Biblioteca Ambrosiana, Milão |
Códice Ilíada de Homero, aproximadamente do final do séc. 6, a. C. |
Métodos de genética evolutiva indicam origem do clássico de Homero
Joel N. Shurkin e Inside Science News Service
Esta história foi originalmente publicada por Inside Science News Service
Cientistas que decodificam a história genética humana investigando como genes sofrem mutação aplicaram a mesma técnica a um dos mais antigos e celebrados textos do Ocidente para revelar a data em que foi escrito.
O texto é a “Ilíada”, de Homero, e seu autor – se existiu – provavelmente escreveu a obra em762 a.C., com uma margem de erro de 50 anos, descobriram os pesquisadores. A “Ilíada” conta a história da Guerra de Troia – se é que a guerra ocorreu – entre gregos e troianos.
Os pesquisadores aceitam que o confronto ocorreu e que alguém chamado Homero escreveu sobre ela, explica Mark Pagel, teórico evolutivo da University of Reading, na Inglaterra. Seus colaboradores incluem Eric Altschuler, geneticista da University of Medicine and Denstistry of New Jersey, em Newark, e Andreea S. Calude, linguista da Reading, e do Instituto Santa Fé, no Novo México. Eles trabalharam a com o texto padrão do poema épico.
A data a que chegaram está de acordo com a época em que muitos acadêmicos acreditam que a Ilíada foi compilada, então o artigo, publicado no periódico Bioessays, não terá classicistas irritados. O estudo basicamente afirma o que eles [os acadêmicos] vêm dizendo: que o trabalho foi escrito no oitavo século a.C.
De acordo com Pagel, ver geneticistas em um projeto desses não deveria ser surpreendente.
“Linguagens se comportam extraordinariamente como genes”, declarou Pagel. “É uma analogia direta. Tentamos documentar as regularidades na evolução linguistica e estudar o vocabulário de Homero como forma de observar se a linguagem evolui da maneira que achamos que evolui. Se for o caso, conseguiremos encontrar uma data para Homero”.
A existência de um indivíduo chamado Homero que escreveu a Ilíada é improvável. Brian Rose, professor de estudos clássicos e curador da seção Mediterrânea do Museu da University of Pennsylvania, acredita que está claro que a Ilíada é uma compilação de tradições orais datando até o século13 a.C.
“A Ilíada é um amálgama de várias histórias que parecem se concentrar em conflitos em uma área específica do noroeste da Turquia”, observa Rose.
A história da “Ilíada” é bem conhecida, cheia de personagens como Helena de Tróia, Aquiles, Paris, Agamenon, e vários deuses e deusas que se comportam mal. Ela conta como uma frota gigantesca de navios gregos atravessou o “mar negro como vinho” para sitiar Tróia e recuperar uma esposa roubada. Sua sequência é a “Odisséia”.
Classistas e arqueólogos têm certeza de que Troia existiu e sabem mais ou menos onde ela se encontra. No século 19, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann e o inglês Frank Calvert escavaram o que hoje é conhecida como a Cidadela de Tróia e descobriram evidências de um conflito militar do século12 a.C., incluindo flechas e mais de1 metrode destroços queimados ao redor de uma fortaleza incendiada. De acordo com Rose, não se sabe se isso foi uma guerra entre Tróia e um inimigo externo, ou uma guerra civil.
A compilação que conhecemos como a “Ilíada” foi escrita séculos depois, na data que Pagel está propondo.
Os cientistas procuraram as palavras da “Ilíada” da mesma forma que procurariam genes em um genoma.
Os pesquisadores empregaram uma ferramenta linguística chamada de lista de palavras de Swadesh, criada nos anos 1940 e 1950 pelo linguista americano Morris Swadesh. Pagel explica que a lista contém aproximadamente 200 conceitos descritos por palavras aparentemente em todas as línguas e culturas. Geralmente são palavras para partes do corpo, cores, e parentescos como “pai” e “mãe”.
Eles procuraram palavras de Swadesh na “Ilíada” e encontraram 172 delas. Em seguida analisaram suas mudanças.
Eles tomaram a língua dos Hititas, um povo que existiu durante a época da guerra que pode ter sido travada, e a Grécia moderna, e rastrearam as mudanças nas palavras do Hitita para o Homérico e em seguida para o grego moderno. É precisamente assim que se mede a história genética de humanos, tomando a origem e verificando as alterações no genoma e a época em que ocorreram ao longo do tempo.
Eles observaram cognatos, por exemplo, palavras derivadas de palavras ancestrais. Existe “water’ em inglês, “wasser” em alemão, “vatten” em sueco, todos cognatos emanando de “wator” em proto-germânico. Noentanto, a palavra “hund” do Inglês Arcaico [Old English] acabou se tornando “hound”, mas foi eventualmente substituída por “dog”, que não é um cognato.
“Eu sou um teórico evolutivo”, observou Pagel. “Eu estudo linguagens porque elas são um incrível replicador transmitido culturalmente. Ela se replica com uma fidelidade que é simplesmente impressionante”.
Documentando a regularidade de mutações linguísticas, Pagel e os outros conseguiram uma linha do tempo para a história de Helena e dos homens que morreram por ela – a genética se encontra com os clássicos.
Scientific American Brasil
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