quinta-feira, 3 de junho de 2010

A ditadura vai às urnas

Kayser (Luciano Kayser Vargas), 1970, chargista, cartunista e quadrinista de Porto Alegre. Colaborador do Jornal do Comércio, de O Timoneiro (Canoas) e do Jornal do Vale (Lajeado). Criador do Bagassauro e co-autor da antologia de humor Edição de Risco.

A ditadura vai às urnas

Durante o regime militar, a sociedade brasileira parecia estar dividida. Boa parte dela apoiava o governo, elegendo candidatos da Arena. Mas esses bons resultados do partido governista eram tidos como fruto de fraudes ou como votos de cabresto.

Os números das eleições de 1970 para a Câmara dos Deputados são os mais contestados. Nelas, a Arena venceu com larga vantagem, somando mais de 48% de um total de aproximadamente 22 milhões de votos, contra apenas 21,3% do MDB. A possibilidade de que a maioria dos eleitores realmente votasse na Arena e apoiasse o regime não foi levada em conta pelas análises da época. Além disso, houve naquele ano uma forte campanha pelos votos brancos e nulos, que chegaram a 30% de total. De qualquer forma, os votos na Arena nunca ficaram abaixo de 40% do eleitorado.

Os estudos desses resultados, feitos ainda na época da ditadura, não os reconhecem como indicadores de apoio de grande parte da sociedade ao regime. Somente os votos do MDB, tidos como uma manifestação contra a ditadura, eram considerados legítimos.

Uma das tradições eleitorais do país é de que o voto não se orienta apenas pela legenda, mas, em grande parte, pelo reconhecimento do candidato pelo eleitor. Por isso, além de se atentar para o número de votos na Arena, é preciso conhecer o perfil dos candidatos que receberam esses votos. Os candidatos da Arena representavam o movimento de 1964, mas também possuíam vínculos com o eleitorado que, por serem muito anteriores ao golpe, transcendiam sua identificação com o regime militar.

Revista de História da Biblioteca Nacional

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