Por Nazarethe Fonseca
O rei Arthur entrou para a história de modo peculiar e se tornou um personagem legendário e discutidamente histórico. O grande rei, matador de saxões, portador da espada Excalibur, teve dias de glória, amor e de traição. Imortal? Sim, até o último fio de cabelo louro de sua amada rainha Guinevere. Afinal, continuou se movendo pela fantasia em lendas, trovas, contos, livro e filmes.
A legitimidade desse rei é posta à prova pela história. Os motivos são muitos e justificáveis. Na História, Arthur surgiu pela primeira vez (o que também é discutível) num manuscrito da Idade Média chamado História Regum Britanniae (História dos Reis da Bretanha) escrito por Geoffrey de Monmuth (cerca de 1100-cerca de 1155), um clérigo e professor de Oxford. Entretanto, a primeira vez que Arthur foi ligado a fatos concretos ocorreu no século VIII com os escritos de um bretão chamado Nennius, que o descreveu como um comandante militar na batalha de Badon Hill.
Retratos
O que se percebe é que qualquer manuscrito ou livro que cita Arthur é fruto de narrativas passadas de geração a geração por ingleses, irlandeses, galeses e franceses, e na maioria dos textos a magia é inserida, o que tira desse grande rei sua credibilidade. Entretanto, nenhuma figura histórica contemporânea como Júlio César ou Alexandre, o Grande tiveram apoio do Mago Merlin para resolver suas questões políticas e militares. Lembremos, ainda, que tanto César quanto Alexandre eram reis pagãos e que Arthur vivia entre os dois extremos.
Tudo estaria realmente fundamentado na história não fossem alguns fatos considerados mágicos dentro da história desse grande rei. Sua concepção, por exemplo, deve-se a uma trama do mago Merlin para unir Uther Pendragon e a duquesa da Cornualha Igraine. A união fortaleceria os laços de sangue do povo antigo e manteria os celtas no poder. Sabemos que infidelidade conjugal sempre existiu, mas quando é tramada por um mago em favor da concepção de um rei que será o defensor de uma ilha, as coisas perdem realmente o senso de realidade.
Afirma-se que Arthur viveu no século IV, mas não existe nenhuma documentação que comprove tal feito. Seguindo essa linha, ele teria se tornado rei aos 15 anos de idade. Numa versão, que depois foi romanceada pelos livros da escritora norte-americana Marion Zimmer Bradley, teria recebido a espada Excalibur e jurado trazer paz, defender os indefesos e Avalon. Um rei justo como cabe a qualquer herói e com a responsabilidade de devolver para a Bretanha sua dignidade.
Arthur seguiu seu caminho de vitórias derrotando e expulsando os saxões de seu reino. Conquistou grande parte da Europa e estabeleceu sua corte, onde se reunia com seus cavaleiros na célebre Távola Redonda, uma mesa de madeira.
Conviver com mitos é o que podemos chamar de contagioso. A imaginação voa, os cavaleiros ganham forma e suas lendas se tornam tão reais quanto eles, pois a palavra torna-se estranhamente imortal quando muito propagada.
Vários escritores e pesquisadores falaram do homem além do mito, mas nenhum deles resistiu ao lado mágico da história. O pesquisador e professor britânico Bernard Cornwell escreveu a suposta história real de Arthur na Grã-Bretanha. Nela, o rei é filho bastardo de Uther e a magia era feita por um druida chamado Merlin. E esse, como todos os demais relatos, também é fruto de outras versões propagadas por celtas britânicos e anglo-saxões.
Suposto túmulo do rei Arthur e sua rainha Guinevere na Abadia de Glastonbury, em Somerset, Reino Unido
A Abadia
No mundo real, falava-se que Arthur teria sido enterrado em Glastonbury, mas ninguém se ocupou em procurar o túmulo. Isso mudou após um incêndio que destruiu a Abadia de Glastonbury. Seis anos depois, em 1191, monges desenterraram de uma profundidade de quase cinco metros uma cruz de chumbo e, um pouco mais abaixo, um túmulo ladeado por duas pirâmides com, segundo alguns relatos, um caixão de carvalho onde, em seu interior, jaziam os restos mortais de Arthur e sua rainha Guinevere. Na cruz de chumbo estaria escrito "Aqui jaz o rei Arthur enterrado em Avalon". Para os historiadores, tudo não passou de um embuste criado pelos monges e Henrique V a fim de obter fundos para a reconstrução da Abadia e enfraquecer a resistência galesa ao governador britânico da época.
Tais restos mortais teriam sido preservados num túmulo até 1539 quando a abadia foi saqueada e feita em ruínas. Os ossos desapareceram. Mas onde estaria o rei Arthur dentro da verdadeira História? Arthur é e sempre será uma personagem intrigante, controversa e humana. Os elementos que o envolvem influenciaram as gerações passadas e certamente as que estão por vir.
A Távola Redonda, Camelot, o Santo Graal, Excalibur, Avalon, a magia que circundou suas aventuras, sua vida e a de todos que o cercavam fizeram dele um mito. O que não pode ser encontrado não pode ser real, segundo os historiadores. Todavia, pode ser acreditado e seguido como um bom exemplo. Ser cavaleiro tornou-se um ideal de beleza, justiça e honradez. Talvez esse seja o maior legado de Arthur.
Qualquer historiador, pesquisador ou curioso no assunto sente dificuldade na hora de fazer uma pesquisa sobre um assunto tão complexo. Não se busca um rei comum, mas sim um dos personagens mais representados dentro da fantasia. Há grande quantidade de filmes, livros, artigos, contos e revistas em quadrinhos que falam desse soberano mas a História em si se cala sobre o assunto.
Obviamente houve esforços para provar sua existência no final dos anos 1960. Os arqueólogos realizaram durante quatro anos minuciosas escavações na área de Cadbury Hill (leste da Grã- Bretanha) em busca de provas. E nem as escavações escaparam de serem vistas como misteriosas: em 1907 houve uma em Glastonbury dirigida por Frederick BlighBond, perito em arquitetura gótica. Ele descobriu os alicerces de cinco capelas de modo quase sobrenatural, em que praticamente adivinhou o local exato de cada prédio, mas não localizou a capela que guardava os restos do rei. Anos depois, publicou um livro no qual revelava que foi guiado por espíritos para localizar tais descobertas. O livro causou furor e problemas: ele terminou rebaixado e por fim expulso. O que ele desenterrou foi recoberto por grama por ordem da Igreja. Tudo pareceu em vão e o rei se perdeu novamente nas brumas.
Arthur parece querer de modo misterioso continuar como lenda dentro da História e ser lembrando como cavaleiro e filho de Uther Pendragon em forma de pinturas, quadros, estátuas e poemas. Talvez permanecer como lenda faça-o mais poderoso e torne tudo muito mais mágico. Falar mais seria aumentar um ponto em sua lenda.
Para saber
Os Grandes Mistérios do Passado. Reader's Ddigest Llivros, 1996.
ARON, Paul. Mistérios da História. Barueri: Eeditora Mmanole, 2001.
COTTERELL, Mmaurice. Jesus, Rei Arthur e a Jornada do Graal. São Paulo: Eeditora Mmadras, 2007.
POLIDORO, Mmassimo. Grandes Mistérios de la Historia. Robin Book, 2005.
NAZARETHE FONSECA é escritora e pesquisadora de assuntos históricos inusitados, conhecida por seus livros de vampiros (como a saga Alma e Sangue) e considerada uma das autoras de maior repercussão dentro da nova literatura fantástica nacional
Revista Leituras da História
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