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Depois de governar o Estado paulista, Washington Luís assumiu o país com o lema: “Governar é abrir estradas”. Conhecido farrista e mulherengo, faz sucesso na sociedade. É assim descrito pela imprensa da época: “Musculoso, lustroso bigode, espesso cavanhaque, cabelos abundantes, sempre bem vestido, com voz bela e cheia, o presidente reluzia nestes anos de 1928-29”.
Animado com a sociedade carioca, o novo presidente resumiu em poucas palavras sua política em relação aos movimentos sociais: “A questão social é um caso de polícia”. Para um governante alinhado com a oligarquia, manifestações contrárias aos interesses desta, confundidos inclusive com os interesses da nação, só poderiam ser tratadas como um caso de polícia.
Nome:Washington Luís Pereira de Souza Natural de: São Paulo Gestão: 15.nov.1926 a 24.out.1930 | |
Único candidato à presidência, governou sob os efeitos da crise da Bolsa de Nova York, em 1929, que gerou pressões ainda mais fortes sobre o preço do café, e a ascensão de movimentos contrários à política do "café-com-leite", que tem seu ciclo encerrado com a Revolução de 1930 e a subida de Getúlio Vargas ao poder. |
As fraudulentas eleições, feitas pelos chefes políticos ou “coronéis”, se por um lado mantinham no poder seus representantes, por outro provocavam um desejo de reformas.
Getúlio Vargas, deixando a Pasta da Fazenda, ocupou o governo do Rio Grande do Sul, que, em virtude das divisões e ressentimentos locais, jamais conseguiu coesão política suficiente para que um gaúcho exercesse a presidência da República, não obstante ter Pinheiro Machado conseguido uma verdadeira hegemonia entre os grandes chefes políticos do país.
Mesmo no Império, jamais um gaudério foi indicado para a presidência do Conselho de Ministros. Getúlio compreendeu bem o problema. Sucedendo a Borges de Medeiros, tratou de apaziguar os grupos políticos antagônicos de seu Estado, formando uma “frente única”.
Antônio Carlos de Andrada, governador de Minas Gerais, aspirava também à sucessão presidencial. Suas possibilidades enquadravam-se na política tradicional de alternância no poder de paulistas e mineiros.
Em São Paulo, surgiu o Partido Democrático, que reunia a oligarquia local dissidente. Os entendimentos políticos evoluíram no sentido de agrupar em torno de Getúlio as forças da oposição. Consequentemente, Minas Gerais e Rio Grande do Sul transformavam-se em dois grandes focos de rebeldia à política dominante. Na Paraíba, contariam com o apoio de João Pessoa, candidato à vice-presidência. Formou-se assim a chamada “Aliança Liberal”.
Júlio Prestes, governador de São Paulo, havia sido líder do governo na Câmara Federal e em torno de seu nome giravam as simpatias do Palácio do Catete. No entanto, de acordo com a política do café-com-leite, era a vez de o candidato ser mineiro.
Ao chegarem ao Brasil os efeitos do colapso da Bolsa de Nova York (outubro de 1929), aumentaram as possibilidades de uma solução armada. A crise de 1929 alastrara-se pela Europa, atingindo também São Paulo, como tradicional fornecedor de café aos países estrangeiros, conturbados financeiramente pela grande depressão.
O Brasil perdeu seu maior mercado consumidor: os EUA . Enfraquecera-se, pois, o Estado no qual o governo federal depositava suas esperanças. Os créditos internacionais foram suspensos. A política de valorização do café entrou em colapso, afundando o restante da economia nacional.
Realizaram-se, contudo, as eleições para os cargos de Presidente e Vice-presidente da República no prazo previamente determinado. Pulularam as fraudes de ambos os lados. O resultado final foi favorável a Júlio Prestes e Vital Soares, que não chegariam a tomar posse, uma vez que, 22 dias antes de terminar o mandato presidencial de Washington Luís, a Revolução tinha começado. Era a chamada Revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas.
A frase de Antônio Carlos “façamos a revolução, antes que o povo faça” evidencia que se admitia a existência de um clima revolucionário. A insatisfação com o regime havia atingido níveis muito altos. As classes dominantes, naturalmente, não queriam aceitar uma tomada do poder pela população. A “Revolução” foi, portanto, um meio de evitar uma revolução no sentido real da palavra, que abarcaria mudanças efetivas nas estruturas sócio-econômicas do país.
A Aliança Liberal se constituiu como uma coligação oposicionista de âmbito nacional, formada no início de agosto de 1929 por iniciativa de líderes políticos de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, com o objetivo de apoiar as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa nas eleições de 1º de março de 1930.
Sentindo-se alijado da disputa eleitoral, o presidente de Minas, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, buscou apoio do Rio Grande do Sul para se opor aos planos de Washington Luís. Terceiro Estado em importância eleitoral, o Rio Grande do Sul tornava-se a peça-chave no jogo sucessório.
Foram intensas as negociações políticas entre as principais lideranças daqueles dois Estados desde o final do ano de 1928 até julho de 1929. No dia 30 deste mês, a comissão executiva do Partido Republicano Mineiro lançou as candidaturas de Getúlio Vargas e João Pessoa (presidente da Paraíba) respectivamente à presidência e à vice-presidência da República.
No dia seguinte, o Partido Libertador (PL), do Rio Grande do Sul, unindo-se ao Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) na Frente Única Gaúcha (FUG), deu apoio à chapa de oposição. Para tornar sua ação mais concreta, a oposição formou então, no início de agosto, a Aliança Liberal. A direção do movimento coube ao mineiro Afonso Pena Jr. (presidente) e ao gaúcho Ildefonso Simões Lopes (vice). Além de Minas, Rio Grande e Paraíba, a Aliança Liberal recebeu a adesão de todas as oposições estaduais, destacando-se o Partido Democrático de São Paulo e o Partido Democrático do Distrito Federal.
Em 20 de setembro, em convenção realizada no Rio, a Aliança Liberal homologou a chapa Vargas-Pessoa e sua plataforma eleitoral, redigida pelo republicano gaúcho Lindolfo Collor. Estabelecendo como essencial a reforma política do país, o programa aliancista defendia a representação popular através do voto secreto, a Justiça Eleitoral, a independência do Judiciário, a anistia para os revolucionários de 1922, 1924 e 1925-27 e a adoção de medidas econômicas protecionistas para produtos de exportação além do café. Preconizava ainda medidas de proteção aos trabalhadores, como a extensão do direito à aposentadoria, a aplicação da lei de férias e a regulamentação do trabalho do menor e da mulher.
Ainda em 1929, uma corrente mais radical da Aliança Liberal, formada por políticos jovens como João Neves da Fontoura, Oswaldo Aranha e Virgílio de Melo Franco, passou a admitir a hipótese de desencadear um movimento armado em caso de derrota nas urnas. Como primeiro passo, buscaram a colaboração dos tenentes, levando em conta seu passado revolucionário e seu prestígio no interior do Exército. Essas negociações se deram com grande dificuldade, devido a desconfianças recíprocas. Na Aliança Liberal, estavam alguns dos principais adversários dos “tenentes”, notadamente Artur Bernardes, Epitácio Pessoa e João Pessoa.
Pouco seguro em relação a seu futuro, Vargas estabeleceu um acordo político com Washington Luís, em que ficou acertado que, em caso de derrota, o candidato oposicionista aceitaria o resultado e passaria a apoiar o governo constituído. Em compensação, o governo federal se comprometia a não apoiar a oposição gaúcha e a reconhecer a vitória dos candidatos vinculados à Aliança Liberal nas eleições para a Câmara dos Deputados. Vargas restringiria sua participação pessoal na campanha ao Rio Grande do Sul.
Com a radicalização da campanha, o acordo acabou sendo rompido. A maioria governista na Câmara dos Deputados decidiu não dar quorum às sessões parlamentares, impedindo assim a manifestação dos deputados aliancistas. Em janeiro de 1930, Vargas viajou para o Rio de Janeiro e promoveu um grande comício na esplanada do Castelo. Estendeu sua viagem a São Paulo e Santos, onde foi recebido com demonstrações populares de apoio.
O resultado do pleito de 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos. A fraude, dominante na época, verificou-se dos dois lados.
Em 19 de março de 1930, Borges de Medeiros, líder do PRR, reconheceu a vitória de Júlio Prestes, dando por encerrada a campanha da oposição. No entanto as articulações dos oposicionistas prosseguiram, vindo a resultar, no mês de outubro, na Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.
A 24 de outubro de 1930, generais líderes do movimento intimam Washington Luís a entregar a Presidência às mãos das forças armadas. O presidente, trancado e isolado no Palácio do Catete, se recusou. Para evitar derramamento de sangue, o cardeal dom Sebastião Leme foi chamado. Washington Luís cedeu e deixou o governo acompanhado pelo cardeal. Um mês depois, seguia expulso para a Europa.
Folha.com
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