Val de Lys, 1 de Setembro de 1915
Minha querida amada,
Espero que esteja tudo bem contigo e com a nossa família.
Comigo está tudo mal, esta guerra parece o inferno, todos os dias a morte bate-me à porta.
Lá fora há um mar de sangue e partes de corpos espalhados por todos os lados.
Cá dentro, nas trincheiras, existe uma passadeira de mortos e nós, soldados, temos que caminhar por cima deles. Alguns eram grandes amigos meus.
Quando chove estas longas e tortuosas galerias ficam transformadas em verdadeiros trilhos de lama, nos quais nós temos que rastejar. Muitos ficam ali feridos e presos na lama e o pior é que ninguém os ajuda porque têm medo de morrer também.
As condições de higiene são horríveis, muitos soldados têm doenças de pele.
As nossas roupas estão cheias de piolhos que quase nos devoram. Para nos vermos livres deles temos de tirar a roupa toda e queimar os piolhos e os ovos com a ponta dos cigarros.
É assim que eu vivo no inferno.
Por favor continua a escrever-me para eu saber como estás e como está a minha família.
Espero voltar a ver-vos.
Thierry
P.S- Adoro-te.
20 de Novembro de 1915
Meu querido pai,
Não imaginas como fiquei feliz ao receber a maravilhosa notícia que a mana teve gémeos.
Vocês são a razão do meu viver, e quando recebo noticias vossas só penso em voltar para casa.
Até já pensei em fugir, mas assim seria pior arriscar-me-ia a ser condenado à morte.
Estar nesta trincheira é doloroso pois tudo aqui é muito mau, desde a comida, que é à base de pão e água, o que não nos dá muita força. A higiene aqui é escassa: as roupas são lavadas a vapor para eliminar os piolhos e o pior é a lama nas trincheiras, ainda por cima em época de Inverno.
E agora despeço-me porque está na hora de ir trabalhar naquela porcaria enlameada de que já estou farto. Mas tem que ser. Espero conseguir voltar a escrever-te.
Adeus e não te preocupes,
Miguel
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