Ricardo Bonalume Neto
A Guerra de Tróia não é apenas o maior mito na história do Ocidente, que deu origem à própria literatura dessa parte do planeta, com a "Ilíada" e a "Odisséia", atribuídas a Homero. Tróia também é um marco na história do turismo. Em função da lenda, já visitaram a cidade e suas ruínas celebridades como Alexandre e Júlio César.
Depois de destruída por volta de 1100 a.C., Tróia voltou a ser colonizada em 700 a.C. por gregos fascinados pelo mito. Um dos primeiros turistas ilustres foi o rei persa Xerxes, a caminho de invadir a Grécia no século 5 a.C. Segundo Heródoto, ele queria vingar a derrota troiana. Acabou derrotado.
Alexandre o Grande foi a Tróia prestar tributo àquele que julgava seu ancestral, Aquiles. Os romanos também se renderam ao mito. Achavam que descendiam de Enéias, o troiano que conseguiu escapar do saque da cidade e teria fundado Alba Longa, cidade-mãe de Roma. A história é narrada na "Eneida", de Virgílio.
O imperador louco Caracala, do século 3 d.C., envenenou um criado e fez um enterro homenageando-o, fingindo que ele era Pátroclo, o amigo de Aquiles morto em combate. O imperador Juliano, do século 4 d.C., conhecido como "o apóstata" por tentar brecar a expansão do cristianismo, também foi lá sacrificar aos deuses.
As escavações arqueológicas em Tróia sempre foram mais voltadas aos períodos mais antigos, da Idade do Bronze, desde que o alemão Heinrich Schliemann redescobriu a cidade no século passado. Em escavações entre 1932 e 1938, o americano Carl Blegen colocou em ordem o conhecimento sobre as nove Tróias que lá existiram.
O "turismo" bélico era outra praxe local. Em 1453, quando os turcos tomaram a região, chegaram a afirmar que o saque da cidade pelos gregos fora finalmente vingado. Na Primeira Guerra Mundial, quando os aliados tentaram sem sucesso tomar a região na campanha de Galípoli, um dos couraçados britânicos tinha o simbólico nome "Agamemnon".
Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 10 de março de 1994
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