Percival Farquar foi o principal representante do imperialismo Americano no Brasil. Atuava em grandes empreendimentos como: Portos, Empresas de Navegação, e Madeireiras. Para se ter idéia, Percival Farquar foi um dos grandes responsáveis por parte da destruição ambiental da Mata Atlântica no sul e sudeste do Brasil, quando no início do século XX, instalou lá uma das maiores serrarias da América do Sul, gerando conflitos terríveis como a Guerra do Contestado 1912-1916, que veio a vitimar mais de trinta mil sertanejos. A guerra do Contestado tornou-se ao lado da guerra de canudos em um dos maiores massacres registrados em nossa história.
Percival Farquar representava o capitalismo espoliativo do início do século XX, e, como tal, não possuía qualquer compromisso com o real desenvolvimento de nossa pátria. Seus interesses pessoais produziram sérios problemas para o Brasil.
Farquar ambicionava as riquezas existentes nessa extensa região, desde minérios presentes em solo boliviano, como a possibilidade de extração dos ricos produtos presentes nos vales dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé. Sabia da necessidade de se montar uma grande estrutura para viabilizar seus planos imperialistas.
Informado das iniciativas e insucessos anteriores, contratou a empreiteira norte americana, May Jekill and Randolph. A mesma se instalou por orientação do relatório produzido pelo engenheiro Carlos Morsing que estudou a região em 1883, sete quilômetros abaixo de Santo Antônio das Cachoeiras.
Com essa medida, a localidade de Santo Antônio, foi condenada ao abandono, pois, com a mudança do ponto inicial de Santo Antônio das Cachoeiras para o Porto Velho dos Militares, a antiga vila, fundada em 1728, pelo jesuíta João Sampaio, foi declinando. Hoje poucas marcas restam daquele período.
Uma polêmica foi instalada quando da comemoração do centenário de Porto Velho em 2007, pois o professor Antônio Cândido, profundo conhecedor da história de nossa capital, trousse a tona novas informações sobre as origens da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em nossa capital.
Segundos os estudos, efetuados pelo escritor Antônio Cândido, baseado em ampla pesquisa bibliográfica e documental, aponta que o início das obras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, em Porto Velho, se deu em 1908. Tive a preocupação de ouvir e analisar atentamente as argumentações e documentos apresentados pelo professor Cândido, bem como procurei dialogar com outros escritores, e acabei por me convencer de sua tese.
Porto Velho, como um povoado que surge tatuado na ferrovia Madeira Mamoré, tem, portanto, sua origem no inicio de 1908. Qualquer obra férrea anterior se deu na localidade de Santo Antônio das Cachoeiras.
Vamos citar um artigo escrito pelo engenheiro Joaquim Catramby, para a Revista do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, que me foi cedido pelo professor Cândido.
Devemos lembrar que Joaquim Catramby, foi quem venceu a licitação para construir a ferrovia Madeira Mamoré. A afirmativa é de alguém que estava completamente envolvido na questão, um dos responsáveis pela execução da obra, ao lado de Percival Farquar, Joaquim Catramby foi um dos principais atores políticos da epopéia Madeira Mamoré.
“Se a estrada tivesse tido o seu ponto inicial em Santo Antônio, ter-se-ia podido contar o quarto desastre da Madeira Mamoré. Levado por essa convicção, e apesar do Tratado de Petrópolis determinar taxativamente que esse fosse o ponto de partida da estrada, procurei o então Ministro de Indústria, Viação e obras Públicas, Doutor Miguel Calmon, a quem expus as vantagens que me levaram a pugnar pela idéia de se dar começo a estrada em Porto Velho. Manifestando-se de acordo com essa idéia, o Ministro aprovou, pelo aviso n°2, de 16 de janeiro de 1908, a preferência dada a essa localidade para início das obras da via férrea.”
Com essa informação acredito que ficam sanadas as dúvidas sobre tal fato, já que as informações que dão conta da construção em 2007 são bem posteriores ao referido documento.
A cidade de Porto Velho foi surgindo aos poucos, à medida que a construção da ferrovia foi recebendo os investimentos.
As obras sempre foram marcadas por problemas, pois a região possuía um terrível histórico negativo. É só lembrarmos as iniciativas anteriores. Com esse quadro complicado, a nova iniciativa precisou exportar trabalhadores de várias nações do mundo para formar a mão-de-obra na construção da Ferrovia, e, conseqüentemente, nossa cidade.
Porto Velho, já nasceu poliglota. Pessoas vindas de várias nacionalidades, aqui praticavam sua língua. Heterogênea, os trabalhadores, possuindo origens diferentes, adotavam seus modelos culturais, inclusive a religião. Multirracial, os novos operários possuíam origens diversas, eram: Negros, Europeus, Índios, Asiáticos etc. Globalizada, os cinco continentes estavam representados na região, e, na economia, se utilizava a moeda Inglesa, a libra esterlina como uma espécie de matriz, por ter a melhor cotação no cenário capitalista internacional da época.
Na tentativa de combater as várias doenças que assolavam a região, como a malária, que é transmitida pelo mosquito anofelino, e amenizar o drama sofrido pelos trabalhadores que eram também acometidos por outras doenças tropicais, foi construída no quilômetro 02, bem próximo do ponto inicial da Ferrovia em Porto Velho, uma unidade hospitalar denominada, Hospital da Candelária.
A maior parte da riqueza produzida historicamente no Brasil foi resultado do trabalho do povo negro. A eles devemos muito.
EMMANOEL GOMES DA SILVA É PROFESSOR, HISTORIADOR E MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS.
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