domingo, 30 de outubro de 2011

1916 - O Colosso Blindado


A máquina de moer trincheiras: o 'Big Willie' britânico é a grande novidade tecnológica desta etapa do conflito na Europa

Vem aí o ‘tanque’, novidade desta guerra – Novo veículo
de combate da Grã-Bretanha ultrapassa trincheiras e arame farpado –
Aguardada estreia deve acontecer no Somme, nas próximas semanas

Está prestes a entrar no campo de batalha a grande esperança dos aliados para vencer as trincheiras e os emaranhados de arame farpado que engessam o combate contra o inimigo – leia-se Alemanha – no front europeu. Trata-se de uma nave terrestre blindada de 28 toneladas, equipada com canhões e metralhadoras, capaz de carregar entre três e oito soldados, impulsionada por lagartas (como as que são usadas em tratores) e que, além de ultrapassar trincheiras e fazer picadinho de arame farpado, servirá como escudo para os avanços da infantaria pelos campos de combate. Desde que Londres deu o aval para a produção desses novos e revolucionários veículos de combate, no início do ano, os operários da fábrica Fosters, em Lincoln, na Inglaterra, responsável pelo projeto do colosso de ferro, trabalham febrilmente. Com isso, a empresa conseguirá entregar aos militares dentro de poucas semanas a primeira leva de veículos. Ainda sem nome oficial, estão sendo apelidados de “tanques”, por sua semelhança com os caminhões de transporte de água.

Nos testes realizados em fevereiro último, o “Big Willie”, protótipo idealizado e apresentado pela dupla William Tritton, diretor da Fosters, e Walter Wilson, da Reserva Real da Marinha, arrancou suspiros da cúpula londrina, convencida de ter encontrado a síntese ideal para o trinômio proteção-mobilidade-poder de fogo. A fabulosa nave conta com um propulsor Daimler de 105 cavalos e, além das lagartas, apresenta duas rodas traseiras para equilíbrio e direção. A máquina obteve êxito em atravessar uma trincheira de 3 metros e sobrepujar espantosamente um obstáculo vertical de 1,3 metro, movimentando-se com vigor a uma velocidade que fica entre os 3 e 6 quilômetros por hora. Maravilhados, os integrantes do comando britânico não hesitaram em assinar o cheque para uma encomenda de cem unidades. Boa parte deles já tem destino certo: a terra de ninguém do Somme, onde o colosso certamente será recebido como um verdadeiro maná belicoso.

Graças a ele: Churchill apoiou projeto

‘Churchill-móvel’ – Se comprovada sua eficácia em combate, os soldados britânicos devem juntar em suas preces de agradecimento o nome de Winston Churchill ao de Deus e do rei George. Em retrospectiva, Winnie é o responsável pela materialização do projeto do “tanque”. Foi o hoje defenestrado Churchill, quem, em fevereiro do ano passado, durante seu mandato como Primeiro Lorde do Almirantado, a despeito da oposição do Ministério da Guerra, bancou a criação do Comitê de Naves Terrestres, consciente da importância de um veículo blindado para todos os terrenos. (O Real Serviço Aéreo Naval, no início da guerra, possuía alguns carros blindados para trabalhar em conjunto com o esquadrão baseado em Dunquerque, seja como reconhecimento de terra ou resgate de pilotos; esses modelos, porém, não poderiam ser levados às trincheiras – e então a Marinha seguiu adiante no suporte aos novos projetos.) Em segredo, Tritton e Wilson desenvolveram na unidade de Lincoln o protótipo que agora entra em fabricação industrial a pedido de Londres. O oficial Wilson, porém, acredita que o “tanque” ainda pode ser melhorado, e já se dedica ao desenho de um novo modelo. É o Mark I, que, ainda no papel, tem duas configurações, o “macho” (municiado com dois canhões de seis libras nas laterais e quatro metralhadoras) e a “fêmea” (sete metralhadoras). Caso a engenhoca vingue, será a melhor amiga das tropas aliadas, não importando o gênero.
Revista Veja na História

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