quarta-feira, 8 de junho de 2011

Islã - A valorização do saber

O Islã abriga e torna-se o guardião da cultura da An tiguidade clássica

Taj Mahal
Mausoléu em Agra, na Índia(1632 a 1654), é exemplo de arquitetura

Na Síria, no início do século 13, um médico cristão de origem árabe é chamado, por um destacamento de cruzados francos para tratar duas pessoas. Pedem ao médico que cuide de um cavaleiro, que estava com um grande e feio abscesso na perna, e uma mulher que ardia em febre. No caso do cavaleiro, o médico aplica uma cataplasma no abscesso, que abre e melhora; na mulher, ele a refresca e determina uma dieta com restrição de alguns alimentos.

Chega depois um médico franco, que desdenha do tratamento. Determina a um guerreiro que corte a perna do cavaleiro enfermo com golpes de machado. Após a segunda machadada, a medula escorre e o cavaleiro morre. Em seguida, o médico franco examina a mulher, afirma que ela está sob possessão demoníaca e manda que raspem a sua cabeça e que ela coma alho e sementes de mostarda. A mulher volta a ter febre. 'É porque o demônio lhe penetrou a cabeça', diz o médico franco que, em seguida, faz na cabeça da mulher dois profundos cortes em cruz, fragilizando os ossos do crânio, e aplica sal na área afetada. A mulher morre e o médico árabe é dispensado pelo franco.

O episódio acima foi relatado por Guillaume de Tyr (1184-1277), cronista das cruzadas. É um exemplo da profunda diferença entre a medicina cristã européia e a árabe islâmica durante quase toda a Idade Média. Apesar de cristão, o primeiro médico convocado pelos francos tinha a mesma origem cultural dos islâmicos, inimigos dos cruzados.

Enquanto o mundo cristão vivia o obscurantismo e a submissão da razão aos dogmas da Igreja no plano do conhecimento da natureza, o mundo islâmico preservava e aprimorava a medicina, a matemática, a astronomia e outras ciências surgidas na Antiguidade clássica.

O livro que contém tudo

O corpo humano
O cânone de Avicena cobria todos os aspectos da saúde

No século 10, as cidades islâmicas de Córdoba, na Espanha, e de Bagdá, na Mesopotâmia, possuíam hospitais, farmácias. Aplicavam-se os conhecimentos adquiridos pelos sábios árabes com a tradução de obras gregas e a absorção de conhecimentos de outras culturas, especialmente a hindu, no diagnóstico de enfermidades, nos tratamento e na produção de diversos tipos de medicamentos, como inalantes, pomadas, supositórios e até de pílulas.

A arte da tradução já havia sido objeto da atenção especial do califa al Ma'mun. Ele fundou em Bagdá, no início do século 9º, a Casa da Sabedoria, uma espécie de escola de tradutores. Foi nesse ambiente cultural que surgiram obras como O Livro que Contém Tudo, do médico persa Muhammad Ibn Zakariya al-Razi (864-930). Al Razi foi diretor de um hospital em Bagdá. Sua obra, que compreendia 23 volumes, era o trabalho mais extenso dos cerca de 50 que escrevera. Consistia em uma enciclopédia médica com descrições de várias doenças e comentários sobre cada uma delas compilados de textos gregos, sírios, indianos, persas e árabes. Outro clássico da época foi o Cânone da Medicina, de Avicena, ou Ibn Sin (980-1037). A obra, que foi referência tanto no Oriente como no Ocidente, abordava os fundamentos e a prática médica.

Esses são exemplos na medicina, mas a ciência árabe era mais do que isso. No século 9º, Muhammad al Khwarizmi (780-850), cujo nome deu origem ao termo 'algarismo', produziu as tabelas trigonométricas que chegaram ao Ocidente em 1126, e também utilizou uma letra para representar a incógnita de uma equação.

Naquela época e nos séculos seguintes, o Islã desenvolveu estudos e traduções em química e astronomia. A física teve implicações na medicina, graças aos estudos de óptica e oftalmologia de Abu Zayd Hunayn Ibn Ishaq (808-873). Produziu monumentos como o Taj Mahal, na Índia, e o Alhambra, na Espanha, consideradas até hoje entre as mais belas construções do mundo.

Revista Galileu

Um comentário:

Flor Baez disse...

O oriente tem uma sabedoria muito rica, ancestral, que infelizmente o Ocidental ainda, mesmo nos tempos de hoje, não consegue apreender.

O Oriente fala com totalidade, completude e o Ocidente fala de forma fragmentária.

Adorei o blog.
Bjs