Ricardo Barros Sayeg
Dia 12 de outubro é comemorado o Dia das Crianças. Convido os leitores a conhecerem um pouco mais sobre a história das crianças no Brasil e no mundo. Na verdade, a preocupação com a história dos pequenos é antiga na historiografia brasileira. O sociólogo, antropólogo e escritor Gilberto Freire desejou escrever um livro chamado a História do Menino Brasileiro no qual o famoso autor pernambucano pretendia escrever sobre sua passagem da infância à vida adulta, sem ter adolescência. Isso está relatado em seu livro Em Tempo Morto, Outros Tempos.
Durante uma grande parte da história a criança foi negligenciada. Da Pré-História até a Idade Média “as pessoas morriam feito moscas”. A falta de cuidados e tecnologia fazia também com que os índices de natalidade fossem muito altos. A alta taxa de mortalidade, segundo a historiadora Mary Del Priori, em seu livro a História da Criança no Brasil, era associada à ideia de que uma criança morta era mais um anjo no céu. Para Gilberto Freire, em seu livro mais importante Casa Grande e Senzala, de 1933: “O anjo ia para o céu. Para junto de nosso Senhor, insaciável em cercar-se de anjos”, tal era o índice de mortandade entre os recém-nascidos. Em uma grande parte da história as crianças eram vistas como adultos em miniatura, sem status próprio, sem necessidades específicas. Além disso, até a Revolução Industrial, a infância era caracterizada no mundo pelo trabalho precoce e pela ilegitimidade de muitos.
No caso do Brasil, podemos falar das crianças desde as primeiras ocupações. Isso nos leva a conhecer um pouco sobre a infância indígena. Entre os nativos do Brasil a criança era chamada de curumim e desde cedo ajudava os pais na pesca, na caça, na agricultura e na coleta de frutos. Antes mesmo da chegada dos europeus ao Brasil, as crianças indígenas tinham o direito à diversão e eram tratadas com muito cuidado por suas mães. Elas davam diversos banhos durante o dia nos menores e tinham um cuidado todo especial com sua alimentação. Além disso, as crianças possuíam papel importante nas aldeias. Meninos e meninas, quando completavam quatro ou cinco anos de idade, aprendiam a andar pela floresta, a pescar, a caçar e a confeccionar seus próprios brinquedos. Aos meninos índios, cabiam as tarefas mais difíceis durante a infância. As meninas aprendiam a limpar as ocas, a tecer redes a fazer artesanato e também a plantar e a colher.
Já o “homem branco”, dividia suas crianças em membros da elite, formada por nobres, e famílias mais humildes. Quanto mais alta fosse a classe social dos pais, mais distante era a relação deles com seus filhos. A alimentação, por exemplo, era considerada uma tarefa exaustiva para as mães que contratavam amas de leite que, muitas vezes eram escravas negras. Existiam também babás, amas, criadas e aias.
Logo que chegavam à idade adulta, as crianças eram retiradas do seio familiar e enviadas à Europa para estudar. Nessa jornada perdiam contato com os amigos de infância que muitas vezes eram filhos dos escravos que trabalhavam nas suas fazendas.
Até a aprovação da lei do Ventre Livre, as crianças negras, a partir dos sete anos já poderiam ser separadas dos pais e também ser vendidas para outras famílias. Outro dado importante a ser mencionado é que boa parte da tripulação que vinha ao Brasil nos navios negreiros era formada por crianças, já que ocupavam menos espaço e comiam pouco.
Durante a Guerra do Paraguai (1856-1870), boa parte dos Voluntários da Pátria era formada por crianças, que eram arregimentadas nas ruas do país à força pelos soldados do Império. Durante o conflito elas eram utilizadas nas tarefas mais difíceis como carregar pólvora e municiar canhões.
É no século XX que a criança passa a ser mais valorizada. O Dia das Crianças foi criado por um político: o deputado federal Galdino do Valle Filho, na década de 1920. Em 1924, o então presidente da República, Arthur Bernardes, teria institucionalizado a data.
Naquela época, apesar da criação do dia dedicado às crianças, o mercado brasileiro não era tão dinâmico e o dia das crianças não era comemorado como nos tempos atuais, nos quais os menores recebem muitos presentes e mimos.
Foi na década de 1960 que a coisa mudou. Naquela época, observando que a data poderia ser explorada comercialmente, a fábrica de brinquedos Estrela e a indústria Johnson & Johnson se uniram para lançar a “Semana do Bebê Robusto”. Como o próprio nome dizia, durante essa semana se exaltava a saúde das crianças e sua aparência física, que poderia ser melhorada, é claro, com os produtos da Johnson & Johnson e com o acalento dos brinquedos da Estrela. A partir dessa campanha, outras empresas aderiram à data para aumentar suas vendas e, atualmente, o Dia das Crianças responde por uma considerável fatia das vendas das lojas, só perdendo para o Natal e para o dia das mães. O setor de brinquedos e vestuário espera ansiosamente por essa data, pois sabe de sua importância para as famílias de todo o país.
Hoje, a criança tem um papel relevante mas, como vimos, nem sempre foi assim. Até o início do século, a criança não tinha um status próprio. Ela era tratada como um mini adulto, obrigada a se comportar e até mesmo se vestir como tal. Nos dias atuais, a ela é soberana em casa. Isso ocorre devido à crescente participação da mulher no mercado de trabalho. A ausência dos pais em casa leva o casal a querer compensar a criança de alguma forma e, para suprir os desejos dos filhos, acabam recorrendo ao consumo, o que não resulta muitas vezes, em adultos com boa formação.
Ricardo Barros Sayeg é professor de História do Colégio Paulista, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo, formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.
Dia 12 de outubro é comemorado o Dia das Crianças. Convido os leitores a conhecerem um pouco mais sobre a história das crianças no Brasil e no mundo. Na verdade, a preocupação com a história dos pequenos é antiga na historiografia brasileira. O sociólogo, antropólogo e escritor Gilberto Freire desejou escrever um livro chamado a História do Menino Brasileiro no qual o famoso autor pernambucano pretendia escrever sobre sua passagem da infância à vida adulta, sem ter adolescência. Isso está relatado em seu livro Em Tempo Morto, Outros Tempos.
Durante uma grande parte da história a criança foi negligenciada. Da Pré-História até a Idade Média “as pessoas morriam feito moscas”. A falta de cuidados e tecnologia fazia também com que os índices de natalidade fossem muito altos. A alta taxa de mortalidade, segundo a historiadora Mary Del Priori, em seu livro a História da Criança no Brasil, era associada à ideia de que uma criança morta era mais um anjo no céu. Para Gilberto Freire, em seu livro mais importante Casa Grande e Senzala, de 1933: “O anjo ia para o céu. Para junto de nosso Senhor, insaciável em cercar-se de anjos”, tal era o índice de mortandade entre os recém-nascidos. Em uma grande parte da história as crianças eram vistas como adultos em miniatura, sem status próprio, sem necessidades específicas. Além disso, até a Revolução Industrial, a infância era caracterizada no mundo pelo trabalho precoce e pela ilegitimidade de muitos.
No caso do Brasil, podemos falar das crianças desde as primeiras ocupações. Isso nos leva a conhecer um pouco sobre a infância indígena. Entre os nativos do Brasil a criança era chamada de curumim e desde cedo ajudava os pais na pesca, na caça, na agricultura e na coleta de frutos. Antes mesmo da chegada dos europeus ao Brasil, as crianças indígenas tinham o direito à diversão e eram tratadas com muito cuidado por suas mães. Elas davam diversos banhos durante o dia nos menores e tinham um cuidado todo especial com sua alimentação. Além disso, as crianças possuíam papel importante nas aldeias. Meninos e meninas, quando completavam quatro ou cinco anos de idade, aprendiam a andar pela floresta, a pescar, a caçar e a confeccionar seus próprios brinquedos. Aos meninos índios, cabiam as tarefas mais difíceis durante a infância. As meninas aprendiam a limpar as ocas, a tecer redes a fazer artesanato e também a plantar e a colher.
Já o “homem branco”, dividia suas crianças em membros da elite, formada por nobres, e famílias mais humildes. Quanto mais alta fosse a classe social dos pais, mais distante era a relação deles com seus filhos. A alimentação, por exemplo, era considerada uma tarefa exaustiva para as mães que contratavam amas de leite que, muitas vezes eram escravas negras. Existiam também babás, amas, criadas e aias.
Logo que chegavam à idade adulta, as crianças eram retiradas do seio familiar e enviadas à Europa para estudar. Nessa jornada perdiam contato com os amigos de infância que muitas vezes eram filhos dos escravos que trabalhavam nas suas fazendas.
Até a aprovação da lei do Ventre Livre, as crianças negras, a partir dos sete anos já poderiam ser separadas dos pais e também ser vendidas para outras famílias. Outro dado importante a ser mencionado é que boa parte da tripulação que vinha ao Brasil nos navios negreiros era formada por crianças, já que ocupavam menos espaço e comiam pouco.
Durante a Guerra do Paraguai (1856-1870), boa parte dos Voluntários da Pátria era formada por crianças, que eram arregimentadas nas ruas do país à força pelos soldados do Império. Durante o conflito elas eram utilizadas nas tarefas mais difíceis como carregar pólvora e municiar canhões.
É no século XX que a criança passa a ser mais valorizada. O Dia das Crianças foi criado por um político: o deputado federal Galdino do Valle Filho, na década de 1920. Em 1924, o então presidente da República, Arthur Bernardes, teria institucionalizado a data.
Naquela época, apesar da criação do dia dedicado às crianças, o mercado brasileiro não era tão dinâmico e o dia das crianças não era comemorado como nos tempos atuais, nos quais os menores recebem muitos presentes e mimos.
Foi na década de 1960 que a coisa mudou. Naquela época, observando que a data poderia ser explorada comercialmente, a fábrica de brinquedos Estrela e a indústria Johnson & Johnson se uniram para lançar a “Semana do Bebê Robusto”. Como o próprio nome dizia, durante essa semana se exaltava a saúde das crianças e sua aparência física, que poderia ser melhorada, é claro, com os produtos da Johnson & Johnson e com o acalento dos brinquedos da Estrela. A partir dessa campanha, outras empresas aderiram à data para aumentar suas vendas e, atualmente, o Dia das Crianças responde por uma considerável fatia das vendas das lojas, só perdendo para o Natal e para o dia das mães. O setor de brinquedos e vestuário espera ansiosamente por essa data, pois sabe de sua importância para as famílias de todo o país.
Hoje, a criança tem um papel relevante mas, como vimos, nem sempre foi assim. Até o início do século, a criança não tinha um status próprio. Ela era tratada como um mini adulto, obrigada a se comportar e até mesmo se vestir como tal. Nos dias atuais, a ela é soberana em casa. Isso ocorre devido à crescente participação da mulher no mercado de trabalho. A ausência dos pais em casa leva o casal a querer compensar a criança de alguma forma e, para suprir os desejos dos filhos, acabam recorrendo ao consumo, o que não resulta muitas vezes, em adultos com boa formação.
Ricardo Barros Sayeg é professor de História do Colégio Paulista, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo, formado em História e Pedagogia pela mesma universidade.
Um comentário:
Boa tarde, Eduardo!
Receita de Paz
Ora com mais confiança em Deus.
Trabalha um tanto mais.
Serve com mais alegria.
Age mais caridosamente.
Desculpa as faltas alheias com mais compaixão pelos ofensores.
Usa mais calma, particularmente nas horas difíceis.
Tolera, com mais paciência, as situações desagradáveis.
Coloca mais gentileza no trato pessoal.
Emprega mais serenidade na travessia de qualquer provação.
E, assim, com a benção de Deus, encontrarás mais segurança e paz, nas estradas do tempo, garantindo-te o êxito preciso nos deveres de cada dia, a caminho da vida maior.
(Emmanuel-Chico Xavier)
Um abraço carinhoso e que a semana que se inicia lhe seja repleta de bênçãos!
A paz esteja contigo
http://hajalluz.blogspot.com/
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