Um messias em Minas
Dizendo-se filho do rei e enviado de Deus, ele circulou entre ricos e pobres pregando o fim da escravidão e dos impostos, e atacando a Igreja
Luiz Carlos Villalta
“Mando em dia de todos os santos, primeiro de novembro, de mil, setecentos, quarenta e quatro, que do dia acima nomeado pelo tempo adiante declarado o povo português da América e de todo o Reino de Portugal seja de todo o tributo dispensado, e de justiça, e dízimos retirado”.
Essa resolução foi afixada na Capela de Nossa Senhora da Conceição, na Vila do Príncipe, Minas Gerais, em um papel parecido com o das deliberações da administração régia (conhecidas como “bandos”). Mas a aparência era enganosa. A incrível decisão de livrar os mineiros da monumental carga de impostos que lhes pesava não vinha da Corte portuguesa. Seu autor era um eremita que alguns conheciam como Antônio da Silva, outros, como João Lourenço. E ele se revestia da mais alta patente para assinar aquela ordem: “Filho do Rei João Quinto”.
Não bastasse a impactante reviravolta fiscal que pregava, o autor terminava seu “bando” dizendo que tinha vindo de Lisboa para acudir às necessidades do povo, e conclamava pardos, índios e negros a se juntarem a ele, livres de qualquer cativeiro. Naquela vila mineira (atual Serro) e em suas imediações, João Lourenço agia como um autêntico mediador cultural. Ensinou rapazes a ler, circulou entre escravos, forros e livres, homens e mulheres, e esteve até com três padres, figuras de certa reputação na localidade, discutindo com todas essas pessoas a respeito de religião. (...)
Revista de Historia da Biblioteca Nacional
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