Torre de Pisa: certa por linhas tortas
Se não fosse torta, a Torre de Pisa talvez já tivesse sido esquecida. Conheça a irônica história da construção que deixou de ser um problema arquitetônico para se tornar um dos prédios mais conhecidos do mundo
Tatiana Penido
No início de 1902, surgiu uma falha em uma das imponentes arcadas da torre da praça São Marcos, em Veneza, na Itália. Arquitetos e engenheiros locais examinaram-na e concluíram que o dano era insignificante. Nada que não pudesse ser reparado durante a manutenção de rotina, pela qual todo o magnífico patrimônio histórico da cidade passa de tempos em tempos. Meses depois, nenhuma providência havia sido tomada e a fissura cresceu a ponto de pequenos pedaços da construção caírem na praça. Em 14 de julho, segunda-feira, um engenheiro municipal e um inspetor de polícia aproximaram-se da torre e descobriram assombrados que a rachadura percorria toda a construção, desde o solo até o último andar. Prevendo um desastre, ordenaram a evacuação do edifício e de toda a praça. Às 9h47, a fissura arrebentou em um estrondo. Entre gritos da multidão, o teto balançou, os sinos emitiram seus últimos toques e a torre inteira ruiu, desaparecendo numa nuvem de poeira.
A tragédia não deixou mortos nem feridos, mas enterrou um dos símbolos da Itália (que seria reconstruído dez anos depois). O episódio também teve uma conseqüência singular: chamou a atenção para outro monumento, não em Veneza, mas a poucos quilômetros dali, na Toscana. Uma construção de quase 800 anos, legítima representante da arquitetura medieval, que há tempos permanecia num terrível cai-não-cai: a até então decrépita e esquecida torre de Pisa deveria ser salva a qualquer custo.
Construída na praça central da cidade para abrigar os sinos, ao lado da catedral de Santa Maria Maggiore, do batistério e do cemitério de Camposanto, a torre jamais foi perpendicular ao solo. “Ela começou a entortar em 1178, quando apenas três dos sete andares haviam sido erguidos”, afirma o jornalista americano Nicholas Shrady, em seu livro Tilt, a Skewed History of theTower of Pisa (Inclinação, a História Oblíqua da Torre de Pisa, inédito em português). Mesmo assim e apesar de duas longas interrupções, a obra prosseguiu e, ao ser inaugurada em 1370, sua inclinação já era de 1,6 grau, o que equivale dizer que o eixo vertical da torre desviava mais de 1 metro, desde a base ao topo.
Feita de mármore e com 58,36 metros de altura da sua fundação (55 metros se for medida desde o solo), a torre de Pisa era para tornar-se um símbolo de riqueza e poder da cidade e uma provocação aos moradores de Florença e Gênova, concorrentes ao posto de principal porto e centros comerciais no fim da Idade Média. Mas desde o começo foi motivo de piada, controvérsias e mitos. Alguns achavam que os operários que a ergueram conspiraram para entortá-la em protesto pelos baixos salários. Outros, que a inclinação era fruto de uma maldição dos árabes ou genoveses. Os fiéis católicos, porém, diziam ser um fenômeno divino: a torre construída no Campo dei Miracoli (ou campo dos milagres, em português), teria sido entortada por Deus. A mais curiosa, porém, era a teoria de que William de Innsbruck, um dos pioneiros do projeto da torre, intencionalmente a criara torta para lembrar de seu próprio desvio físico: William era corcunda.
Descoberto apenas no século 20, o real motivo para a inclinação é bem mais trivial: o pesadíssimo campanário de mais de 14 mil toneladas foi construído sobre um terreno pantanoso e instável. Mas, desde 1298, quando os mandatários de Pisa formaram a primeira comissão para estudar a tortuosa postura da torre, nenhuma das tentativas de salvá-la cogitou torná-la reta. O que se queria era evitar que ela tombasse.
No século 19, a torre parecia ter atingido o equilíbrio. As medições indicavam que há 300 anos ela permanecia imóvel. Diante da notícia, arquitetos e historiadores defendiam que o desvio do campanário era proposital e nisso estaria o brilhantismo de sua arquitetura. Nesse período, o poeta inglês Percy Bysshe Shelley e sua mulher, a romancista Mary Shelley, instalaram-se em Pisa procurando inspiração nas ruínas e na tranqüilidade do lugar. Formou-se um pequeno círculo de escritores românticos, que chegou a contar com o também poeta inglês Lord Byron que, em Pisa, escreveu um de seus poemas mais famosos, o satírico Don Juan. “A torre passou a ser destino de peregrinações meio turísticas, meio místicas. Era a época do ela é torta, mas nós a amamos”, diz Shrady. Para receber a quantidade crescente de visitantes, a cidade e especialmente o Campo dei Miracoli precisava de uma revitalização. Foi encarregado da tarefa o arquiteto italiano Alessandro della Gherardesca, em 1838.
Expoente da arquitetura neogótica da Toscana, Gherardesca arejou a torre, retirando as estruturas supérfluas que a circulavam. Foram removidos os muros que a separava dos pomares ao leste e o gradil ao redor dela. Escavar a base da torre para desenterrar a base das colunas sob o solo, no entanto, mostrou-se uma má idéia. Os trabalhos atingiram um lençol freático e a base da torre foi inundada.
Gherardesca foi demitido. Em 1934, sob os auspícios do ditador Benito Mussolini, decidiu-se por uma grande obra de retenção: foram perfurados 361 buracos na base do edifício e injetadas 90 toneladas de cimento para solidificar a fundação. Nos oito meses que se seguiram, a torre permaneceu em constante movimento, oscilando para sudeste, norte e depois oeste. As mudanças eram medidas em frações de milímetros, mas, após meses de agitação, o campanário parou na posição em que estava antes.
O descanso durou pouco. Em julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, militares americanos forçaram tropas alemãs a recuar até Pisa. A cidade tornou-se palco da batalha e a torre foi interditada. Os americanos desconfiavam que ela fosse utilizada como posto de observação e abrigo de franco-atiradores alemães. Por pouco, não foi alvo de um bombardeio aliado. O conflito deixou a praça do Campo dei Miracoli em ruína, o cemitério de Camposanto foi parcialmente destruído. Em meio à paisagem arrasada, a torre pendente permaneceu de pé.
Em 1988, novo susto. A torre foi interditada à visita pública, quando uma equipe internacional anunciou que estava prestes a cair. Foram tomadas medidas emergenciais, como o reforço das estruturas com fibras de aço e a instalação de um contrapeso formado por 97 blocos de chumbo, com 10 toneladas cada um, colocados em sua face norte.
As obras detiveram a queda, mas o resultado estético foi bem menos satisfatório. Com a instalação de sensores especiais para a medição do vento, da temperatura, radiação solar, atividade sísmica, movimentação horizontal, da variação dimensional na vertical e da largura das fissuras transformaram a torre de Pisa no mais monitorado edifício do mundo. Um prédio inteiro na UTI.
Em 1995, começou a instalação de cabos subterrâneos a 40 metros da superfície. Enquanto o solo era perfurado, injetava-se nitrogênio líquido para congelar a água ao redor e prevenir inundações. Tudo corria bem até as brocas alcançarem o lado sul da torre. De repente, o prédio desviou-se 4 milímetros para o sul e os trabalhadores correram para colocar mais cabos de sustentação. Com a torre mais próxima do que nunca do colapso, as obras foram suspensas.
Em 1997, após um terremoto que devastou a cidade de Assis, a 200 quilômetros de Pisa, as mais brilhantes mentes da engenharia e toda a tecnologia disponível foram reunidas contra a torre que há 800 anos testava a perícia, a paciência e os nervos dos especialistas.
Restava uma alternativa: a chamada técnica de extração de solo criada pelo engenheiro inglês John Burland, do London Imperial College, utilizada com sucesso para salvar a Catedral Metropolitana da Cidade do México, após o terremoto de 1985. A prática consiste em escavar o solo abaixo da fundação trazendo a consrução de volta à posição original. O processo é caro, demorado e arriscado. Por três anos foram criados modelos digitais e feitas análises do terreno. Foram construídas maquetes da torre usando alumínio e concreto e realizados testes até a equipe aprender a extrair o solo controlando de forma milimétrica o movimento das torres em escala. O fechamento da torre havia custado à cidade perdas incalculáveis em turismo. Era hora de agir. Brocas especialmente projetadas para o trabalho perfuraram o lado norte do terreno a 5 metros de profundidade e o solo começou a ser extraído. Um mês depois, a torre havia se movido 5 milímetros e, pela primeira vez na sua história, na direção certa.
Mais de 60 toneladas de terra foram extraídas do subsolo e a estrutura retornou 40,6 centímetros até a marca em que estava antes da infeliz reforma de Gherardesca, e com a qual, atualmente, repousa em paz. Reaberta ao público em junho de 2001, a torre ostenta sua e admirável (e segura) inclinação de 5,5 graus para o sul.
Cai-não-cai
Em mais de 800 anos, a torre deu muito susto, mas continua de pé
Você conhece o ditado: nasce torto, morre torto. Nesse caso, no entanto, o fato de ser torta é que atraiu a atenção e a simpatia do público para a Torre de Pisa. Sua particular inclinação tem garantido, também, os esforços de autoridades, técnicos e políticos para salvar, preservar e manter de pé o campanário medieval. Torre que nasce torta, não morre nunca.
1173
Iniciam-se as obras de construção da Torre de Pisa
1178
A torre começa a entortar quando apenas trés andares foram erguidos
1228
Guerras entre Pisa e Florença interrompem a construção da torre
1254
Florença derrota Pisa. A cidade é obrigada a pagar uma grande quantia aos vencedores
1272
Os trabalhos são retomados
1278
A torre chega à altura que tem hoje, mas ainda não está pronta, quando as obras param novamente
1284
Gênova vence Pisa na batalha de Meloria: 5 mil pisanos morrem e 11 mil são presos
1298
Formada a primeira comissão de especialistas para estudar a inclinação da torre
1370
A torre é oficialmente inaugurada. Sua inclinação é de 1,6 grau
1564
Nasce, em Pisa, Galileu Galilei. Ele é batizado à sombra da torre
1787
Alessandro Da Morrona, arquiteto italiano, mede a inclinação da torre em seis braços e meio (cerca de 3,8 metros)
1817
Edward Cresy e George Ledwell Taylor, engenheiros ingleses, também medem a torre: 12 pés e 7 polegadas, ou 3,84 metros
1838
O arquiteto Alessandro della Gherardesca escava sob a torre e inunda suas fundações
1934
Um megaplano do ditador Benito Mussolini propõe salvar a torre. Ele injeta toneladas de cimento sob as estruturas para tentar estabilizá-la. A torre não se mexe 1 milímetro
1943-1945
Durante a Segunda Guerra, a cidade é bombardeada, o domo da igreja, o batistério e a torre sobrevivem. Mas o cemitério de Camposanto é atingido por granadas
1989
Em 17 de março, uma antiga torre em Pavia cai e mata quatro pessoas
1990
O governo italiano decide interditar a torre para a visitação
1995
Em setembro, durante obras de retenção, a torre inclina 5 milímetros em uma única noite e chega mais perto do que nunca do colapso
1999
Os engenheiros começam o delicado processo de extração de terra que promete ser a solução para estabilização da Torre de Pisa
2001
Em 16 de junho, o mundo todo celebra a restauração da torre
Saiba mais
Tilt, a Skewed History of the Tower of Pisa, Nicholas Shrady, Norton, 2003 - 161 páginas
Revista Aventuras na Historia
Se não fosse torta, a Torre de Pisa talvez já tivesse sido esquecida. Conheça a irônica história da construção que deixou de ser um problema arquitetônico para se tornar um dos prédios mais conhecidos do mundo
Tatiana Penido
No início de 1902, surgiu uma falha em uma das imponentes arcadas da torre da praça São Marcos, em Veneza, na Itália. Arquitetos e engenheiros locais examinaram-na e concluíram que o dano era insignificante. Nada que não pudesse ser reparado durante a manutenção de rotina, pela qual todo o magnífico patrimônio histórico da cidade passa de tempos em tempos. Meses depois, nenhuma providência havia sido tomada e a fissura cresceu a ponto de pequenos pedaços da construção caírem na praça. Em 14 de julho, segunda-feira, um engenheiro municipal e um inspetor de polícia aproximaram-se da torre e descobriram assombrados que a rachadura percorria toda a construção, desde o solo até o último andar. Prevendo um desastre, ordenaram a evacuação do edifício e de toda a praça. Às 9h47, a fissura arrebentou em um estrondo. Entre gritos da multidão, o teto balançou, os sinos emitiram seus últimos toques e a torre inteira ruiu, desaparecendo numa nuvem de poeira.
A tragédia não deixou mortos nem feridos, mas enterrou um dos símbolos da Itália (que seria reconstruído dez anos depois). O episódio também teve uma conseqüência singular: chamou a atenção para outro monumento, não em Veneza, mas a poucos quilômetros dali, na Toscana. Uma construção de quase 800 anos, legítima representante da arquitetura medieval, que há tempos permanecia num terrível cai-não-cai: a até então decrépita e esquecida torre de Pisa deveria ser salva a qualquer custo.
Construída na praça central da cidade para abrigar os sinos, ao lado da catedral de Santa Maria Maggiore, do batistério e do cemitério de Camposanto, a torre jamais foi perpendicular ao solo. “Ela começou a entortar em 1178, quando apenas três dos sete andares haviam sido erguidos”, afirma o jornalista americano Nicholas Shrady, em seu livro Tilt, a Skewed History of theTower of Pisa (Inclinação, a História Oblíqua da Torre de Pisa, inédito em português). Mesmo assim e apesar de duas longas interrupções, a obra prosseguiu e, ao ser inaugurada em 1370, sua inclinação já era de 1,6 grau, o que equivale dizer que o eixo vertical da torre desviava mais de 1 metro, desde a base ao topo.
Feita de mármore e com 58,36 metros de altura da sua fundação (55 metros se for medida desde o solo), a torre de Pisa era para tornar-se um símbolo de riqueza e poder da cidade e uma provocação aos moradores de Florença e Gênova, concorrentes ao posto de principal porto e centros comerciais no fim da Idade Média. Mas desde o começo foi motivo de piada, controvérsias e mitos. Alguns achavam que os operários que a ergueram conspiraram para entortá-la em protesto pelos baixos salários. Outros, que a inclinação era fruto de uma maldição dos árabes ou genoveses. Os fiéis católicos, porém, diziam ser um fenômeno divino: a torre construída no Campo dei Miracoli (ou campo dos milagres, em português), teria sido entortada por Deus. A mais curiosa, porém, era a teoria de que William de Innsbruck, um dos pioneiros do projeto da torre, intencionalmente a criara torta para lembrar de seu próprio desvio físico: William era corcunda.
Descoberto apenas no século 20, o real motivo para a inclinação é bem mais trivial: o pesadíssimo campanário de mais de 14 mil toneladas foi construído sobre um terreno pantanoso e instável. Mas, desde 1298, quando os mandatários de Pisa formaram a primeira comissão para estudar a tortuosa postura da torre, nenhuma das tentativas de salvá-la cogitou torná-la reta. O que se queria era evitar que ela tombasse.
No século 19, a torre parecia ter atingido o equilíbrio. As medições indicavam que há 300 anos ela permanecia imóvel. Diante da notícia, arquitetos e historiadores defendiam que o desvio do campanário era proposital e nisso estaria o brilhantismo de sua arquitetura. Nesse período, o poeta inglês Percy Bysshe Shelley e sua mulher, a romancista Mary Shelley, instalaram-se em Pisa procurando inspiração nas ruínas e na tranqüilidade do lugar. Formou-se um pequeno círculo de escritores românticos, que chegou a contar com o também poeta inglês Lord Byron que, em Pisa, escreveu um de seus poemas mais famosos, o satírico Don Juan. “A torre passou a ser destino de peregrinações meio turísticas, meio místicas. Era a época do ela é torta, mas nós a amamos”, diz Shrady. Para receber a quantidade crescente de visitantes, a cidade e especialmente o Campo dei Miracoli precisava de uma revitalização. Foi encarregado da tarefa o arquiteto italiano Alessandro della Gherardesca, em 1838.
Expoente da arquitetura neogótica da Toscana, Gherardesca arejou a torre, retirando as estruturas supérfluas que a circulavam. Foram removidos os muros que a separava dos pomares ao leste e o gradil ao redor dela. Escavar a base da torre para desenterrar a base das colunas sob o solo, no entanto, mostrou-se uma má idéia. Os trabalhos atingiram um lençol freático e a base da torre foi inundada.
Gherardesca foi demitido. Em 1934, sob os auspícios do ditador Benito Mussolini, decidiu-se por uma grande obra de retenção: foram perfurados 361 buracos na base do edifício e injetadas 90 toneladas de cimento para solidificar a fundação. Nos oito meses que se seguiram, a torre permaneceu em constante movimento, oscilando para sudeste, norte e depois oeste. As mudanças eram medidas em frações de milímetros, mas, após meses de agitação, o campanário parou na posição em que estava antes.
O descanso durou pouco. Em julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, militares americanos forçaram tropas alemãs a recuar até Pisa. A cidade tornou-se palco da batalha e a torre foi interditada. Os americanos desconfiavam que ela fosse utilizada como posto de observação e abrigo de franco-atiradores alemães. Por pouco, não foi alvo de um bombardeio aliado. O conflito deixou a praça do Campo dei Miracoli em ruína, o cemitério de Camposanto foi parcialmente destruído. Em meio à paisagem arrasada, a torre pendente permaneceu de pé.
Em 1988, novo susto. A torre foi interditada à visita pública, quando uma equipe internacional anunciou que estava prestes a cair. Foram tomadas medidas emergenciais, como o reforço das estruturas com fibras de aço e a instalação de um contrapeso formado por 97 blocos de chumbo, com 10 toneladas cada um, colocados em sua face norte.
As obras detiveram a queda, mas o resultado estético foi bem menos satisfatório. Com a instalação de sensores especiais para a medição do vento, da temperatura, radiação solar, atividade sísmica, movimentação horizontal, da variação dimensional na vertical e da largura das fissuras transformaram a torre de Pisa no mais monitorado edifício do mundo. Um prédio inteiro na UTI.
Em 1995, começou a instalação de cabos subterrâneos a 40 metros da superfície. Enquanto o solo era perfurado, injetava-se nitrogênio líquido para congelar a água ao redor e prevenir inundações. Tudo corria bem até as brocas alcançarem o lado sul da torre. De repente, o prédio desviou-se 4 milímetros para o sul e os trabalhadores correram para colocar mais cabos de sustentação. Com a torre mais próxima do que nunca do colapso, as obras foram suspensas.
Em 1997, após um terremoto que devastou a cidade de Assis, a 200 quilômetros de Pisa, as mais brilhantes mentes da engenharia e toda a tecnologia disponível foram reunidas contra a torre que há 800 anos testava a perícia, a paciência e os nervos dos especialistas.
Restava uma alternativa: a chamada técnica de extração de solo criada pelo engenheiro inglês John Burland, do London Imperial College, utilizada com sucesso para salvar a Catedral Metropolitana da Cidade do México, após o terremoto de 1985. A prática consiste em escavar o solo abaixo da fundação trazendo a consrução de volta à posição original. O processo é caro, demorado e arriscado. Por três anos foram criados modelos digitais e feitas análises do terreno. Foram construídas maquetes da torre usando alumínio e concreto e realizados testes até a equipe aprender a extrair o solo controlando de forma milimétrica o movimento das torres em escala. O fechamento da torre havia custado à cidade perdas incalculáveis em turismo. Era hora de agir. Brocas especialmente projetadas para o trabalho perfuraram o lado norte do terreno a 5 metros de profundidade e o solo começou a ser extraído. Um mês depois, a torre havia se movido 5 milímetros e, pela primeira vez na sua história, na direção certa.
Mais de 60 toneladas de terra foram extraídas do subsolo e a estrutura retornou 40,6 centímetros até a marca em que estava antes da infeliz reforma de Gherardesca, e com a qual, atualmente, repousa em paz. Reaberta ao público em junho de 2001, a torre ostenta sua e admirável (e segura) inclinação de 5,5 graus para o sul.
Cai-não-cai
Em mais de 800 anos, a torre deu muito susto, mas continua de pé
Você conhece o ditado: nasce torto, morre torto. Nesse caso, no entanto, o fato de ser torta é que atraiu a atenção e a simpatia do público para a Torre de Pisa. Sua particular inclinação tem garantido, também, os esforços de autoridades, técnicos e políticos para salvar, preservar e manter de pé o campanário medieval. Torre que nasce torta, não morre nunca.
1173
Iniciam-se as obras de construção da Torre de Pisa
1178
A torre começa a entortar quando apenas trés andares foram erguidos
1228
Guerras entre Pisa e Florença interrompem a construção da torre
1254
Florença derrota Pisa. A cidade é obrigada a pagar uma grande quantia aos vencedores
1272
Os trabalhos são retomados
1278
A torre chega à altura que tem hoje, mas ainda não está pronta, quando as obras param novamente
1284
Gênova vence Pisa na batalha de Meloria: 5 mil pisanos morrem e 11 mil são presos
1298
Formada a primeira comissão de especialistas para estudar a inclinação da torre
1370
A torre é oficialmente inaugurada. Sua inclinação é de 1,6 grau
1564
Nasce, em Pisa, Galileu Galilei. Ele é batizado à sombra da torre
1787
Alessandro Da Morrona, arquiteto italiano, mede a inclinação da torre em seis braços e meio (cerca de 3,8 metros)
1817
Edward Cresy e George Ledwell Taylor, engenheiros ingleses, também medem a torre: 12 pés e 7 polegadas, ou 3,84 metros
1838
O arquiteto Alessandro della Gherardesca escava sob a torre e inunda suas fundações
1934
Um megaplano do ditador Benito Mussolini propõe salvar a torre. Ele injeta toneladas de cimento sob as estruturas para tentar estabilizá-la. A torre não se mexe 1 milímetro
1943-1945
Durante a Segunda Guerra, a cidade é bombardeada, o domo da igreja, o batistério e a torre sobrevivem. Mas o cemitério de Camposanto é atingido por granadas
1989
Em 17 de março, uma antiga torre em Pavia cai e mata quatro pessoas
1990
O governo italiano decide interditar a torre para a visitação
1995
Em setembro, durante obras de retenção, a torre inclina 5 milímetros em uma única noite e chega mais perto do que nunca do colapso
1999
Os engenheiros começam o delicado processo de extração de terra que promete ser a solução para estabilização da Torre de Pisa
2001
Em 16 de junho, o mundo todo celebra a restauração da torre
Saiba mais
Tilt, a Skewed History of the Tower of Pisa, Nicholas Shrady, Norton, 2003 - 161 páginas
Revista Aventuras na Historia
Um comentário:
Oi,Eduardo!
Mas o mais importante q aconteceu com a torre vc ñ falou: no filme Um Quinteto Irreverente... vai lá.
Parabéns pelo blog! e te convido a conhecer e pôr aí na tua lista meus blogs: a mágica de oz / barrados no éden / nas quebradas da vida / cine ipanema /etc tudo blogspot.com
um abraço!
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