Há 90 anos, terminava o primeiro combate armado de escala global. O armistício, assinado em 11 de novembro de 1918, colocava ponto final a quatro anos das batalhas mais sangrentas que o mundo havia assistido até então. Durante o confronto, a indústria bélica lançou tecnologias inéditas e, pela primeira vez, populações inteiras foram afetadas diretamente pelas conseqüências da guerra. O saldo incluiu 20 milhões de mortos e igual quantidade de feridos.
Ilustração: Sandro Castelli
Os números impressionam. Mas, ao abordar esse tema, é importante lembrar que o ensino de História não tem a finalidade apenas de condenar os horrores do passado e incutir nos jovens o desejo de construir um futuro diferente. "Isso não se ref lete em aprendizado. Os alunos precisam entender como os fatos aconteceram e em quais contextos se inseriam - até para ter elementos e condenar as guerras no futuro", explica Daniel Vieira Helene, selecionador do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10.
No caso da Primeira Guerra Mundial, a contextualização pede um estudo cuidadoso sobre as causas do conf lito (veja o mapa da página ao lado). A Europa passava por um período de forte crescimento industrial e as grandes potências, em especial a Grã-Bretanha e a Alemanha, disputavam mercados. Também havia questões territoriais em jogo: Japão, Itália e Alemanha estavam descontentes com o número de colônias que controlavam. E o crescimento do nacionalismo, principalmente entre os bósnios (que buscavam a independência do Império Austro-Húngaro) e nos povos árabes (que queriam se libertar do Império Turco-Otomano), esquentava ainda mais os ânimos. Para completar o cenário, várias nações - Grã-Bretanha, França e, novamente, a Alemanha - estavam se armando e desenvolvendo novas tecnologias bélicas, como tanques, metralhadoras e armas químicas (veja os infográficos da próxima página).
O estopim: um assassinato
O barril de pólvora estourou com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro. Em 28 de junho de 1914, em uma visita a Sarajevo, na Bósnia, ele e a esposa foram mortos por um nacionalista partidário da união com a Sérvia. O Império Austro-Húngaro culpou a Sérvia pelo crime e, um mês depois, declarou guerra ao país. A partir daí, foi uma bola-de-neve: para resolver antigos impasses, as potências também aderiram ao combate.
Ilustração: Sandro Castelli
Assim que cada nação alinhou seus interesses para se posicionar no conflito, formaram-se duas frentes: os Aliados (os principais eram Grã-Bretanha, França, Itália, Sérvia, Rússia e, mais tarde, Estados Unidos) e os Impérios Centrais (Alemanha, Império Austro-Húngaro, Império Turco-Otomano e Bulgária). Quando irromperam os combates mais violentos (veja a linha do tempo abaixo), a realidade da guerra chegou ao cidadão comum, que sofreu com os bombardeios, os racionamentos e a destruição de cidades (leia o plano de aula na página ao lado). Toda a população européia estava mobilizada em torno das batalhas, que receberam o nome de Grande Guerra - a expressão Primeira Guerra Mundial viria mais tarde, depois da Segunda.
A tecnologia no front
ARMAS QUÍMICAS
Em 1915, os alemães lançaram gás cloro sobre as tropas aliadas. Seu efeito é devastador: se inalado, destrói os órgãos respiratórios.
AVIÃO
No começo, era usado em missões de mapeamento e observação. Mas logo integrou planos de ataque, com bombardeios sobre trincheiras e cidades.
TANQUE
Contra as metralhadoras, parte das tropas avançava em tanques blindados, que superavam arames farpados e trincheiras.
SUBMARINO
Usado para isolar os Aliados e responder a bloqueios da marinha inglesa, os submarinos alemães destruíram mais de 6,5 mil navios.
METRALHADORA
Disparando até 450 tiros por minuto, deixou as batalhas mais violentas e dificultou a aproximação dos adversários.
Morte globalizada
De fato, esse foi o primeiro conf lito de proporções globais. Os Estados Unidos, por exemplo, entraram nele em 1917, usando o pretexto do afundamento de navios por submarinos alemães (a verdade é que os aliados haviam contraído grandes dívidas com os Estados Unidos. Temendo um calote por causa da derrota, os americanos foram para a briga). Até mesmo o Brasil se viu obrigado a enviar tropas - foram 1.502 homens, no total.
Ao fim de 1918, a paz, enfim, chegou, mas destinada a durar pouco. Com a vitória dos Aliados, as quatro principais potências do bloco (Estados Unidos, Inglaterra, França e Itália) reuniram-se em uma conferência em Paris e assinaram o Tratado de Versalhes. O documento, de 28 de junho de 1919, responsabilizou a Alemanha pela guerra e deu margem a um forte sentimento revanchista, que culminaria na Segunda Guerra Mundial. Outros tratados, como os de Trianon, Neuilly e Sèvres, também redesenharam a geografia da Europa (veja o mapa da página 101) e abriram as portas para conf litos locais. Prova de que a Liga das Nações, entidade internacional criada para evitar novos confrontos, havia fracassado.
Pior: a sensação de humilhação dos perdedores deu força ao surgimento de ditaduras e movimentos de extrema direita, como o fascismo e o nazismo. A "guerra que prometia acabar com todas as guerras", como definiu o historiador Eric Hobsbawn no livro Era dos Extremos, fez do cenário mundial um berço para ainda mais desentendimentos e violência.
Seis momentos cruciais
jun/1914
ASSASSINATO DE FRANCISCO FERDINANDO
O Império Austro-Húngaro culpou a Sérvia por não impedir o crime e declarou guerra um mês depois.
ago/1914
BATALHA DAS FRONTEIRAS
Entre a Alemanha e a França, diversas batalhas simultâneas resultam em 1,3 milhão de mortos para cada lado.
abr/1917
ENTRADA AMERICANA
Respondendo ao afundamento de navios pelos alemães, os Estados Unidos enviam dinheiro e soldados aos Aliados.
dez/1917
SAÍDA RUSSA
Após a revolução comunista de 1917, os russos assinam a paz com a Alemanha, que volta sua atenção ao front ocidental.
ago/1918
2ª BATALHA DO MARNE
Com reforço americano, franceses e ingleses batem os alemães. A partir daí, os Aliados dominam as batalhas.
nov/1918
RENDIÇÃO
Em 30 de outubro, o Império Turco-Otomano assina o armistício. Em 3 de novembro, é a vez do Império Austro-Hungaro. No dia 11, da Alemanha.
Daniel Vieira Helene
Daniel Vieira Helene
Revista Nova Escola
Um comentário:
bom resumo e conjunto de opiniões. Fiquei encantado
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