“Cartas de Stalingrado”.
“Amados pais. Se estão lendo esta carta, é porque ainda temos o aeroporto. Tenho certeza que esta será a última que seu amado filho lhes escreverá. Temos russos por todos os lados e não nos mandam ajuda de Berlim. Lhes tenho uma triste notícia, Granstsau morreu semana passada. Estava ele, eu e mais três andando quando simplesmente caiu no chão com a cabeça aberta. Amados pais, chorei muito ao vê-lo, porque crescemos juntos, lembram-se? Quando éramos crianças, quebrei a perna, ele me levou a casa nas suas costas com a minha perna quebrada. Sinto muito pelos pais dele. Perdi meu único amigo. E aqui haverá o fim. Nosso comandante se matou com um tiro na boca ontem de noite. Nossa moral não existe mais. Mas espero que essa maldita guerra acabe, pouco me importa o que aconteça. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha o quanto antes, sabemos que é uma questão de tempo dos russos chegarem em Berlim. Amados pais, após essa guerra, a Alemanha ficará atônita ao saber que o soldado que lhes escreve teve a vida salva por um médico judeu. Estou bem dos ferimentos, mas a cicatriz é enorme e horrível. Amados pais, se cuidem. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha, o dinheiro vocês já tem. Logo estaremos de novo conversando com Hilse, nos bom tempos dos dias de sol. Com muita devoção, seu filho querido.”
“Não sei se voltarei a te escrever mais uma vez, é preciso que esta carta chegue às suas mãos e que fique a saber desde já, para o caso de voltar alguma vez. Perdi as mãos no princípio do mês de dezembro. Na mão esquerda me falta o dedo mínimo, mas o pior é que na direita congelaram os três dedos do meio. Posso pegar um copo com o polegar e o mínimo. Me sinto um inútil. Só quando perdemos os dedos que percebemos para é que servem, mesmo nas coisas mais pequenas. Kurt Hahnke, acho que você conhece, porque iam juntos à escola em 1937, ele tocou a música Passionata num piano, há 8 dias, numa pequena rua paralela à praça vermelha. Não acontece todos os dias, o piano estava literalmente na rua. A casa tinha sido bombardeada, mas o instrumento, talvez por compaixão, tinha sido afastado e colocado no meio da rua. Cada vez que passava um soldado, tocava um pouco. Em que outro lugar do mundo é que se pode encontrar pianos no meio da rua?”
“Me assustei quando vi o papel. Estamos completamente isolados, sem ajuda exterior. Hitler nos abandonou. Esta carta vai seguir se o aeroporto ainda estiver nas nossas mãos. Estamos no norte da cidade. Os homens da bateria também pensam nisso, mas não o sabem tão bem como eu. O fim está próximo. Hannes e eu vamos à prisão. Ontem vi os russos apanharem quatro homens, depois da nossa infantaria ter recuperado a iniciativa. Não, não vamos para a prisão. Quando Stalingrado cair, você ficará sabendo que nunca mais voltarei”.
“Você é o coronel, querido pai e do Estado-Maior. Você sabe o que significa tudo isto, por isso evita de eu explicar o que poderia ser sentimentalismo.É o fim. Acho que ainda agüentamos uma semana, depois, fecha o cerco. Não quero falar dos motivos a favor ou contra nossa situação. Esses motivos são perfeitamente insignificantes e não tem importância, mas se pudesse dizer qualquer coisa, gostaria de dizer que não devem procurar em nós a razão dessa situação, mas sim em vocês e quem é o responsável por isso tudo. Levantai a cabeça! Você pai, e os que são da mesma opinião, estejam com atenção para não acontecer uma coisa pior à nossa pátria. Que o inferno do volga sirva de aviso. Por favor, não deixem que o vento leve esta lição.”
http://www.cineguerra.com/bbs/viewtopic.php?p=451&sid=cb9a32d39b2750085187f4f0df6f5070
Últimas Cartas de Stalingrado
Fonte: Jornal do Século - História do Século XX - Ed.Abril Cultural
As cartas aqui referidas nunca chegaram a seus destinatários. Estavam incluídas no confisco imposto pelo Serviço de Informações do Exército alemão, com o objetivo de avaliar o moral das tropas em Stalingrado.
Mais tarde, preparou-se um relatório sobre a Batalha do Volga, baseado em cartas e documentos oficiais disponíveis, mas Goebbels recusou a permissão para publicá-lo.
"Trata-se de uma marcha fúnebre", disse ele ao autor. "Você deveria escrever uma fanfarra".
1-
"(...)Você é a mulher de um oficial alemão e por isso deverá enfrentar corajosamente o que tenho a lhe dizer, com a coragem com que ficou na plataforma da estação no dia em que segui para o Oriente.(...) A verdade significa conhecer os fatos a respeito das piores batalhas travadas em uma situação desesperadora: miséria, fome, frio, privações, dúvidas, desespero e homens morrendo de uma maneira horrível(...) Minha própria parcela de culpa é inegável. Numa proporção pequena - é verdade - cerca de um para 70 milhões - mas dá no mesmo. (...) Não estou acovardado, somente triste por não poder dar maior prova da minha coragem do que morrer por uma causa fútil, para não dizer criminosa. Não me esqueça rápido demais."
2-
"(...)Sobre o muito do que está acontecendo aqui jamais saberei coisa alguma; mas o pouco que sei é demais para o estômago. Ninguém poderá dizer que meus camaradas morreram com palavras como Alemanha ou Heil, Hitler! nos lábios... A última palavra de um homem vai para sua mãe ou para quem mais ama, ou então é apenas um grito de socorro. Já vi centenas caírem e morrerem e muitos, como eu, estavam na Juventude Hitlerista. Mas todos, na hora fatal, gritam por ajuda ou por alguém que nada mais poderia fazer por eles".
3-
O Führer prometeu tirar-nos daqui e todos nós acreditamos. Ainda acredito hoje, simplesmente porque devo acreditar em alguma coisa. Em que me resta acreditar? Não saberia o que fazer com a primavera ou o verão, ou com qualquer das coisas que tornam a vida feliz. É bom que eu continue acreditando, cara Grete; toda a minha vida - ou durante oito anos pelo menos - acreditei no Führer e o tomei ao pé da letra. É terrível como as pessoas aqui duvidam e é humilhante ouvir coisas que não se podem contradizer porque os fatos as comprovam".
http://www.cineguerra.com/bbs/viewtopic.php?p=451&sid=cb9a32d39b2750085187f4f0df6f5070
Nenhum comentário:
Postar um comentário