segunda-feira, 31 de maio de 2010

Batlle



Montevidéu - 1914
Escreve artigos caluniando os santos e pronuncia discursos atacando o negócio da venda de terrenos no Além. Quando assumiu a presidência do Uruguai, não teve outro remédio a não ser jurar por Deus e pelos Santos Evangelhos, mas em seguida esclareceu que não acreditava em nada disso.
José Batlle y Ordónez governa desafiando os poderosos do céu e da terra. A Igreja prometeu-lhe um bom lugar no inferno: atiçarão o fogo as empresas por ele nacionalizadas ou por ele obrigadas a respeitar os sindicatos operários e a jornada de trabalho de oito horas; e o Diabo será o macho vingador das ofensas que ele inflingiu ao setor masculino.
- Está legalizando a libertinagem - dizem seus inimigos, quando Batlle aprova a ei que permite às mulheres se divorciarem por sua própria vontade.
- Está dissolvendo a família - dizem, quando estende o direito de herança aos filhos naturais.
- O cérebro da mulher é inferior - dizem, quando cria a universidade feminina e quando anuncia que em breve as mulheres votarão, para que a democracia uruguaia não caminhe com uma perna só e para que não sejam as mulheres eternas menores de idade que do pai passam às mãos do marido.

Barrán, José P., e Benjamín Nahum. Batlle, los estancieros y el Império Británico. Las primeras reformas, 1911/1913. Montevidéu, Banda Oriental, 1983.
Machado, Carlos. Historia de los orientales. Montevidéu, Banda Oriental, 1985.

Memórias do Fogo III
Eduardo Galeano

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