CANDIDO PORTINARI
"O senhor não pinta flores?"
“Flores, não. Só miséria.”
Falou a linguagem das cores, texturas, espaços, figuras. Com sensibilidade, captou e exprimiu o dia-a-dia do povo simples, sua vida bucólica, seus dramas, suas festas, sua vida miserável.
A família de imigrantes italianos fixou-se em Brodósqui, São Paulo, onde ele nasceu, numa fazenda de café, em 1903. Entre a cidade e as plantações, Candido Torquato Portinari começa a pintar. Colabora no restauro da pintura da igreja. Rapaz, parte para o Rio. Estuda na Escola Nacional de Belas Artes. Pinta Baile na Roça (1923-24), recusada pelo Salão Nacional de Belas Artes. Em 1928, com o retrato do poeta Olegário Mariano, consegue o Prêmio de Viagem à Europa.
Absorção e inspiração
Absorve, suga e registra. Na bagagem, traz apenas três telas e o casamento com a uruguaia Maria Martinelli, companheira para o resto da vida.
De volta em 1931, pinta febrilmente. Incorpora influências, ensinamentos da escola de Belas Artes, experimentações da vanguarda européia, pintura italiana do Quattrocento, murais mexicanos. Sua inspiração será a terra brasileira e sua cidade natal. Concentra-se no homem, nos problemas sociais. Pinta gente deformada, pés e mãos agigantados, alusão ao contato com a terra.
Com a tela Café (1935), recebe a menção honrosa do Prêmio Carnegie, nos Estados Unidos.
Reconhecimento e denúncia
Em 1936, revela inclinação muralista. Projeta-se nos Estados Unidos. Executa os murais do Pavilhão Brasileiro, na Exposição Mundial de Nova York, e os da Biblioteca do Congresso, em Washington.
Na década de 1940, mundo em guerra, a seca do Nordeste mata crianças, camponeses. O artista denuncia. Pinta a Série Retirante, com personagens esquálidos, famélicos e maltrapilhos. Militante do Partido Comunista, põe os pincéis a serviço da causa socialista. Candidata-se a deputado em 1945 e a senador em 1947. Perde.
“Tenho pena dos que sofrem, e gostaria de ajudar a remediar a injustiça social existente. Qualquer artista consciente sente o mesmo.”
Religião e História
Embora se declare ateu, aborda temas religiosos. Menino, invocava Santa Bárbara quando trovejava. Os painéis da Série Bíblica marcam novo período. Pinta a Primeira Missa no Brasil (1948) para o Banco Boavista, no Rio. Painéis contando a vida de São Francisco, para a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte; e Via Sacra (1953), para a igreja de Batatais, em São Paulo.
Os temas relacionados à história da América aparecem em Tiradentes (1949), a Chegada da Família Real Portuguesa à Bahia (1952) e Descobrimento do Brasil (1954). Viagens e exposições internacionais mostram um Portinari universal. Entre 1953 e 1956 realiza os painéis Guerra e Paz, para a sede da ONU (Organização das Nações Unidas).
Prazer e realização
Em 40 anos de trabalho, produziu mais de 4.500 obras, espalhadas pelo mundo, em coleções particulares e públicas. Trabalhou duramente. A pintura lhe deu prazer, realização. Mas o chumbo das tintas o intoxicaram. Em fevereiro de 1962, aos 59 anos, morre Portinari. Ficaram as imagens do homem de “mãos-de-olhos-azuis”, como dizia Carlos Drummond de Andrade.
Pobreza fez parte de sua vida. Conta-se que em Paris, em 1946, visitando exposição de Portinari, o Duque de Windsor vê aqueles nordestinos flagelados, lavadeiras de mãos ossudas, crianças descalças. Pergunta: “O senhor não pinta flores?” Portinari responde: “Flores, não. Só miséria.”
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