por Olivier Tosseri
Biblioteca do Congresso, Washington D.C.
Gutenberg examinando uma prova, pintura mural, John White Alexander, 1896
O alemão Johannes Gutenberg (c. 1400-1468) não inventou, mas sim “reinventou” a imprensa no século XV. A técnica de imprimir com caracteres móveis é, na verdade, asiática, e muito mais antiga. Tudo começou com a criação do papel, obra de chineses no ano 105 da era cristã. O novo material abriu caminho para uma produção, ainda artesanal, de maior número de livros, que se tornaram práticos para manusear e muito mais baratos.
Já existiam a gravura em pedra e a cópia manual. Surgiu, então, a xilografia, praticada principalmente na China e, depois, na Coreia e no Japão do século VII. Os orientais usavam uma prancha de madeira para gravar imagens e textos, que podiam ser reproduzidos por estampagem.
A técnica foi aperfeiçoada no século XI, com ensaios de impressão por meio de caracteres móveis, só que de terracota. Problema: eles não podiam ser reutilizados, o que tornava o sistema caro e trabalhoso. Entre 1041 e 1048, os caracteres foram aprimorados pelo chinês Bi Sheng, ferreiro e alquimista. Mas o custo elevado e a necessidade de mão de obra numerosa continuaram a atrapalhar o desenvolvimento dessa forma de imprimir.
Quase 200 anos depois, a Coreia tomou a dianteira no processo, já com incentivo público. Os caracteres móveis metálicos se disseminaram, e, em 1377, foi publicado o primeiro livro impresso nesse padrão. Diferentemente dos demais países, o governo local seguiu atento ao potencial do invento.
No século XV, o rei coreano Htai-Tjong investiu pesadamente na ideia e promulgou um decreto cujo texto é uma homenagem à informação: “Para governar, é preciso propagar o conhecimento das leis e dos livros de modo a satisfazer a razão e endireitar o coração dos homens. Quero que se fabriquem caracteres de cobre que sirvam para a impressão, a fim de ampliar a difusão de livros: será uma vantagem sem limites”. Tjong talvez não soubesse na época quanto estava certo.
Os europeus simplesmente não se interessaram pela revolução em curso na Ásia. Tomaram conhecimento das novas técnicas por meio de impressos, trazidos por mercadores. Nem mesmo Marco Polo, tão encantado com o dinheiro-papel que observou na China, chegou a indagar acerca de sua impressão feita com pranchas gravadas.
Nesse ponto surgiu o alemão Gutenberg, dito inventor da imprensa, mas na verdade um homem que aperfeiçoou de maneira decisiva a arte asiática. Ele desenvolveu os caracteres móveis de chumbo, que podiam ser utilizados indefinidamente, além de uma nova tinta de impressão e a prensa de imprimir. Com isso, mudou definitivamente o mundo, em todas as suas dimensões: política, econômica, social e religiosa.
Por sua enorme contribuição, Gutenberg pode ser chamado de pai da tipografia moderna. O primeiro fruto de seu trabalho foi uma bíblia impressa em Mogúncia, entre 1425 e 1456. Foi o primeiro livro produzido na Europa com a ajuda de caracteres móveis, com tiragem de 180 exemplares. Ainda existem 48 conservados, em museus e bibliotecas mundo afora.
Olivier Tosseri é jornalista
Revista História Viva
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