse ideal estético. Tendo em vista esses fatores, atualmente a anorexia é associada aos ideais de elegância ligados à magreza. Porém, nem sempre a anorexia foi ligada a padrões de beleza; mesmo não sendo conhecida por este nome, é possível detectar a presença de sintomas desta doença no Ocidente, sobretudo a partir do século XII. As pessoas daquela época não tinham consciência dessa doença e o fato de não comer, neste momento, não se relacionava com ideais de beleza, mas implicava sair do saeculum e atingir a purificação da alma, livrando-se de todos os pecados e conseguindo a sua salvação e também a de outros. Assim, a anorexia medieval manifestava-se como uma forma de devoção religiosa, em que por meios de jejuns e tortura da carne, acreditava-se, o corpo tornava-se um meio de acesso ao divino.

Desta forma, na Idade Média, a anorexia é relatada e vista sob outro prisma. A idéia de que o corpo facilitava o acesso ao sagrado parece haver crescido drama-ticamente durante o século XII. Tanto os homens como as mulheres manipulavam seus corpos, mediante flagelações, abstinências e outras formas de infligir sofrimento. Porém, isso foi mais característica das mulheres, sendo explicada pelos historiado-res pelo fato das mulheres serem mais propensas a somatizar a experiência mística e a descrevê-la utilizando exageradas metáforas corporais. Segundo Caroline Walker Bynum havia uma diferença na forma de ver e tratar a experiência de vida por homens e mulheres. Enquanto o homem escrevia sobre “a experiência mística”, oferecendo uma visão geral e tendo uma voz impessoal, a mulher, narrava sobre “a minha experiência mística”, falando diretamente de algo que lhe ocorrera (BYNUM, 1990:167-175). Ou seja, a mulher dava um significado real aos acontecimentos do corpo, falando de saborear a Deus, de beijá-lo intensamente, de adentrar em seu coração e de ser coberta por Seu sangue, fazendo de sua experiência mística um fato quase palpável.

Entretanto, seria errôneo estabelecer um contraste radical entre a devoção dos homens e a das mulheres neste momento, pois muitos deles também manifestavam sua devoção, faziam penitências e tinham visões. Seus hagiógrafos descrevem suas experiências afetivas relacionadas com Deus. Como exemplo podemos destacar Francisco de Assis.
Francisco, que muitos conhecem como o Irmão Menor, o amigo dos animais, foi o fundador do movimento religioso que deu origem à Ordem dos Frades Menores ou Franciscanismo. Nasceu em Assis, cidade da região da Úmbria, Itália, no final do século XII, sendo oriundo de uma família de comerciantes. Após seu processo de conversão, abraçou definitivamente a vida de penitente no ano de 1208; morreu em 1226. Seu primeiro hagiógrafo, Tomás de Celano, descreve sobre sua ascese alimentícia: Francisco nunca ou rarissimamente admitiu comidas cozidas. Se eram aceitas, muitas vezes misturava-lhes cinza ou lhes tirava o tempero com água fria.
Quando a fome o obrigava a comer, nunca se satisfazia além do necessário. Certa vez, quando estava doente, comeu um pouco de carne de galinha. Logo que recuperou as forças foi para a cidade de Assis. Chegando à porta da cidade, mandou ao frade que o acompanhava que lhe amarra-se uma corda no pescoço e o conduzisse assim, feito um ladrão, por toda a cidade, clamando como um pregoeiro: Vejam o comilão que engordou com carne de galinha, que comeu sem vocês saberem. Muita gente correu para ver o espetáculo estranho. Pobres de nós, que passamos nossa vida cometendo crimes e que alimentamos nossos corações e nossos corpos com luxúria e embriaguez. E assim, de coração compungido, foram chamados a uma vida melhor por tamanho exemplo. (SIL-VEIRA, 1997: 216).

O hagiógrafo destaca a moderação de Francisco ao comer. A continência do assisense é expressada pelo autor como uma característica da santidade do homem de Assis. Clara de Assis foi fundadora da Segunda Ordem Franciscana, a das Irmãs Clarissas. Nasceu em 1194 e morreu em 1253, na cidade de Assis, Itália. Era filha de família nobre. Aos 18 anos de idade largou tudo e entrou para a vida religiosa. A irmã Benvinda de Perusa salienta: Antes de ficar doente, Clara fazia tantas abstinências que na quaresma maior e na de São Martinho sempre jejuava a pão e água, exceto nos domingos, quando tomava um pouco de vinho, se havia. E três dias da semana: segunda-feira, quarta e sexta, não comia coisa alguma, até que São Francisco lhe mandou comer todos os dias um pouco; para obedecer, tomava um pouco de pão e água [...] (Processo de Canonização de Santa Clara, II, 8)

Na Legenda de Santa Clara, escrita em 1255 por ocasião da canonização de Clara de Assis, seu hagiógrafo Tomás de Celano ressalta Para que o sacrifício fosse mais grato a Deus, privava seu próprio corpozinho dos alimentos mais delicados e, enviando-os às ocultas por intermediários, reanimava o estômago de seus protegidos. (Legenda de Santa Clara 3) Segundo o celanense, a espiritualidade de Clara, mani-festada desde a sua infância, estava ligada a restrição de alimentos. Assim como ela, no Medievo, várias outras mulheres adotaram uma vida de rigorosas abstinências alimentares Marie de Oignies e Catarina de Sena Marie de Oignies, que viveu na comunidade de mulheres religiosas conhecida como Beguinas, um grupo religioso laico, cujo modo de vida consistia em viver em castidade, renunciando aos bens mundanos. Atraída desde a juventude para a prática da pobreza pessoal voluntária, ela enunciara à vida conjugal, distribuindo sua riqueza aos pobres e, junto com o marido, foi servir em uma colônia de leprosos. Anos depois, instalouse em uma cela do priorado Agostiniano de São Nicolau, em Oignies, onde viveu em completa pobreza, sobrevivendo daquilo que ganhava como fiandeira. Morreu em 1213.
Segundo Lawers: Durante muito tempo ela comeu um pão escuro e muito duro, que nem os cães queriam [...]. No fim de sua vida, já não podia absorver nenhum alimento e até o cheiro do pão lhe dava vômitos. Após seu falecimento, seus restos mortais foram encontrados tão emaciados e reduzidos pela doença e os jejuns que a espinha dorsal tocava o ventre; sob a delgada pele do ventre, aparecia a ossatura das costas (LAWERS, 1994: 220-221).
Catarina de Sena (Siena), que nasceu em 1347, foi a penúltima a nascer de uma famí-lia de 25 irmãos. Filha de um tintureiro bem estabelecido, aos sete anos fez voto de virgindade; aos 16, cortou sua longa cabeleira para evitar um casamento; aos 18, recebeu o hábito das Irmãs da Penitência de São Domingos e aos 20, só vivia de pão e água: Depois de ter perdido rapidamente metade do peso, deixou de engolir fosse o que fosse. Para evitar escândalo, ela tomava por vezes um pouco de salada ou um pouco de outros vegetais crus ou frutos e mastigava-os, e depois virava-se para os deitar fora. E, se chegava a engolir uma parcela mínima, o estômago não lhe dava repouso enquanto não vomitasse. (LAWERS, 1994: 221)
Segundo a tradição, foi agraciada com favores sobrenaturais, como o “casamento mís-tico”; recebeu estigmas semelhantes aos de Cristo; teve uma “morte mística”, quando foi levada em espírito ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso; teve também uma “troca mística de coração” com Cristo. Aprendeu a ler e a escrever milagrosamente para poder cumprir a missão pública que Deus lhe destinava. Dirigia um número enorme de discípulos, os caterinati, que reunia gente do clero, da nobreza e do povo. Morreu em 29 de abril de1380, aos 33 anos.

Desta forma, percebemos que as severas abstinências que algumas mulheres se impu-seram possibilitou a debilidade de seus corpos e provavelmente foi a causa, para algumas, de sua enfermidade e morte. Mais por que tanta abstinência ?

Segundo Jacques Le Goff , o período pós-invasões bárbaras foi marcado pela fome. Para ele, esse flagelo “bíblico”, assombrava o Medievo. Desta maneira, o cultivo de produtos alimentícios, a economia era destinada à subsistência; os camponeses lavra-vam as terras de seus senhores, retirando delas o suficiente para a sua sobrevi-vência. Já os donos destes senhorios, faziam uso desses recursos, mas, por possuírem riquezas, conseguiam ter acesso a outras fontes de alimentos, não dependendo exclusivamente da produção local. Ou seja, apesar da baixa produtividade, em geral, a alimentação era um sinal das diferenças sociais (LE GOFF, 1984:285-290).

Pode-se notar congruências entre as afirmações do autor citado acima com o de Massi-mo Montanari. Para Massimo, os hábitos alimentares durante a época medieval eram distintos entre os grupos sociais (nobreza e camponeses). O próprio fato de comer muito era visto na ética aristocrática como sinal de distinção social, de força e de nobreza ( MONTANARI, 2002:35-46).

Entretanto, isso contradizia os valores da cultura monástica que recomendava aos seus clérigos controle sobre seus hábitos alimentares. No período medieval, o controle da alimentação pelos santos constitui-se em um dos topos hagiográficos. A gula era associada à luxúria, bem alimentado, o corpo estava forte e apto a cometer pecados. Por esse motivo, propagava-se e admoestava-se, por meio dos relatos hagiográficos, a disciplina e o controle no ato de comer (SILVA & PASSOS, 2006:1-20).

Para Michel Lawers, nos séculos IV e V, a Igreja pregou seguidamente uma certa moderação nas práticas de abstinência. Os jejuns tinham sempre curta duração.
Recomendava-se o jejum periódico tanto para os fiéis como para os monges. Entre-tanto, a partir do século XII a prática do jejum tomou nova direção: mulheres, muitas vezes leigas, desejosas de levar uma vida perfeita, fizeram da privação de alimentos, por vezes total, um dos elementos essenciais de sua existência espiri-tual. Várias entre elas foram reconhecidas como santas. Para o autor André Vauchez, as vidas de santos e as coletâneas de milagres visavam a adaptar os servidores de Deus aos modelos que correspondiam a categorias reconhecidas da perfeição cristã: mártires, virgens, confessores, etc., e, para além disso, à figura de Cristo. Cada homem ou mulher tornado santo(a) procurara em vida se identificar com Cristo ou então aproximar-se ao máximo dessa premissa (VAUCHEZ, 1989: 211-230).

As mulheres, no início, observavam com grande rigor os períodos de abstinências previstos pela Igreja. Depois, passaram a prolongá-los, empreendendo jejuns esten-didos por vários anos. Muitas baniam completamente da sua alimentação a carne e o vinho, alimentavam-se apenas de pão, frutos silvestres e ervas. Algumas chegavam a rejeitar tudo o que fosse cozido, aceitando apenas alimentos crus. Não obstante as pressões dos seus próximos, que as forçavam a alimentar-se, a sua abstinência tornava-se cada vez mais radical.

Assim, ao recusar todo o alimento, com exceção da hóstia sagrada, elas se tornavam carne sofredora como Cristo o havia sido. Várias santas acreditavam terem sido mar-cadas com os estigmas, associando com essas práticas de ascese o seu corpo martiri-zado ao de Cristo (LAWERS, 1994: 220).

Michel Lawers faz referência, em seu texto, ao historiador americano Rudolph M. Bell, ressaltando que para Bell, as santas penitentes da Idade Média manifestavam todos os sintomas de anorexia mental. Essas mulheres que se recusavam a alimentar-se a ponto de morrer eram adolescentes em revolta contra os pais, mulheres casadas desejosas de abandonar a vida conjugal, ou mães desejosas de abandonar a vida familiar. Elas recusavam o casamento, mas recusavam igualmente o claustro; queriam, através da vida religiosa, manter-se ao mesmo tempo em obediência a Deus e viver no mundo, ajudando os pobres. As autoridades eclesiásticas, que assim não entendiam, esforçavam-se por integrálas nas ordens religiosas como forma de controlá-las. A “santa anorexia” tornava-se então, para essas mulheres, a única maneira de se subtraírem à autoridade e controle dos homens, fossem esses os pais, maridos ou padres. Podiam assim definir e afirmar a sua identidade e a sua relação com Deus (LAWERS, 1994 :221).

Já a historiadora americana Caroline W. Bynum, chamou a atenção para o fato de que as privações alimentares dessas mulheres não poderiam ser dissociadas das outras manifestações da sua piedade e da sua santidade, em particular a sua devoção ao corpo de Cristo. Salienta que o controle a disciplina e, inclusive, a tortura da carne, na devoção medieval, não significam tanto a negação do físico, mas a sua elevação – uma horrível, mas deliciosa elevação –que era via de acesso ao divino.

Através dessas penitências, essas mulheres viam em sua angústia física e mental uma oportunidade para a sua salvação e para a dos outros (BYNUM, 1990: 164-169). Exem-plos desta “santa anorexia”, contudo, não se limitaram ao medievo. Assim, no século XX, ainda encontramos manifestações desta doença motivada por ideais de espiritua-lidade. Destacamos dois casos: Marthe Robin e Simone Weil.

Marthe Louise Robin, que nasceu no dia 13 de março de 1902, em Châteauneuf-de- Galane, perto de Lyon, sudeste da França. Tinha um profundo amor a Cristo e a Igreja. Filha de agricultores, em 1928, com 26 anos, foi atingida por uma misteriosa doença e caiu de cama onde permaneceu até a morte, paralisada. Depois, segundo relatam as fontes, apareceram no seu corpo os estigmas de Cristo: os ferimentos da coroa de espinho e a chaga no flanco. Sua mensagem principal era:
Nós temos que seguir a Jesus com a ajuda e poder de Maria.” Morreu em 06 de feve-reiro de 1981, com 78 anos. Segundo seu testemunho, participava todas as semanas na paixão de Cristo, cujas dores sentia, perdia sangue e conhecia o êxtase. Durante mais de meio século não comeu nem bebeu fosse o que fosse: à parte a eucaristia, era-lhe impossível ingerir alimento ou bebida (LAWERS, 1994: 219).

Simone Weil nasceu em Paris no ano de 1909. Cresceu num lar judeu onde sua mãe impunha uma série de normas alimentícias e preceitos higiênicos, como: os filhos não deviam beijar ninguém nem deixar-se beijar, por temor aos micróbios; as frutas e verduras eram examinadas, descartando as que traziam imperfeição ou picada de inseto. Assim, tais medidas proporcionaram a Simone Weil os primeiros elementos para a elaboração de um conjunto de traços fóbicos: fobia a tocar e ser tocada; o conceito de “asqueroso” que a fazia vomitar qualquer substância que tentava ingerir e a levava a rejeitar as frutas picadas, os laticínios, a casca do pão, a pele do frango, os sabores doces e amargos, etc.
Entretanto, a fome de Simone pode ser caracterizada como um modo de comunicação com um mundo que não a compreendia e pela fome insaciável de um alimento supremo. Ela impôs a si a tarefas esgotantes e recusas alimentares. Restringiu seu apetite pen-sando nos pobres e desempregados da França. Escreveu:

Uma desgraça da vida humana é que não se pode olhar e comer ao mesmo tempo. As crianças sentem essa desgraça. O que se come é destruído. O que não se come não pode ser captado plenamente em sua realidade. No mundo sobrenatural, a alma, por meio da contemplação, come a verdade (MARTOCCIA, 2003: 173).

Ela morreu aos 34 anos, em Londres.

Neste trabalho, procuramos destacar o quanto os fatores culturais podem influenciar as manifestações do transtorno da doença. Em algumas culturas, a percepção distor-cida do corpo pode não ser proeminente, podendo a motivação para a restrição alimen-tar ter um conteúdo diferente, como desconforto epigástrico – a pessoa come demasia-damente ficando com uma sensação de mal-estar – ou antipatia por certos alimentos. Já em outras sociedades, detectamos um novo culto ao corpo: pessoas cada vez mais aderem à moda dos piercings e das tatuagens. Preferem tudo isso a ficar fora do modelo. E com isso, o ser humano moderno corre o risco de ter a sua existência estreitamente limitada aos limites de seu próprio corpo.

Assim, a anorexia não é uma exclusividade dos séculos XX e XXI, podendo ser encon-trada no século XII ainda que com motivações distintas. É uma doença que se manifesta culturalmente, indo da elevação espiritual, passando por desconforto epigástrico, a uma exagerada obsessão de seguir os ditames da moda. Hoje há mulheres que sofrem de anorexia em virtude de sua busca de atingir um “corpo perfeito”. É sabido que na Idade Média, o padrão de beleza não consistia na magreza do corpo, ao contrário, mulheres acima do peso considerado ideal nos dias de hoje eram naquela época, apreciadas, fato que pode ser constatado nas pinturas e esculturas da Baixa Idade Média e do Renascimento. A anorexia do período medieval diferenciou-se da anorexia do século XXI, elas tiveram motivações diferentes. Ao optarem por uma vida religiosa, as mulheres desejavam observar o santo evangelho de Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem nada de próprio (Forma de Vida de Santa Clara, CI, 1). Transformavam os seus corpos de santa em alimento, tal como havia sucedido com o de Cristo. Essas penitências eram um meio de salvar outras almas.
“Quero morrer de fome para saciar os pobres”, dizia Margarida de Cortona. Tratava-se de uma forma de imitatio Chisti , uma “imitação de Cristo” tipicamente feminina (LAWERS, 1994 :223).

Mesmo com esse poder carismático, as mulheres da Idade Média continuavam a ser vis-tas como inferiores aos homens; sua voz era silenciada e ignorada. Entretanto, uma das características mais marcante desse período foi a experiência corporal feminina, que ficou entendida como uma união com Deus.

Referências Bibliográficas
Fontes medievais impressas
CLARA DE ASSIS. Forma de Vida de Santa Clara. In: PEDROSO, José Carlos Corrêa
(Org.). Fontes Clarianas. 4ª ed. Piracicaba: Centro Franciscano de Espiritualidade, 2004.

PROCESSO DE CANONIZAÇÃO DE SANTA CLARA. In: PEDROSO, José Carlos Corrêa (org.). Fontes Clarianas. 4ª ed. Piracicaba, Centro Franciscano de Espiritualidade, 2004.

LEGENDA DE SANTA CLARA VIRGEM. In: PEDROSO, José Carlos Corrêa (org.). Fontes
Clarianas. 4ª ed. Piracicaba, Centro Franciscano de Espiritualidade, 2004.

VIDA I DE TOMÁS DE CELANO. In: SILVEIRA, Ildefonso; REIS, Orlando dos (Org). São
Francisco de Assis. Escritos e biografias de São Francisco. Crônicas e outros testemunhos do primeiro século franciscano. 8ªed. Petrópolis: Vozes, CEFEPAL do Brasil,1997.

Revista Historia em Reflexão

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