Moisés teria levado milhares de pessoas à Terra Prometida. Mas, no deserto e em Israel, não há sinais de uma grande migração
por Texto Reinaldo José Lopes
A Bíblia está repleta de imagens inesquecíveis, mas pouca gente discorda de que uma das mais fortes é a de Moisés usando seu cajado para abrir o mar Vermelho e conduzir uns 600 mil israelitas rumo à liberdade. O consenso entre os historiadores, no entanto, é que a fuga dessa multidão do Egito nunca aconteceu ou, pelo menos, deu-se numa escala infinitamente menor. Em vez de serem escravos libertos e conquistadores de uma nova terra, os israelitas, ancestrais dos judeus, teriam surgido lentamente na própria Palestina, cristalizando-se a partir de povos que sempre estiveram naquela região.
De nômades a escravos
Só para refrescar a memória de quem nunca assistiu O Príncipe do Egito, vale lembrar como o Antigo Testamento relata o surgimento do povo de Israel. Segundo as Escrituras, uma família de pastores nômades que vagava pela terra de Canaã (onde hoje ficam Israel e a Palestina) se refugiou no Egito para escapar da fome e da seca. Os egípcios os receberam bem porque José, filho de Jacó (o patriarca da família, também chamado de Israel), era o primeiro-ministro do faraó. Passaram-se 400 anos e a família se tornou um povo numeroso. Com medo de que eles tomassem o poder, os egípcios os escravizaram. Inspirado por Deus, um líder carismático chamado Moisés forçou o faraó a libertar os israelitas e eles voltaram para Canaã, exterminando os habitantes da terra e tomando-a para si.
Acontece que esse roteiro parece ter mais furos que um queijo suíço. Para começar, nenhum documento egípcio ou de outros povos do antigo Oriente Médio traz qualquer menção a José, ao faraó que o “empregou” ou à fuga em massa dos israelitas. “Isso é um problema grave. O argumento de que os egípcios não registravam derrotas é falso: a saída de um pequeno grupo nem era um revés, e eles relatavam derrotas, sim, mesmo quando diziam que tinha sido um empate”, afirma Airton José da Silva, professor de Antigo Testamento do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP). A menção mais antiga a Israel fora da Bíblia data mais ou menos do ano 1200 a.C., vem – ironicamente – de um documento egípcio e fala de um povo já instalado em Canaã. Num monumento, o faraó Merneptah diz que “Israel está destruído, sua semente não existe mais” – nitidamente um exagero da parte do monarca egípcio, que dizia ter vencido Israel.
Embora a Bíblia diga que Moisés e seu povo passaram 40 anos vagando pelo deserto do Sinai, os arqueológos não acharam nem sinal deles na área durante a época – por volta de 1300 a.C. – em que o Êxodo teria ocorrido. O grande problema, porém, vem dos dados obtidos na própria terra de Canaã. Segundo Israel Finkelstein, arqueólogo da Universidade de Tel-Aviv, os assentamentos que vão dar origem às cidades israelitas começam a aparecer nas montanhas da Palestina em torno de 1200 a.C. São pequenas vilas rurais e pastoris que apresentam exatamente o mesmo tipo de cultura material – cerâmica, ferramentas, maneira de construir as casas etc. – presente nas cidades costeiras de Canaã. Ora, a Bíblia diz que os habitantes dessas cidades, os cananeus, eram um povo inimigo e totalmente diferente dos israelitas.
Mas o que a arqueologia indica é que o próprio povo de Israel era uma dissidência dos cananeus – gente que teria se estabelecido em novas vilas nas montanhas por razões que ainda não foram totalmente esclarecidas.
Outros indícios de que a hipótese da origem cananéia está certa são lingüísticos: o hebraico, língua em que foi escrito o Antigo Testamento, é quase igual ao idioma dos povos vizinhos. Sem falar no próprio nome Israel: ele termina com o nome do deus cananeu El, enquanto os israelitas adoravam Javé, diz a Bíblia.
Ainda pairam, no entanto, algumas dúvidas. Por que diabos o povo de Israel inventaria uma origem escrava e estrangeira para si próprio? E como explicar a origem genuinamente egípcia do nome de Moisés? Para alguns especialistas, isso indica que um pequeno grupo de fugitivos do Egito se incorporou, de fato, ao grupo maior de cananeus que deu origem a Israel, de forma que sua história de libertação virou parte das narrativas sobre o surgimento dos israelitas.
Refugiados da atual Palestina costumavam ir para o Egito quando havia grandes secas, o que poderia ser uma inspiração para o Êxodo.
Revista Superinteressante
3 comentários:
Olá Eduardo!
Vou comentar o que sei sobre o êxodo, não necessariamente posso provar. Mas de antemão já digo que nós os ocidentais e os não egípcios, não tivemos direito ao estudo da arte egípcia, do preparo das múmias, das construções das pirâmides , dos hieróglifos etc... Até em pouco tempo nossa história se baseava nas verdades americanas e de historiadores europeus. Nunca o Egito e a Pérsia constaram de nossos livros.
Bem,os israelitas eram muito poucos. Além de Jacó mais sete e suas famílias. o Faraó Ramsés soube que eles estavam aumentando (gerando filhos) e o medo que daí formassem um enorme número de guerreiros sem armas, apenas guiados por um Deus poderoso e sem armas. Sua única arma era e PALAVRA E O PODER. Antes do êxodo, vieram as "pragas" para que temessem e acreditassem em Moisés. Deus corrompeu as águas, infestou a cidade do faraó de rãs, houve a praga dos gafanhotos, mosquitos, moscas, mortandade de gado, a praga das úlceras etc... Com tantas provas de que havia sim um ser superior, e já amedrontados, foi fácil fazer através de uma vara, o recuo do mar e a passagem dos israelitas.
Se repararmos, as táticas de guerra continua, bem parecidas.
Bem é apenas o que sei.
Espero, ter ajudado, porque sou uma das pessoas que desde criança, questiona isso.
Abraços
Mirze
HOLA, EDUARDO. SI NO TE IMPORTA, VOY A SENTARME EN LA PLATEA DE TUS SEGUIDORES PARA PODER VER MÁS DE CERCA LO Q’ TIENES PARA DECIR ..
P.D. EL PRÓXIMO 31 DE OCTUBRE TE ESPERO EN “EL HECHIZO” ;)
SALUDOS..
Muy interesante. Hace varios años leí Las Tablas de la Ley de Thomas Mann, quien trata de hacer una explicación lógica de la salida de Egipto, sea del pueblo de Israel o del puñado de refugiados que haya salido. En cierta manera pude constatar dichas "plagas", cuando quedé en un pequeño campamento en el sur de Israel y en verdad muchas cosas inesperadas pueden pasar en un desierto; ahora me imagino esa experiencia hace miles de años (según el calendario judío, este coincide con la salida del pueblo hebreo de Egipto y ya pasa los 2500). Para ese entonces el manejo de la información climatológica y geográfica significaba poder (como argumenta Mann en su libro). Interesante las propuestas leídas. Gracias
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