segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Erasmo de Roterdã - O porta-voz do humanismo

Holandês anunciou o fim da predominância religiosa na educação, defendeu a importância da leitura dos clássicos e o desenvolvimento do homem em todo o seu potencial

Márcio Ferrari

Erasmo de Roterdã

Embora fosse clérigo e profundamente cristão, o filósofo holandês Erasmo de Roterdã (1469-1536) passou para a história por se opor ao domínio da Igreja sobre a educação, a cultura e a ciência. A influência religiosa vigorou praticamente sem contestação durante toda a Idade Média no Ocidente e ainda no tempo de Erasmo era preciso ousadia para ir contra ela. De qualquer modo, ousadia individual fazia parte das atitudes que um número crescente de intelectuais começava a enaltecer no período de transição para a Idade Moderna, entre eles o filósofo holandês. O pensamento nascente defendia a liberação da criatividade e da vontade do ser humano, em oposição ao pensamento escolástico, segundo o qual todas as questões terrenas deviam subordinar-se à religião.


O antropocentrismo - o predomínio do humano sobre o transcendente - era o eixo dessa nova filosofia, que seria posteriormente conhecida sob o nome de humanismo. A palavra deriva da expressão latina studia humanitatis, que se referia ao aprendizado, nas universidades, de poética, retórica, história, ética e filosofia, entre outras disciplinas. Elas eram conhecidas como artes liberais, porque se acreditava que dariam ao ser humano instrumentos para exercer sua liberdade pessoal
Revista Nova Escola

Revolução Francesa - Vestibular UERJ

1. UERJ-2011



O dia 14 de julho de 1789, data da queda da Bastilha, é considerado pelos historiadores um marco da Revolução Francesa.
Considerando o contexto político da França em 1789, explique a importância simbólica da queda da Bastilha para o movimento revolucionário francês.
Apresente, também, duas propostas da Revolução Francesa que ainda façam parte da ordem política contemporânea.

Comentário da questão:
A Bastilha era uma carceragem utilizada pelo regime absolutista francês para aprisionar seus inimigos políticos. Sua queda, em 1789, representou simbolicamente a vitória dos ideais revolucionários diante do Antigo Regime e o início da Revolução Francesa, movimento que ajudou a consolidar as ideias iluministas, base da filosofia liberal. A ordem política da maioria das sociedades ocidentais contemporâneas - a democracia liberal - é devedora de muitas dessas propostas, tais como direito ao voto, soberania popular, cidadania política, liberdade de religião, liberdade de expressão, igualdade perante a lei, sistema político representativo, estabelecimento do sistema republicano, estabelecimento de regimes parlamentares e divisão do poder político em três instâncias - Executivo, Legislativo e Judiciário.
2. UERJ-2012

No século XVIII, durante a Revolução Francesa, Saint Domingue, uma pequena colônia na América Central, rebelou-se contra sua metrópole, dando início à luta pela independência do Haiti, em um processo diferente daqueles que ocorreram nas demais colônias do continente americano.
Aponte uma proposta da Revolução Francesa que influenciou a independência do Haiti e a principal diferença entre este processo e as outras lutas pela independência das colônias americanas.

Comentário da questão:
Os ideais liberais de liberdade e igualdade como direitos essenciais do homem, base do liberalismo político, influenciaram sobremaneira os processos de independência das colônias americanas. No Haiti, colônia francesa, a força de tais ideias foi ainda mais contundente, em função do impacto da proposta de abolição da escravatura, feita por revolucionários franceses durante a fase do Terror, para uma sociedade colonial na qual era muito forte a presença de mestiços e negros libertos ou escravos. Essa imensa massa, que participou da luta pelo poder travada entre grandes proprietários coloniais adeptos das ideias da revolução e aqueles ainda leais ao antigo regime francês, não aceitou a revogação do fim da escravidão, definida em 1802, durante o período napoleônico. Esses indivíduos assumem então a direção da luta pela manutenção da liberdade conquistada e encaminham um movimento pró-independência da colônia. A participação ativa de escravos e libertos é um ponto singular do processo de independência do Haiti, não tendo acontecido, na mesma dimensão, em nenhuma das demais colônias americanas.
3.UERJ-2010






As exposições internacionais iniciaram-se em Londres, em 1851. A Torre Eiffel, um dos símbolos da cidade de Paris, foi erguida para a exposição de 1889, comemorativa do centenário da Revolução Francesa.
Durante a expansão capitalista europeia, no século XIX, essas exposições tiveram como principal objetivo ressaltar a importância da:

(A) cooperação financeira franco-britânica
(B) modernização tecnológica da produção
(C) consolidação das democracias burguesas
(D) uniformização dos padrões de desenvolvimento

Alternativa correta: (B)

Comentário da questão:
A expansão capitalista em países europeus, ao longo do século XIX, foi processo decorrente da Revolução Industrial. Associou-se, entre outros aspectos, à mecanização da produção, nos termos da maior articulação entre invenções científicas, criação de novas tecnologias e aplicabilidade das mesmas na estrutura econômica. Nesse contexto, a realização das exposições internacionais, a partir da década de 1850, materializou a importância daquela articulação, favorecendo uma ostentação dos resultados da modernização tecnológica para a promoção do progresso e da civilização, como exemplificado pela construção da Torre Eiffel.
Revista Vestibular UERJ

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

As mulheres de Henrique VIII


Henrique viii teve seis esposas e quase todas tiveram um destino trágico. Segundo a historiadora e biógrafa inglesa antonia Fraser, autora de As Seis Mulheres de Henrique VIII (Editora record), Catarina de aragão, ana Bolena, Jane Seymour, ana de Cleves, Catarina Howard e Catarina Parr ficaram conhecidas na história como, respectivamente, a divorciada, a decapitada, a morta, a segunda divorciada, a segunda decapitada e a sobrevivente. Seis mulheres e igual número de destinos tristes.

Todas tiveram casamentos arranjados com o monarca Tudor e não conseguiram encontrar felicidade ao lado do rei anglicano. Essa era a sina de viver ao lado do chefe de Estado mais polêmico da inglaterra. No livro, antonia Fraser também relaciona as esposas do Tudor a outros apelidos não menos pejorativos, que eram ditos nos corredores da corte, na época: Catarina de aragão era a esposa traída, pois fora trocada pelo monarca; ana Bolena era a tentadora, pois levou Henrique viii a se desfazer da esposa anterior; Jane Seymour era a boa mulher, jovem, linda e atraente; ana de Cleves era a irmã feia, pois tinha cicatrizes de varíola no rosto e, dizem, nunca deixou de ser virgem (suas núpcias com o rei nunca se consumaram); Catarina Howard era a moça má, pois traiu o monarca inglês com inúmeros homens, até que foi executada; por fim, Catarina Parr ficou conhecida como mãe, pois esteve ao lado do marido até sua morte. a pesquisadora ressalta que as mulheres de Henrique viii tinham uma personalidade forte, mas que tombaram vítimas da obsessão do rei por um herdeiro homem, algo muito importante para os monarcas da época. mesmo sem encontrar a felicidade e a paz, as seis esposas do Tudor entraram para a História junto com o marido em um dos períodos mais marcantes para a inglaterra.


Revista Leituras de História

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Notícias História Viva


Primeiro grande levante na extinta Alemanha Oriental faz 60 anos
 DEUTSCHE WELLE

Um milhão de pessoas participaram do levante popular na então Alemanha comunista pela liberdade, democracia e a unidade dos Estados alemães. O protesto foi reprimido violentamente pela polícia e por tanques soviéticos.
No dia 17 de junho de 1953, quatro anos após sua criação, a República Democrática Alemã estava à beira do colapso. O florescimento econômico da Alemanha Ocidental e a insatisfação com os rumos políticos na Alemanha Oriental levaram muitos a voltarem as costas à República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista.
A coletivização da agricultura, o desenvolvimento acelerado da indústria pesada e o pagamento de reparações de guerra debilitaram o desempenho econômico alemão-oriental. A política do Partido Socialista Unitário (SED) e seu socialismo planejado levaram a RDA a uma profunda crise em fins de 1952.
Neste ano, 180 mil pessoas haviam deixado o país. No primeiro semestre de 1953, foram 226 mil.
Oito anos após o fim da Segunda Guerra, a RDA não conseguia garantir alimentos básicos à população. No início de 1953, centenas de produtores rurais tiveram suas terras desapropriadas, assim como hotéis e pousadas.
Em abril de 1953, vários alimentos tiveram seus preços aumentados. O apogeu aconteceu em maio de 1953, com a imposição ao trabalhador de produzir 10% a mais na mesma carga horária, sem aumento salarial.
GOVERNO FAZ CONCESSÕES, MAS NÃO AUMENTA SALÁRIOS
Para atrair de volta os agricultores, comerciantes e trabalhadores que haviam emigrado para a Alemanha Ocidental, o governo socialista acenou com a possibilidade de devolução das propriedades.
A Justiça, cujas sentenças arbitrárias haviam levado à duplicação da população carcerária no período de um ano, seria encarregada de revisar suas decisões. Até mesmo com a Igreja os responsáveis pelo governo pretendiam entrar em acordo. Só o aumento salarial continuou tabu, o que foi interpretado como provocação pelos trabalhadores.
A grande onda de protestos deslanchou quando milhares de trabalhadores da construção civil se rebelaram contra reduções de fato no salário, com uma longa passeata pelas ruas de Berlim Oriental no dia 16 de junho.
Diante da sede do governo, mais de dez mil pessoas reivindicavam o fim do acirramento das normas de trabalho, convocando para o dia seguinte uma greve e uma assembleia-geral dos trabalhadores. Nessa tarde, a manifestação ainda se dispersou pacificamente.
Mas no dia seguinte, mais de um milhão de pessoas participaram de manifestações e greves em 700 cidades da RDA. Ao lado de passeatas pacíficas, ocorreram ataques a escritórios do partido e a casas de detenção para libertar prisioneiros.
A rebelião por melhores salários transformou-se rapidamente num levante pela liberdade, democracia e a unidade da Alemanha. Em faixas, os trabalhadores reivindicavam, além de melhores condições de vida, a renúncia do governo da RDA, eleições livres e a reunificação do país.
REPRESSÃO VIOLENTA
Em Berlim Oriental, o centro das turbulências, a situação se intensificou. Os governantes da RDA solicitaram auxílio aos soldados soviéticos estacionados no país. Durante muito tempo, não se soube ao certo qual tinha sido o papel do governo na repressão da revolta.
As imagens da luta desigual correram o mundo: manifestantes armados só com pedras tentaram deter os tanques soviéticos que avançavam pelas ruas de Berlim.
Documentos que se tornaram acessíveis mais tarde esclarecem que Otto Grotewohl (primeiro-ministro da RDA) e Walter Ulbricht (secretário-geral do SED) pediram expressamente aos soviéticos, na madrugada do 17 de junho, o envio de tropas à capital.
ESTADO DE EXCEÇÃO
No começo da tarde de 17 de junho, a tropa russa entrou em ação com centenas de tanques que ocupavam lugares estratégicos. A fronteira para Berlim Ocidental foi fechada. A partir das 13h foi declarado o estado de exceção.
Soldados podiam atirar para matar e os soldados aliados, na outra Berlim, não se intrometeram, com receio de iniciarem uma terceira guerra mundial. Em alguns pontos da cidade, chegaram a atirar contra os trabalhadores, fazendo a multidão correr em pânico.
Nesta tarde morreram 14 pessoas, conta Klaus Gronau, que na época tinha 16 anos. "'Não precisamos de um Exército popular, precisamos de manteiga - era o que gritávamos'", relata.
Em represália por ter participado dos protestos, ele foi transferido para o almoxarifado no local onde fazia o curso profissionalizante, para não poder falar com os clientes. Em 1957, quatro anos antes da construção do Muro, Klaus e sua família conseguiram fugir para Berlim Ocidental.
Nos dias que se seguiram, cerca de dez mil manifestantes e membros do comitê de greve foram presos. Em julgamento sumário, em 18 de junho de 1953 o operário Willy Götting foi condenado à morte por participação na revolta e imediatamente executado. Ao todo, foram detidas 7663 pessoas, das quais 1526 foram condenadas à prisão.
Alguns dias mais tarde, o Comitê Central do SED admitiu erros e decidiu cancelar o aumento de preços de alimentos e da carga de trabalho, aumentar as aposentadorias mínimas, bem como disponibilizar mais bens de consumo.
Folha de S. Paulo

Martin Luther King e o violento protesto que nunca aconteceu



Martin Luther King Jr. recebe o Nobel da Paz das mãos de Gunther Janh, do comitê do prêmio, em Oslo, Noruega, em 10 de dezembro de 1964

Martin Luther King e o líder negro Malcom X aguardam coletiva de imprensa em março de 1964


Martin Luther King Jr. durante seu famoso discurso "I Have a Dream", feito para 250 mil pessoas em Washington, no dia 28 de agosto de 1963

Martin Luther King Jr. com sua mulher, Coretta Scot King, e seus três filhos, Martin Luther King III (de pé), 5 anos, Dexter, 2, e Yolanda, 7, em março de 1963

O reverendo Martin Luther King Jr. posa ao lado do líder negro Malcolm X, em 1963

O líder Martin Luther King Jr. é recebido por sua mulher, Coretta, após deixar a corte de Montgomery, Alabama (EUA), em março de 1956

O líder Martin Luther King Jr. é recebido por sua mulher, Coretta, após deixar a corte de Montgomery, Alabama (EUA), em março de 1956

BBC BRASIL 

A história nos lembra do discurso, da multidão e do protesto pacífico. Mas nos bastidores, a famosa manifestação liderada pelo reverendo Martin Luther King Jr. em Washington, em 1963, provocou suspeitas, ansiedade e receio na Casa Branca de que o dia terminasse em violência. 

Em todo o país, uma onda de protestos havia se espalhado após semanas de disputas raciais em Birmingham, no Estado do Alabama, onde cães policiais feriram manifestantes e potentes jatos de água foram usados em crianças. 

Entre maio e o fim de agosto de 1963, houve 1.340 manifestações em mais de 200 cidades. Algumas aconteceram em comunidades por muito tempo divididas por questões raciais. Outras nunca haviam tido episódios de violência. 

A aleatoriedade dos tumultos fez com que fossem ainda mais assustadores para as autoridades. Com 200 mil manifestantes prestes a se reunir na capital dos Estados Unidos, o governo tinha medo de que Washington testemunhasse o mesmo caos e desordem. 

Para o reverendo Martin Luther King Jr., o líder não-declarado do movimento pelos direitos civis, os acontecimentos do início do verão americano haviam transformado a luta pela igualdade racial do que ele chamava de "protesto negro" em uma "revolução negra". Os Estados Unidos, segundo ele, tinham chegado a um "ponto de explosão". 

Mas as vozes da ansiedade também se fizeram ouvir dentro da administração Kennedy. 

"Assuntos que não se resolvam com justiça e equilíbrio, cedo ou tarde serão resolvidos pela força e pela violência", alertou o vice-presidente Lyndon Baines Johnson. O único conselheiro negro do presidente, Louis Martin, também alertou para uma possível confusão iminente. 

"O ritmo acelerado da inquietação dos negros", disse ele a Kennedy, em particular, "pode provocar o estado mais crítico das relações raciais desde a Guerra Civil". Durante uma reunião tensa na Casa Branca em maio, o procurador-geral Robert Kennedy também alertou seu irmão mais velho do risco de que a situação saísse do controle. 

"Os negros agora estão hostis e furiosos e eles ficarão furiosos com tudo. Não dá para conversar com eles", disse. 

"Meus amigos dizem que (até) as empregadas domésticas e funcionários negros estão hostis." 

Durante boa parte de seu governo, John F. Kennedy enxergou os direitos civis mais como um assunto político a ser administrado do que como uma questão moral a defender. 

Pender para a última alternativa era arriscar a fragmentação do partido Democrata, que na época era um amálgama conturbado de liberais do norte, segregacionistas do sul e pragmáticos, como o presidente, que tentavam manejar as diferenças. 

Kennedy, famoso por sua postura de distanciamento, tampouco tinha um compromisso emocional forte com a luta pela liberdade. Durante a maior parte do tempo, ele havia sido um observador da grande revolução social de sua época. 

No verão de 1963, no entanto, ele percebeu que seu governo poderia vir a ser definido por sua resposta à crise racial. A inação não era mais uma opção. Como ele mesmo comentou durante um discurso televisivo em junho, as "chamas da frustração e da discórdia estão queimando em todas as cidades, ao norte e ao sul". 

CONTROLE 

Para tirar os manifestantes das ruas, Kennedy havia finalmente apresentado um esperado projeto de lei que começaria a desfazer a segregação --sistema de apartheid racial que prevalecia na maior parte do sul dos Estados Unidos. 

Mas mesmo depois do pronunciamento à nação, e dado o aval da Casa Branca para a luta dos negros, os protestos e a violência continuaram. A possibilidade de uma enorme manifestação em Washington, portanto, provocava medo. 

Quando o governo descobriu, em meados de junho, sobre os planos para a manifestação em Washington, sua primeira resposta foi pressionar líderes negros pedindo o cancelamento. 

Em uma reunião na Casa Branca, Kennedy disse a Luther King e a outros líderes dos movimentos de direitos civis que não queria "um grande show no Capitólio" porque isso complicaria os esforços para transformar o projeto de direitos civis em lei. Quando as tentativas de persuasão falharam, o governo decidiu brigar pelo controle da manifestação. 

Nesse momento, o presidente foi surpreendentemente determinado. "É provável que eles venham aqui e defequem no Monumento (de Washington) inteiro", disse Kennedy a assessores. "Tenho um projeto de lei sobre direitos civis para passar e vamos fazê-lo." 

Para impedir que a manifestação se transformasse em um enorme tumulto, Kennedy ordenou uma mobilização do aparato de segurança do governo federal sem precedentes fora de períodos de guerra. 

Para começar, o FBI (a polícia federal americana) aumentou sua já vasta operação de vigilância ao movimento dos direitos civis, que incluía escutas dos telefonemas de Luther King. 

O órgão instruiu cada um de seus agentes no país a fornecer informações de inteligência sobre a quantidade de ativistas negros que planejavam ir até Washington e se eles tinham alguma ligação com organizações comunistas. 

Outro receio era o de que ativistas negros, que haviam rejeitado as táticas não-violentas de grupos de direitos civis mais moderados, tomassem conta da manifestação. Cerca de 150 agentes do FBI foram destacados para se misturarem à multidão, trabalhando em conjunto com agentes do serviço secreto. 

Outros ficavam em pontos de observação dos telhados do Lincoln Memorial, da Union Station (principal estação ferroviária) e do Departamento do Comércio, com vista para o Passeio Nacional --espaço a céu aberto que fica entre o Capitólio e o Monumento de Washington. 

Na sede do FBI, que o então diretor J. Edgar Hoover temia ser atacada por manifestantes, a segurança também aumentou. Funcionários foram instruídos a sentar longe das janelas. 

Semanas antes da manifestação, a perspectiva de violência também preocupou o departamento de polícia de Washington, que ficou em seu mais alto estado de alerta. O órgão preparou 72 possíveis cenários de desastre e uma resposta para cada um deles. 

O fato de que três lados do Lincoln Memorial eram próximos da água facilitava a situação para a polícia. Mas cada esquina de Washington também foi protegida. Na colina do Capitólio, uma fila de policiais, distantes 1,5 metro uns dos outros, rodeava o Congresso. 

Um policial ou um membro da guarda nacional estaria posicionado em cada canto do centro financeiro para garantir a segurança em caso de saques. Para reforçar a presença da polícia, centenas de oficiais extras foram trazidos de forças de áreas vizinhas, e foram especialmente treinados para lidar com os protestos. 

Apesar da grande mobilização, cães de guarda permaneceram em seus canis. Várias imagens dos protestos de Birmingham em maio, nas quais fotógrafos de jovens manifestantes foram mostrados sendo atacados por cães agressivos, chocaram tanto os americanos brancos, que a presença dos animais poderia facilmente incitar uma má reação da multidão. 

Por causa das muitas prisões esperadas para o dia, um time de juízes locais foi mantido nas salas das cortes da cidade. Na prisão do distrito de Columbia, 350 detentos foram retirados para criar espaço para os possíveis manifestantes presos. 

Cirurgias que estavam agendadas na região metropolitana de Washington foram canceladas para que 350 leitos pudessem ficassem disponíveis para emergências durante os manifestos. O hospital geral da capital chegou ao ponto de decretar um "plano nacional de desastres". 

APARATO MILITAR 

A vida em Washington foi completamente interrompida com a possibilidade de protestos. Repartições públicas fecharam e funcionários federais foram recomendados a ficar em casa. 

Também foi decretada uma "lei seca", não permitindo a venda de bebidas alcoólicas pela primeira vez desde do chamada "Prohibition" (Proibição) - decreto do governo americano que proibiu a venda de álcool entre os anos de 1919 a 1933, em um movimento para garantir a "saúde pública e moral" da população. 

O receio de uma marcha possivelmente violenta também preocupava seus próprios organizadores. O movimento era liderado pelo carismático Bayard Rustin, que decidiu atuar bem de perto da organização para garantir que ele fosse um movimento pacífico. 

Os organizadores concordaram em antecipar o horário de início da marcha para que os manifestantes não ficassem nas ruas depois de escurecer. Ainda mais difícil foi a decisão de mudar o local da concentração da marcha. 

O plano original para o protesto em massa nas escadarias do Congresso americano foi engavetado. Em vez disso, eles escolheram o Lincoln Memorial, uma área mais fácil de organizar as pessoas com menos tensão política. 

Mesmo depois de quatro semanas de planejamento meticuloso, os oficiais da administração de Washington não puderam descartar o risco de violência. Assim, no dia da marcha, no distrito de Columbia, o presidente ordenou que fosse estabelecido um centro de operações militares - o maior da história dos EUA em tempos de paz. 

Logo no início da manhã do dia 28 de agosto, cinco bases militares montadas em áreas afastadas do centro da cidade já estavam com grande atividade, com veículos pesados de guerra e 4.000 soldados organizados na operação batizada de "Inside", pronta para atuar. 

Para os fortes de Myer, Belvoir, Meade, além da base marinha de Quantico e da estação naval de Anascotia, foram trazidos 30 helicópteros com rápida capacidade de decolagem. No forte Bragg, na Carolina do Norte, 15 mil homens da força especial denominada STRICOM foram posicionados em sobreaviso, prontos para serem levadas à área dos confrontos pelo ar. 

Se a violência se disseminasse, a rapidez com que as tropas chegassem a Washington seria essencial. Todas as proclamações presidenciais, ordens executivas e cartas de instrução militar foram preparadas antecipadamente. 

Se os protestos começassem, a Casa Branca emitiria uma proclamação presidencial exigindo que os manifestantes se dispersassem imediatamente. 

Se a violência persistisse, o presidente assinaria uma ordem executiva autorizando o Pentágono (o departamento de segurança nacional dos EUA) a tomar "todas as medidas necessárias" para dispersar a multidão. Um memorando confidencial, demonstrava bem isso: "(A) intenção de utilizar a mínima força não deve prejudicar o fim da missão". 

Em resposta ao possível deterioramento da situação, tropas utilizariam primeiramente rifles não carregados como forma de intimidação, com baionetas acopladas (parte cortante fixada às armas). 

Se isso falhasse, gás lacrimogênio poderia ser utilizados, assim como rifles carregados com munição. A missão ganhou o nome de Operação Washington. Tão pesado era o arsenal militar, que um repórter observou à época que "a cidade foi transformada da capital da nação em tempo de paz para uma nação em guerra". 

28 DE AGOSTO 

Em toda a manhã do dia 28 de agosto, enquanto manifestos ganhavam forma do lado de fora de sua janela, o Presidente Kennedy permanecia seguro dentro da Casa Branca liderando uma reunião com estrategistas em política internacional para discutir a guerra do Vietnã. 

Antecipadamente à marcha, ele tinha resistido às exigências de Martin Luther King e demais líderes das chamadas "Big Six" (grandes seis) organizações de direito civil de recebê-los em audiência naquela manhã, já que ele não gostaria de ser identificado como um líder muito próximo das manifestações que poderiam se tornar violentas. 

Seus conselheiros também estavam preocupados com a possibilidade de que os líderes negros chegassem à Casa Branca com uma lista de requisições nada razoáveis, impossíveis para o presidente realizar. 

Se eles deixassem o salão oval da casa presidencial sem um acordo, toda a demonstração nas ruas poderia mudar drasticamente. Para desapontamento dos organizadores da marcha, Kennedy decidiu ser contra a iniciativa de enviar aos manifestantes uma mensagem presidencial, temendo que isso poderia provocar manifestações contra ele no "Mall" --área pública que circunda a Casa Branca. 

Em vez disso, ele concordou em receber uma delegação de líderes negros na Casa Branca somente depois que a marcha terminasse, com a esperança de que isso abrandasse a retórica contra ele. 

Como precaução extra contra pronunciamentos inflamados - e também para prevenir os subversivos de tomar o controle do sistema de anúncio presidencial - um oficial da administração foi posicionado do lado direito do Lincoln Memorial com um interruptor para desligar o equipamento de som e também com uma vitrola de tocar discos. 

Se os manifestantes conseguissem tomar o palanque do microfone, o som seria cortado e a música "Ele tem o mundo todo em suas mãos", cantada por Mahalia Jackson, seria tocada no lugar. 

DISCURSO HISTÓRICO 

Às 13h40, a asa oeste da Casa Branca acomodava uma pequena televisão no salão oval por meio da qual Kennedy começou a assistir King pouco antes de ele começar a falar. 

De pé e posicionado bem no meio da escadaria do mais magnificente púlpito que a América poderia oferecer, o orador pairou o olhar sobre o imenso "mar" de 200 mil manifestantes que se aglomeravam nos dois lados do espalho d'água até além dos limites do Mall, chegando ao Monumento Washington. 

Milhares também formavam uma multidão nas áreas laterais do gramado, enquanto outros se mantinham na água da piscina com água até os joelhos para amenizar o calor. Outros ainda cantarolavam amontoados nas árvores expostas à brisa de fim de tarde. Eles não estavam apenas cantando, mas rezando, se abraçando, dando risadas e aplaudindo. 

Com a imponente estátua de Abraham Lincoln pairando sobre ele, King então começou a falar para os manifestantes que sua presença à sombra simbólica do "grande emancipador" oferecia uma prova maravilhosa de que uma nova ordem estava se espalhando pelo país. 

Por muito tempo, ele reclamou do fato de os americanos negros serem exilados na sua própria terra, "paralisados pelas amarras da segregação e das correntes da discriminação". 

Seria fatal para a nação "não vislumbrar a urgência do momento e subestimar a determinação do negro". Sofrendo com o calor sufocante, a primeira reação dos manifestantes foi o silêncio. O discurso não estava indo bem. 

"Fale para eles sobre o sonho, Martin", gritou Mahalia Jackson, se referindo ao já conhecido artifício de discurso utilizado por King muitas vezes. 

A mensagem não havia entrado no discurso planejado por ele, porque seus assessores insistiram em material novo. Mas King decidiu deixar de lado suas anotações e adentrou espontaneamente no refrão pelo qual ele será lembrado para sempre na história. 

"Eu tenho um sonho de que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença", gritou King com seu braço direito levantado para o céu. Rapidamente, ele já estava ganhando seu ritmo vigoroso pela coro emocionado da multidão. "Sonhe!", gritavam eles. "Sonhe!" 

Com sua voz alcançando toda a extensão do Mall, King imaginou um futuro em que crianças poderiam "viver numa nação onde eles não seriam julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu carácter". Foi assim que ele alcançou seu caloroso final. 

King ainda pediu à multidão para sinalizar se estavam ouvindo bem. 

Assistindo na Casa Branca, o presidente Kennedy estava imóvel. Como muitos americanos, esta foi a primeira vez que ele ouvira o discurso de um orador de 34 anos em sua totalidade - pela primeira vez ele avaliou seu método e ouviu sua cadência. 

"Ele é bom", disse Kennedy para um de seus assessores. "Ele é muito bom". Entretanto, o presidente parecia ter se impressionado mais pela qualidade da performance de King do que no poder de sua mensagem. 

Mas a mensagem era vital. King fez um poderoso discurso pela mudança racial de forma não-violenta. E fez isso com tanta eloquência e poder que a mensagem reverberou não apenas no Mall de Washington, mas também na sala de estar dos americanos. 

Dias terríveis e violentos se seguiram. Ainda assim, mesmo com toda a preocupação com a segurança antes do manifesto, 28 de agosto de 1963 foi um dia incrivelmente belo. 

Sem confrontos, a marcha provou-se um alívio para a polícia. Até o cair da tarde, houve apenas três prisões, todas envolvendo brancos. No evento, a única ameaça para a polícia não veio de um manifestante desordeiro, mas do frango distribuído mais cedo naquela manhã, que não havia sido refrigerado adequadamente. 

Pouco depois das 16h, o chefe da polícia emitiu sua mais importante ordem do dia: nenhum dos oficiais deveria, sob qualquer hipótese, tocar no frango que fora preparado para o jantar. 

Aos pés do Lincoln Memorial, Martin Luther King e seus colegas foram colocados em uma caravana de limousines oficiais que bem devagar cruzaram por entre a multidão no trajeto até a a Casa Branca. 

Kennedy então recebeu os líderes negros com cumprimentos e repetiu o sonoro refrão que elevou o movimento de direitos civis a um novo plano espiritual: "Eu tenho um sonho". E assim, ele encaminhou todos ao salão oval.
Folha de S. Paulo

Notícias História Viva


Vietnã ainda sofre com químico jogado por EUA há 40 anos

BBC BRASIL


Quase 40 anos depois de seu fim, a Guerra do Vietnã continua fazendo vítimas.

Muitas crianças nascem no país com malformação congênita, resultado da contaminação que o país sofreu por agente laranja.

A substância química foi jogada por Forças Americanas no solo para destruir plantações agrícolas e desfolhar florestas usadas como esconderijo pelos inimigos, mas acabou causando danos e contaminação que duram até hoje.

A Cruz Vermelha diz que 150 mil casos de malformação congênita estão ligados à substância. Os Estados Unidos contestam esses números.

O programa Inside Out, da BBC, acompanhou o trabalho de uma equipe de cirurgiões de Londres que foram para a região de Da Nang realizar plásticas em crianças que ainda hoje nascem com defeitos decorrentes do químico.
Folha de S. Paulo

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Rasputin - AS ORIGENS DE UM DEVASSO

SÉRGIO PEREIRA COUTO
Pouco se sabe sobre a vida de Rasputin antes de ele começar a fazer parte da corte russa. Estima- se que ele nasceu em 22 de janeiro de 1869, na aldeia de Pokroskoye, em Tolbolks, na Sibéria. O monge era filho de um camponês siberiano, e já em sua terra natal ganhou a alcunha de Rasputin, que em russo significa "devasso". O envolvimento com bebidas, mulheres e brigas ajudou a compor o personagem de curandeiro doido. Além disso, pouco mais se sabe sobre sua vida pregressa, embora corram boatos a respeito de uma viagem ao Oriente Médio, um casamento, e algumas peregrinações. Dizem que ele tinha comportamento rude e era semi-analfabeto.


Ao contrário da sobriedade e discrição da Igreja Ortodoxa Russa, Rasputin era adepto da seita dos "flagelantes". Acreditava que o caminho da redenção espiritual passava pela entrega ao pecado e o arrependimento era o caminho para a iluminação


A maioria dos pesquisadores costuma concordar que Rasputin participou de uma seita chamada Khlysty, que significa "flagelantes". Esse grupo doutrinário foi banido pela Igreja Ortodoxa por pregar que todos os desejos dos homens deveriam ser satisfeitos, e expressava seu fervor religioso por meio da realização de orgias noturnas. Essa era a filosofia de Rasputin: o caminho para a redenção passava pela entrega ao pecado, que era seguida do arrependimento. Foi durante o período em que passou entre os seguidores da seita que ele teria desenvolvido seu dom para magnetizar e impressionar as pessoas.

Além da vida religiosa, dizem que Rasputin casou com uma mulher, com quem teve quatro filhos. Um dos meninos morreu quando ainda era criança. O outro sofria de retardo mental e ficou com a mãe na aldeia siberiana. As duas filhas foram para São Petersburgo com o pai, e lá foram educadas e viveram com Rasputin até ele morrer, embora não se exista nenhum registro do destino delas após a morte do monge.

Rasputin teria visto o "caminho da iluminação" depois de passar alguns meses em um mosteiro siberiano, onde se tornou um starets, termo russo que se refere a líderes espirituais. Ele costumava dizer: "se para a salvação do espírito é necessário o arrependimento, para o arrependimento acontecer é preciso o pecado. Então o espírito que quer ser salvo, deve começar a pecar o quanto antes".

Durante uma de suas peregrinações, Rasputin foi parar em São Petersburgo, capital da Rússia até 1918. Lá, o monge começou a curar as pessoas por meio do mesmo método que depois usou com o filho do czar: se jogava no chão e começava a rezar. Dizem que todos os enfermos saiam das sessões curados. O curandeiro procurou o padre João de Kronstadt, o mais venerado da cidade. Diante do clérigo, Rasputin se apresentou como um pecador arrependido. Sua humildade e habilidade como pregador arrebatado impressionou Kronstadt, a ponto de ele e outros religiosos o considerarem apto a trabalhar junto aos camponeses analfabetos. Foi assim que Rasputin conquistou admiradores em São Petersburgo, e acabou sendo apresentado ao czar Nicolau II. Os tempos de andanças e fome acabaram para o curandeiro.
Revista Leituras da História

O FIM DOS ROMANOV

A morte de Nicolau II e sua família, em 17 julho de 1918, colocou um ponto final na Casa de Romanov, a última dinastia imperial da Rússia, que governou o país de 1613 a 1917. Na verdade, os autênticos Romanov comandaram a Rússia até 1762. A partir daí, o país foi controlado pela Casa de Oldenburg, descendentes do casamento de uma duquesa Romanov com o duque de Holstein-Gottorp, que mantiveram o apelido Romanov.



No dia da execução, os Romanov estavam na Casa Ipatiev, uma propriedade mercadante da cidade russa de Yekaterinburg. A família foi acordada por oficiais bolcheviques e levada para o porão. Primeiro foi Nicolau, que estava com 50 anos, e o filho Alexei, 13. Em seguida desceram, Alexandra, 46, e as filhas Olga, 22, Tatiana, 21, Maria, 19, e Anastácia, 17. Também estavam presentes o médico da família, o cozinheiro, uma empregada e um criado.

Yakov Yurovsky, o oficial bolchevique que encarregado pela execução, alinhou as 11 pessoas contra a parede, como se fosse tirar um retrato. Então chamou o pelotão de fuzilamento e comunicou que o Comitê Executivo dos Urais havia decidido matá-los. Depois o oficial atirou no ex-czar, que morreu instantaneamente.

Cada membro do pelotão tinha ordem para matar um membro daquele grupo, mas o espaço do porão era muito pequeno e apertado, o que fez com que os oficiais não se posicionassem bem. Para piorar, as balas que foram disparadas contra Alexandra e as demais mulheres ricochetearam por causa das jóias que elas mantinham escondidas nos espartilhos. Em conseqüência disso, elas foram mortas por baionetas e coronhadas.

O enterro das vítimas foi completamente caótico, pois os guardas que acompanhavam os corpos apenas se preocupavam em pegar as jóias das mulheres e pouco se importavam com os cadáveres. Tanto que os corpos foram jogados nos poços de uma mina e permaneceram lá por cerca de 24 horas, até que decidiram levá-los para um local mais discreto. Mas o caminhão que os transportava os mortos atolou na lama, e foi por lá mesmo que os Romanov foram despejados.


No local onde os Romanov foram assassinados, na cidade de Ecaterimburgo, hoje fica a Igreja Ortodoxa Russa do Sangue


Os jornais que relataram a morte dos Romanov não deram muitos detalhes sobre a execução. O jornal Pravda disse apenas a família havia sido "enviada para um local mais seguro". Isso foi o suficiente para surgirem boatos sobre membros que teriam conseguido escapar da execução, por meio da ajuda de um guarda que teria ficado com pena deles. Como os corpos desapareceram, muitas pessoas começaram a se apresentar como um dos filhos Nicolau.



Um desses casos aconteceu na Alemanha, em 1920. Uma mulher chamada Anna Anderson tentou pular no canal Landwehr, em Berlim. Ao ser interrompida por um guarda, ela disse que era a princesa Anastácia, a mais jovem das filhas de Nicolau II, e que tinha conseguido fugir do massacre com a ajuda de um soldado polonês. A mulher disse também que havia viajado da Rússia para a Romênia em uma carroça, e que tentou buscar ajuda de uma tia que vivia na Prússia. Como não conseguiu provar sua identidade, tentou se jogar no rio em Berlim.

Mas as alegações de Anna logo foram rebatidas por parentes dos Romanov. Ela era muito arrogante, inclusive com as pessoas que acreditavam nela, e, para piorar, recusava-se a falar em russo. Não demorou muito para ser classificada como impostora.

Mesmo assim, por muitos anos foi comum na Rússia aparecer pessoas dizendo ser tal filho de Nicolau II. Até que em 1992, os restos mortais da família foram encontrados por arqueólogos russos, e sepultados na catedral de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo. Análises de DNA comprovaram que realmente os cadáveres eram da família imperial.
Revista Leituras da História

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Getúlio Vargas - Vestibular UERJ

1. UERJ-2013


Os governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek foram momentos marcantes da história econômica brasileira, especialmente no que se refere ao desenvolvimento industrial do país.
Uma semelhança entre o processo de industrialização brasileiro verificado no governo de Vargas e no de JK está apontada em:

(A) expansão do mercado interno
(B) flexibilização do monetarismo
(C) regulação da política ambiental
(D) autonomia do progresso tecnológico

Alternativa correta: (A)

Comentário da questão:O governo de Vargas e o de Juscelino Kubitschek foram marcantes no processo de industrialização brasileiro. Nesses dois períodos, registrou-se grande avanço desse setor, o que alterou significativamente o perfil socioeconômico do país. Apesar das diferenças, o avanço da atividade fabril nos dois governos inseriu-se no que foi denominado posteriormente como processo de industrialização por substituição de importações. Em outras palavras, tratou-se de substituir os produtos que anteriormente eram comprados no exterior por produtos produzidos nacionalmente a fim de atender o crescente mercado interno. As imagens mostram fábricas inauguradas pelos dois presidentes, ambas destinadas a essa finalidade.
2. UERJ-2012


Alexandre Marcondes Filho foi ministro do trabalho do governo de Getúlio Vargas, entre 1941 e 1945. Seu texto, impresso nas carteiras de trabalho, reflete as políticas públicas referentes à legislação social que vinha sendo implementada naquela época.
Duas características dessa legislação estão indicadas em:

(A) garantia da estabilidade de emprego / liberdade de associação
(B) previsão de assistência médica / intensificação do controle sindical
(C) proibição do trabalho infantil / regulamentação do direito de greve
(D) concessão de férias remuneradas / qualificação do trabalhador rural

Alternativa correta: (B)

Comentário da questão:Entre as muitas transformações realizadas durante o governo de Getúlio Vargas, destaca-se a criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio. Esse órgão foi o responsável, entre outras atribuições, pela maior presença do poder de Estado nos conflitos entre capital e trabalho. Institui-se, então, paulatinamente, entre 1931 e 1945, um conjunto de leis reguladoras dos direitos e deveres dos trabalhadores urbanos, empregados no comércio e na indústria: delimitação da jornada de trabalho, férias remuneradas, previsão de assistência médica para acidentes, regulamentação do trabalho feminino e infantil. Em pararelo, o governo controlava os sindicatos, no sentido de que apenas os que fossem reconhecidos pelo MTIC poderiam usufruir dos benefícios trabalhistas. A carteira de trabalho, como registrado no seu texto de abertura, no momento de sua criação, representou símbolo maior de ações do governo assentadas na perspectiva de beneficiar o trabalhador de áreas urbanas, restringindo contudo a autonomia dos sindicatos.
3. UERJ-2013



Os cartazes acima foram produzidos para atrair apoio popular para um movimento de oposição ao governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1934). Esse movimento colocou do mesmo lado o Partido Republicano Paulista e o Partido Democrático, tradicionais adversários políticos no estado de São Paulo.
Nomeie esse movimento e indique uma justificativa apresentada pelos paulistas para considerar o governo provisório de Vargas “uma ditadura”.

Objetivo: Identificar o movimento de oposição ao governo provisório de Getúlio Vargas e explicar sua motivação.
Item do programa: Estado e industrialização na América Latina
Subitem do programa: Nacional-estatismo, crescimento industrial e transformações no mundo do trabalho, com ênfase no estudo dos casos brasileiro, argentino e mexicano

Comentário da questão:
O governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1934) tinha como sustentação diferentes setores da sociedade brasileira, descontentes com o domínio oligárquico da Primeira República. No entanto, esse governo não ficou isento de oposição, principalmente de forças políticas paulistas, não apenas a antiga elite dominante presente no Partido Republicano Paulista, mas também os integrantes do Partido Democrático, tradicional adversário político do PRP em São Paulo.
Os principais motivos para a oposição paulista ao governo provisório de Vargas foram: a demora na convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, fato que permitia ao executivo federal governar por meio de decretos-leis; a nomeação de interventores para os executivos estaduais; a dissolução do Congresso Nacional e dos legislativos estaduais e municipais, que ampliou o poder discricionário do presidente. Considerando demasiada a demora na solução constitucional por parte do governo federal, as elites paulistas dão início a uma rebelião que é conhecida pela denominação de Revolução Constitucionalista de 1932.
4. UERJ-2013





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Juscelino Kubitschek e Emílio G. Médici são duas figuras representativas das décadas de 1950 e 1970. Essas duas décadas correspondem, respectivamente, aos seguintes contextos políticos no Brasil:

(A) estatismo e liberalismo
(B) privatismo e populismo
(C) agrarismo e caudilhismo
(D) desenvolvimentismo e autoritarismo

Alternativa correta: (D)

Comentário da questão:
A história brasileira no período posterior a 1945 é marcada por tentativas de estabelecer as bases do processo de industrialização, implementadas no segundo governo de Getúlio Vargas e concretizadas no governo de JK. O Plano de Metas de JK, anunciado como a possibilidade de realizar em 5 anos aquilo que não havia sido feito em 50, foi a peça central da política conhecida como "desenvolvimentismo", que alcançou o seu auge com a construção de Brasília. A mudança da capital do Brasil para o interior era considerada um requisito para o progresso do país. Nessa conjuntura, ainda se verifica a manutenção da democracia por meio de eleições livres e gerais e pelo estímulo ao caráter plural da sociedade brasileira. Esse projeto de futuro, porém, foi abortado pelo movimento militar de 1964, que, anunciando a existência de um complô comunista internacional, elaborou um modelo de governo baseado na construção de um Estado autoritário, restringindo a participação política da sociedade.
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Revolução Industrial - Vestibular UERJ

1. UERJ-2010



O texto e a imagem apresentada fazem referência a um mesmo processo histórico: a Revolução Industrial.
A] Cite uma consequência da Revolução Industrial que favoreceu a consolidação do capitalismo.
B] Aponte duas mudanças no mundo do trabalho ou na vida social resultantes do estabelecimento do capitalismo.

Comentário da questão:
A Revolução Industrial é interpretada como um processo revolucionário por incorporar uma série de eventos que provocaram a definitiva separação entre os que detêm o controle dos meios de produção - matéria-prima, máquinas e equipamentos, instalações industriais etc. - e os trabalhadores, denominados operários. Estes, destituídos do controle desses meios, passam a sobreviver vendendo por baixos salários a sua força de trabalho aos empresários industriais. Desse modo, a Revolução Industrial constrói a principal característica do sistema de produção capitalista: a separação entre o capital e o trabalho.
A mecanização da produção, o inchamento das cidades industriais com o êxodo rural, a alienação do homem em relação ao seu trabalho, a impessoalidade das relações sociais estabelecidas no ambiente de trabalho, espaço cada vez mais apartado do lar, e o estranhamento provocado por uma vida individual e familiar regrada a partir das necessidades do capital são elementos desse novo modo de produção. Destaque-se que, em relação à organização da vida familiar, ocorre a inclusão na fábrica da força de trabalho de mulheres e crianças, tendo em vista os baixos salários pagos, insuficientes para a sobrevivência nas cidades.

2. UERJ-2010





A Revolução Industrial provocou grandes mudanças em algumas cidades inglesas a partir de finais do século XVIII. A imagem de Birmingham, de 1886, e o fragmento do romance Tempos difíceis, publicado em 1854, apresentam sinais dessas transformações.
Apresente uma mudança causada pelo processo de industrialização nas cidades inglesas e uma de suas consequências para as condições de vida do operariado.

Comentário da questão:A imagem de Birmingham e o texto de Charles Dickens expressam, de formas diferenciadas, a transformação das cidades acarretada pelo processo de industrialização na Inglaterra, entre finais do século XVIII e no decorrer do século XIX. Entre as mudanças associadas a esse processo, podem ser identificadas:• crescimento populacional decorrente da ampliação da demanda por mão de obra, alimentado por feixes migratórios originários das áreas rurais;• alteração do espaço natural em função da concentração de indústrias em áreas urbanas, causadora de efeitos poluentes associados tanto aos progressos tecnológicos aplicados na mecanização da produção, quanto à própria expansão demográfica;• expansão, diversificação e maior complexidade da paisagem urbana, manifestas na separação entre bairros operários, mais próximos das zonas de localização das indústrias, e bairros nobres, áreas de lazer e logradouros destinados à administração.Essas mudanças geraram consequências nas condições de vida do operariado urbano, como a crescente divisão do trabalho, a padronização dos ritmos de trabalho e de vida, a exploração do trabalho feminino e infantil e a marginalização de grupos sociais, visível no crescimento da criminalidade.
3.. UERJ-2010



As exposições internacionais iniciaram-se em Londres, em 1851. A Torre Eiffel, um dos símbolos da cidade de Paris, foi erguida para a exposição de 1889, comemorativa do centenário da Revolução Francesa.
Durante a expansão capitalista europeia, no século XIX, essas exposições tiveram como principal objetivo ressaltar a importância da:

(A) cooperação financeira franco-britânica
(B) modernização tecnológica da produção
(C) consolidação das democracias burguesas
(D) uniformização dos padrões de desenvolvimento

Alternativa correta: (B)

Comentário da questão:A expansão capitalista em países europeus, ao longo do século XIX, foi processo decorrente da Revolução Industrial. Associou-se, entre outros aspectos, à mecanização da produção, nos termos da maior articulação entre invenções científicas, criação de novas tecnologias e aplicabilidade das mesmas na estrutura econômica. Nesse contexto, a realização das exposições internacionais, a partir da década de 1850, materializou a importância daquela articulação, favorecendo uma ostentação dos resultados da modernização tecnológica para a promoção do progresso e da civilização, como exemplificado pela construção da Torre Eiffel.

4. UERJ-2012


As sociedades industriais modernas desenvolveram formas de medir o tempo associadas ao uso do relógio e à padronização dos horários em escala nacional, como no caso da Inglaterra, no decorrer do século XIX.
Um dos efeitos dessas medidas padronizadoras do tempo se manifestou basicamente na regulação dos:

(A) ritmos do trabalho
(B) sistemas de plantio
(C) níveis de escolaridade
(D) fluxos de investimentos

Alternativa correta: (A)

Comentário da questão:A Inglaterra foi a primeira sociedade europeia a vivenciar a Revolução Industrial e, portanto, a primeira também a sentir os efeitos dos progressos tecnológicos na alteração dos ritmos da vida social. Como mencionado no texto, a padronização dos horários dos trens e a criação de referências uniformes para a medição do tempo, no território nacional, foram necessidades causadas pelas novas demandas de mercado, nos quadros da mecanização da produção e dos transportes coletivos. A produtividade mais acelerada de uma economia industrial dependia intrinsicamente da regulação e da divisão do trabalho assalariado, garantindo, de maneira complementar, lucros crescentes.

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Regime Militar no Brasil - Vestibular UERJ

1. UERJ-2009
Entre a posse do presidente João Goulart, em 1961, e a abertura política, iniciada em 1979-1980, a economia brasileira enfrentou conjunturas de crise e de prosperidade, perceptíveis nas variações dos índices econômicos apresentados na tabela a seguir.



As particularidades do período conhecido como “Milagre Econômico” foram caracterizadas por:

(A) redução das taxas de inflação e crescimento do PIB
(B) incremento da dívida externa e retração das importações
(C) estagnação das exportações e manutenção das taxas de inflação
(D) estabilização da balança comercial e diminuição da dívida externa

Alternativa correta: (A)
Comentário da questão:
Entre os aspectos da conjuntura de crise que afetou o governo de João Goulart (1961-1964), destacou-se a escalada inflacionária e o quadro recessivo da economia. Os dirigentes que assumiram o poder executivo federal em abril de 1964 priorizaram, entre outras ações, a reversão dessa situação econômica. Ampliaram-se os investimentos estatais, facilitou-se a entrada de capitais estrangeiros e instauraram-se mecanismos de estabilização do valor da moeda nacional. A partir de 1968, como indicado na tabela, um dos resultados mais expressivos dessas medidas manifestou-se nos elevados índices do PIB e também na contenção da inflação na casa dos 20% ao ano. O governo divulgava esse quadro de crescimento em suas propagandas como um milagre econômico, escamoteando, em parte, as medidas derivadas desse tipo de orientação: a elevação da dívida externa, a facilitação dos mecanismos de crédito e o controle dos salários.

2. UERJ-2012


Entre 1969 e 1973, em função das taxas de crescimento então alcançadas, o momento econômico do país ficou conhecido como o do "milagre brasileiro".
Com base no testemunho do movimento operário e na publicidade, pode-se concluir que os principais efeitos do "milagre brasileiro" foram:

(A) elevação do PIB - expansão dos sindicatos
(B) nacionalização da indústria - revisão das leis trabalhistas
(C) modernização da tecnologia - qualificação da mão-de-obra
(D) internacionalização da economia - concentração de renda

Alternativa correta: (D)
Comentário da questão:
O "milagre brasileiro" caracterizou-se pelas elevadas taxas de crescimento do produto interno bruto, em paralelo a índices relativamente baixos de inflação. Seus efeitos, contudo, não foram os mesmos para os sujeitos envolvidos nas relações entre capital e trabalho. No que diz respeito ao capital, destacaram-se os estímulos governamentais a setores industriais — como os de tecnologia de ponta —, incluindo-se a facilitação para os investimentos de empresas estrangeiras, além da ampliação dos investimentos estatais. Quanto ao mundo do trabalho, vigorou a política de arrocho salarial — alvo maior das críticas do movimento operário —, que acentuou a concentração de renda.
3. UERJ-2011



No decorrer da década de 1970, medidas econômicas implementadas pelos governos militares afetaram de maneiras variadas as condições de vida dos brasileiros, como ilustram a propaganda e a charge.
Indique duas dessas medidas econômicas e dois dos seus efeitos sociais.
Comentário da questão:
Ao longo da década de 1970, a sociedade brasileira vivenciou os efeitos de ações dos governos militares, centradas na perspectiva de promover o desenvolvimento nacional. Houve, nos termos da época, o milagre econômico, então caracterizado pelas elevadas taxas de crescimento do produto interno bruto e pela contenção da inflação. O milagre econômico, contudo, gerou efeitos variados sobre os diversos segmentos sociais do Brasil da época. Como ilustram a propaganda e a charge, setores da classe média ampliaram seu poder de consumo de bens duráveis, como os automóveis; ao passo que, os grupos populares mantiveram condições precárias de trabalho e de vida. Assistiu-se ao aumento da riqueza e, em paralelo, à maior concentração de renda.
Entre as medidas do milagre econômico, destacaram-se, igualmente:
• o favorecimento do grande capital;
• o controle cambial pelo poder do Estado;
• a facilitação do crédito destinado ao consumo de bens duráveis, além dos insumos para a expansão desse setor produtivo, com destaque para a indústria de automóveis e de eletrodomésticos;
• o controle da mão de obra por meio da repressão ao movimento sindical e pela implementação de políticas de arrocho salarial.
Entre os efeitos do milagre econômico, relacionados à maior concentração de renda, identificam-se a perda da estabilidade de emprego e o aumento das desigualdades sociais e regionais e da concentração da propriedade rural e urbana.

4. UERJ-2013



O texto da reportagem faz referência a duas fases distintas da política territorial na Amazônia durante o regime militar.
Dois exemplos dessa política de ocupação, para o período 1964/1973 e para o período 1973/1985, respectivamente, foram as implantações de:

(A) polos de turismo e lazer – extensas redes ferroviárias inter-regionais
(B) centros comerciais fronteiriços – imensas áreas de monocultura de soja
(C) distritos industriais exportadores – numerosas áreas de produção de borracha
(D) assentamentos de agricultura familiar – grandes projetos de grupos empresariais

Alternativa correta: (D)

Comentário da questão:Durante o regime militar, foi implementada a mais ampla política estatal de incorporação socioeconômica do território amazônico ao espaço produtivo nacional. Essa política pode ser segmentada em dois momentos distintos, conforme aponta o texto da reportagem. No primeiro, a ênfase se deu na colonização, tendo como eixo a rodovia transamazônica, criada para levar “homens sem terra (do Nordeste) para uma terra sem homens”, segundo o discurso oficial. O foco dessa ação governamental estava pautado na implantação das agrovilas ao longo da famosa rodovia.No segundo momento, a estratégia passou a ser a de “tornar a Amazônia uma fonte de divisas para o país”, ou seja, incorporá-la ao espaço de produção do capitalismo brasileiro, fosse com capitais nacionais ou estrangeiros. Para isso, o governo passou a gerenciar e a incentivar grandes projetos empresariais, relacionados principalmente à mineração (como o Projeto Carajás) e à pecuária (como o Projeto Cristalino da Volkswagwen).

5. UERJ-2008





EUSTÁQUIO DE SENE e JOÃO C. MOREIRA
Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo: Scipione, 2007.

A importância do Estado na economia de um país varia ao longo do tempo de acordo, dentre outros aspectos, com o papel que desempenha na produção de riqueza.

No gráfico acima, é possível identificar o período de maior relevância do Estado como agente direto do crescimento econômico no Brasil.

Esse período e a correspondente doutrina econômica que fundamentava os seus investimentos são identificados como:

(A) Estado Novo - monetarismo
(B) governo JK - protecionismo
(C) Nova República - liberalismo
(D) regime militar - keynesianismo

Alternativa correta: (D)

Comentário da questãoDe acordo com o gráfico, os investimentos do Estado brasileiro na economia variaram de uma ínfima participação nos primeiros 60 anos do século XX para uma participação ativa que teve seu ponto de culminância entre 1970 e 1980. Este período corresponde ao desenvolvimento do regime militar, cujas diretrizes de investimento envolveram principalmente grandes obras públicas, seguindo o modelo americano presente no New Deal. O modelo, inspirado nas propostas do economista Keynes, focalizava grandes empreendimentos públicos, capazes de mobilizar recursos e mão-de-obra, eliminando o desemprego.
6. UERJ-2008




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No Brasil, o ano de 1968 foi marcado pelos crescentes choques entre as tentativas de maior participação política e o endurecimento do governo militar.

Essa polarização pode ser constatada nos seguintes eventos ocorridos naquele ano:

(A) passeata dos cem mil - decretação do AI-5
(B) reforma universitária - instauração do SNI
(C) invasão do prédio da UNE - surgimento da ARENA e do PMDB
(D) fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro - fechamento do Congresso Nacional

Alternativa correta: (A)
Comentário da questão:Os governos militares após o golpe de 1964 impuseram formas diversas de repressão aos movimentos populares, observando-se mecanismos de endurecimento do regime a partir de 1968, como a instauração da Junta Militar que culminou no AI-5. Essa conjuntura desencadeou manifestações de oposição - em especial, após a morte do estudante Edson Luís - que combinaram vários segmentos sociais, desde os trabalhadores até os estudantes, dando origem à mobilização que é concluída com a Passeata dos Cem Mil. Trata-se de um contexto cuja análise e interpretação mostram a polarização entre o avanço do autoritarismo e a pressão da sociedade no sentido de maior participação.

6. UERJ-2010



A cena retratada pelos quadrinhos só se tornou possível na história recente do país com o fim do Ato Institucional nº 2 (AI-2) em 1979. A reforma partidária, assim como outros eventos do processo de restabelecimento do estado de direito no Brasil, contudo, permitiram ao regime militar controlar o ritmo da abertura política.
Indique a principal mudança produzida pela reforma partidária de 1979 e justifique sua aplicação no contexto da abertura "lenta, gradual e segura" promovida pelo regime militar.

Comentário da questão:Os quadrinhos de Henfil fazem alusão ao retorno do pluripartidarismo com a supressão do Ato Institucional nº 2. O fim do bipartidarismo, no contexto da abertura "lenta, gradual e segura" do final dos anos 1970, favorecia o esfacelamento político dos setores de oposição, que cresciam, e facilitava a manutenção por parte do governo da maioria de votos no Congresso.

7. UERJ-2009


A comparação entre os textos acima indica uma mudança na gestão do espaço amazônico.
A concepção que movia o governo brasileiro em relação à Amazônia na década de 1970 e a que serve de base para as ações propostas pelo atual Ministério do Meio Ambiente estão respectivamente apresentadas em:

(A) território estratégico - preservação dos ambientes rurais
(B) região problema - desenvolvimento ecológico equilibrado
(C) espaço da vida selvagem - proteção integral do ambiente
(D) fronteira de recursos - crescimento econômico sustentável

Alternativa correta: (D)

Comentário da questão:A relação sociedade-natureza é historicamente referenciada, sendo influenciada não só pelas concepções de natureza de cada época, como também pelas distintas formações sociais. No caso abordado, faz-se o contraponto entre a concepção de natureza como fonte de recursos inesgotáveis, que prevaleceu durante o Regime Militar brasileiro, expressa na publicidade, e a atual visão de natureza como fonte de recursos que devem ser utilizados de forma sustentável.
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INTERPRETAÇÕES DO "MILAGRE"




Fernando A. VelosoI; André VillelaII; Fabio Giambiagi

IIbmec-RJ. E-mail: fveloso@ibmecrj.br
IIEPGE/FGV e UCAM. E-mail: Andre.Villela@fgv.br
IIIBNDES. E-mail: fgiambia@bndes.gov.br

As interpretações sobre os fatores determinantes do "milagre" encontradas na literatura podem ser divididas em três grandes grupos, não necessariamente excludentes, e que enfatizam:3
a)  A política econômica do período 1968-1973, com destaque para as políticas monetária e creditícia expansionistas e os incentivos às exportações;b)  O ambiente externo favorável, devido à grande expansão da economia internacional, melhoria dos termos de troca e crédito externo farto e barato;c)  As reformas institucionais do PAEG, em particular as reformas fiscais/tributárias e financeira, que teriam criado as condições para a aceleração subseqüente do crescimento.
No restante desta seção cada um destes determinantes é discutido em maior detalhe.
3.1.  A Política Macroeconômica do Período 1968-1973
No período 1964-1967, as taxas de crescimento anuais médias em termos reais do M1 e do crédito foram de 4,8% e 4,9%, respectivamente. No período 1968-1973, essas taxas elevaram-se para 13,9% e 17,4%, respectivamente. Outro dado importante é que, enquanto no período 1964-1967 o crescimento médio anual real do crédito ao setor privado foi de 7,4%, essa taxa elevou-se para 25,4% no período 1968-1973, ao passoa que a taxa de crescimento anual real do crédito ao setor público, de 1,1% em 19641967, foi de -16,2% em 1968-1973 (Hermann, 2005). Em resumo, o período 1968-1973 foi caracterizado por uma grande expansão real da moeda e do crédito, e esse último foi canalizado para o setor privado.
No que se refere às exportações, o estímulo governamental assumiu diversas formas, entre as quais a introdução do sistema de minidesvalorizações cambiais (crawling peg) a partir de 1968, e a criação do Programa Befiex em 1972, permitindo às empresas com planos de exportação contar com uma série de facilidades de importação, sujeitas ao desempenho exportador futuro.
Tomadas em conjunto e tendo em vista o excelente ambiente externo da época, tais medidas ajudam a explicar o excepcional desempenho exportador observado durante o "milagre": taxas de crescimento anuais médias de 24,6% do valor (em US$) das exportações, e de 39,5% no caso de manufaturados. Em 1973, a vulnerabilidade externa do país, medida pela relação dívida externa líquida/exportações, caiu para o nível de 1,4, que foi o valor mais baixo desse indicador no período 1956-2004 no Brasil.4
3.2.  O Ambiente Externo Favorável
O ambiente internacional no período 1968-1973 foi particularmente benigno, tendo sido verificada uma conjunção favorável das seguintes variáveis externas: termos de troca favoráveis, forte expansão do volume de comércio internacional, baixas taxas de juros e farta disponibilidade de crédito no mercado externo.
O aumento da liquidez internacional resultante da criação do mercado de eurodólares no final da década de 60 permitiu a ampliação das possibilidades de endividamento dos países tomadores, entre os quais o Brasil. Tal movimento beneficiou o Brasil não apenas pelo aumento do volume de crédito externo de que passou a dispor, mas também pelo baixo custo desses empréstimos, envolvendo taxas reais de juros da ordem de 2% a.a.
Além disso, o fluxo de investimento externo direto (IED) para o Brasil dobrou de patamar no início dos anos 70, tendo ultrapassado US$ 1,1 bilhão em 1973. Juntos, o crescente endividamento externo e os fluxos de IED garantiram a dimensão externa do "milagre", sob a forma de um balanço de pagamentos superavitário em meio a taxas de crescimento econômico de dois dígitos.
Nesse contexto, o Brasil pôde, durante vários anos, usufruir os benefícios da conjuntura externa sem enfrentar os problemas de balanço de pagamentos normalmente associados às fases de crescimento acelerado. Isso ocorreu não só porque a disponibilidade de crédito externo assegurava o financiamento do déficit em transações correntes, mas, também, devido à expansão do quantum exportado e à melhoria dos termos de troca, que permitiram a ampliação da capacidade de importar do país.
Paralelamente, devido ao forte ritmo de expansão do comércio internacional (17,8% a.a., em dólares correntes, entre 1968 e 1973), os preços das commodities no mercado mundial também se elevaram consideravelmente. No período 1970-1973, o preço médio dos produtos primários elevou-se a uma taxa anual de 14,3%, enquanto a inflação internacional- medida pelo deflator implícito do PIB dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - foi de apenas 6% a.a., beneficiando, assim, os exportadores dessas mercadorias, como o Brasil, através da melhoria de suas relações de troca (ver Giambiagi (1988)).
3.3. As Reformas do PAEG
Diversos autores reconhecem a importância das reformas institucionais promovidas pelo PAEG no período 1964-1967 no sentido de criar as bases para o rápido crescimento econômico no período 1968-1973.5
A questão que se coloca, então, é saber quais são as reformas (e foram muitas as implementadas no governo Castello Branco) a que, efetivamente, se pode creditar o poder de criar instituições pró-mercado ou pró-crescimento econômico.
A visão dos principais formuladores do PAEG serve como ponto de partida. Para Simonsen e Campos (1974, p.119), as reformas implementadas no período 1964-1967 tinham como objetivo remover cinco grandes falhas institucionais, a saber:
"a) a ficção da moeda estável na legislação econômica; b) a desordem tributária; c) a propensão ao déficit orçamentário; d) as lacunas do sistema financeiro; e) os focos de atrito criados pela legislação trabalhista."
Os autores também consideram a maior abertura da economia ao exterior como uma característica fundamental do novo modelo econômico implantado a partir de 1964. De modo geral, esse diagnóstico é compartilhado por outros analistas. Por exemplo, em seu conhecido estudo sobre o PAEG, Resende (1990, p.228) afirma:
"A convicção da necessidade de reformas institucionais acompanhou o PAEG desde seu diagnóstico. Três áreas foram particularmente destacadas, refletindo, acertadamente, a percepção do governo a respeito dos pontos de estrangulamento institucionais da economia: primeiro, a desordem tributária; segundo, as deficiências de um sistema financeiro subdesenvolvido e a inexistência de um mercado de capitais; e, por último, as ineficiências e as restrições ligadas ao comércio exterior."
Sob o ponto de vista dos impactos potenciais no crescimento econômico, as principais reformas associadas ao PAEG foram a reforma fiscal/tributária, a reforma financeira e a abertura da economia ao exterior, que discutimos a seguir.
3.3.1. Reforma Fiscal/Tributária
Um dos principais objetivos do PAEG foi promover um forte ajuste fiscal. A meta do ajuste era reduzir os déficits fiscais e, com isso, contribuir para o combate à inflação e criar as condições para uma elevação da poupança do governo, para financiar um aumento dos investimentos públicos e estimular o crescimento econômico.
Com essa finalidade, o governo promoveu uma forte redução de gastos.6 Segundo Simonsen e Campos (1974), uma medida fundamental para atingir o objetivo de controle dos gastos públicos foi o dispositivo do Ato Institucional no. 1, posteriormente incorporado à Constituição de 1967, o qual proibiu que o Poder Legislativo elevasse o total de despesas na votação do orçamento da União.
Também foi feita uma ampla reforma tributária. Os objetivos dessa reforma eram elevar a arrecadação do governo e racionalizar o sistema tributário, eliminando impostos em cascata e impostos de pouca funcionalidade econômica, como os impostos do selo. Entre as principais medidas, inclui-se a substituição do imposto estadual sobre vendas, incidente sobre o faturamento das empresas, pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), incidente sobre o valor adicionado em cada etapa de comercialização do produto.
Além disso, foram criados mecanismos de reajuste (de acordo com a inflação passada) dos impostos pagos em atraso, o que contribuiu para a elevação da arrecadação real do governo. Como resultado dessas medidas, ocorreu uma significativa elevação da carga tributária da economia brasileira, que passou de 16% do PIB em 1963 para 21% em 1967 (ver Hermann (2005)). Em função da redução dos gastos e da elevação da carga tributária, o déficit fiscal federal foi reduzido de 4,2% do PIB em 1963 para 1,1% do PIB em 1966 (ver Simonsen e Campos, 1974).
3.3.2.  A Reforma do Sistema Financeiro
Simonsen e Campos (1974) consideram que a criação de um sistema capaz de fornecer o necessário suporte financeiro ao desenvolvimento econômico do país foi uma das principais realizações econômicas do Governo Castello Branco.
No início da década de 1960, o sistema financeiro brasileiro era particularmente deficiente e inexistia um mercado de capitais. Por exemplo, o controle monetário era bastante precário, já que não havia um Banco Central, sendo suas funções divididas entre o Tesouro Nacional, a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC) e o Banco do Brasil.
Além disso, as elevadas taxas de inflação, combinadas com a lei da usura, que proibia juros nominais superiores a 12% a.a., haviam desestimulado a aplicação de poupanças em títulos de renda fixa, como depósitos a prazo, debêntures e títulos do governo. Em função disso, os déficits fiscais eram financiados quase integralmente por emissões monetárias.
Com a criação do Banco Central (Lei 4.595 de 1964) e a instituição do instrumento da correção monetária, aplicada aos títulos públicos representados pelas Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), ocorreu um grande aprimoramento institucional da condução da política monetária e do financiamento dos déficits públicos. Enquanto em 1963 apenas 14% do déficit federal era financiado por títulos governamentais, em 1966 essa parcela elevou-se para 86% (ver Simonsen e Campos, 1994).
Outra medida foi a criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), formado pelo recém-criado Banco Nacional da Habitação (BNH), pela Caixa Econômica Federal (CEF), pelas caixas econômicas estaduais, sociedades de crédito imobiliário e associações de poupança e empréstimo (APE). Também foi criado um novo mecanismo de poupança compulsória, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que se tornou uma importante fonte de recursos para o SFH.
Adicionalmente, foram oferecidos diversos incentivos para a criação de sociedades de crédito e financiamento, voltadas para o crédito direto ao consumidor. Um objetivo importante da reforma financeira foi criar um segmento privado de longo prazo no Brasil, através da criação dos bancos de investimento e estímulos ao mercado de capitais e, em particular, ao mercado de ações.
Segundo Simonsen e Campos (1974), as reformas financeiras promulgadas durante o Governo Cas-tello Branco tiveram seu amplo alcance comprovado a partir de 1968. Em particular, os autores consideram que o crescimento acelerado da construção civil não teria sido possível sem a criação do SFH com o suporte do FGTS. O mesmo se aplica ao excelente desempenho da indústria automobilística e de bens de consumo durável em geral, para o qual foi de grande importância a expansão do crédito ao consumidor.
3.3.3.  A Abertura ao Exterior
O Governo Castello Branco implementou diversas medidas no sentido de incentivar um maior grau de abertura da economia brasileira ao comércio e ao movimento de capitais com o exterior. O sistema cambial foi simplificado e unificado, foram modernizadas as agências do setor público ligadas ao comércio exterior e ampliada a integração com o sistema financeiro internacional.
Além disso, a dívida externa foi renegociada e foi aprovada no Congresso a Lei no. 4.390, de julho de 1964, que flexibilizou a Lei de Remessa de Lucros de 1962, revertendo parte dos desincentivos que essa lei havia criado para o ingresso de capitais estrangeiros no país.
A partir de 1964, também foram introduzidos na legislação brasileira diversos mecanismos de incentivos às exportações, dentre os quais os seguintes:
a)  Isenção do imposto sobre as exportações de produtos industrializados (Lei no. 4.502, de novembro de 1964);b)  Isenção do imposto de renda sobre os lucros das exportações (Lei no. 4.663, de junho de 1965);c)  Devolução dos impostos de importação incidentes sobre matérias-primas e componentes importados, que tenham sido utilizados em produtos exportados (Decreto Lei no. 37, de novembro de 1966);d)  Isenção do ICM sobre as exportações de produtos manufaturados (Constituição de 1967).

Parte integrante de
Determinantes do "milagre" econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica*
Revista Brasileira de Economia