Movimento pretendia democratizar a antiga Tchecoslováquia
Vitor Amorim de Angelo
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Sobre o comando de Dubcek, a antiga Tchecoslováquia tentou sair da influência soviética |
A Primavera de Praga foi um movimento político ocorrido em 1968, na antiga Tchecoslováquia - hoje dividida em República Tcheca e Eslováquia. Duas décadas antes, os comunistas haviam chegado ao poder no país, o último a integrar a Cortina de Ferro - nome pelo qual ficou conhecido o bloco de países liderados pela antiga União Soviética durante a segunda metade do século 20.
Nesses vinte anos, a vida política na Tchecoslováquia tornou-se cada vez mais burocratizada e autoritária, à semelhança do que ocorria na URSS. A esse processo deu-se o nome de stalinização, em referência ao ditador soviético Josef Stálin.
Em janeiro de 1968, Alexander Dubcek assumiu o cargo de secretário-geral do Partido Comunista tcheco. Diante do cenário em que se encontrava o comunismo no país, Dubcek, da ala reformista do partido, colocou em prática um audacioso plano de reformas políticas, econômicas e sociais visando "humanizar" o regime.
Plano de reformas de Dubcek
No plano de reformas de Dubcek constavam a liberdade de imprensa, o fim do monopólio político do Partido Comunista, a livre organização partidária, a tolêrancia religiosa, entre outras medidas que apontavam para um radical processo de democratização da Tchecoslováquia.
Ao mesmo tempo, Dubcek também ensaiava uma aproximação com a Alemanha Ocidental. O auge da crise com o restante do bloco socialista aconteceu quando Dubcek se recusou a participar da reunião do Pacto de Varsóvia, aliança militar que integrava os países do Leste Europeu.
O movimento reformista encabeçado por Dubcek contou com o apoio de intelectuais do Partido Comunista tcheco e da população do país. Em junho, um manifesto de duas mil assinaturas foi publicado na imprensa local apoiando as reformas. Alguns países do bloco socialista, como a Iugoslávia, interessados em afastar-se da influência da URSS, também apoiaram as iniciativas de Dubcek.
No geral, contudo, a posição do bloco socialista em relação à Tchecoslováquia passou da crítica à ameaça. O posicionamento de tropas do Pacto de Varsóvia na fronteiria tcheca foi um sinal claro de que a URSS não toleraria as reformas de Dubcek.
Ocupação de Praga
O objetivo de Dubcek não era acabar com o comunismo na Tchecoslováquia, mas reformá-lo, afastando o país da influência soviética. O plano de reformas, entretanto, gerou grande preocupação no bloco socialista em geral e na URSS em particular, diante da ameaça que o exemplo tcheco passou a representar para o incentivo a reformas em outros países do bloco - e para o fim da hegemonia da URSS na região.
Em 20 de agosto de 1968, tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a cidade de Praga, capital da Tchecoslováquia, prenderam Alexander Dubcek e o levaram para Moscou, junto com outros líderes tchecos.
Os meses seguintes foram marcados pela resistência pacífica da população à ocupação do país. Rádios locais faziam breves transmissões estimulando a resistência. Dias depois da tomada de Praga, deflagrou-se uma greve geral. O mote do movimento expressava a não-colaboração e o pacifismo da resistência: "Não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!".
A URSS tentou, sem sucesso, organizar um governo colaboracionista, mas a solidariedade às antigas lideranças havia se generalizado. Dubcek retornou a Praga e ainda permaneceu durante algum tempo no cargo. Mas o plano de reformas foi abandonado em troca da retirada das tropas.
Em janeiro de 1969, um jovem imolou-se publicamente na capital tcheca, reiniciando uma onda de manifestações. Mas, àquela altura, a linha-dura do Partido Comunista tinha se recomposto. Os favoráveis à aproximação com a URSS novamente assumiram o controle do partido. A eleição de Gustáv Husák, em abril de 1969, que sucedeu Dubcek, pôs fim ao curto mas significativo movimento conhecido como Primavera de Praga. As reformas viriam apenas duas décadas depois, com a crise do bloco socialista.
*Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente é pesquisador do Institut d'Études Politiques de Paris.
Nenhum comentário:
Postar um comentário