quinta-feira, 31 de março de 2011

Angelo Agostini - Carnaval de 1881

Carnaval de 1881
Revista Ilustrada, Ano 6, n. 241, p.4-5, 1881.
1- Do alto dos carros, carnavalescos atiravam à assistência versos compostos para a ocasião e alusivos ao tema do carro de crítica.
2- As grandes sociedades costumavam apresentar-se ao som de bandas marciais que executavam peças como a "Marcha Triunfal" da ópera Aída, de Verdi. Neste carro, no entanto, escravos apresentam-se dançando em batuques em homenagem aos líderes abolicionistas. Agostini os mostra desempenhando suas danças e ritmos em uma previsível incongruência sonora com a sonoridade "oficial" do desfile.

1- Fantasiados de "diabinhos", capoeiras se faziam presentes na passagem dos préstitos - como em todos os espaços do carnaval. Muitas vezes foram condenados pela sua violência e atitute de desafio, mas por vezes eram vistos como "garantia" das próprias sociedades, defendendo seus carros alegóricos e de crìtica contra invasores indesejáveis, a soldo daqueles que pediam à polícia providências contra sua presença.
2- Este carro de crítica, intitulado "A Mancha de Júpiter", satirizava a passividade do Imperador diantte da escravidão. Ironizando seu apregoado apelo à contemplação científica , a imagem de Pedro II, observada pela luneta, revela-o como um inatingível planeta. Em sua longa testa, vê-se a mancha negra da escravidão que espanta os astrônomos que animam os carros.

1- Carro de crítica alusivo à abolição da escravidão. A figura do escravo é representada como "montaria" para os senhores. Note-se a insistência com que o tema aparece no desenho, 7 anos antes da Lei Áurea.
2- Brigas e "rolos" entre a assistência das ruas são um elemento frequente na descrição de A. Agostini. Eles resultavam, segundo alguns cronistas da época, da "mistura social" acarretada pelo interesse generalizado pelos préstitos das sociedades, que levavam à prática de brincadeiras tradicionais do entrudo entre indivíduos socialmente desiguais.
1- O carro alegórico com a forma de uma biga romana reforça o permanente recurso às remissões à cultura clássica como meio de legitimação e atribuição de "distinção" aos préstitos de grandes sociedades. Sobre este carro vinham prostitutas ou "atrizes livres" que, ao mesmo tempo, exibiam seus dotes e personificavam figuras alegóricas, como "A Liberdade", "A Justiça" etc.
2- A platéia, em atitude respeitosa nesse trecho do desenho, revela a presença de senhoras e homens da elite, portando cartolas. A presença das "famílias" assistindo à passagem das prostitutas encarapitadas nos carros, constituiu motivo de escândalo para cronistas conservadores - e de humor para outros.
3- O Exército Nacional, logo após o prestígio da vitória no Paraguai, tampouco era protegido da "crítica" e da sátira dos carnavalescos das grandes sociedades.

Unicamp | Universidade Estadual de Campinas

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