quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A AFIRMAÇÃO DO NAZISMO NOS ANOS 30 E 40 DO SÉCULO XX



Memórias de um alemão
O 30 de Janeiro de 1933 não trouxe qualquer vento de revolução, mas uma mudança de governo. Hitler tornou-se chanceler. […]
Durante o mês de Fevereiro, todos os acontecimentos se limitaram às notícias publicadas nos jornais […]. É óbvio que bastantes coisas se passaram neste âmbito: o Reichstag [Parlamento] foi dissolvido […]. Verificaram-se rápidas e violentas mudanças dos altos funcionários administrativos e instaurou-se o terror durante a campanha eleitoral. Os nazis actuavam sem peias: as suas tropas de assalto irrompiam regularmente nas reuniões eleitorais dos outros partidos, abatiam quase todos os dias um ou dois adversários políticos […]. O novo Ministro do Interior da Prússia (um nazi, um tal capitão Goering) promulgou um decreto inacreditável. Ordenava que a polícia, em caso de confronto, tomasse automaticamente o partido dos nazis sem investigar responsabilidades e, além disso, disparasse contra os outros sem aviso prévio. Um pouco mais tarde, constituiu-se uma «polícia auxiliar» formada por membros das SA. […] Mais tarde, o Reichstag ardeu. […]
Hitler, rodeado de camaradas […], pronunciou estas palavras imortais às portas do Reichstag: «Se isto é obra dos Comunistas, do que não duvido, que Deus tenha piedade deles!» Nós não fazíamos a mínima ideia do que se passava. O rádio não estava ligado. […] As brigadas de intervenção já andavam por todo o lado a arrancar as vítimas da cama, a primeira grande remessa com destino aos primeiros campos de concentração: deputados de esquerda, escritores de esquerda, médicos, funcionários e advogados, que gozavam de pouca simpatia. […]
Mais ou menos no mesmo momento, foi publicado um decreto de Hindenburg que abolia a liberdade de expressão, a confidencialidade postal e telefônica dos cidadãos e conferia à polícia plenos direitos para efetuar buscas domiciliárias, confiscar e prender. […] Os partidos de esquerda haviam sido terminantemente proibidos de efetuar qualquer tipo de propaganda eleitoral. […]
Um sindicalista social-democrata de Copenick enfrentou uma patrulha das SA que irrompeu uma noite pela sua casa para o «deter». […] No dia seguinte, as patrulhas das SA apresentaram-se em Copenick, entraram nas casas de todos os habitantes de conhecida orientação social--democrata e abateram-nos sem mais explicações. […]
Mantinham-nos, em simultâneo, permanentemente ocupados e distraídos com uma sucessão ininterrupta de celebrações, cerimónias e festas nacionais. Tudo começara com uma enorme celebração da vitória antes das eleições de 5 de Março, «Dia do Despertar Nacional»: desfiles gigantescos e fogo-de-artifício, tambores, bandas de música e bandeiras espalhadas por toda a Alemanha, a voz de Hitler através de milhares de altifalantes, juramentos e promessas solenes. Desta revolução [nazi], que não se dirigia contra qualquer regime, mas contra as bases da coabitação humana na Terra, [...] o primeiro ato intimidatório foi o boicote imposto aos judeus, a  1 de Abril de 1933. Assim o decidiram Hitler e Goebbels […]: todas as lojas dos judeus seriam boicotadas. As tropas das SA montariam guarda às portas e impediriam a entrada das pessoas. O boicote atingiria também os médicos e os advogados judeus, que seriam controlados nos consultórios e nos escritórios pelas patrulhas das SA. […]
Ao mesmo tempo, arrancou uma grande «campanha de informação» contra os judeus. Os alemães foram esclarecidos, através de panfletos, cartazes e concentrações, de que fora um erro terem considerado os judeus como seres humanos. Os judeus eram, na verdade, «seres inferiores», uma espécie de animais, mas providos de características demoníacas. As consequências que havia a retirar deste facto não foram desde logo explicadas. Contudo, a expressão «Morte aos Judeus!» foi proposta como slogan de campanha e grito de guerra.
Retirado do EXAME NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO - PORTUGAL

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